13.10.08

XXX

Só em contra-luz…
vislumbro os seus reflexos
na cadência manuseada
dos negativos cinemáticos
de memórias desconexas

Filipe Elites

10.10.08

Cesáreas II

as trapeiras ao céu imploram com olhos tristes
furtadas nas águas sombrias dos telhados
almas esquecidas de pobres e humilhados
choram de noite o Tejo em desempregados gemidos

Filipe Elites

exercize in the key of g

ligas ao que digo
sugere-te algo
desliga larga o lógico
aguarda a languidez do lago
ajoelha junto à água
calma
o álgido rigor do gelo
emerge agora
ouves agora
era um gemido

Lúcia

Cit #15

escalracho, erva-pata, moléstia negra,
o charbon, a filoxera
preguiçosa saia
as gordas mercearias
os delirios mornos
prédios macilentos
cor monótona e londrina
sinos dum tanger monástico e devoto
cheiro salutar a pão no forno

contudo, nós não temos na fazenda
nem uma planta só de mero ornato!
cada pé mostra-se útil, é sensato,
por mais finos aromas que rescenda


Cesário Verde

Bathing Machines

Archivo de imagens #128

il cuore e la libertà

se nada determina o poema
se não há uma rotina
uma vontade forte um esquema
sobrevirá a tirana rotina
de il cuore e la libertà enferma

André Istmo

12RB8ª678

um frade meu freguês
compra fruta e fio de arame
prefere pagar a pronto
à minha oferta à Madre Igreja
aparece em setembro
com dia e hora marcada
a mesma mercadoria
sempre

Filipe Elites

Eu à beira da marca amarela do metro e tu

trespassas a turba
em passada curta e hirta
nada te perturba altiva
de olhar que morde
um drapejo que mal te cobre
nos lábios um baton alegre
num sorriso marca d'água
de quem sofre

Filipe Elites

Cesáreas I

ajoelhada no saguão
num recanto húmido
entre humores de podridão
recolhes a fatigada roupa
que o vento roubou
às molas do estendal
tão fracas. tão estafada
do som enxuto das varjeiras
se cai como morto mais um lençol
agacha-te lavadeira

Diniz Giz

On The Mix 4

enjoa-me o que sinto
enfada-me o que penso
se me sento a ponderar
desequilibro o eixo
ao estado natural
com o fugidio reflexo
do inesperado

os milagres
o inesperado a suspensão
do habitual da lei

deves considerar poeticamente
alguns temas
os poemas serão uma malgama bem
estruturada dos teus
conhecimentos
sobre o mesmo

3 versos de 5 aaa bbb ccc... Pessanha

Agraços - uva verde,, muito acre...
Madraça
cabaça passa classe louça massa missa moças


Orlando Tango

Cit #14

ser bom...... gostaria tanto
de o ser......mas como? afinal
só se me fizesse mal
eu fruiria esse encanto

Mário de Sá-Carneiro

Esfoladelas #1

outrora fui agora o que serei
onde estarei eu hoje em pequeno
fui-o outrora agora
o que em mim sente está pensando

fernando pessoa defendia a leitura de sentido único.
na poesia moderna é valorizada
a ambiguidade - umberto eco - opera aperta
as classes médias são moralmente corruptas eliot
pure boredom
aqueronte-lete o rio do esquecimento
- cimento, segmento –
vetado aos homens
marionette

Une Semaine de Bonté - Max Ernst - 1934

Seven Deadly Elements - Fire

9.10.08

Estatísticas #5

o que é que muda nas construções?
o material, a forma, a estrutura, quem a vive, o tempo

álgido gélido pálido esquálido
fúlgido válido corpo tíbio vómito
ebúrneo crómio micróbio marmóreo
plástico plumbeo níveo núbio salsugem
fuligem ferrugem rabugem cruzem nuvem
clivagem adstrigem margem cravem
desalmados alma almada alma amada
almejar calma almancil almargem Almedina
alameda almendras alimento almoço almeirim almastar
promana emana imana emenda irmana
demanda umana exmana maneira manel mandá-la mandala

Madalena Nova

Oráculo #2

segue o mestre em soneto vanguardista
com subtil aconchego plasticista

Filipe Elites

Oráculo #1

não tenho exitado perante a vida
pelo contrário têm sido só derrotas

Filipe Elites

24.9.08

Outono

Archivo de imagens #158

AA v-8

as aldeias-ameeiros em vertigem sobre
o reflexo que o mar recolhe
absorve o rio os filhos caídos
oh chuva chora as ramadas de ouro
não pagam tributo dão do que é seu molham o céu
choram o mar devolvem a justiça à noite
e beijam o espelho dos telhados frescos
a cegueira humilde da vaidade

Lúcio Ferro

Seixos VII

deleitado ao longo dos leitos
cego dos seixos
embusca a música das silvas
o rumor da casa sozinha desamparada
estupidamente ancorada na terra
como quem quer morrer
desperta o sentido canino
oh afago consolador no cachaço
fuço no ventre esquecido da luz inebriante
de outrora agora danço no silvedo
o mais doce placebo
o borbotar do próprio sangue

Orlando Tango

Caixa de Bombons

A nova versão portuguesa do Dr. Faustus vai chamar-se Dr. Bastos.

Merengue de nevoeiro
Dengue uma matilha de dingos
Não vento
A praia em silêncio

Abraso-me nos escolhos da vida
Produzo borboto

Não olhes para mim que não estou a olhar para ti

Salobra insalubre sal lobrigar labrego
Lombriga Trôpego amargo sorgo esfrego
Manobra cego segrego malogro
Rogo nobrega megre casebre magrebino alegre

Comemorei a renúncia das riquezas e o álcool com um 12 anos.

Não acredito na reencarnação mas ia jurar
que este diabo já esteve debaixo de terra.

Your innocent when you dream

não sente assume arrisca mais uma pedra na construção do muro

chego a ganir como um cachorro

Onde se reunem os cartéis?

cai o lenço em harmoniosa combustão
inflasse o peito sobe o sorriso
agarra as banhas de mão cheia
como um choro infante explode o gemido

Form follows performance

Calma! Calma!
Escrevo para vos alarmar.
Cautela é a juventude
Que estamos a perder
com toda a sua energia
Quem construirá cúbicas colmeias?

A estrutura colapsou
Não nos foi possível apurar
A estrutura colapsou

país de Nod
Temporadas de noite escura
dulce pondus doce peso
Go’el o defensor do inocente
A Vida dá a vida.

Franja para frente olhar arguto
Séria pela rua nova
Do almada em que moras
No sorriso cândido entre membros do grupo
50s style semi-nerd cat power estilo
de ler no metro aprofundando no infinito


Pegar o pacote vazio pensado cheio
Do impulso interior no final da escada rolante parada
Parte da inibição humana ou será antecipação
Os ataques previstos planeados escorregam
Os velhos nos passeios planos
Inconsequentes

Todos

Baratas Tropicais

Camisas tropicais
Aquários com néons
Palmeiras
Gel no cabelo
Tez morena
Baratas junto dos boeiros
Iluminados por lampiões
Através da humidade tropical
As baratas
O cheiro intenso
O clichè dos carros fora de moda
Frutas garridas
Salvas de prata
Cavam na areia das praias em busca do império
Alguns charutos
Olhares vagos
As baratas tropicais
Cais barcos atracados
Pessoas baixas de estatura
Bebidas fortes
Ilhas baratas perfumes exóticos
Alamedas enquadradas por palmeiras
Sem história
Ansiãos
Tédio modorra
Baratas

Filipe Elites

23.9.08

HH - XIV

a emersão nas tépidas águas

medicinais a farmacopeia etérea
guardada na cavidade da rocha
mergulha em soco violento como
a noite carregam sobre a árvore os
batedores fustigam furiosamente os frutos
em lixívia abrasadora dos rastos
inscritos no bronze moldam as marmóreas margens
à espadeirada quem vergará os gonzos
ajoelho-me violentamente
praias e praias vazias varridas do vento
impiedoso marés violentas de bronze
sangra o tronco num impulso de graça

o puro orvalho da manhã de damasco

Zé Chove

Romantic Lisbon #7

Archivo de imagens #156

Raquel

o tempo não chega e tudo o que

a noite nos quer dizer adianta
caminho cruzamos todo o ouro no terreiro
seco não chega o espaço o algodão arde
em fúria cai o metal do desejo em chuva
a mãe em busca dos filhos leva-os o rio
os seixos do rio cegam na transparência
afogados em pureza cegam aquecem
o peito das crianças expostos ao esbanjamento
do sol a estocada do escultor no peito da vénus
de calcário cega sob os arbustos a sombra
das silvas o xisto que enche a bruma ampara a
frondosidade do carvalho marca a chegada
da noite final da terra lavrada em torrente

de fogo o fogo que não se consome

Zé Chove

Divulgação Pop #1 - Rima Interna

Quem te disse triste donzela ser perda se mês
Por mês levantares a assentadeira da sanita
Podes lá ter respingos de merda
da última vez em que tiveste diarreia

Mário Mosca

18.9.08

É a Vida

A inconsciência da pouca consistência
Do corpo pacifica os nossos passos
Indivíduos cheios de independência
Travessos atravessamos travessas

O olhar paira vago depois do corpo
O elmo limite da nossa alma
Mas o corpo é brando perante a bruta morte
Olha a dor dobrada no separador central

A cremosidade da derme perante o aço
O alarme do sangue se verte vermelho
A porosidade ociósa do osso

Que se quebra na esquina de pedra
Pertinentes mas nada nos pertence
Impenitentes mantemos o silêncio

Lúcio Ferro

Stress I

Quem construirá cúbicas colmeias
No baldio onde explode constante
Bolas pedras gritos melopeias
Reboliço do jardim de infância

Uma dama em coma na avenida de roma
Ambulância lancinante noite de Natal
Sigo seguro da minha insegurança
Toda a vida em viva vigilância

Nariz e boca sufocante de sangue
O alarme vermelho o garrido pânico
Nas orelhas os zumbidos das abelhas

A vertigem em queda da criança
O rapaz de rosto sem réstia d’ânimo
O homem maduro com duro medo

Filipe Elites

15.9.08

22-06-1941

Archivo de imagens #153

Fiddler on the Roof - Far from the Home I Love

Oh, what a melancholy choice this is,
Wanting home, wanting him,
Closing my heart to ev'ry hope but his,
Leaving the home I love,
There where my heart has settled long ago
I must go, I must go, I must go,
Who could imagine I'd be wand'ring so
Far from the home I love
Yet there with my love, I'm home.

Situações a que já demos resposta:

Azulejos de casa de banho
Arrebatamentos místicos
Sarapilheira
333
sos terrestres
rosas frescas numa jarra
homos socialis
pesca no mar alto
coruja negra
ambientes místicos
camião em combustão lenta
Como tirar nódoas de sangue ressequido dos edredons
bálsamo de ostra
Toureiros vitoriosos
uma só folha de papel higiénico
Tangos russos
Bardonhe o grande badocha
Bresson sanita
Deusébio
Caril de merda
Fedorento, gato
Alho picado
Brando Apocalipse
La bonbonière dancing

A direcção do departamento

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...