13.11.08

Estações

Capacete justo de nuvens
Iluminado pelos lampiões nocturnos
Vicia a noção do espaço
É opressivo
As têmporas sem saber latejam
Por um trovão
E o rego húmido das costas
Marca a transição
Entre o Verão e a Primavera
Ou será o Outono
Espera
Só encontro entusiasmo
Nos excessos

Diniz Giz

10.11.08

U

Archivo de imagens #201

E se os muros

E se os muros se abatem sobre rio
E se os muros
E se os muros se abatem

Arrasta caudaloso a terra
Onde mordem as árvores

Zé Chove

Bala

Deliro com a estridência fiérica
Do porco, o grasnar das correias
de transmissão, o balir gerúndico das cabras
o pânico apoteótico do cavalo
a chuva púrpura ferve nos olhos
a brisa do rio esfaqueia a carne nua
e nem a morna lua
me em-
bala

Mário Mosca

Rebite

O céu tingido de iodo enferma
Prédios, pessoas
Filme em Pal-olhos semi-adoentados
Todo o dia passando facturas
Por cada rebite aplicado

Renego
Repete
Renego
Avio mais martelada
Neste rebite se repete

Diniz Giz

8.11.08

Naufrágios

Lares-destroços, mares-equinócios
ondas em sentido contrário
o equilíbrio vivo sobre um eixo rotário
enjoo vomitado o vinho ambrósio
e o petiz de fraque no cesto da gávea

Vagalhões sulcados a bombordo
da infante ignora nau
esfaimadas rochas a estibordo
que a quilha de conchas destroça
em vómitos de mareada náusea

Perdida nos cais vagueia a história:
“Esfiampados na praia jazem os mastros
os tesouros nas covas do mar”
Dos portos de abrigo sem memória
partem os marinheiros solitários

Nicolau Divan

Russian East Siberia 1972

Archivo de imagens #200

Rosa do Calcário

Desamparado de dentes arreganhados
Ao marfim aparelhado do passeio
Bonk a gengiva em viva carne
Os veios rosa do calcário vermelhos

Brás

Aditamentos Diferidos #6

Enfartes à la carte

Ubíquas de aprender a
desenhar de olhos fechados

transmutações de luz os gravetos

antes do mei-da-manhã essa miseri
cordiosa sandes de paté fuagrá

espasmódicos lençóis húmidos de sangue

espantados folhos de camisa

a devastação das folhas
a falha na folha

obnóxio, óxido

concomitâncias sonegadas
Salgando ao sol

Molhos de folhas, folhas aos molhos

6.11.08

OrKiz

Orchis is a genus in the orchid family (Orchidaceae)
this genus gets its name from the Greek orchis,
meaning "testicle", from the appearance of the paired
subterranean tuberoids

Testigos testemunhos
Orchidaceae or Orchid family is the largest family
of the flowering plants Angiospermae
It's name is derived from the genus Orchis

Exorcism (from Late Latin exorcismus
from Greek exorkizein - to adjure)
is the practice of evicting demons or other evil spiritual
entities from a person or place
which they are believed to have possessed
the practice is quite ancient and part of the belief
system of many countries

Ex-conjuro conjuro com juro juro
fitei detidamente o endemoninhado
dos olhos macerados
numa antiga fotografia gasta do youtube.
calmamente.
como deveria amar o seu exorcista...

Tinha uma presença clínica ou farmacológica
das antigas farmácias com altas estantes escuras
onde o ar é asséptico e tudo é são

Levantei o auscultador do telefone
e ouvi a minha voz aqui há uns anos
insisti...diga, diga

Uma orquídea enorme encheu-me a sala de medo

Lúcio Ferro

15.10.08

Fracturantes I

o oboé titubeante rua abaixo
urgência demiúrgica do barbitúrico
a transmissão pré-sinática inibída
o conforto do sistema nervoso central

flashes assépticos convulsos de sangue e soro
a taquicardia surda branco pânico
amnésia do presente vivida no futuro
buzinas precipitação quedas e feridas

vituperina aguda dor rediviva
catéteres revulsivos ácidas artérias
o desprendimento total do corpo-abcesso
o coma sorvido com sofreguidão

Orlando Tango

13.10.08

Agraços Olhos

Agraços olhos sobre os lavradios
ensombram antes da noite os vinhedos
afagam seus dedos de morte frios
os infantes frutos imóveis de medo

serpenteia negro o suor pelos regos
em oclusas levadas de silêncio
envenenando a sede de loucas cepas
as filhas de uma estúpida inocência

Esse fogo tocado com o olhar
não esmorece e decepa os sarmentos
com a inércia em queda milenar

Oh cinza não reveles os seus passos
liberte-se a chuva em pensamentos
amargos e chorem os verdes agraços

Zé Chove

Herberto Helder – A cabeça entre as mãos

(…)
Ou no poema
a parte fêmea instrumentada pela
magnificência,
O que nele se talha
em som escrito : órgão,
mão que revolves a substância primordial,
Barro
fundamento, Que hausto atenda à força
respirada
pela carne em poder,
O nó
coronário de uma estrela,
Peso e melancolia
da riqueza
e do medo, E que me assome Deus às partes
graves : com sua luva súbita
no abismo,
É ao meu nome que regresso : à ameaça,
A limpidez
atravessa-me pelos furos naturais
ardidos,
Entra um astro
por mim dentro :
faz-me potência e dança,
Que toda a noite do mundo te torne humana :
obra



(ps:não consigo formatar o poema)

O Solitário...

O solitário piano chove sobre
um para-peito dum prédio cinzento
o lampião de madrugada cobre
de vastidão a rua sem movimento

cadencio os passos ao som do piano
esfumando a neblina à beira do lago
silentes passos através do espaço
misterioso hino holderliniano

entre a profusão de verdes-castanhos
dum triste e pardacento sfumato
sorriem as sementes das magnólias

do nevoeiro é parido o sol e as
notas alegres pingam do piano
quando o peito pressente o ser amado

Lúcio Ferro

Pakistan Airlines

Archivo de imagens #162

#13

derrama-se o espírito sobre a mesa em
querosene deliciado nos veios da tábua de pinheiro
manso alinhado nas desertas avenidas que só
falam da solidão do coração

Paulo Ovo

A delicadeza

A delicadeza extrema da flor-princesa e
a rectidão da pinha em queda
são fragmentos cansados reflexos que o
rio recolhe e estrafega

Lúcia

XXX

Só em contra-luz…
vislumbro os seus reflexos
na cadência manuseada
dos negativos cinemáticos
de memórias desconexas

Filipe Elites

10.10.08

Cesáreas II

as trapeiras ao céu imploram com olhos tristes
furtadas nas águas sombrias dos telhados
almas esquecidas de pobres e humilhados
choram de noite o Tejo em desempregados gemidos

Filipe Elites

exercize in the key of g

ligas ao que digo
sugere-te algo
desliga larga o lógico
aguarda a languidez do lago
ajoelha junto à água
calma
o álgido rigor do gelo
emerge agora
ouves agora
era um gemido

Lúcia

Cit #15

escalracho, erva-pata, moléstia negra,
o charbon, a filoxera
preguiçosa saia
as gordas mercearias
os delirios mornos
prédios macilentos
cor monótona e londrina
sinos dum tanger monástico e devoto
cheiro salutar a pão no forno

contudo, nós não temos na fazenda
nem uma planta só de mero ornato!
cada pé mostra-se útil, é sensato,
por mais finos aromas que rescenda


Cesário Verde

Bathing Machines

Archivo de imagens #128

il cuore e la libertà

se nada determina o poema
se não há uma rotina
uma vontade forte um esquema
sobrevirá a tirana rotina
de il cuore e la libertà enferma

André Istmo

12RB8ª678

um frade meu freguês
compra fruta e fio de arame
prefere pagar a pronto
à minha oferta à Madre Igreja
aparece em setembro
com dia e hora marcada
a mesma mercadoria
sempre

Filipe Elites

Eu à beira da marca amarela do metro e tu

trespassas a turba
em passada curta e hirta
nada te perturba altiva
de olhar que morde
um drapejo que mal te cobre
nos lábios um baton alegre
num sorriso marca d'água
de quem sofre

Filipe Elites

Cesáreas I

ajoelhada no saguão
num recanto húmido
entre humores de podridão
recolhes a fatigada roupa
que o vento roubou
às molas do estendal
tão fracas. tão estafada
do som enxuto das varjeiras
se cai como morto mais um lençol
agacha-te lavadeira

Diniz Giz

On The Mix 4

enjoa-me o que sinto
enfada-me o que penso
se me sento a ponderar
desequilibro o eixo
ao estado natural
com o fugidio reflexo
do inesperado

os milagres
o inesperado a suspensão
do habitual da lei

deves considerar poeticamente
alguns temas
os poemas serão uma malgama bem
estruturada dos teus
conhecimentos
sobre o mesmo

3 versos de 5 aaa bbb ccc... Pessanha

Agraços - uva verde,, muito acre...
Madraça
cabaça passa classe louça massa missa moças


Orlando Tango

Cit #14

ser bom...... gostaria tanto
de o ser......mas como? afinal
só se me fizesse mal
eu fruiria esse encanto

Mário de Sá-Carneiro

Esfoladelas #1

outrora fui agora o que serei
onde estarei eu hoje em pequeno
fui-o outrora agora
o que em mim sente está pensando

fernando pessoa defendia a leitura de sentido único.
na poesia moderna é valorizada
a ambiguidade - umberto eco - opera aperta
as classes médias são moralmente corruptas eliot
pure boredom
aqueronte-lete o rio do esquecimento
- cimento, segmento –
vetado aos homens
marionette

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...