escolheste esse terreno
conquistado às margens do rio
viceja com loucura no estio
rebenta em gretas no inverno
o solo macerado de aluvião
marcado na alma de lodo
é branda carne dum garoto
o barro em que moldas o coração
é o bastião em que assenta a vontade
a fortaleza jorra dum coração apaixonado
André Istmo
2.1.09
1.1.09
Segredo
Um segredo como um barco velho
Preso e escondido entre uns juncais
Sempre com medo dos corvos rabugentos
Que vagueiam em círculos os baldios
Nem medo, nem lei, nem ruídos, nem olhos,
Nem mesmo os nossos, até ao nascer do sol
A sombra a sombra da loucura saída
Da sombra da morte sobre os vivos caída
Em todas as cidades chuva arrasta
Um cheiro de morgue ou de couves
Podres dos pântanos mal dragados
Orlando Tango
Preso e escondido entre uns juncais
Sempre com medo dos corvos rabugentos
Que vagueiam em círculos os baldios
Nem medo, nem lei, nem ruídos, nem olhos,
Nem mesmo os nossos, até ao nascer do sol
A sombra a sombra da loucura saída
Da sombra da morte sobre os vivos caída
Em todas as cidades chuva arrasta
Um cheiro de morgue ou de couves
Podres dos pântanos mal dragados
Orlando Tango
Enclave
Baclava – bolo tipo jesuíta
Balaclava – gorro que cobre toda a cabeça menos os olhos; bataclava
Balaclava – gorro que cobre toda a cabeça menos os olhos; bataclava
De Herodes
De Herodes
Estremecendo como a verde cana
Prostrado sob o teu brado
Aplanador
A plena dor
Vejo-te vires a mim
Sereis por ventura meu guarda
Meu irmão
Recolher-me, vaguear os desertos, de mim mesmo me vingar
Qual consolo
Talvez fechados de noite em cárceres lado a lado
Me reconforte ouvindo o teu sono
Lá fora oiço sobre o lajedo as asas de espadas
Do nosso anjo
André Istmo
Estremecendo como a verde cana
Prostrado sob o teu brado
Aplanador
A plena dor
Vejo-te vires a mim
Sereis por ventura meu guarda
Meu irmão
Recolher-me, vaguear os desertos, de mim mesmo me vingar
Qual consolo
Talvez fechados de noite em cárceres lado a lado
Me reconforte ouvindo o teu sono
Lá fora oiço sobre o lajedo as asas de espadas
Do nosso anjo
André Istmo
Escórias IV
I gloriosi nostri colori splenderanno sempre!
Sicut herbae
It’s hard to believe
When you only see
The backside of the tapestry
Believe
It’s all
Green
Green
Green
A chuva arrasta um cheiro de morgue
Ou de couves podres
Cantos vesperais
Os azedos da oxidada pedra
A pedra azeda
A lâmina de pedra azeda
Sob o rio óxido
A sombra de eternidade
Por fim liberta
Dir-se-á que mentia hoje a um santo
Façam-me reparos sem fundamento
Títeres úberes céleres
Orlando Tango
Sicut herbae
It’s hard to believe
When you only see
The backside of the tapestry
Believe
It’s all
Green
Green
Green
A chuva arrasta um cheiro de morgue
Ou de couves podres
Cantos vesperais
Os azedos da oxidada pedra
A pedra azeda
A lâmina de pedra azeda
Sob o rio óxido
A sombra de eternidade
Por fim liberta
Dir-se-á que mentia hoje a um santo
Façam-me reparos sem fundamento
Títeres úberes céleres
Orlando Tango
Sonho Bojudo
Sonho bojudo de seixo maduro
Até à superfície de vapor
Que o envolve em suma
No limite do seu esplendor
Nicolau Divan
Até à superfície de vapor
Que o envolve em suma
No limite do seu esplendor
Nicolau Divan
SPQR
Modorras post-prandiais
Reclinadas sobre os corpos
De pálpebras maceradas
Em delírios ambrosianos
Os espíritos fremem
Viandas imperiais, alcachofras
Corno gratinado, puré de ostras
No percurso inverso vertem
Ante o vomitório quem se prostra
Filipe Elites
Reclinadas sobre os corpos
De pálpebras maceradas
Em delírios ambrosianos
Os espíritos fremem
Viandas imperiais, alcachofras
Corno gratinado, puré de ostras
No percurso inverso vertem
Ante o vomitório quem se prostra
Filipe Elites
23.12.08
Boi Faminto
regatos de urzes abertos húmidos
de espinhosas rochas àguas lacrimejantes
mais loira sobre as escarpas
onde chapa o verão os estratos ósseos secos em pó
ordeno ao mar que te cinzele as pétreas omoplatas
prenhe da luz que cega o boi faminto
choro regatos gravetos vicejantes
André Istmo
de espinhosas rochas àguas lacrimejantes
mais loira sobre as escarpas
onde chapa o verão os estratos ósseos secos em pó
ordeno ao mar que te cinzele as pétreas omoplatas
prenhe da luz que cega o boi faminto
choro regatos gravetos vicejantes
André Istmo
Nuvens e Rochedos
Nuvens e rochedos
Infâncias outonais varridas de vento
E agressivas urzes
Eu por perto e tu tão dura
Forço por te alcançar no Inverno
Lamas revoltas
O cheiro a chuva o céu cego
Sorris no verão mais solta e loira
O feno da suave encosta
E cegas-me de sol e oiro
O fruto da primavera que rescende no teu dorso
É flecha vermelha liberta sobre a imensidão
Reflicto em onda e luz a escarpa do rosto
E estoiro
André Istmo
Infâncias outonais varridas de vento
E agressivas urzes
Eu por perto e tu tão dura
Forço por te alcançar no Inverno
Lamas revoltas
O cheiro a chuva o céu cego
Sorris no verão mais solta e loira
O feno da suave encosta
E cegas-me de sol e oiro
O fruto da primavera que rescende no teu dorso
É flecha vermelha liberta sobre a imensidão
Reflicto em onda e luz a escarpa do rosto
E estoiro
André Istmo
Recolho
Recolho ávida o feno
O molhe de calor
Entre tábuas sombras de fogo
Armazeno madrugadas
Se caem chaminés lentamente das casas
Melodias de ventos perdidos nos poços secos
Onde os recolho
Lúcia
O molhe de calor
Entre tábuas sombras de fogo
Armazeno madrugadas
Se caem chaminés lentamente das casas
Melodias de ventos perdidos nos poços secos
Onde os recolho
Lúcia
20.12.08
Restos de Metal
Restos de metal
Fagulhas de asas negras
Terra negra
Nas cavidades oculares da tua caveira
Metronomia chilreios
Lúcia
Fagulhas de asas negras
Terra negra
Nas cavidades oculares da tua caveira
Metronomia chilreios
Lúcia
Fantasmas de Albatorre
Separada da rua por um lençol
Os descendentes dos fugitivos envoltos
Num loop dolente rappavam noite fora
A angústia de várias gerações
Os fantasmas de Albatorre amaldiçoam
O pontão da Cova do Vapor
Separando, arrastando os corpos nas ondas do Atlântico
Enquanto afogam as almas nas águas verdinegras do Tejo
Se sentires um calafrio na espinha enquanto
Comes uma tainha em Porto
Brandão excusas de limpar os beiços e pagar a conta,
A tua alma já vagueia louca nos corredores do sanatório
28 de Maio.
P.S – O tecto do auditório dos bombeiros
da Trafaria é de corticite podre
Pintada em xadrez
[com estrelas nas casas pretas]
de relance parece uma bandeira
Dos USA gigante.
PS2-Joanna southcott
Et Ecce Terrae Motus
Rui Barbo
Os descendentes dos fugitivos envoltos
Num loop dolente rappavam noite fora
A angústia de várias gerações
Os fantasmas de Albatorre amaldiçoam
O pontão da Cova do Vapor
Separando, arrastando os corpos nas ondas do Atlântico
Enquanto afogam as almas nas águas verdinegras do Tejo
Se sentires um calafrio na espinha enquanto
Comes uma tainha em Porto
Brandão excusas de limpar os beiços e pagar a conta,
A tua alma já vagueia louca nos corredores do sanatório
28 de Maio.
P.S – O tecto do auditório dos bombeiros
da Trafaria é de corticite podre
Pintada em xadrez
[com estrelas nas casas pretas]
de relance parece uma bandeira
Dos USA gigante.
PS2-Joanna southcott
Et Ecce Terrae Motus
Rui Barbo
Os Arcos
Os arcos feitos das mesmas palavras
a pedra impiedosa que esmaga o corpo em silêncio
vês-te no homem forçando
o denso mato
arco sangue e espada
o anjo firme
prostrado o alento da terra
seco o peixe
oiço o assobio no quarto do meu
filho
Zé Chove
a pedra impiedosa que esmaga o corpo em silêncio
vês-te no homem forçando
o denso mato
arco sangue e espada
o anjo firme
prostrado o alento da terra
seco o peixe
oiço o assobio no quarto do meu
filho
Zé Chove
Desfibrilador, Cautério, Farpa
Difuminada cortina
Aveludada de charutos
Alarmes de vida
Surtos de púrpura
Alegres em ganga nos baldios
Mocassins e meias de algodão
- tens de tê-la toda
Fractais de isabelina telha
Jardins reais
Estátuas escarchadas embebidas pela relva
Choros em fonte
Na madrugada mais entediante
Tábuas e tábuas de charcutaria um pai autoritário
O fósforo cai no álcool
Chora chora
Lá fora
Escorrego de novo na areia
Doutra infância
Cristalizo num modernismo
De aço e gelo. Uma cítara o belo
Perdido eco balbuciante dolente pelos vales sem consolo
A noite volta a cair sobre o refeitório operário
Em surdina a maquinaria
De novo o sol desfibrilador, cautério, farpa
Enfado-me com tanta informação
A chuva uma voz uma correia de biciclete
Talvez um sino
E concerteza um navio que aproxima todos os dias
Orlando Tango
Aveludada de charutos
Alarmes de vida
Surtos de púrpura
Alegres em ganga nos baldios
Mocassins e meias de algodão
- tens de tê-la toda
Fractais de isabelina telha
Jardins reais
Estátuas escarchadas embebidas pela relva
Choros em fonte
Na madrugada mais entediante
Tábuas e tábuas de charcutaria um pai autoritário
O fósforo cai no álcool
Chora chora
Lá fora
Escorrego de novo na areia
Doutra infância
Cristalizo num modernismo
De aço e gelo. Uma cítara o belo
Perdido eco balbuciante dolente pelos vales sem consolo
A noite volta a cair sobre o refeitório operário
Em surdina a maquinaria
De novo o sol desfibrilador, cautério, farpa
Enfado-me com tanta informação
A chuva uma voz uma correia de biciclete
Talvez um sino
E concerteza um navio que aproxima todos os dias
Orlando Tango
Reviro
Reviro o óbvio
Disseco-te entre o espelho
E o ar
Gota a gota
Mais e mais próxima
Do fio
Junto ao pescoço
Manuel Bisnaga
Disseco-te entre o espelho
E o ar
Gota a gota
Mais e mais próxima
Do fio
Junto ao pescoço
Manuel Bisnaga
19.12.08
É Sopro
É sopro que se faz bolbo
E desponta em pétalas
Sussurros de rosa
De coração moldado ao espinho
Nicolau Divan
E desponta em pétalas
Sussurros de rosa
De coração moldado ao espinho
Nicolau Divan
Complexo Industrial
Carros amontoados
Amplas estradas de terra desolada
Terraplenos de camiões enferrujados
Escórias, pneus, amalgamas de armaduras
E as urzes que roturam o solo gretado
As chuvas em manancial de luz
Hidrografia enquinada
Pestilentos lodaçais lagartixas e rasteiros matagais destilando
O branco e vermelhos pardos da alta chaminé solitária
Maquinarias e altos fornos de silêncios
Betão cozido limalhas
Lamas negras, margas, parafusos calcinados
Alma complexo industrial obsoleto
O piar indecifrável dos pássaros
Mário Mosca
Amplas estradas de terra desolada
Terraplenos de camiões enferrujados
Escórias, pneus, amalgamas de armaduras
E as urzes que roturam o solo gretado
As chuvas em manancial de luz
Hidrografia enquinada
Pestilentos lodaçais lagartixas e rasteiros matagais destilando
O branco e vermelhos pardos da alta chaminé solitária
Maquinarias e altos fornos de silêncios
Betão cozido limalhas
Lamas negras, margas, parafusos calcinados
Alma complexo industrial obsoleto
O piar indecifrável dos pássaros
Mário Mosca
Ordálios?
Ordálios?
Que o indizível nos sobrevenha
E abafe o sólido choro
Algo terrível que nos ilibe de toda a culpa
Que emudeça a erva e nos impeça
A vontade
Per i morti reggio emília
Represálias – Sandálias
Comprovo que (deservo) mereço
Toda a dor todas essas dores
Não insisto mais na forma, desisto
Corta o ramo dum só golpe.
André Istmo
Que o indizível nos sobrevenha
E abafe o sólido choro
Algo terrível que nos ilibe de toda a culpa
Que emudeça a erva e nos impeça
A vontade
Per i morti reggio emília
Represálias – Sandálias
Comprovo que (deservo) mereço
Toda a dor todas essas dores
Não insisto mais na forma, desisto
Corta o ramo dum só golpe.
André Istmo
16.11.08
O Cerne do Pensamento
o cerne do pensamento é
a falésia arenítica além Tejo
sem aviso se esb'roa a meus olhos
sob o rio em cascata espumosa
dilui-se nas águas dos cacilheiros
e faz-se meu não como o estáter
encontrado e entregue na boca do peixe
mas outro Tejo fluindo sem substrato
navego nocturnas esquecidas águas
e se me ofusca noite alta um Bugio
do leito com rotina industrial
drago do Tejo areias pretéritas
entre friáticas neblinas do Rio
ergo em pensamento novas falésias
Lúcio Ferro
a falésia arenítica além Tejo
sem aviso se esb'roa a meus olhos
sob o rio em cascata espumosa
dilui-se nas águas dos cacilheiros
e faz-se meu não como o estáter
encontrado e entregue na boca do peixe
mas outro Tejo fluindo sem substrato
navego nocturnas esquecidas águas
e se me ofusca noite alta um Bugio
do leito com rotina industrial
drago do Tejo areias pretéritas
entre friáticas neblinas do Rio
ergo em pensamento novas falésias
Lúcio Ferro
Escórias III
vagidos opalinos de outrora
soam agora sinos do incerto
indexei a criação montei um universo paralelo
Razão tinha o crato o prior
mas é ingrato será melhor
Orlando Tango
soam agora sinos do incerto
indexei a criação montei um universo paralelo
Razão tinha o crato o prior
mas é ingrato será melhor
Orlando Tango
Boletim Meteorológico
vi um torvelinho de paquidermes
em ventania repisando o céu
nuvens elefantinas em manadas
bramindo as árvores com trombas de água
Filipe Elites
em ventania repisando o céu
nuvens elefantinas em manadas
bramindo as árvores com trombas de água
Filipe Elites
Urbanidade
relaxo com os screensavers dos
pcs na sala com a luz fechada
passeio entre os carros estacionados
no parque da universidade
nos países frios fazem música alegre
talvez diminuam os suicídios
quanto mais asséptico o espaço mais
abjecta a intrusão da natureza
a centopeia no lençol, a cobra na sanita,
o escorpião na alcova da criança
Paulo Ovo
pcs na sala com a luz fechada
passeio entre os carros estacionados
no parque da universidade
nos países frios fazem música alegre
talvez diminuam os suicídios
quanto mais asséptico o espaço mais
abjecta a intrusão da natureza
a centopeia no lençol, a cobra na sanita,
o escorpião na alcova da criança
Paulo Ovo
Deleitado
deleitado na líquida dispersão
da multidão diluída no aluvião
da população que é mais gente
mais povo são corpos e corpos escorrendo
num licor de prata luminoso
que suga as sombras, indivíduos torrentes
de humanidade o exagero minguado o espaço
infinito em ondas de pessoas onde mergulho
na multidão na turba no mar humano
e eu mesmo sou a prata que tudo envolve
e banha afago o infinito trespasso
o infinito em multiplicação do sumo
Rui Barbo
da multidão diluída no aluvião
da população que é mais gente
mais povo são corpos e corpos escorrendo
num licor de prata luminoso
que suga as sombras, indivíduos torrentes
de humanidade o exagero minguado o espaço
infinito em ondas de pessoas onde mergulho
na multidão na turba no mar humano
e eu mesmo sou a prata que tudo envolve
e banha afago o infinito trespasso
o infinito em multiplicação do sumo
Rui Barbo
13.11.08
Escórias II
Cansa-te a repetição
A repetição
Estás cansado da repetição?
Sumério binário
Minério sumário
Refrigério bário
Estério armário
Deleutério dromedário
Sério salafrário
O contacto gera identidade
A criança ao leite materno
O fruto ao pássaro
Levei as palavras a pastar
Na carpete cartesiana os dois no futuro
Abstenho-me do sono em fogo lento
Ao prenúncio de vinho no teu lábio
Esquemática paixão conjuro
Orlando Tango
A repetição
Estás cansado da repetição?
Sumério binário
Minério sumário
Refrigério bário
Estério armário
Deleutério dromedário
Sério salafrário
O contacto gera identidade
A criança ao leite materno
O fruto ao pássaro
Levei as palavras a pastar
Na carpete cartesiana os dois no futuro
Abstenho-me do sono em fogo lento
Ao prenúncio de vinho no teu lábio
Esquemática paixão conjuro
Orlando Tango
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