3.2.09

Tiros de Sal

A sombra entranhou-se nas pedras.

Cadáveres de salitre
E bafiento granito
Abandonados em túmulos de silvas

Debruçada em curva fraternal
Sobre dois encurvados carvalhos

Alheado da morte
Jogando ébrio na pista rotineira
Das estações do ano

O Inverno, sacramental
Da noite imprime carácter

Zé Chove

Italianas #1

Quasimodo infantes…

Frammenti lirici

Poesia hermética – Ungaretti

Vita d’un uomo – Terra promessa

Eugénio Montale – male de vivere
Sentido mineral da vida

McCullers

Laranja, sépia, antracite, verde
Inocência paixão amor fertilidade

Fungando as mangas do casaco

Third day malaria

Cross eyed

Mashed rootabeggars
Collard greens

O cheiro dos pessegueiros
Campos trimmados
Chain gang songs

Plow shaft
Furrows newly plowed

Midnight burial in the swamp

Barrancos argilosos


Balada do Café Triste, McCullers

Alheiras de Piroclastos

Alheiras de piroclastos sociais
Coriscantes nas vascas da agonia
Dum verme meio-morto
Disformes bairros
Sem espinhas dorsais

Mário Mosca

Pigmentos

Pigmentos tintas grossa
Terbentina óleo seco aspereza
Linhaça brilho centelha limite
Cerda ráfia
Telas mimesis
Tábua
Entardecer grimshaw
Frandosidade frágeis galhos
Natureza

Madalena Nova

Roman Ingarden

Estratos de Roman Ingarden
seguindo os métodos da fenomenologia
de Husserl:

1 – Estrato fónico
2 – Unidades de sentido
3 – Ambiente
4 – Ponto de vista
5 – Qualidades metafísicas

Zenão

Ninguém tem dois filhos
E já nem o Zenão nos salva
Esquecemos a velha e eterna flecha
E leia nem um paradoxo nos salva

L’homme esi né poltron

Carla Corpete

Raio-X Organismo Decomposição

Dânticas aspirações de sonetos
Ocos como enquinados aquíferos
Com a leveza de grinaldas frásicas
Salada conceptual para a mesa 4
Com esfiapos de tordo-eremita
Que a dona L. resquenta e guarda na marmita
Turdus Aonalaschkae Pallasii
Na mesa ao lado um adónis dourado
Adornado de aromas melífluos
Expande o delirium tremens
Aos que não sofrem de sinusite
A cada garfada nova estocada seca
Nas costas de ex-alunos amigáveis

Lúcio Ferro

25.1.09

Chelas

Bem me fica memorar-te Chelas
Como os amantes que ao perdê-las
Suas amantes desejam vê-las
Em mil reflexos de mil janelas

Filipe Elites

Cachões de Flores

Cachões de flores derramados muro abaixo fragrâncias
Esvoaçantes pássaros de mil cores tijolo e cimento escaldando
Ao sol de Agosto um pimento louro dum meio-dia de boca-cheia
De fontes refrescas frutas sopranas frutas como as brasas entre as grelhas
Sob o carvalho marcando o pino do céu esquecido do transcorrer das horas
Sonhando o aroma das estevas

Zé Chove

5.1.09

Eugène Ionesco

Archivo de imagens #229

Litania

para Arvo Pärt

o tintinabulo súbito
pinga na nuca
faz ribombar a aragem
do temor de deus
réplica dum temor esquecido
que foge ventos fora
no ecoar do sino

Zé Chove

Carroçeiro

Guardar algo que vem do exterior
Na carroça do feno
Uma parte do reino
Qualquer observação
Parte daquela visão geral
Não um desejo mas quase uma teoria
Não procede a vida da visão
Vontade vista deslumbrante
Intelecto possível inflado
Em ascese de atrelado
Cavalgando desabrido
Reclinado sobre a palha
Distraído

Zé Chove

Nuvens e Rochedos - 2nd Round

Nuvens e rochedos
Infâncias outonais varridas de vento
E agressivas urzes
Eu por perto e tu tão dura
Forço por te alcançar no Inverno
Entre lamas revoltas
E o cheiro a chuva num céu tão cego
Sorris no verão mais solta e loira
Em feno de suave encosta
E cegas-me de sol e oiro
O fruto da primavera que rescende no teu dorso
É flecha vermelha liberta sobre a imensidão
Reflicto em onda e luz a escarpa do teu rosto
E estoiro

André Istmo

2.1.09

S. Hieronymus


Cit #28 Joseph Conrad - Lord Jim

...a contemplarem com um brilho nos olhos o esplendor da vasta superfície que é apenas o reflezo dos seus olhares de fogo.

Em nenhum outro modo de vida está a ilusão mais afastada da realidade...
em nenhum outro é o começo uma ilusão tão perfeita... em nenhum outro é o desencanto mais rápido... a subjugação mais completa.

O Rumor

o rumor surdo das rodas
entre monturos valedos sem caminho
sem caminho e sem peso sem detenimento
o rumor surdo dum caminho
sem percurso sem rodas

o caminho de silêncio do pássaro
entre monturos valedos sem espaço
sem espaço e sem peso sem detenimento
o caminho de silêncio dum espaço
sem limites sem pássaro

Paulo Ovo

Hilemorfismo Cotidiano

o enter é transcendental da metafísica
no mínimo um co-princípio
para alguns um amen
assim seja

Lúcio Ferro

Rio

rio rio no meio do rio
refrigério no centro do paul
trauteio
alheado do meu olhar
facas no figado

Diniz Giz

Terreno

escolheste esse terreno
conquistado às margens do rio
viceja com loucura no estio
rebenta em gretas no inverno
o solo macerado de aluvião
marcado na alma de lodo
é branda carne dum garoto
o barro em que moldas o coração
é o bastião em que assenta a vontade
a fortaleza jorra dum coração apaixonado

André Istmo

1.1.09

Bom Ano


Segredo

Um segredo como um barco velho
Preso e escondido entre uns juncais
Sempre com medo dos corvos rabugentos
Que vagueiam em círculos os baldios

Nem medo, nem lei, nem ruídos, nem olhos,
Nem mesmo os nossos, até ao nascer do sol
A sombra a sombra da loucura saída
Da sombra da morte sobre os vivos caída

Em todas as cidades chuva arrasta
Um cheiro de morgue ou de couves
Podres dos pântanos mal dragados

Orlando Tango

Enclave

Baclava – bolo tipo jesuíta
Balaclava – gorro que cobre toda a cabeça menos os olhos; bataclava

De Herodes

De Herodes
Estremecendo como a verde cana
Prostrado sob o teu brado
Aplanador
A plena dor
Vejo-te vires a mim
Sereis por ventura meu guarda
Meu irmão

Recolher-me, vaguear os desertos, de mim mesmo me vingar
Qual consolo
Talvez fechados de noite em cárceres lado a lado
Me reconforte ouvindo o teu sono
Lá fora oiço sobre o lajedo as asas de espadas
Do nosso anjo

André Istmo

Escórias IV

I gloriosi nostri colori splenderanno sempre!
Sicut herbae
It’s hard to believe
When you only see
The backside of the tapestry
Believe
It’s all
Green
Green
Green

A chuva arrasta um cheiro de morgue
Ou de couves podres
Cantos vesperais

Os azedos da oxidada pedra
A pedra azeda
A lâmina de pedra azeda
Sob o rio óxido

A sombra de eternidade
Por fim liberta

Dir-se-á que mentia hoje a um santo

Façam-me reparos sem fundamento
Títeres úberes céleres

Orlando Tango

Sonho Bojudo

Sonho bojudo de seixo maduro
Até à superfície de vapor
Que o envolve em suma
No limite do seu esplendor

Nicolau Divan

SPQR

Modorras post-prandiais
Reclinadas sobre os corpos
De pálpebras maceradas
Em delírios ambrosianos
Os espíritos fremem
Viandas imperiais, alcachofras
Corno gratinado, puré de ostras
No percurso inverso vertem
Ante o vomitório quem se prostra

Filipe Elites

G. E. M. Anscombe

Archivo de imagens #260

23.12.08

Boi Faminto

regatos de urzes abertos húmidos
de espinhosas rochas àguas lacrimejantes
mais loira sobre as escarpas
onde chapa o verão os estratos ósseos secos em pó
ordeno ao mar que te cinzele as pétreas omoplatas
prenhe da luz que cega o boi faminto
choro regatos gravetos vicejantes

André Istmo

Nuvens e Rochedos

Nuvens e rochedos
Infâncias outonais varridas de vento
E agressivas urzes
Eu por perto e tu tão dura
Forço por te alcançar no Inverno
Lamas revoltas
O cheiro a chuva o céu cego
Sorris no verão mais solta e loira
O feno da suave encosta
E cegas-me de sol e oiro
O fruto da primavera que rescende no teu dorso
É flecha vermelha liberta sobre a imensidão
Reflicto em onda e luz a escarpa do rosto
E estoiro

André Istmo

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...