27.10.09
12.10.09
A noite flui cristalina e rubra no vidro de cristal
a noite desce de mansinho como o vinho dentro do copo
a paixão cresce com a suavidade de um anoitecer ou de um amanhecer
E afaga o cabrito-sol
e ainda tem tempo de tocar o dia
por vezes a paixão encabrita-se e é necessário afagá-la, amansá-la
A Lua e o Sol
Perseguem-se como dois amantes inconfessados
Brincam tocam-se cedem e concedem
Envolvem-se azeite e água e choram
Assim assim uma vez e outra sem nunca se falarem
(assim assim) referência ao namoro entre dois entes
puros como só os astros sabem sê-lo
O namoro visto como água e azeite ohohoh
Exibem troféus seus anjos
aqui podem incluir-se todas as maravilhas
provocadas pelo sol e pela lua:paisagens, sombras, reflexos, sonhos que provocam
Os amantes de certa forma também exibem os seus dotes e entregam-se mutuamente
Emprestam e experimentam sobre as mesmas árvores
noite e dia actuam sobre o mesmo mundo mas em alturas diferentes
A entrega da interioridade, a partilha dum mesmo mundo
Pode ser doloroso
Mas quem diz que se conhecem?
Como dizia o Rilke: o amor são duas solidões que se protegem uma à outra
Quem poderá entregar-se totalmente? Conscientemente
Partindo do pressuposto que o amor é entrega de si... Será que podemos conhecer totalmente a interioridade de alguém, ainda que nos seja tão próximo?
a noite desce de mansinho como o vinho dentro do copo
a paixão cresce com a suavidade de um anoitecer ou de um amanhecer
E afaga o cabrito-sol
e ainda tem tempo de tocar o dia
por vezes a paixão encabrita-se e é necessário afagá-la, amansá-la
A Lua e o Sol
Perseguem-se como dois amantes inconfessados
Brincam tocam-se cedem e concedem
Envolvem-se azeite e água e choram
Assim assim uma vez e outra sem nunca se falarem
(assim assim) referência ao namoro entre dois entes
puros como só os astros sabem sê-lo
O namoro visto como água e azeite ohohoh
Exibem troféus seus anjos
aqui podem incluir-se todas as maravilhas
provocadas pelo sol e pela lua:paisagens, sombras, reflexos, sonhos que provocam
Os amantes de certa forma também exibem os seus dotes e entregam-se mutuamente
Emprestam e experimentam sobre as mesmas árvores
noite e dia actuam sobre o mesmo mundo mas em alturas diferentes
A entrega da interioridade, a partilha dum mesmo mundo
Pode ser doloroso
Mas quem diz que se conhecem?
Como dizia o Rilke: o amor são duas solidões que se protegem uma à outra
Quem poderá entregar-se totalmente? Conscientemente
Partindo do pressuposto que o amor é entrega de si... Será que podemos conhecer totalmente a interioridade de alguém, ainda que nos seja tão próximo?
25.9.09
Coração
Um coração esquecido no fundo
Das redes de pesca duma praia esquecida
Varrida de vestígios pelo vento
Vibra ainda o coração como um peixe
Mas cada vez mais hirto sob o império do sol
Já fede adensando a fétida podridão do sargaço
E perde-se na imensidão das areias que só conhecem o vento.
Lúcia
Das redes de pesca duma praia esquecida
Varrida de vestígios pelo vento
Vibra ainda o coração como um peixe
Mas cada vez mais hirto sob o império do sol
Já fede adensando a fétida podridão do sargaço
E perde-se na imensidão das areias que só conhecem o vento.
Lúcia
Podemos sempre forçar a Melancolia
4 da manhã
Mais um voo sobre o Campo Grande
Para onde vai?
Convenço-me de que a escrita
não deve versar sobre a realidade
não interessa. Oh sobretudo a música
o sonho a loucura.
Espamos sobre espasmos sobre a espumosa brandura
Criação convulsa
A noite cala-se lá fora
Por respeito
A um carro que lentamente a cruza
Orlando Tango
Mais um voo sobre o Campo Grande
Para onde vai?
Convenço-me de que a escrita
não deve versar sobre a realidade
não interessa. Oh sobretudo a música
o sonho a loucura.
Espamos sobre espasmos sobre a espumosa brandura
Criação convulsa
A noite cala-se lá fora
Por respeito
A um carro que lentamente a cruza
Orlando Tango
Tentação
Aproxima-se toda fêmea
De mãos e joelhos por terra
Petrificado espelho a insinuação
Das omoplatas, desejo
A tentação é o mosto que lhe escorre
Pelo queixo
E é também o tempo que se prova com um beijo
...................
Chegou algum dia a sublimar-se tal ensejo
Estabiliza-se o movimento em repugnância
Dança dança decadência...
Lúcio Ferro
De mãos e joelhos por terra
Petrificado espelho a insinuação
Das omoplatas, desejo
A tentação é o mosto que lhe escorre
Pelo queixo
E é também o tempo que se prova com um beijo
...................
Chegou algum dia a sublimar-se tal ensejo
Estabiliza-se o movimento em repugnância
Dança dança decadência...
Lúcio Ferro
30.7.09
Discorro com a lucidez
Do fruto fermentado.
Sou o novo Baco que ousou
romper o velho odre.
"Só voga de noite o barco mítico
E assombra os peixes de dia.
As algas mortas escrevem a pureza
Das areias brancas
Acrescentam-lhes o relevo"
Lamento sobre a orgia
sobretudo vomitada:
"A Polpa dos frutos enjoa
A árvore enjoa. A fibra distendeu-se podre
desde o início e a doçura precoce foi um logro."
Chafurdo em toda a gamela.
Presto culto ao nada.
Transbordo lama vulcânica
Do meu peito infante.
Eternamente me converto a uma Ração de Marrãs.
"A nobreza do bago temprano
Destila vileza
Ao sol de justiça exposto
E em breve seca..."
Do fruto fermentado.
Sou o novo Baco que ousou
romper o velho odre.
"Só voga de noite o barco mítico
E assombra os peixes de dia.
As algas mortas escrevem a pureza
Das areias brancas
Acrescentam-lhes o relevo"
Lamento sobre a orgia
sobretudo vomitada:
"A Polpa dos frutos enjoa
A árvore enjoa. A fibra distendeu-se podre
desde o início e a doçura precoce foi um logro."
Chafurdo em toda a gamela.
Presto culto ao nada.
Transbordo lama vulcânica
Do meu peito infante.
Eternamente me converto a uma Ração de Marrãs.
"A nobreza do bago temprano
Destila vileza
Ao sol de justiça exposto
E em breve seca..."
19.6.09
A culpa não é minha
A soma é real
Decalcam-se na vidraça de meus olhos
Extractos de objectos que me enquadram
Me impedem de cair
Uma estrada de alcatrão
Duas dolentes calçadas como asas
E um escorço do exército de alinhados plátanos
De troncos manchados pela chuva
Adensando o fundo de verdes férreos
Ordenando a matéria as matrículas dos carros
E a sequência finita dos pilares junto aos lancis enferrujados
A tentação é o infinito.
E no entanto estanco a cada passo e gravo
Mais uma prancha de volumes sintetizados
Um parque de parda relva macerado verde
E várias pedras incrustações na terra pedras
Uma bic cristal sem carga carregando o brilho do sol
Sal pisado, elementos que se multiplicam em mil reflexos
Carteiras de instantâneos desdobradas
Individualização do que se prova colado.
A perspectiva jorra sobre o plano-chato
Que se arquiva na memória
A memória é ávida como um sótão
Jamais se enche na sua aleatória arrumação
Que o que se perde não ocupa espaço
Não conhece nem o dia nem a noite
Onde apenas baloiça esquecido um vago candeeiro de tecto
Entre caixas e mais caixas e concerteza muito mais caixas
Cheias e vazias lado a lado juntas segundo algum critério
Mas com critério aquele que é mutável.
Orlando Tango
A soma é real
Decalcam-se na vidraça de meus olhos
Extractos de objectos que me enquadram
Me impedem de cair
Uma estrada de alcatrão
Duas dolentes calçadas como asas
E um escorço do exército de alinhados plátanos
De troncos manchados pela chuva
Adensando o fundo de verdes férreos
Ordenando a matéria as matrículas dos carros
E a sequência finita dos pilares junto aos lancis enferrujados
A tentação é o infinito.
E no entanto estanco a cada passo e gravo
Mais uma prancha de volumes sintetizados
Um parque de parda relva macerado verde
E várias pedras incrustações na terra pedras
Uma bic cristal sem carga carregando o brilho do sol
Sal pisado, elementos que se multiplicam em mil reflexos
Carteiras de instantâneos desdobradas
Individualização do que se prova colado.
A perspectiva jorra sobre o plano-chato
Que se arquiva na memória
A memória é ávida como um sótão
Jamais se enche na sua aleatória arrumação
Que o que se perde não ocupa espaço
Não conhece nem o dia nem a noite
Onde apenas baloiça esquecido um vago candeeiro de tecto
Entre caixas e mais caixas e concerteza muito mais caixas
Cheias e vazias lado a lado juntas segundo algum critério
Mas com critério aquele que é mutável.
Orlando Tango
Andor Azedo
Mais açúcar numa bica já cheia
Dissolvo tudo até se tornar concreto
O que foi doce é hoje um andor azedo
Um barco que sobe o Tejo contrafeito
Madalena Nova
Dissolvo tudo até se tornar concreto
O que foi doce é hoje um andor azedo
Um barco que sobe o Tejo contrafeito
Madalena Nova
For You My Love
Que belo o que escrevo se trás o teu cheiro
Contagiado em teu verde ópio lírico
Percorro o delírio irmão mais velho
De tuas veias dissolutas em Ouro onírico
Lúcio Ferro
Contagiado em teu verde ópio lírico
Percorro o delírio irmão mais velho
De tuas veias dissolutas em Ouro onírico
Lúcio Ferro
30.5.09
Decisões Betonadas
permanece na memória, imarcescível
das decisões betonadas
com a sua vida parada e uma armação inamovível
A noite desceu infrene
O meu maior medo é que me venha a falhar o coração
Zé Chove
das decisões betonadas
com a sua vida parada e uma armação inamovível
A noite desceu infrene
O meu maior medo é que me venha a falhar o coração
Zé Chove
nas praias de mares distantes
nas praias de mares distantes, sob um sol apaixonado e sem consolação
Imobilidade petrificada da sua forma branca
Perturbou profundamente o meu espírito com o horror passivo e irremediável da cena
Rolando Rabaça
Imobilidade petrificada da sua forma branca
Perturbou profundamente o meu espírito com o horror passivo e irremediável da cena
Rolando Rabaça
Hammond na bagageira
Pedrito e Júlia percorriam a costa do mediterrâneo num furgão
Com um Hammond na bagageira
Espalhavam sua magia romântica
Pelos estabelecimentos onde se joga o bingo sueco
Rolando Rabaça
Com um Hammond na bagageira
Espalhavam sua magia romântica
Pelos estabelecimentos onde se joga o bingo sueco
Rolando Rabaça
Canção
Canção - Canção
Écloga – temas pastoris = idílio ≈ bucólicas
Elegia – choro lamento (escrito qd alguém morre) confira cinzas de la muerte, tristes de Ovídeo, lamentações de Job e Jeremias 10sil 6ªe10ª
Dolora (esp…) – variante da elegia. Pequeno tema afectuoso e sentimental
Epigrama – curta – breve – satírica – festiva
Epitáfio – destinado aos sepulcros. Dedicado a um morto.
Epitalâmio – cantar o amor entre os novos esposos
Idílio – poema curto de tema bucólico_idilio significa pequeno quadro: 6 ou 7 silabas
Natureza idealizada
Letrilha – poema fácil de carácter amador ou burlesco. Repete o estribilho no final de cada estrofe
Madrigal – composição breve de tema amoroso. Exalta o amor e a graça feminina.
Ode – referente ao canto. Interpretava-se acompanhada pela lira. Tema diverso, linguagem elevada. Descrição lírica do belo e dos valores dos seres humanos. Exaltação e elogio de personagens e instituições.
Tipos de Odes segundo o tema: heróica, sagrada, moral…
No Hino o tu tem poderes superiores de resto é igual à Ode. Eram os cânticos de louvor aos deuses gregos.
Ditirambo – dança africana. É um hino em que exaltação atinge o êxtase.
Salmos – Hinos litúrgicos
Epinicio – aos heróis dos jogos olímpicos
Sátira – Propósito crítico ou humorístico. Confira sátiras de Menipo e cantigas de Escárnio.
Écloga – temas pastoris = idílio ≈ bucólicas
Elegia – choro lamento (escrito qd alguém morre) confira cinzas de la muerte, tristes de Ovídeo, lamentações de Job e Jeremias 10sil 6ªe10ª
Dolora (esp…) – variante da elegia. Pequeno tema afectuoso e sentimental
Epigrama – curta – breve – satírica – festiva
Epitáfio – destinado aos sepulcros. Dedicado a um morto.
Epitalâmio – cantar o amor entre os novos esposos
Idílio – poema curto de tema bucólico_idilio significa pequeno quadro: 6 ou 7 silabas
Natureza idealizada
Letrilha – poema fácil de carácter amador ou burlesco. Repete o estribilho no final de cada estrofe
Madrigal – composição breve de tema amoroso. Exalta o amor e a graça feminina.
Ode – referente ao canto. Interpretava-se acompanhada pela lira. Tema diverso, linguagem elevada. Descrição lírica do belo e dos valores dos seres humanos. Exaltação e elogio de personagens e instituições.
Tipos de Odes segundo o tema: heróica, sagrada, moral…
No Hino o tu tem poderes superiores de resto é igual à Ode. Eram os cânticos de louvor aos deuses gregos.
Ditirambo – dança africana. É um hino em que exaltação atinge o êxtase.
Salmos – Hinos litúrgicos
Epinicio – aos heróis dos jogos olímpicos
Sátira – Propósito crítico ou humorístico. Confira sátiras de Menipo e cantigas de Escárnio.
30.4.09
A Profecia de Leverkühn
"Toda a inspiração Vital da Arte, creiam-me, há-de alterar-se, tomando o rumo da modéstia e da jovialidade. Isso é inevitável. Será uma evolução benéfica. Boa parte das ambições melancólicas se desprenderá dela, e uma nova inocência, ou até mesmo uma genuina inocuidade, ser-lhe-á peculiar. O futuro verá nelaela mesma verá em si novamente a serva de uma colectividade, que abraqngerá muito mais do que apenas «instrução» e não terá, mas talvez seja, cultura. Para nós, é difícil imaginá-lo, e todavia isso existirá, será totalmente natural: uma arte sem sofrimento, psiquicamente sã, desprovida de solenidade, nada triste, sociável, que tratará por tu a humanidade..."
Thomas Mann - Doktor Faustus
Thomas Mann - Doktor Faustus
Arca Velha
Afago 1917 em rebites na tampa do baú
Onde guardo a memória e sobre o qual me dobro
Um dia o sol entrou nesta sala
Como o baú tão oca e seca como a brancura
desta cal que greta onda o olhar se perca
absorto em tanto traço do passar do tempo
onde tudo converge e se intersecta
em velho couro tisnado de arca velha
que calor da solidão verga e desenha
um novo mundo em linhas perdidas
percutidas por uns dedos distraídos
Zé Chove
Onde guardo a memória e sobre o qual me dobro
Um dia o sol entrou nesta sala
Como o baú tão oca e seca como a brancura
desta cal que greta onda o olhar se perca
absorto em tanto traço do passar do tempo
onde tudo converge e se intersecta
em velho couro tisnado de arca velha
que calor da solidão verga e desenha
um novo mundo em linhas perdidas
percutidas por uns dedos distraídos
Zé Chove
Ementa
3ª feira – Choco com a realidade
4ª feira – Francesinha e Passas
5ª feira – Polvo Radiante
6ªfeira – Caldeirada de Tudo S. Ânsias
Sábado – Bife da Vazia
Domingo – Açorda Apática
2ª feira – Ensopado de Vinho
3ª feira – Choco com a Realidade
4ª feira – Francesinha e Passas
5ª feira – Polvo Radiante
6ªfeira – Caldeirada de Tudo S. Ânsias
Sábado – Bife da Vazia
Domingo – Açorda Apática
2ª feira – Ensopado de Vinho
3ª feira – Choco com a Realidade
29.4.09
Lamento
enquanto permaneci calado os meus ossos
secaram dentro do meu corpo e regurgitei sobre
as minhas chagas o fel da minha auto-compaixão
senti primeiro uma tepidez benévola até ao dia
em que acidez do verme me oxidou a pele
e os músculos assim expostos foram o ridículo
para os meus companheiros.
os meus olhos são poços
as minhas narinas fossas
e assim sirvo
àquela que me traz cativo
Tomás Manso
secaram dentro do meu corpo e regurgitei sobre
as minhas chagas o fel da minha auto-compaixão
senti primeiro uma tepidez benévola até ao dia
em que acidez do verme me oxidou a pele
e os músculos assim expostos foram o ridículo
para os meus companheiros.
os meus olhos são poços
as minhas narinas fossas
e assim sirvo
àquela que me traz cativo
Tomás Manso
Vibrações
já farto das contabilidades escapo-me até à casa-de-banho do escritório
e esvaiu-me em frente ao espelho
enquanto faço caretas imitando um velho rezinga
a ser electrocutado, vibrando
até que o tremor do corpo assuma trejeitos de dança africana ou ritual epiléptico
e toda a tensão estática do computador acumulada
se esparrinhe nas gotas incertas do lavatório
e já amansado volte à labuta
a um teatro mais civilizado
Tomás Manso
e esvaiu-me em frente ao espelho
enquanto faço caretas imitando um velho rezinga
a ser electrocutado, vibrando
até que o tremor do corpo assuma trejeitos de dança africana ou ritual epiléptico
e toda a tensão estática do computador acumulada
se esparrinhe nas gotas incertas do lavatório
e já amansado volte à labuta
a um teatro mais civilizado
Tomás Manso
27.4.09
Epitáfio
a boa luz fere os olhos maus
o calor a uns dilata a outros endurece
desço ao sepulcro do teu peito de rocha
o teu corpo é o melhor cárcere
a ele me entrego
Lúcia
o calor a uns dilata a outros endurece
desço ao sepulcro do teu peito de rocha
o teu corpo é o melhor cárcere
a ele me entrego
Lúcia
26.4.09
Osgas
osgas com três palmos da cabeça à ponta da cauda
e a grossura de chouriços de sangue
escapam-se da nossa vista nestes tempos de penúria
e lançam-se pela vida cansadas da verticalidade das empenas e dos olhares enojados,
rebentam umas dezenas de metros lá em baixo
espalhando as suas mornas vísceras no exíguo saguão sob um céu ensanguentado
Tomás Manso
e a grossura de chouriços de sangue
escapam-se da nossa vista nestes tempos de penúria
e lançam-se pela vida cansadas da verticalidade das empenas e dos olhares enojados,
rebentam umas dezenas de metros lá em baixo
espalhando as suas mornas vísceras no exíguo saguão sob um céu ensanguentado
Tomás Manso
11.4.09
Mediterrâneo
Não vi mas acredito na sombria sala
onde jazem homens mortos na fria tijoleira
cuidados por matronas silenciosas
vestidas de pano cru como a cortina que nos esconde
da omnipotência branca do sol mediterrâneo
são intermináveis os dias alimentados na flor da laranjeira
Zé Chove
onde jazem homens mortos na fria tijoleira
cuidados por matronas silenciosas
vestidas de pano cru como a cortina que nos esconde
da omnipotência branca do sol mediterrâneo
são intermináveis os dias alimentados na flor da laranjeira
Zé Chove
Dezenas
já se roçam nas paredes as osgas rançosas
e já caem das telhas andorinhas centelhas
o sangue espumoso de cem cavalos
Lúcia
e já caem das telhas andorinhas centelhas
o sangue espumoso de cem cavalos
Lúcia
Co
Convulsões de líquidas noites
azul petróleo nuns ombros de Carrara
umbros olhos pesados de incerteza
ou melancolia
Henrique
azul petróleo nuns ombros de Carrara
umbros olhos pesados de incerteza
ou melancolia
Henrique
9.4.09
7.4.09
O Enxurro
Traz enxurro
Arrastou-se gordo pelas folhas adormecidas e pela lama
Murmúrio através dos tabiques
Romperam endemoninhados
Sepulcros fora
De calva e ventre gorduroso
videira solo arenoso
cepa na areia
a parra, o sarmento, o cacho
Silêncio e humidade até à medula
A muralha exala-se em bafo
O esboroar secular das rochas
O cheiro a floresta apodrecida
Vida secreta e vida subterrânea
Tabiques escafiados
Pardacentas salas
Atrás de salas
Labirintos cúbicos de decadência.
“Cobrindo o céu uma só nuvem do mesmo cinza
Desta desolada praça de granito, uma só árvore
A humidade substitui as sombras
Um só dia, uma só badalada cai do sino”
É hoje que virão para me abater
Oiço já os seus passos e as suas conspirações
Suspiradas nas escadas do prédio
Alma de pélago
Não me vou mexer
Varra-me o temporal
Orlando Tango
Arrastou-se gordo pelas folhas adormecidas e pela lama
Murmúrio através dos tabiques
Romperam endemoninhados
Sepulcros fora
De calva e ventre gorduroso
videira solo arenoso
cepa na areia
a parra, o sarmento, o cacho
Silêncio e humidade até à medula
A muralha exala-se em bafo
O esboroar secular das rochas
O cheiro a floresta apodrecida
Vida secreta e vida subterrânea
Tabiques escafiados
Pardacentas salas
Atrás de salas
Labirintos cúbicos de decadência.
“Cobrindo o céu uma só nuvem do mesmo cinza
Desta desolada praça de granito, uma só árvore
A humidade substitui as sombras
Um só dia, uma só badalada cai do sino”
É hoje que virão para me abater
Oiço já os seus passos e as suas conspirações
Suspiradas nas escadas do prédio
Alma de pélago
Não me vou mexer
Varra-me o temporal
Orlando Tango
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Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
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