16.8.11

escolhas - choices


Carros alemães, mulheres romenas, comida portuguesa,
vinho francês, festas espanholas, casas italianas,
música inglesa, morangos de sintra, combustível marroquino,
cebolas de chaves e alhos de alhos vedros

Filipe Elites

Entrada dos Mortos


O segundo nome deste blog era Archivos Mortos

Maconha et Circenses

"Vivemos numa época de racionanismo social - e o povão que engula!"
Alessandro Moreschi, o último castrato


Portugal pela escala e pela necessidade podia tornar-se um estado avançado do Brasil,já que, a união ibérica não surtiu efeito, após tentativas tão ambiciosas, falhada a coligação europeia que tantos dissabores nos trouxe, chegou a hora de depôr as armas como Vercingetorix outrora aos pés de César e deixar que a antiga sanzala se torne casa imperial, verguem a cabeça oh lusitanos como as américas fizeram perante o negro Obama e aspirem a ser capital dum reino que já calcaste como Maria esborrachou a cabeça do dragão.
É a tua oportunidade de voltares ao esplendor das capitais mundiais e a corrupção está-te tanto no sangue...
Durão



Vi-a balançar num gancho gasto de açougue
o olhar baço, cabelo desgrenhado o lábio frouxo
Kon


perguntei-lhe se a podia chamar pelo nome da minha ex...
macaco articulado


A glória recai sobre os que a não procuram
Como esta canção sobrevoa os que andam cegos pela rua
vivem a vida, casados com a música que os arrasta sem rumo
e a lua e a lua no alto dos céus enche-nos de glória
Pe. Zé


Um cornudo enamorado pela lua
abandona cedo a taberna e vai andando
baseado e vê as cores das fachadas
alteradas
Picardo

Sem Você Ver


amada ouça que tenho pra lhe dizê
te amo demais sem você ver
como o mineiro que sol não vê
extraio o ouro do seu sorriso
minha razão de viver

como as raízes da árvore mulher
como os pilares nobres do castelo
como a lua ilumina a cidade dormindo
como a âncora do barco atracado mulher

asseguro teu futuro sem tu ver
ilumino o teu caminho sem perceber
atracado no teu corpo feminino
com o desejo sem tocar mulher

Raimundo Nonato

Cravos



Se deus está nos detalhes
dos detalhes sou escravo
e se os cravo na tua carne
meus dentes são detalhes

entalhes esses sinais
que marcam o caminho
no braço tatuado dum cristo
pelo flagelo descarnado

tuas dores são detalhes
detalhes de deus teu escravo
caminho de carne sinais
nos braços cravados

(e o sangue...)

Nanahuatzin

16.6.11

Vidigal by Night

Street Fighter

fixação obsessiva atenção
esmagada sobre a carne exposta
com a corrosão do limão
infligindo dor - ela gosta

ela delira com a pressão
o choque dirigido sobre os quadris
ave em queda livre o avião
o turbilhão agiganta-se e tu ris

irisão angioma que aflora
ardor de prazer que faz ebulir
as lágrimas no pescoço amado

vêm agora os gemidos agora
o brandir do sabre a cuspir
o sangue no pescoço decepado

Zé Chove

Forró-Afandangado

caqui ou dióspiro
suspiro, suspiro e inspiro
cofio a patilha que é costeleta
e masco a pastilha-bala
e se a bala é bala
é porque com ela ninguém se mete
que ainda se mata
oh mata atlântica oh mate Leão
aqui pantera mais fraca é uma onça
e o torniquete baptizado catraca
Zé da Catraca sem que tenham de pagar portagem
que aqui é pedágio
não pelágio não ao negócio
não ao contrabando nas ruas do crack
mais um galho que se quebra
que se corre o bicho pega
que a pêga não é bicho até o cego enxerga
que o governo é o chupacabra
todo o mundo verga
perante a bunda mais larga
perante o mundo eu tiro o pote da farofa
e me chamam de bimbo que lá é brega
e danço tanto vira num samba de palavras
que a camiseta se cola à parte de trás
da t-shirt e desapareço, dou de fuga
em busca da frescura dum boteco no interior
resguardado da praia mais larga
escondida da polícia abafada de côcos frescos
e meninas de canga de pele morena
e uma estridência na voz que me deixa Corcovado

Sôr Flamengo

Condicional duma História Mais Longa

e se abandonar o nosso lar contrafeito
deixarei rastos da minha carne no hall do elevador
lunático e definhando caminharei as ruas sem ver o sono
como um cachorro rejeitado que lambe as chagas provocadas
pelo mijo seco dum leito passado

Filipe Elites

Controlo de Pragas

Depois de 3 meses de busca no Rio decidi aventurar-me pela Ilha Grande onde sempre precisam de garçons e copeiros num dos 250 motéis. Acabei por ser contratado naquele ano para integrar uma equipe de controlo de pragas símias. Os miquinhos andavam com a raiva. O nosso trabalho era proteger os turistas sem que se apercebessem da carnificina operada na selva infernal vizinha das paradisíacas praias. Os danados são loucos por bananas passadas do ponto enganávamos os macaquinhos como crianças doidas por gulodices... Chegávamos a casa com sangue até às cuecas. é incrível as litradas que tão pequenas criaturas espirram na excitação de se despedirem das selvas eternas para mergulharem no sono leve dos trópicos... Tudo é eterno de certa forma... O enjôo é que difere. Eu cansei-me de levar a matança a sério e passava os dias no mangue fantasiando em velhas lendas e crenças brasileiras.

Sôr Flamengo

Drave

Eu já desci a  serra em direcção à aldeia de Drave
Por entre encostas ruças e empinadas
onde se ouviam os pios melancólicos do milhafre
e o berro folgado da cabra

Maria Vouga

Mohammed VI of Morocco

Marrocos

gastei as minhas sandálias pelas 5 cidades imperiais
de Marrocos. Foi por altura do Ramadão de 2010 no ano em que o
pó secou todas as gargantas e enriqueceram os vendedores de chá de menta e sumo de laranja. Nas ruas apertadas os doces de mel cobriam-se de pretas abelhas zunindo de tanta doçura. Deixei que me ludibriassem os faux guides para sentir a graça de me levarem às suas casas.
conheci as riads decadentes das flácidas berbéres.
De todos os cantos mergulhados em sombra eu ouvia Róia, Róia
Amigo, amigo e quando me afastava sem largar a prata Portuguesis Tesis...
Nos açougues retiravam a pele da cara do camelo e as moscas vigiavam as patas de cabra ensangüentadas

Zé Chove

1.6.11

Eles são sombras

Eles são sombras
Recortadas na pública
Iluminação de sódio
Dos becos malafamados
São miasmas
Destilam ódio
Pelas gretas
Onde fogem as baratas
Tocam quem passa
Intrusivos infestam como peste
Nas narinas enojadas
Infiltram-se como mijo seco
Nas paredes das cidades
E fogem sob o cobertor de sarja
Da própria alma

Zé Chove

Silêncio-Incêndio

estalam os azulejos da velha casa
um fogo alto rebenta os telhados
o fumo grita louco pelo vale
e não se vê vivalma
é o ermo
a aldeia abandonada
fogem ariscas as raposas
rebentam os pinhos
rolam as pedras pela terra queimada
as chamas lambem infernais
o granito do cruzeiro
ao centro da praça alto e pardo
estrelejam as estevas ofendidas
e lançam o cheiro da desolação
mas não há quem veja
ardem em silêncio
as coisas esquecidas
ardem envoltas em melancolia
as pedras que homem esqueceu

Lúcio Ferro

Faz Chorar

Faz chorar ver consumir-se assim uma história
uma tradição tão antiga tão fincada na terra
como uma aldeia perdida nas faldas duma serra
faz chorar ver partir em silêncio a memória

Faz chorar uma intensa alegria alheia
de alguém tão feliz que também chora
por ver um filho regressar inteiro
faz chorar quando enfim chega aquela hora

Faz chorar relembrar a juventude
e a saudade é um fogo impossível de apagar
faz chorar não ter sabido aproveitar
e viver as alegrias em toda a plenitude

Tomás Manso

28.5.11

Oh vós que pendeis desse lado da amurada

Oh vós que pendeis desse lado da amurada
do  oceano atentai na nossa pequenez
Oh vós postados nessoutra quina Atlântica
senti como o meu amor é extenso
e mareia nas margens do vosso quintal
em ondas sopradas do meu peito amazônico
e em lavrada poesia lusitana me expresso
a língua em que me melhor ecoa a saudade
a mercadoria que a vossas altezas envio
meu ouro, prata, canela e pimenta
feitos amor na imensa distância

Brás

Bless the System

Entre fotocópias enfrentas a vida
contribuis pró orgulho da empresa
e no pó te espera um terno e um sapato
é teu conforto do dia a dia
o trabalho que te absorve a energia
o corolário de uma vida de estudante
o construir duma reforma segura
e de apartamento em apartamento às de subir
talvez um dia um ecran plano
e vives um sonho de autocarro
bendizes o governo e segurança social segura
e se à noite tiveres fome
sempre tens a gravata ou o jornal distribuído
no metro
lisboa empresarial acolhe
de braços abertos do teu cristo
mais um seixalense aflito
lisboa dos ministérios frescos
acolhe mais um camponês afoito
vinde todos enrascados de vendas-novas ao magoito
vinde oh moçoilas casadoiras
conhecer empreendedoristas de barba azul
vinde oh bimbos de gel no cabelo
vinde conhecer a glória da empresa
e abençoai o sistema
no silêncio da vossa kitchnet
abençoai o sistema

Filipe Elites

Gado Velho

lá onde os homens nascem de badalo ao peito
e as mulheres de novas balem como cabras
entre os monturos brutos do granito preto
desceu um dia a torrente da lama danada

depois de séculos de sentimentos acerbos de glória
chegou enfim o momento da cegueira
em que loucura dá os passos derradeiros
e a ebriedade do coração, mata qualquer réstia de razão
e as mãos calejadas de sangue
afagam o rosto das crianças esfomeadas
e saem para a labuta numa outra madrugada

Maria Vouga

Esquinas Dobradas

Esqueci-me a cada esquina dobrada
das fachadas das ruas passadas
como às culpas da minha vida
absorto nos passos do dia-a-dia

mas ao chegar a casa
mas ao chegar a casa
a iluminação noturna
desenha de luz as avenidas
e um sentimento de falta
meus trajectos popula

mas ao chegar a casa
mas ao chegar a casa
desejo voltar a trás nos meus passos
e traçar novas fachadas nos prédios
mas desmorona-se o passado
mas desmorona-se o passado
a cada esquina dobrada

Madalena Nova

Pai Tejo

Tejo pai justo que distribuis tuas riquezas
pelas tuas filhas deitadas no teu regaço
A umas enches de luz e a outras desenhas rostos delicados
Tejo irmão fiel do sol a quem espelhas
Irmanam-se de ti as estrelas irmãs pequenas por ti se guiam
e és o céu das barcaças que por ti navegam oh Tejo
e as casas depositam em ti seus olhos abismadas
Tejo que recolhes as almas e as devolves ao oceano

Lúcia

Mangue Beat Me

As botas escorrendo mangue
nos pulsos lama e sangue
àguas mornas e barrentas
manhãs de bolor, tardes lentas

meu cheiro afasta o gringo
como se eu fora leproso
mas a mulher c’oa janta pronta
me agarra e beija gostoso

e a terra é tão mole
junto ao nosso rio
que se abrem as covas
e os mortos voltam à vida

e o siri branco de chuva
alimenta o povo como hóstia
e a gente que reza no mangue
apesar do cheiro tem alma pura

Sôr Flamengo

Endorfina Caseira

chicoteio o ar indiferente
e o vento imemorial e sem razão
atinge as melenas do cabelo
esbofeteia-me
e só me resta mais uma cerveja
na geleira
a chuva explode lá fora
e as dúvidas afogam-me no lava-loiças
as beatas bóiam amarelas na sanita
e os olhos amarelos de diabitas
arrebitas o coração no sofá
e excitas
minha vontade de fanecas fritas
as baratas escondidas nas esquinas
e cruzando livres o balcão as formigas
abres as pernas com calças de licras
e a libido desperta firme e hirta
deseja o lábio da ave triste
minha esposa aflita
e o cómodo todo em eco grita
e o caudal do ventilador agita
as saias da vizinha
e enfim liberta a endorfina
a vontade maligna sibila
os baby-grows espalhados nos espaldares improvisados da cozinha
os cinzeiros atafulhados de cinza
uma barba grisalha e fina
collans de fidro em fim de vida
um triciclo sem rodas
e um vaso com cactos ressequidos
as portas abertas que há muito se partiram os gonzos
e na rádio a chuva poluída sobre as ondas hertzianas
sobre a mesa fedem três tocadas bananas
e em toda a atmosfera os reis são os minúsculos mosquitos
todas as palavras proferidas são ordens e voujás entediados
os pneus do alonso acompanham o varejar das moscas orgulhosas
as plantas gritam de sede
e ainda temos de ir à Missa
e os pedaços ressequidos de frango sobre a mesa
entre chaves de casa, saleiros, óculos de sol, facturas por pagar
um cão em cima duma cadeira coçada pelo próprio
nos quartos as camas amassadas exalando os suores de morfeu
camadas de pó sobre os livros nunca lidos sulcados de pintelhos
junto às janelas pequenos insectos mortos
falhas na parede ajeitadas com bochechos de cimento
algures um papel de parede enfolado
ouvem-se a milhas uns sussurros de vizinho distorcido pelos corredores de mármore frio
cebola avinagrada pelas portas do frigorífico
tardes infindas ao ritmo seco duma bola de basket algures no pátio
tanto tédio que adormece as moscas sobre os reposteiros verde ácaro de veludo napolitano
depois duma sesta esmurrada nos olhos
e uma cagada merecida lendo uma revista sobre os lamas extintos
envergo de novo o pijama

Zé Chove

Realidade Abatida

quando se abate a tarde
a machadadas lentas sobre o horizonte magoado
dá-nos a vontade de comer
e refastelados pensativos sem rumo
rastejamos sem matéria de cuecas no sofá
e desejamos uma aura mística sobrevoando
a nossa vida de cães cronometrada
os olhos percorrem a perspectiva de candeeiros
da avenida e um arroto satisfeito
traz-nos de novo à realidade

Diniz Giz

26.5.11

Ring

Oh Vento Norte

vem além de toda a solidão
das brumas de todo esquecimento
entre as ondas tristes do entardecer
com o som da revoada oh vento norte
terei para ti a carne no fogo
e a cama vestida de lavado
as portas abertas ao teu corpo etéreo
e o teu espírito pela janela há de entrar
vem com as brisas entre os sobreiros
desce pelos vales da sombra de pinheiros
que te aplaudam as braçadas rio acima
e as copas dos salgueiros

Paulo Ovo

Chelas City

Chelas que te esfumas
entre baldios com teus prédios anónimos
toda cruzada de largas estradas
mesclada de tantas raças
tanta ignorância em tuas avenidas pardas
Oh cidade cinemática sem horizontes
onde estão tuas quintas
quem rebentou teus antigos muros
abandonaram-te os eremitas
secaram tuas árvores de fruta

Filipe Elites

Arrivals

Chegamos à vista do porto calmo
e na lonjura dos anos um som de guitarra faz nos chorar
desfaz-nos o peito a doçura da saudade.
Chegamos agora de avião
e uns meses que parecem sempre anos
fazem que os cheiros familiares
oh doce Lisboa
nos façam chorar
e esta luz que te envolve
e os vultos negros que cruzam a calçada...

Lúcia

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...