28.8.08

Existencialismo Crítico

Dizer o que são as coisas?
Negar a existência?
A incapacidade da definição

Que nos diz o sol do ser das coisas?
Um vórtice branco em permanente movimento
Infuso nas coisas
Já na noite nem flúi o rio
Mas divido o vento segundo a segundo
E adensa-se o frio
E penetramos a água com nossos ramos
Vivemos materialmente vivos
Mas vemos nossos reflexos
Na superfície espelhada do rio

O azul guarda as margens do rio
Definha o risco em brilho curvo arisco
Suspiralívio o novo início
Gemendo

O galho que se partiu.

Zé Chove

Mais Meditação Mística

Entro o abismo branco e o abismo vermelho
Caminho na helicoidal fímbria que os mistura
Desisto de andar resplandeço de tontura
O silêncio de ouro encharca-me de medo

Filipe Elites

Those were the best days of my life

Wittgenstein

Oi de mim!

Afasto o ombro à trajectória
Do velho em peito cheio que sai de mim
Se vou falhar encolho os olhos
Afasto meu bafo afoito se mofam de mim
Tenho a auto-estima escatimada só
Pelos escolhos da vida em mim

Nicolau Divan

Pensamento Moral

Agoniza envolta em transparência
A transparência vertiginosa da aragem
A da água que agudiza o gume
Que divide alma em lento lume

A neve é penugem que geme sob os meus pés
A flébil superfície moral
É emulsionamento do espírito

O gélido gel cristaliza o frágil gemido
Melodioso de melífluo mel flutua mole na libido
(palavra feminina?)
Abstraia a mosca do maldito caramelo
Mas não a mate
Tenha vergonha abstenha-se
Destilado em tanta clareza
Talvez seja divisado

E aliado da civilização te enleio
E escondo gemendo como as gentes
E bento me sinto iludindo transparente

Lúcio Ferro

Konrad Lorenz

Éden

Também somos esse Gan
Não tem de correr a fonte
São necessárias as árvores de fruto
A fonte ao centro do jardim murado
Ínflasse a analogia
Transborda a realidade do cálice
Enche-se de aromas o jardim

André Istmo

CIT - 23 - ELIOT

Where is the wisdom
we have lost in knowledge?
Where is the knowledge
we have lost in information?

T. S. Eliot

27.8.08

Manifesto Incompleto

Emulacionismo
Poesia-sucedâneo
Flébil

Assenta sobre o cosseno da sapiência

Superfícies

A rosa roda volteia gira e afunila
A roda a moda
As essências o ouro
O diamante
A carne ao abrir a porta
O luxo o relógio
Segundo o belo
Não serve de nada
O dinheiro o fresco
Montra de superfícies
A pela a marta a água o rímel
É tarde é tarde a sociedade
La suciedad
A novidade
Conjuro o requinte
O tesouro a foto a foto e a foto
Seguinte
Desmedidamente no mundo me afundo


Madalena Nova

Pink Floyd

Arrebatamentos Místicos

Guardo o brilho latas e vidros
Num recanto resguardado na estante do meu quarto
Na escuridão escaravelho descanso cego
De ânsias com ânsias de criança anseio
O recorte a sorte aquela parte
Da tarde em que o sol mais arde
E a sua saia saraiva de esguelha e espalha
Faíscas esfiapos faúlhas e farpas de luz
Aplanando os planos banhando as paredes de branco
E num momento a sombra dos recantos
Do meu recanto empurra
Trespassa de cor e água as vidraças
Gonzos espalhados de anjos tantos halos
Reflectidos nas garrafas frias
E grossos frascos de gelo frácteos
Explode um lago em sol fulmina a fonte de fotões
Festa alegre flores festões
Rendas de luz em folhos molham as sendas
Emersos frondam os olhos submersos
De lágrimas fisiológicas incontidas patológicas
E um sal de sol aguado na saliva
É onda profunda mandriona
Afundado num edredon
O peito de ser em vento satisfeito
Vento de lento alento acalentas o pranto
Pronto vento que arejas a areia da praia
Com sopradelas desmazelas os cabelos das donzelas
Ouves e escondes nas florestas as conversas
Impetuoso imperas à chuva imensa
Enfunas os vestidos no estendal e amparas as aves contra o sol
Varres oh vento as folhas às árvores
Vagueias as veredas os verdes vales
Desvendas verdades enfunas a densidade
Crivas de raiva o rochedo na sua vaidade
Investe e reveste de vigor o teu servo

E vinga oh vento a valsa da minha vontade

Paulo Ovo

Cavadelas

Entre a hifenização do indivisível
Ou a proposição entre aspas
Dos artigos artilhando artigos
Ou a semeadura de sinalefas
Nas traseiras da folha
Tudo cavadelas estéreis

Encetei sete letras a ponta de seta
Na retina-opalina do olho menina
O nome-monumento o santo monte
Fluiu sangue água e sal eflúvio da luz do sol
Dei à costa a palavra

Nicolau Divan

Canzonetta

Um peito de ser todo sol lamento
O incremento em ouro do teu beijo
Suspiro um pó que traz eterno
Adorna a seiva o puro lírio

Lúcia

e de tudo

E de tudo o mais pernicioso é
A transparência a fímbria a aparência

Orlando Tango

Morghen

26.8.08

Pudor

Não gosto que me vejam entrar
No local de defecação
É uma parte de mim que se vai

Marco Íris

Zen

A cryptomeria de fuste bifurcado
Clama
Deixa-me provar dessa vida
Separada
Seca o fuste gordo
Que ribeira imersa no tempo
Me engula a memória
Esse substrato enraizamento
E diluída a imaginação
Florirá na noite o outro fuste
De auto-contemplação
Dos verdadeiros frutos

Lúcia

Carícia

És rosada e tens a úngula fendida

Filipe Elites

VII

O egoísmo imanente
Da árvore só
Devora podre o seu fruto

A diferença entre intenção e gesto

Egofania ou Alofania
A pedra a noite compacta
Não o sabia

Emanas-te sobre as árvores
Mas não és o rio
Permaneces
Com a unção da nata
A luz, o ouro, a prata

Zé Chove

23.7.08

Hino ao Irmão Vento

Nem é tanto a luz é é mais o vento
Não é o tempo que afoga é o momento
Nada fundo pranto sob-desalento
Ninguém assiste à queda pára o tempo

Nunca alcança o proposto alcanço
Nenhuma inércia aguenta tal balanço
Não não é a luz que dá o avanço
Nada aponta o vento sem descanço

Não basta um folgo intermitente
No girar do mundo pendente
Nalgo mais constante mais permanente

Necessita o barco do sopro fulgurante
Não é da luz potente o movimento
É do vento é do vento incessante

Orlando Tango

Lisboa Romântica V

Archivo de imagens #127

Sequência X

a noite toma as árvores
com paralelas de luz
a clareira é possuída
a metade observa a metade
já tomada num silêncio emprestado
todo o ser noite

Zé Chove

Substracto I

a natural petrificação do gesto
dilui-se em contacto com o segundo
o suspiro grava a vergastada
no campo de areia virginal
onde se encavam destroços
doutras palavras

Zé Chove

Vertigens

a torre sineira
da desolada aldeia
é casa de aranhas
contemplo os campos celestes
sentado numa ameia
perto duma densa teia
à vertigem que revolve as entranhas
dobro-mesobremimmesmo
e caio desamparado na teia

Ivo Lascivo

22.7.08

Lisboa Romântica #4

Archivo de imagens #126

Memória Descritiva

Tangencío as paredes obliqúo
As perspectivas
Enquadro um segundo ponto de fuga
O horizonte afunilado num vértice
Um monumento de céu

Hiperbolizo a esférica calote
Em densa malha elíptica
E envolvo a ubiquidade do ovo
Em esquizóide mutação de superfície
Matriarcal não me permite

Nascer de novo. Rarefeita
a linha infinita é elusiva
charneira
e cruza um ponto sobre mim
em paralela dimensão que não existe

Zé Chove

Certidões de Registo – 2ª Conservatória

Waste Land – TS Eliot

The Cantos – Ezra Pound

Poema Contínuo – Herberto Helder

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...