4.7.07

FABRIK_1

Os meus passos ecoavam na nave já deserta,
o chão de grelha enferrujada plangia sob o meu peso.
Ainda á pouco fervilhava de vida ,
agora como que morta pela noite a fábrica recuperava forças.

Não tive coragem de acender a lanterna,
o frio distante das máquinas penetrava-me no corpo.
Embrenhado no silêncio mais profundo ,
tentava distinguir alguma forma.

No escuro, sentia-me vibrar de expectativa,
não é normal ouvir barulhos depois das 3 da manhã.
Na cabine do guarda já dormitava,
sei que ouvi algo,
sobressaltado não sobe determinar com clareza o que seria.
A luz esverdeada fazia um ruído de traça,
tentei não me mexer.

Fiquei parado não sei bem quanto tempo,
com os olhos fui desenhando um plano do que teria de fazer.
Respirei depois de engolir a saliva com os pulmões rígidos com esforço,
peguei no molho de chaves com o maior cuidado possível.
Tentei que a cadeira de rodas não rangesse,
virei-me com calma para me levantar.

Subitamente um gesto mal calculado
e com o maior estardalhaço que no meio da noite se pode fazer,
a minha caneca metálica caiu pimpalhona contra o chão de cerâmica.
Enquanto a caneca rodopiava no ar sei
que ouvi passos ou algo a querer esconder-se.

Mal disse o meu jeitinho com quantos piropos sabia,
cravei as unhas nas palmas de raiva tentando voltar a trás no tempo.
No rescaldo da cacofonia um silêncio a tremer.
Lá sai do meu cubículo bem apetrechado.
Toda aquela mecânica cortante e pesada gritava "não fui eu".

A grande basílica é vencida num só vão de 60 metros com pórticos gigantescos, repetidos até aos 300 metros.
Todo o perímetro interior é varrido por varandins técnicos.
Subi o mais silenciosamente que pude até ao último.


Zé Chove

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