16.11.09

Vilas e Ovelhas Ranhosas I

Esta história passa-se numa vila que nunca conseguiu chegar a ser cidade e cresceu tanto que a deixaram de chamar aldeia.

Os dias soam nascer iguais. Avaliando pelas manhãs diria que é sempre primavera. Um nevoeiro denso cobre tudo. Os rios correm perto quase sempre fracos mas com um rumor constante.
Cheira a molhado e a vetação fresca. A humidade é má para os ossos dos velhos e as ovelhas ficam ranhosas...

O padre passeava na mata. Era estranho vê-lo de batina entre os arbustos revoltos que se agarravem às árvores. Com uma pequena tesoura de poda libertava os jovens carvalhos da prisão das silvas.
Missão redentora sem dúvida. Era magro e tinha um sorriso satisfeito.
As árvores mais velhas curvam-se.

Curvado no confessionário desenleia os fiéis do sufoco dos espinhos da alma. São sempre os mesmos pecados. A luz não chega ao tecto da velha igreja. Granito e xisto. Bastante asseada pobremente asseada.

Os caminhos secos e encurvados estratificam as montanhas em torno. Os muros de xisto serpenteiam, por vezes caem e falam sempre de um trabalho árduo feito um dia no princípio de algo.
Os inícios são sempre fulgurantes. Não haveria obra se assim não fosse. Estes símbolos dos começos enchem de melancolia as paisagens. É ainda mais duro mudar o que já foi erguido e a cristalização das formas verga-nos a vontade.

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