16.11.09

Vilas e Ovelhas Ranhosas III

Um incêndio. Um lugar morto. Um dente podre entre o casario desarrumado encosta abaixo. E decerto um espírito ensandecido que agora vagueia em busca de morada. E nem o calor das vigas enegrecidas... Mas decerto depois de envolvido nas vinhas selvagens e abrunhos-juvenis... reconstrói-se o lugar. Uma churrascada e abençoa-se de novo o lugar semeado de vinho novo.

Acidez. Aqui os frutos não chegam a amadurecer. Vergam os ramos com o peso rijo da juventude. A geada corrói a pele. Queima. O solo traga a fruta esquecida pelo vento. Acidificam-se as entranhas dos rebentos raivosos por uma dentada amorosa que não chegou a ser desferida. Tanto sumo que ficou por verter.

O sangue escorre pelo degrau. A faca. A cozinha escancarada revela a fornalha onde se refastelam os gatos. A chaminé larga esconde a fuligem até ao céu. A sujidade escondida imprime carácter às coisas. É assim...

A bosta das vacas que se acumula nos estábulo se não é removida enrijece como argamassa. Anos e anos de bosta acumulada reforçaram os alicerces do nosso estábulo. Os pintassilgos debicam o feno repisado.

A tia T.. guarda o feno num poço. As compridas forquilhas ameaçam os céus. Ninguém guarda o feno em poços. Ao final da tarde quem se aproximá-se podia ouvir os guinchos das lutas de grandes ratazanas perdidas entre o feno. Ninguém gosta de ser interrompido nos seus actos íntimos, muito menos pelos seus semelhantes.

Ninguém discute a proveniência das águas do rio. A água é preguiçosa e vai moldando os leitos em curvas quase humanas. As “represas” abandonadas são como segredos escondidos na frondosidade da galeria fluvial. Um corpo insepulto, um nado morto, uma relíquia partida, um braço amputado: os nossos segredos apodrecem entre o húmus esquecido na sombra.

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