6.2.15

Beco da Cachoeira

A água cai pelo ladrão em cachoeira no meio do beco
o sol escalda as peles morenas
o asfalto abrasa o ar
a água sai quente do tubo metálico
os corpos enchem o beco de calor com seus movimentos langorosos
tudo derrete e enleia
a pitangueira na esquina derrete-se num amarelo desmaiado
querendo debruçar-se no córrego
que canta junto do meio-fio
as vozes saem dum ânimo de Verão
cansado da tarde e da manhã de 40 graus
desde as sete da manhã
os corpos adolescentes estampam-se nas roupas molhadas
com a lentidão das ondas de calor
que desfocam o fim da rua
as persianas das casas semicerram as pálpebras de pudor e calor
ouvem-se risos e uma lata de coca-cola abre-se expelindo
o gás gelado no braseiro da rua
os velhos morrem nas sombras limitrofes do bairro
e os adolescentes juntam os gracejos
ao gritar emergente das cigarras dispersas nas árvores de fruto
e o riacho escorre morro abaixo brilhando de esperança
duma chuva que tarda em chegar
escorre como o mijo quente pelas pernas jovens de pelos loiros
que cintilam no fulgor das 3 da tarde
e é tudo muito estático porque o calor
e a juventude se esborracham como metal fundente
e numa caixa de som a gingada baleárica
enche de perfume mediterrânico
este beco perdido no Rio de Janeiro
será que já estão grávidas as moças?
será que não acabam as férias?
o sol que nos esmaga as moleirinhas e esgazeia o olhar não nos deixa respirar
afogamo-nos em pensamentos
de terra seca subitamente humedecida e fossa transpiradas

Sem comentários:

Enviar um comentário

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...