11.4.08
Dúvida Original
Que me amarga as entranhas
Enche de escrúpulos
Tinge as memórias
Tira-me o sono
Em vão busco consolo
Em vão tento esquecê-la
Assentou arraiais
Pesado grilhão basiloma
Se pudesse sacudir a alma
Atirá-la como uma pedra
Mas está num recanto
Onde ninguém chega
Só quem empreende
Uma jornada negra
Através de espirais
Num sulco original
Lúcia
8.4.08
Oração
totalmente consciente
e com total adesão da vontade
que me concedas Senhor
um cataclismo
Dispusestes as coisas
de forma a que nos doa alcançar
a perfeição
(e nunca a alcançamos)
Um maior tormento
Um maior grau
de destruição
devolvem-nos uma maior pureza
permitindo uma mais plena
renovação
e choro de alegria por saber
de antemão
que tudo nos concedes
e choro ainda de receio
não alcançar o que peço
pois sempre contas
com a minha liberdade
Oh Deus não oiças
a confusão
de espíritos suplicantes
que meu pobre corpo alberga
faz prevalecer antes
a tua Graça sobre esta cega
Carla Corpete
4.4.08
Lamento Judeu
Pasto bêbado pelas ruelas apoiando
As mãos nas padieiras e ombreiras das portas
A lua cheia fere-me os olhos
Não vejo mas sinto agora
Um vento gélido como um banho
Gelado e sinto
Uma multidão de olhos
Fixos em mim
E com ébria lucidez
caio em mim
e como um barco no mar alto
sou assolado
revolta-se o estômago com acidez
e vomita e vomita
uma poça de pecado
entram agora
no meu quarto com violência
cingem-me os rins
esbofeteiam-me
e amargam-me a boca
com pedaços de carne
ooohhuu que fiz eu para merecer tal suplício
mas a dor desperta-me
a lua ainda brilha
é agora conforto
uuuuuhhhhhuuuu
Lamento aterrorizado
mãos e punhos
sangualhados
sou arrastado
mudamente
através da turbamulta
num salto
a um estado de salvação
que não pedi
não compreendi
e morrerei cego
e bêbado
Lúcio Ferro
Titanic
Durante a noite, o Capitão Smith e o Quarto Oficial Boxhall conseguiam ver luzes de um barco que estava apenas a 16 quilómetros – 6 a 10 milhas do barco. Então, à 00:45, foram mandados foguetes de cinco em cinco minutos. A princípio, o barco parecia aproximar-se. Mas depois as luzes desapareceram. As esperanças de ajuda desapareceram com as luzes.
Por que estaria o navio tão perto? Por que é que não ajudou?
Algumas pessoas pensam que seria o Californian. De fato, a tripulação do Californian viu luzes no céu e luzes de um navio. Mas o navio parecia pequeno para eles. Quando tentaram mandar-lhe uma mensagem, não houve resposta.
Lamentos Cegos
“É mais fácil encontrar uma beata
No chão que alguém me dê um cigarro”
Nem quem o grão semeou
Do grão há-de comer
Não tem dó
A vida sob uma mó
Não quero aprender
Só quero certificações
Diplomas, certificados de habilitações
Muito devia ser muinto
E 13 treuze
Todos deviam dizer molhos
Da mesma forma
E não fôrma
Molhos e molhos
De ideias marejadas
Nos meus olhos
Como argueiros empilhados
Ao longo dos séculos
Dêem me um cigarro
Tum pe te pumpumtchim
Tum pe te pumpumtchim
António arribou ao escritório
Com estrépito e atónito
Esvaíra-se o lago de calma
Espelhado nos olhos da sua alma
Como me sinto só
Tentei restabelecer o diálogo
Com todos os meus empregados
O que é o Ultramar?
(envie-me pdf’s e ebooks sobre o tema)
Brilimpimpimtipipimtrim
Gaita-de-beiços na vara
- Oh meu Deus quem virá salvar
os nossos cegos? –
Todos os povos têm seus milagres
O milagre do pensamento
O milagre da guerra
O milagre do comércio
Das artes, do desporto, do silêncio
Foi da dinâmica dos astros?
Multiplicidade de impulsos interiores?
Fortes amizades ou um forte estado?
Brócópótrópóp´popótróc pim
Caixa das moedas e varão central
Cada vez que te dobras
E perdes raio de visão
O estado investe e explora
O teu bem amado quinhão
Filipe Elites
Mau Dormir
me incitam a pagar a rodada
olho desconsolado na cerveja
uma mosca morta a boiar
só se está bem na cama
Acordo mole no escritório
com medo que o patrão
veja esta bagunça e lhe
chegue ao nariz o cheiro
a ropa e carne estufada
de olhos embotados como
batatas, vagueio secretárias
durmo sempre em agonia
com ideia de ser apanhado
de pijama por um funcionário
De novo o acne do adolescente
De novo mau génio e raiva impudente
De novo os sonhos grandiosos
De novo os serões ociosos
De novo na cama deitado
A música é foleira – não contesto
Mas atiça-mo sentimento
Não faço grandes considerações
Já estou deitado na cama
Alguns poemas ficam espinhados
Quando vagueio na cama já deitado
Dos riscos de contar as sílabas
Parece que brilham, parecem cactos
Secando nas dunas do deserto
Marco Íris
30.3.08
Tinha Tinha
A falha
Que tinha
Na cara
Não era
De Sarna
Era tinha
Mas já não
Há falha
Na minha
Carne
Foi extinta
E a falha
Sem barba
Na minha
Cara
Que não
Era Sarna
Mas Tinha
Já pica
De barba
Cheiinha
Paulo Ovo
27.3.08
Romance Grotesco
Associo à palavra grotesco
A sua cara de cavalo.
De olhos fechados vagueio
Através da matina de ar fresco
Tremendo pela rua com anseio.
Transpor tão desgraçada cancela
Foi impulso quixotesco
Em busca de tão feia donzela.
Aterrorizada a grande mula zurrou
Mal vislumbrou meu jeito simiesco
De pernas tortas e capote de grou.
De damas é que eu não pesco
Terminou mal começou
Meu romance pitoresco.
Diniz Giz
Curses, Invocations
Caudinha de Marmota
Bigode Chinês
Bola de Naftalina Húmida
Catotas Despenteadas
Barca Rota
Hálito de Burra
Mija de Osga
Casaca do Cigano
Ceroula de Velha
Tíbia de Macaco Idoso
Céu da Boca Inquinado
Bafo de Ostra
POPULAR
Oferta de Emprego
Os loucos já sentados nos seus postos,
Algum trabalhadores nocturnos voltavam a casa,
E os alegres a vagabundearem bêbados.
Eu não queria, mas ia trabalhar,
Preferia ser louco e coçar as costas no Adamastor,
Pedir bolos grátis nos cafés,
Ou ficar sentado na boca do metro a ver as inglesas.
Andava contrafeito pró trabalho,
Preferia ir já cansado da faina nocturna,
Curtindo a madrugada fresca,
Embalado no cacilheiro para um sono diurno.
Olhei com rancor a porta do escritório,
E desejei a leveza do ébrio,
Quis gritar sem consciência dos meus actos,
Flutuar de bar em bar sem memória dos dias.
Cumprimentei com vivacidade o porteiro,
Sentei-me na secretária concentrado,
Liguei o computador com cara alegre,
E trabalhei com o afinco habitual.
Zé Chove
22.3.08
Quadras Açoreanas
de culpa
à noite
nas grutas.
Eu te asseguro
filho meu
não é bom auguro
se chora o breu.
O mar ruge
é monstro imenso
imensidão sem luz
cemitério imenso
se por feitiço
ou encantação
se por enguiço
ou tentação
teu corpo flutuar
quiser perdido
entre as ondas do mar.
não lhe dês ouvidos.
Faz-te mouco
e desentendido
que só um louco
não vê o perigo
O choro que escutas
não é humano
lá entre as grutas
do mar insano
é o sono profundo
do Leviatã
Respira fundo
Aguarda pla manhã
Mário Mosca
TS Eliot
exista separada do seu significado.
É claro que poesia alguma corresponde
exactamente à linguagem que o poeta fala e ouve;
mas ela deve manter uma relação com
a maneira de falar da sua época.
A música da poesia deve, portanto,
ser uma música latente na fala quotidiana
do seu tempo.
No Totem
sentados já sem assuntos
quando as horas são mais lentas
enregelando sob o avançado de alumínio
meditávamos no bando de carniceiros
escondidos entre os pinheiros
que envolvem a região
que atacam e matam
por meia dúzia de presuntos
esfaqueiam e esquartejam
sem lógica aparente.
Temos medo de ir dormir
pelo menos aqui
morreremos todos juntos.
Orlando Tango
A Morte do Reino
entre almofadas de carne
envolto em solidão
bebendo o silêncio
estabeleço a ordem neste mundo
só dependo deste cordão
do universo eu sou o centro
mas quem me afogou neste lago profundo?
Ai sinto agora puxarem-me os ossos
Adeus oh Reino Amniótico!
Lúcio Ferro
Lenga-lenga das vogais
que dá
não ter um segredo
se quer
a esconder ou encobrir
amigo.
Ter alma de forte rocha
exposta
que o vento em vão empurra
- Segura!
Maria Vouga
21.3.08
19.3.08
Novos Ditos Populares
espírito berra.
Cheiro a morte,
garra forte.
Cova aberta,
alma desperta.
Maria Vouga
Decadência Urbana
escuro pelo marulhar indefinido
das avenidas.
Lembranças que passam sem
deixar rasto mas
sujam o fundo dos ouvidos até
à insensibilidade.
Dispersos arrabaldes que
fogem à cidade mãe e
dormem à noite,
cada vez mais longe, filhos
dispersos, até ganharem
independência lá ao
longe onde criam as
suas próprias histórias.
Do ar vê-se: escondem-se nas
matas fronteiriças.
Triste da alma arrombo o
primeiro chaço que encontro,
decompondo-se com
um murmúrio surdo debaixo
de um velho lampião intermitente.
Zé Chove
Selado
No vácuo escuro das masmorras,
Retorcia-se mole e gordo,
O mais gigante demónio.
Flutuava no fogo líquido,
Esperava com calma através dos milénios,
Trincando o ar desejoso,
Do dia do Apocalipse.
Zé Chove
13.3.08
A Lua
A lua essa gorda rançosa
Não me larga
nem aos peçonhentos sapos
que nas valas húmidas acasalam
e nas ruas escuras da vila
ainda há luzes nas garagens
e dispersas ainda se ouvem
gargalhadas reflectidas nas chapas
de alumínio das fachadas
mas o grosso é silêncio
evolado dos becos e baldios
não sei o que espero
nada me dizem os meus passos
não sei o que quero
Quem me guia é a lua
essa gorda rançosa
que não me larga
Fio Dental
Ficava sempre alarmado
quando o tio cagava sangue.
“Será que vai morrer?”
Como a alma o sangue não
deve ser perdido é
vital.
“O sangue é vida”
pensava.
E agora que perde litros
e litros ao lavar
os dentes
sente
C'o tio deveria usar
fio dental entre as nalgas.
Zé Chove
27.2.08
Monte dos Vendavais
da minha fraca vontade.
Amor sincero, afável,
todo teu te entrego.
Abafo o teu corpo descoberto,
solto a sombra do meu desejo,
cubro a brancura pura da tua face,
de imundos beijos negros.
Faca dilacera o teu peito,
sangue fluido imundo misturado,
no podre cancro do meu seio.
Na palidez enferma da tua pele,
surge o vergão vermelho infamante,
sou mau toquei-te de morte.
Diniz Giz
Paixão Exótica
anciãos entoam lamúrios milenares,
no alto de minaretes na escuridão,
as estrelas chamam por ti.
A tempestade do deserto dança,
sou levado pelas dunas.
As formas da areia lembram o teu rosto.
guitarras ciganas fogem na estepe,
fogueiras derretem a neve,
pandeiretas imitam o ritmo do teu coração.
Nos altos penhascos de granito,
riachos frescos soltam neblinas,
e no meio de castelos em ruinas,
ecoa o teu nome nas colinas.
Carlos Marques
21.2.08
20.2.08
One Word More
Made and wrote them in a certain volume
Dinted with the silver-pointed pencil
Else he only used to draw Madonnas:
These, the world might view – but one, the volume.
Who that one, you ask? Your heart instructs you...
You and I would rather read that volume...
Would we not? That wonder at Madonnas...
Dante once prepared to paint an angel:
Whom to please? You whisper «Beatrice»...
You and I would rather see that angel,
Painted by the tenderness of Dante,
Would we not? - than read a fresh Inferno.
Browning
Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
-
Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria. Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros Escrito por um clérigo da época. Tu...
-
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...