4.11.10
Saudades I
Fodasse que saudades
Que soco no peito quando vi a tua imagem
Esquecida num folder perdido na confusão
Um tom melancólico nos ouvidos
E a palavra saudade verta
Acendeu-se o peito num choro
Tão lusitano aqui perdido no rio de Janeiro
E o corpo pede clemência e corta a posta
De coração que fica em cima da mesa
Aqui estou eu ao alto de santa Teresa
E as lágrimas atropelam-se até guanabara e
Em vão tento esquecer o teu rosto
E oiço as línguas todas do mundo num sufoco
Brincam teus gestos no meu peito
A suavidade do teu encosto
Perco o tino na presença do teu…
E o sono seco por onde lavram as memórias
Agigantadas pela falta de juízo
Oh doces momentos que me choro
Tento em vão dispersar-me numa vida de fogo
Para que o frio da melancolia não me afogue
Ai o mar em que divago. Oh aventura que às vezes
Tão em vão pareces, em que embarco
À busca do que sempre tenho
Em busca do que já esteve ao meu lado
!!!!
Credo não posso ver tuas fotos que desfaleço!
Zé Chove
Saudades II
Oh melancolia parva
Mas quem me manda a mim ficar
A escrever até tão tarde.
Um dia as crianças vão se rir da saudade
Quando o vôo intercontinental barato
For institucionalizado
E vento que dá por trás das costas ao final da tarde
É como um soluço desprendido sobre a cidade
Um lamento que pinga pelos varais e pelo telhado
Zé Chove
Samba Primeiro
Não espera
Não espera pelo carnaval
Para cometer essa vileza
Não se você já tem a certeza
Pelas ladeiras
Descendo santa Teresa
Me Pega
Vem por trás me faz uma surpresa
Ai mas se você se atrasa
Oh e me deixa neste transe. Neste Espera…
Vamos trocar um passo de samba
Ao final da refeição na cozinha. Você dança?
Não espera o carnaval não espera
Mas se entretanto o Carnaval chegar
Eu pego o bloco e todos os meninos vou beijar!!!
Sor Flamengo
Pilar do Zé
A divinização do próximo
Com a consolação temporária
Duma divinização dos nossos acidentes
Por parte dum-outro
Ou a divinização dissimulada,
Mútua como objectivo de vida
Materialista e regalada
Lúcio Ferro
25.10.10
Carajé de Restos
IAMAMIWHOAMI
I never break mirrors
Desenhar e pintar cidades como no Giornalle Nuovo.
Um tom de lixívia que arreganha os azulejos e derrama as cerejas no balcão.
Era algures na bavária mas moro agora na parvónia.
E se elas se colam a mim como os magnetos numa faca.
Look at the comedians’ ear them smile
Mãos a cheirar a marisc’alheio.
Disenções
aseigeiais - debauchery, lasciveness
Himeneu ainda mais belo
Thaminas – Dióscuros
Dióspiros Cabiros Pedófilos
Gémeos celestes
Nemrael Nephelins Egrégoros Enoch Súcubos
Rolhão no nariz.
Semi pelagianismo
Anacoretas Zenobitas
Aferro. Aferrado cinto de castidade
Und die dragon sagt
Um Decameron, livro de sagas
Recolha de ditos e lendas urbanas situados numa época de decadênciado modernismo.
Prédios abandonados, corrupção do betão, do metal, do ar, da verdade
Famílias a morar em antigos postos de transformação eléctrica.
Os trabalhadores do campo olharam descontentes
Salicilato de metila (ou bálsamo) era extraído da bétula lenta
Mascar casca de bétula era um paliativo contra o mau hálito usado pelos povos da Eurásia. É bom para emagrecer
Fruto-sâmara
Amentilhos femininos
As jovens aflitas nas aulas de condução.
Óssea e ganglionar
Tenalha do Bispo a tenaz entre os baluartes.
Forte da Baralha
Pedra de Alvidrar.
Praia dos Baleeiros.
Cortijo Jurado – Málaga
Castelo Fantasma
Thee, Stranded Horse
O casamento dos animais
Crença na magia?
Apolónio o cabalista
Sefarditas
Marcos miliários – mil passos
Cava Viriato
Hospital do Otão
Forte de S. Luís
Um túnel debaixo dum viaduto perdido
entre vias rápidas afastado dos prédios,
rodeado de terrenos secos.
“I think it’s a bunch of bullshits, myself”
Kara kamela
Carmelo
Divanos kamela
Rio mondego
Meandros da raiva.
O Dostoievsky de Setúbal
Essência de bedum atrás da orelha
Na Suiça são gulosos por carne de burro e de cavalo.
Tiburones Bay, Chaparral, Laredo, Gavilanes Valley
Escabiose crostosa sarna
I eard it from the valleys
I eard it ringin in the mountains…
Andar às voltas dum tema é uma coisa de DJ e de Heterónimos.
Tanques, lagares, tinas
Poses de hipoper.
Leve-me para longe de mim
O soco do edifício, caboco, silhar.
Ardurouso
Pictures of you
Ler os poemas dos the cure
Loca do gato.
Larvado figado mordido pelo bicho
Arrimado excelso
Usina sentina
Hidrografia do rosto
Sagrado Coração de Jesus
Jansenismo Napoleão S. Margarida
Não apanhes caracóis colados aos muros de betão
Que eles absorvem o mijo.
Me menage à moi
Ritchie sambora
Larva berneira
Estufa fria
Palavras são pérolas, pérolas, pérolas
Escabiose nervosa
Narceja
Dentolas como feijocas e olhos de pássaro muito separados sempre alerta
Infatuated heart
3 caminhos vazios canção ouvi a caminho de Óbidos com os pais
lagrimillas de pollo
Sor Flamengo
Dancer in the Wind
Um dia serás o melro
e curvada hás-de beijar
a terra molhada
e quem nesse dia
te vir ao passar
só se há-de lembrar
do trevo que dança ao vento
Lúcia
Trauma Nupcial
Liberta-me…
Não me digas. Não se anteponham
Sombras no nosso imaculado casamento
Deitada sobre a cama de rendas
O rimel trágico escorre pelo rosto
E eu de joelhos tentando consolar
Não se anteponham sombras
Libertem-se as verdades no lençol
E a madrugada venha incendiar
Os recantos da nossa alcova
Orlando Tango
Revoltas
Dás comigo em revoltas
Tens o coração em permanente esforço
E não o disfarças com o rosto
A tua maquilhagem distorce a carne e mata
O enquanto....
A tua maquilhagem é um mapa
onde se destacam as linhas de água
Mário Mosca
Caudas e Caldas
...mudamos de pele como as serpentes e por vezes passamos de cão a urso, de koala a escorpião, de borrego a cabra ou de cavalo para burro.
Sempre nos acautelaram a que não andássemos sozinhos pelos corredores da mansão. Nem sequer para ir à casa-de-banho. Alguns jovens distraidos separavam-se dos colegas enquanto conversavam no átrio e desapareciam por anos. Reapareciam esporadicamente com toda a naturalidade e tomavam cafés com ar divertido e pio. Voltavam com um olhar rejuvenescido como se a adolescência não os abandonasse e convidavam os amigos a entrar nos corredores frescos da velha casa.
Nicolau Divan
16.10.10
Indigência
A decadência do construído ergue-se
Em poesia da ruína que é morte
Esculpida num cadáver indigente
O prédio ósseo que aceita a derrocada
Move na queda mais a compaixão
Que o deleite perante a fachada do palácio
Entre as ervas dispersa dum frondoso
Jardim abandonado
Sor Flamengo
Poker de Caveiras
I
O entalhe da veia
O engrossar da pálpebra
O crâneo cheio de terra
A púrpura gananciosa
O incómodo exíguo
Do caixão de madeira
O que é que podemos demolir já?
Efectivemos as extremidades
Rasguemos já as trincheiras
Da nossa raiva em que o ódio
Flua
Masmorras de família em que entram de joelhos
Trilhos nas planícies
De agrura dia-a-dia
Perdidos pelo vento reflexos
De caveiras na sopa de grelos
Bocejos sobre as mesinhas de cabeceira
Os teus gestos de coveira
Envolves-me na tua terra
Lúcia
Cemitério do Lumiar
sabes que azedam as memórias se expostas ao ar
guardadas em cave fresca constroem história
"e um povo talhado no profundo silhar"
Henrique
Engates
dá-me as chaves deixa que te aparte desse momento
dá-me as chaves do teu silêncio
impertinente almejo o teu segredo
dá-me as chaves do teu apartamento
Filipe Elites
Ária Foleira para Hugo
Sentes-te o último par da sapataria
todas te tocam mas permaces na prateleira
já foste caro e agora és um saldo de refugo
Explosão Demográfica ou a Queda dos Mercados
rompe-se o colar de pérolas as
esferas saltam no hall
do envidraçado prédio
símbolo da economia mundial
em câmara lenta
8.10.10
Gramática Processual
A.1 - Corrige o sábio diz-lhe que está errado
E escuta o insensato
Desenvolve o percurso enganado
B.3 - Suporto o teu cheiro mas
Dão-me náuseas os teus desejos
Podes ocupar a cama mas não fales
C.3 - Vai apalpando as formas ao terreno
Cravado até ao cotovelo
Na terra a torre empina-se
D.3 - Espirra sempre
Sem pôr a mão à frente
Espalha as arrelias ao vento
Não ponhas a mão à frente
3. E - Corta a floresta impenetrável
Temos a liberdade de enveredar pelo destino cerrado
F.1 - Mija-lhe nos caracóis Paco
Como se descreve um rosto belo
Ou uns olhos particulares
Ou o encontro das ondas no areal?
H. 3 - Não te esqueças dos mais intensos
Consolos da alma: o perdão, a complacência,
o esquecimento.
DGDGHRUD
Caga Tacos ou Tascos Cagados 1.5
Prá todas as garotas no Fórró!
O aZUL contém a LUZ reflectida
E o AMOR é ROMA invertida
Dançá Baiana!
Caga Tacos ou Tascos Cagados 1.4
Lá atrás na selva cortavamos as cabeças em quatro como se fossem meloas e jogávamos à bola com outras. Contava-mo com uma ironia tingida de ódio insanável para o orgulho.
Caga Tacos ou Tascos Cagados 1.3
Levei o meu filho 4 anos ao Rock in Rio no dia do Heavy Metal com os bilhetes ganhos na operadora telefónica. Num moche larguei a mão do miúdo e ele ficou desfeito debaixo das doc Martens. Só recuperei a sua t-shirt ensanguentada...
Caga Tacos ou Tascos Cagados 1.2
Festos, talvegues, galerias ripícolas,
estradas romanas, gentrificação e Hoyt,
Círculos e economia da concentração.
Não esbanjes toda a concentração.
Desfocam-se os olhos… longe do coração
Ãh? Ah! Sim, sim, sim. Não pode ser. Claro!
Caga Tacos ou Tascos Cagados 1.1
Perdemos as oportunidades, libertamo-nos
dos momentos de escolha. Escolhemos não escolher, não optar.
Demasiado óbvio. Reprovado. Aceite. Azeite na Repartição.
Do dinheiro em três partes. Três partes para cada Um. Hallelujah!
Chumbada
As puxadas devem ser de fio fino e que não enrodilhe. Três anzóis em cada madre e na extremidade a chumbada. 160 ou 200 gramas eram as minhas perferidas. Uma bela chumbada em forma de pera de aço frio como o sal e o sol de inverno juntos. Atirava-a contra a areia com brutalidade e contemplava encantado o seu olho de sol reprovador incandescente.
Henrique
Oração da Manhã
Arrastas um terço das estrelas
Do céu com o teu cabelo
E lanças os meteoritos sobre as nossas costas
Entravamos no oratório ainda
Sonhava o melro gemendo entre a geada do jardim
André Istmo
7.10.10
Extermínio Tropical
As 4 baratas viviam assim num compartimento circular por onde se poderia limpar as canalizações do duche em caso de entupimento. Viviam num rebordo da câmara em betão. Um lugar fresco, húmido e lodoso. Viviam aí e tinham um plano. O primeiro casal sairia de casa em busca da prosperidade e os seus filhos viriam chamar o casal recluso depois da instalação e da bonança que os primeiros assentamentos são sempre tormentosos.
Assim saíram e entraram no meu quarto que é ao lado do banheiro. Um chão de pranchas tropicais e bolor nas paredes. Peguei a primeira com uma chinelada quando se maravilhava atrás dum vidro gigante com o qual eu viria a fazer uma mesa.
Seu noivo foi chorar angustiado e medroso para trás da sanita. Peguei ele e trespassei-o com o piaçá. E as duas foram descarregadas sob um lençol de papel higiénico para as imensas águas da Baía de Guanabara.
O macho do casal recluso sentindo que o plano borregara partiu em busca duma explicação não sem antes ter aliviado a carga deixando descendência no seio da sua amada. Eu peguei ele atónito com a imensidão do meu quarto passeando como um turista e dei-lhe a provar da farofa nacional com uma chinelada na quitina. Ficou estrebuchando no laguinho da retrete.
Parece que oiço os gritos abafados duma prenha enquanto chocalho uma garrafinha de lixívia e me preparo para visitá-la. No íntimo eu sei que as gerações vindouras vingarão mas agora o extermínio satisfaz a minha sede.
Sor Flamengo
Assim saíram e entraram no meu quarto que é ao lado do banheiro. Um chão de pranchas tropicais e bolor nas paredes. Peguei a primeira com uma chinelada quando se maravilhava atrás dum vidro gigante com o qual eu viria a fazer uma mesa.
Seu noivo foi chorar angustiado e medroso para trás da sanita. Peguei ele e trespassei-o com o piaçá. E as duas foram descarregadas sob um lençol de papel higiénico para as imensas águas da Baía de Guanabara.
O macho do casal recluso sentindo que o plano borregara partiu em busca duma explicação não sem antes ter aliviado a carga deixando descendência no seio da sua amada. Eu peguei ele atónito com a imensidão do meu quarto passeando como um turista e dei-lhe a provar da farofa nacional com uma chinelada na quitina. Ficou estrebuchando no laguinho da retrete.
Parece que oiço os gritos abafados duma prenha enquanto chocalho uma garrafinha de lixívia e me preparo para visitá-la. No íntimo eu sei que as gerações vindouras vingarão mas agora o extermínio satisfaz a minha sede.
Sor Flamengo
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