"Toda a inspiração Vital da Arte, creiam-me, há-de alterar-se, tomando o rumo da modéstia e da jovialidade. Isso é inevitável. Será uma evolução benéfica. Boa parte das ambições melancólicas se desprenderá dela, e uma nova inocência, ou até mesmo uma genuina inocuidade, ser-lhe-á peculiar. O futuro verá nelaela mesma verá em si novamente a serva de uma colectividade, que abraqngerá muito mais do que apenas «instrução» e não terá, mas talvez seja, cultura. Para nós, é difícil imaginá-lo, e todavia isso existirá, será totalmente natural: uma arte sem sofrimento, psiquicamente sã, desprovida de solenidade, nada triste, sociável, que tratará por tu a humanidade..."
Thomas Mann - Doktor Faustus
30.4.09
Arca Velha
Afago 1917 em rebites na tampa do baú
Onde guardo a memória e sobre o qual me dobro
Um dia o sol entrou nesta sala
Como o baú tão oca e seca como a brancura
desta cal que greta onda o olhar se perca
absorto em tanto traço do passar do tempo
onde tudo converge e se intersecta
em velho couro tisnado de arca velha
que calor da solidão verga e desenha
um novo mundo em linhas perdidas
percutidas por uns dedos distraídos
Zé Chove
Onde guardo a memória e sobre o qual me dobro
Um dia o sol entrou nesta sala
Como o baú tão oca e seca como a brancura
desta cal que greta onda o olhar se perca
absorto em tanto traço do passar do tempo
onde tudo converge e se intersecta
em velho couro tisnado de arca velha
que calor da solidão verga e desenha
um novo mundo em linhas perdidas
percutidas por uns dedos distraídos
Zé Chove
Ementa
3ª feira – Choco com a realidade
4ª feira – Francesinha e Passas
5ª feira – Polvo Radiante
6ªfeira – Caldeirada de Tudo S. Ânsias
Sábado – Bife da Vazia
Domingo – Açorda Apática
2ª feira – Ensopado de Vinho
3ª feira – Choco com a Realidade
4ª feira – Francesinha e Passas
5ª feira – Polvo Radiante
6ªfeira – Caldeirada de Tudo S. Ânsias
Sábado – Bife da Vazia
Domingo – Açorda Apática
2ª feira – Ensopado de Vinho
3ª feira – Choco com a Realidade
29.4.09
Lamento
enquanto permaneci calado os meus ossos
secaram dentro do meu corpo e regurgitei sobre
as minhas chagas o fel da minha auto-compaixão
senti primeiro uma tepidez benévola até ao dia
em que acidez do verme me oxidou a pele
e os músculos assim expostos foram o ridículo
para os meus companheiros.
os meus olhos são poços
as minhas narinas fossas
e assim sirvo
àquela que me traz cativo
Tomás Manso
secaram dentro do meu corpo e regurgitei sobre
as minhas chagas o fel da minha auto-compaixão
senti primeiro uma tepidez benévola até ao dia
em que acidez do verme me oxidou a pele
e os músculos assim expostos foram o ridículo
para os meus companheiros.
os meus olhos são poços
as minhas narinas fossas
e assim sirvo
àquela que me traz cativo
Tomás Manso
Vibrações
já farto das contabilidades escapo-me até à casa-de-banho do escritório
e esvaiu-me em frente ao espelho
enquanto faço caretas imitando um velho rezinga
a ser electrocutado, vibrando
até que o tremor do corpo assuma trejeitos de dança africana ou ritual epiléptico
e toda a tensão estática do computador acumulada
se esparrinhe nas gotas incertas do lavatório
e já amansado volte à labuta
a um teatro mais civilizado
Tomás Manso
e esvaiu-me em frente ao espelho
enquanto faço caretas imitando um velho rezinga
a ser electrocutado, vibrando
até que o tremor do corpo assuma trejeitos de dança africana ou ritual epiléptico
e toda a tensão estática do computador acumulada
se esparrinhe nas gotas incertas do lavatório
e já amansado volte à labuta
a um teatro mais civilizado
Tomás Manso
27.4.09
Epitáfio
a boa luz fere os olhos maus
o calor a uns dilata a outros endurece
desço ao sepulcro do teu peito de rocha
o teu corpo é o melhor cárcere
a ele me entrego
Lúcia
o calor a uns dilata a outros endurece
desço ao sepulcro do teu peito de rocha
o teu corpo é o melhor cárcere
a ele me entrego
Lúcia
26.4.09
Osgas
osgas com três palmos da cabeça à ponta da cauda
e a grossura de chouriços de sangue
escapam-se da nossa vista nestes tempos de penúria
e lançam-se pela vida cansadas da verticalidade das empenas e dos olhares enojados,
rebentam umas dezenas de metros lá em baixo
espalhando as suas mornas vísceras no exíguo saguão sob um céu ensanguentado
Tomás Manso
e a grossura de chouriços de sangue
escapam-se da nossa vista nestes tempos de penúria
e lançam-se pela vida cansadas da verticalidade das empenas e dos olhares enojados,
rebentam umas dezenas de metros lá em baixo
espalhando as suas mornas vísceras no exíguo saguão sob um céu ensanguentado
Tomás Manso
11.4.09
Mediterrâneo
Não vi mas acredito na sombria sala
onde jazem homens mortos na fria tijoleira
cuidados por matronas silenciosas
vestidas de pano cru como a cortina que nos esconde
da omnipotência branca do sol mediterrâneo
são intermináveis os dias alimentados na flor da laranjeira
Zé Chove
onde jazem homens mortos na fria tijoleira
cuidados por matronas silenciosas
vestidas de pano cru como a cortina que nos esconde
da omnipotência branca do sol mediterrâneo
são intermináveis os dias alimentados na flor da laranjeira
Zé Chove
Dezenas
já se roçam nas paredes as osgas rançosas
e já caem das telhas andorinhas centelhas
o sangue espumoso de cem cavalos
Lúcia
e já caem das telhas andorinhas centelhas
o sangue espumoso de cem cavalos
Lúcia
Co
Convulsões de líquidas noites
azul petróleo nuns ombros de Carrara
umbros olhos pesados de incerteza
ou melancolia
Henrique
azul petróleo nuns ombros de Carrara
umbros olhos pesados de incerteza
ou melancolia
Henrique
9.4.09
7.4.09
O Enxurro
Traz enxurro
Arrastou-se gordo pelas folhas adormecidas e pela lama
Murmúrio através dos tabiques
Romperam endemoninhados
Sepulcros fora
De calva e ventre gorduroso
videira solo arenoso
cepa na areia
a parra, o sarmento, o cacho
Silêncio e humidade até à medula
A muralha exala-se em bafo
O esboroar secular das rochas
O cheiro a floresta apodrecida
Vida secreta e vida subterrânea
Tabiques escafiados
Pardacentas salas
Atrás de salas
Labirintos cúbicos de decadência.
“Cobrindo o céu uma só nuvem do mesmo cinza
Desta desolada praça de granito, uma só árvore
A humidade substitui as sombras
Um só dia, uma só badalada cai do sino”
É hoje que virão para me abater
Oiço já os seus passos e as suas conspirações
Suspiradas nas escadas do prédio
Alma de pélago
Não me vou mexer
Varra-me o temporal
Orlando Tango
Arrastou-se gordo pelas folhas adormecidas e pela lama
Murmúrio através dos tabiques
Romperam endemoninhados
Sepulcros fora
De calva e ventre gorduroso
videira solo arenoso
cepa na areia
a parra, o sarmento, o cacho
Silêncio e humidade até à medula
A muralha exala-se em bafo
O esboroar secular das rochas
O cheiro a floresta apodrecida
Vida secreta e vida subterrânea
Tabiques escafiados
Pardacentas salas
Atrás de salas
Labirintos cúbicos de decadência.
“Cobrindo o céu uma só nuvem do mesmo cinza
Desta desolada praça de granito, uma só árvore
A humidade substitui as sombras
Um só dia, uma só badalada cai do sino”
É hoje que virão para me abater
Oiço já os seus passos e as suas conspirações
Suspiradas nas escadas do prédio
Alma de pélago
Não me vou mexer
Varra-me o temporal
Orlando Tango
IRS 2008 – ATRASADO
Shins – Wincing the night Away
Fleet Foxes – Fleet Foxes
Air France – No Way Down
Dan Auerbach - Keep It Hid
Department of Eagles - In Ear Park
The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
Arcade Fire – Neon Bible
Portishead - Third
Fleet Foxes – Fleet Foxes
Air France – No Way Down
Dan Auerbach - Keep It Hid
Department of Eagles - In Ear Park
The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement
Arcade Fire – Neon Bible
Portishead - Third
O Poço Infinito
O azul corcel esbaforido
Transvaza o seu leito
As mil poças os mil tesouros de brilho
Malárias litanias
O vinho nunca é pálido
Sempre grita o espírito
Que a batalha lhe corre nas veias
A voz perturbada
Dum velho sobreiro
Gritos ecoam na pétrea biblioteca.
O peixe
O monstro marinho
Cego e cruel
Estevas odres mosto
Chove em alaúde
Adensa a bruma
Nas clareiras do tumulto
Do húmus insepulto
Humano bafio húmido
Nichos de viva treva entre as trevas da abóbada celestial
Habituados a beber o fel que lhes vem à boca
Vitrais de luz funérea
Ogiva de cristais
Sinos longínquos e construções de madeira rangendo
Abandonámos nossos ossos insepultos
Impelidos por inominável latência que nos ebulia no sangue
Destinge sonho
É preciso abalar a terra (os túmulos)
E desenterrar os mortos
O Cavername roído pelo mar das trevas
A noite como uma camélia gelada
A abóbada da noite
Do tamanho do silêncio
“mensurada só pelo silêncio”
A gota de vermelho – açafrão que
Tinge toda a água
Orlando Tango
Transvaza o seu leito
As mil poças os mil tesouros de brilho
Malárias litanias
O vinho nunca é pálido
Sempre grita o espírito
Que a batalha lhe corre nas veias
A voz perturbada
Dum velho sobreiro
Gritos ecoam na pétrea biblioteca.
O peixe
O monstro marinho
Cego e cruel
Estevas odres mosto
Chove em alaúde
Adensa a bruma
Nas clareiras do tumulto
Do húmus insepulto
Humano bafio húmido
Nichos de viva treva entre as trevas da abóbada celestial
Habituados a beber o fel que lhes vem à boca
Vitrais de luz funérea
Ogiva de cristais
Sinos longínquos e construções de madeira rangendo
Abandonámos nossos ossos insepultos
Impelidos por inominável latência que nos ebulia no sangue
Destinge sonho
É preciso abalar a terra (os túmulos)
E desenterrar os mortos
O Cavername roído pelo mar das trevas
A noite como uma camélia gelada
A abóbada da noite
Do tamanho do silêncio
“mensurada só pelo silêncio”
A gota de vermelho – açafrão que
Tinge toda a água
Orlando Tango
Gútura Soturna
“Só o que é selvático me interessa
E acorda em mim sonho, perfume e ferocidade…”
não seria um bispo gordo e perverso?
É tão difícil distinguir a vaidade do orgulho...
oh insone, enchuto, imuto tempo.
A lagarta coral e azul-turquesa
Contorcendo-se sobre a relva
É venenosa
Atravessou a estrada
Um tigre na t-shirt
Que bem me fica a ti nem tanto
Propalou-se o logro em laço revira-lhe o forro
Domingo de Ramos arrojados de rosto
por terra Santa Terra
a pequenez da criança ajuda
a termos por ela ternura
Absit Omen????
Destilámos tanto mal uns sobre os outros
Que os nossos fígados mirraram
filioli morituri nascituro
particípios - dicionario etimologico
Investiguei a parte de trás de todos os quadros, todas as pinturas
A escola é uma grande teia de aranha
Para mais fácil aferição do calibre do animal
Cabedal cabedal
Anjos: são cabelos de aço
Inquebrantáveis do céu até cá abaixo
“Dominando a paisagem dois ou três marcos geodésicos.
Lá no fundo uma pegada de vide empoçada e que reflecte o céu
Ali se miram e remiram na sua mocidade”
Orlando Tango
E acorda em mim sonho, perfume e ferocidade…”
não seria um bispo gordo e perverso?
É tão difícil distinguir a vaidade do orgulho...
oh insone, enchuto, imuto tempo.
A lagarta coral e azul-turquesa
Contorcendo-se sobre a relva
É venenosa
Atravessou a estrada
Um tigre na t-shirt
Que bem me fica a ti nem tanto
Propalou-se o logro em laço revira-lhe o forro
Domingo de Ramos arrojados de rosto
por terra Santa Terra
a pequenez da criança ajuda
a termos por ela ternura
Absit Omen????
Destilámos tanto mal uns sobre os outros
Que os nossos fígados mirraram
filioli morituri nascituro
particípios - dicionario etimologico
Investiguei a parte de trás de todos os quadros, todas as pinturas
A escola é uma grande teia de aranha
Para mais fácil aferição do calibre do animal
Cabedal cabedal
Anjos: são cabelos de aço
Inquebrantáveis do céu até cá abaixo
“Dominando a paisagem dois ou três marcos geodésicos.
Lá no fundo uma pegada de vide empoçada e que reflecte o céu
Ali se miram e remiram na sua mocidade”
Orlando Tango
27.3.09
Quarto Minguante
os factos na prateleira
oscilam no exíguo quarto
da febre e na incerteza
do candeeiro reflexo copo d'água
caracteres persas do tapete
marescíveis nas lágrimas
inseguras dum olhar desfocado
na leitura do julgamento
dos passos perdidos em pinturas
gritam nas paredes apodrecendo
os tabiques da consciência
a noite desceu infrene sobre as cortinas
junto ao soalho o maior medo
é que me a falhe o coração
Madalena Nova
oscilam no exíguo quarto
da febre e na incerteza
do candeeiro reflexo copo d'água
caracteres persas do tapete
marescíveis nas lágrimas
inseguras dum olhar desfocado
na leitura do julgamento
dos passos perdidos em pinturas
gritam nas paredes apodrecendo
os tabiques da consciência
a noite desceu infrene sobre as cortinas
junto ao soalho o maior medo
é que me a falhe o coração
Madalena Nova
Adoro Te Devote
Adoro-Te com amor, Divindade latente
Sob estas espécies de veras presente
Dou-te o meu coração inteiro
Em tua contemplação desfeito
Dou-te inteiro o meu coração
Desfeito em tua contemplação
André Istmo
Sob estas espécies de veras presente
Dou-te o meu coração inteiro
Em tua contemplação desfeito
Dou-te inteiro o meu coração
Desfeito em tua contemplação
André Istmo
Corcel de Fogo
Oh corcel de fogo oh corcel de fogo
abandonas as brasas do rosto
do puto envergonhado
as crianças acolhem com entusiasmo
a noção de simetria
grita-lhes dentro a verdade
alistam-se pela justiça
choram do sarcasmo
até verterem em lágrimas a liberdade
André Istmo
abandonas as brasas do rosto
do puto envergonhado
as crianças acolhem com entusiasmo
a noção de simetria
grita-lhes dentro a verdade
alistam-se pela justiça
choram do sarcasmo
até verterem em lágrimas a liberdade
André Istmo
25.3.09
Revelação
reverbera nos milénios
atinge-nos a todos por igual
dispersos por filmes rezamos
que não se enrodilhe a fita
ecoam as vozes em salas
insonorizadas nunca sentiste
girarem-te as voltas
liberta solta não deixes que parta
sustém a dança abranda
se tensa - é só escuridão
é só escuridão - a agulha é
aguilhão amansa segura
nas pontas
cinemática teia de veludo
perdida nas cabines da vida
revela distorce corta e seca
Filipe Elites
atinge-nos a todos por igual
dispersos por filmes rezamos
que não se enrodilhe a fita
ecoam as vozes em salas
insonorizadas nunca sentiste
girarem-te as voltas
liberta solta não deixes que parta
sustém a dança abranda
se tensa - é só escuridão
é só escuridão - a agulha é
aguilhão amansa segura
nas pontas
cinemática teia de veludo
perdida nas cabines da vida
revela distorce corta e seca
Filipe Elites
Afogado num Sundae
fomos enxertados em salgueiro
temos raízes de bufarinheiro
proni ad pecatti...
Sangue de vinagre
odres em caves decrépitas
Skeleton Coast
Pero tú, que todo lo llenas, ¿lo llenas con la totalidad de ti?
Decrépitas aves no mezanino
O piso superior do Mac os adultos falando
dois indianos na mesma mesa
que uma russa quase cinquentona
e a sua bela filha comendo
um sundae de morango
a fluidez do molho vermelho
como as bochechas do bêbado indiano
como os meus pensamentos de púrpura e brocado
no verão passeio por praias esquecidas
pelas administrações com lava até aos joelhos
bebo margaritas como margaritas
até o céu da boca refluir nacarado
aos 22 comecei a usar sapatos bicudos
aos 22 senti vergonha de entrar no teu templo
aos 22 degluti as garanças e pintei o horizonte
de encarnado
lábios de púrpura exaustos
de púrpura
não mais uma saraivada de metais pesados
mas um enjoativo melotron
a morte duma consciência
Mário Mosca
temos raízes de bufarinheiro
proni ad pecatti...
Sangue de vinagre
odres em caves decrépitas
Skeleton Coast
Pero tú, que todo lo llenas, ¿lo llenas con la totalidad de ti?
Decrépitas aves no mezanino
O piso superior do Mac os adultos falando
dois indianos na mesma mesa
que uma russa quase cinquentona
e a sua bela filha comendo
um sundae de morango
a fluidez do molho vermelho
como as bochechas do bêbado indiano
como os meus pensamentos de púrpura e brocado
no verão passeio por praias esquecidas
pelas administrações com lava até aos joelhos
bebo margaritas como margaritas
até o céu da boca refluir nacarado
aos 22 comecei a usar sapatos bicudos
aos 22 senti vergonha de entrar no teu templo
aos 22 degluti as garanças e pintei o horizonte
de encarnado
lábios de púrpura exaustos
de púrpura
não mais uma saraivada de metais pesados
mas um enjoativo melotron
a morte duma consciência
Mário Mosca
23.3.09
Cátedras
passo a passo uma multidão de árvores insinua
ruas curvas de húmus e caruma
e estrelas entre densas tramas de ramos
da escuridão mais escura desagua
em enlutadas clareiras ao meio rubras
catedrais de pedra cátedras da lua
Lúcia
ruas curvas de húmus e caruma
e estrelas entre densas tramas de ramos
da escuridão mais escura desagua
em enlutadas clareiras ao meio rubras
catedrais de pedra cátedras da lua
Lúcia
Cão de Caça
Fiquei triste e melancólico
Convencido
De não ter correspondido
Aos sentimentos
Que provavelmente pensaste que eu teria.
E ainda agora choro
Se me ponho a recordar
Todas as vezes que não soube corresponder
Com o calibre certo de alegria ou
Entusiasmo que esperavam de mim.
Mas isto não é escrever que o bom
Cão de caça não corre movido pela fome.
Oh! Que vontade de te abraçar
Com mais força.
Lembra-me da próxima vez
Que nos virmos.
André Istmo
Convencido
De não ter correspondido
Aos sentimentos
Que provavelmente pensaste que eu teria.
E ainda agora choro
Se me ponho a recordar
Todas as vezes que não soube corresponder
Com o calibre certo de alegria ou
Entusiasmo que esperavam de mim.
Mas isto não é escrever que o bom
Cão de caça não corre movido pela fome.
Oh! Que vontade de te abraçar
Com mais força.
Lembra-me da próxima vez
Que nos virmos.
André Istmo
Definições
Quando misturo
Sentimentos de culpa
Com o pouco sono
Traço com mais tristeza
O desenho do desalento
E de estupidez inocente
Dos rostos do outro lado
Da estrada junto ao semáforo
Contemplo em contra-picado
Os tectos estucados
Dos palacetes vagamente moçárabes
Das avenidas quando volto dalgum trabalho
Acendem-se candeeiros aos centos
Acolhedores de memórias
De vidas quase sempre
Com vias pouco
Definidas
Filipe Elites
Sentimentos de culpa
Com o pouco sono
Traço com mais tristeza
O desenho do desalento
E de estupidez inocente
Dos rostos do outro lado
Da estrada junto ao semáforo
Contemplo em contra-picado
Os tectos estucados
Dos palacetes vagamente moçárabes
Das avenidas quando volto dalgum trabalho
Acendem-se candeeiros aos centos
Acolhedores de memórias
De vidas quase sempre
Com vias pouco
Definidas
Filipe Elites
Debaixo da Cartola
Não gostava que me prestassem a mesma atenção
Que a uma professora picuinhas e moralista
Que pensa que tem amigas
*
Custa-me dizer que me custa dizer aquilo que imagino
Que seja a verdade
*
Construímos uma casa debaixo da cartola
Uma sala com quadros de família
Uma mesa desarrumada
Onde recebemos os amigos
E a cada um servimos
A bagunça adequada
Mas temos vergonha que vejam
E toquem nossos naprons de moralidade
Tingido dum bafo de naftalina
Também não deixamos que se sentem na poltrona
Que jaz na sombra
O sol queima aos antepassados a réstia
Da alma sépia
Podes usar o cinzeiro de vidro grosso
Está rachado, é de família
*
Como cão bem sabes que como cão me contento
Com qualquer fogoso afago no cachaço
Lúcio Ferro
Que a uma professora picuinhas e moralista
Que pensa que tem amigas
*
Custa-me dizer que me custa dizer aquilo que imagino
Que seja a verdade
*
Construímos uma casa debaixo da cartola
Uma sala com quadros de família
Uma mesa desarrumada
Onde recebemos os amigos
E a cada um servimos
A bagunça adequada
Mas temos vergonha que vejam
E toquem nossos naprons de moralidade
Tingido dum bafo de naftalina
Também não deixamos que se sentem na poltrona
Que jaz na sombra
O sol queima aos antepassados a réstia
Da alma sépia
Podes usar o cinzeiro de vidro grosso
Está rachado, é de família
*
Como cão bem sabes que como cão me contento
Com qualquer fogoso afago no cachaço
Lúcio Ferro
Rebolo
Rebolo o disco de amolar boleia-me a alma
As moscas congelam no espaço
Infinitamente quadrado da tasca
E caem letárgicas sob os pontos do dominó
A noite côncava
O pio triste dos sapos
O latir desesperado dos cães
A monotonia dos pneus sobre o asfalto
Um muro escorre dor à sombra
dum lampião
Rebolo o disco de amolar boleia-me a alma
“Só dou pelas coisas belas da vida, depois
que passaram por mim e
não as posso ressuscitar”
Poeira da pedreira
Fino pó poalha
Excedente finíssimo
Fervilhante de secura
Que abafa e sufoca
Depositada nos brônquios
Rebolo o disco de amolar boleia-me a alma
Orlando Tango
As moscas congelam no espaço
Infinitamente quadrado da tasca
E caem letárgicas sob os pontos do dominó
A noite côncava
O pio triste dos sapos
O latir desesperado dos cães
A monotonia dos pneus sobre o asfalto
Um muro escorre dor à sombra
dum lampião
Rebolo o disco de amolar boleia-me a alma
“Só dou pelas coisas belas da vida, depois
que passaram por mim e
não as posso ressuscitar”
Poeira da pedreira
Fino pó poalha
Excedente finíssimo
Fervilhante de secura
Que abafa e sufoca
Depositada nos brônquios
Rebolo o disco de amolar boleia-me a alma
Orlando Tango
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