16.7.07
A palha amarfanhava-se contra a terra
Loira como fateixas de crina de cavalo,
O céu resplandecia de azul imaculado,
O sol imperava sobre o mundo.
Caminhava pensativo através das vinhas,
Surripiava distraído bagas ácidas de uvas verdes,
Olhar desfocado misturava a paisagem toda,
As ideias fluíam lentas e moles ao sabor da brisa morna.
Com o rosto aquecido de olhos semi-cerrados,
Pensava completamente nos teus risos doces,
Só uma abóboras ao longe davam algum grão a esta vista,
Nunca tive coragem de falar dos meus sentimentos.
Depois do almoço nem os pássaros se ouvem,
Os meus passos na terra seca dão ritmo às minhas orações,
As águias flutuam sem encontrar alimento,
O coração treme sem sobressaltos e sem alentos.
André Istmo
Linguagem dos Animais
mas decidiram que ainda não era altura de a revelar ao Homem.
Mário Mosca
Cortar na Casaca
Então fazeis aí sentados a cortar na casaca do alheio?
Ide trabalhar meus meninas!
Filipe Elites
Sujos de Rímel
Não podereis fugir dos radares,
Põe na cabeça uma panela,
Assim não atrais os olhares.
Tendes os olhos sujos de rímel,
Foi por mim que estivestes a chorar?
Tarde volto não espereis por mim,
Talvez nem queira voltar.
Filipe Elites
Luísa
O rádio crepitava o fado gasto,
O pó acumulado nos móveis,
Absorvia lágrimas de juventude perdida.
Diniz Giz
Fustigava
com o gemido das madeiras,
e o uivar do vento no cordame.
Lúcia
Lino
gritou de dor agarrado à louça,
mas ninguém acreditou em mais uma mentira,
e chorou olhando o seu reflexo na sanita.
Zé Chove
José Andava Louco
Queria encontrar uma mulher para casar.
Andou de aldeia em aldeia perdido,
Assombrado nos caminhos solitários.
Depois duma densa floresta,
No meio da escuridão,
Encontrou uma casa,
Branca como um lírio brilhando de lua.
Ouviu um cantar doce,
Abandonado de menina,
Mas não havia luzes nas janelas.
“Estava à tua espera”
“Estava à tua espera”
“Estava à tua espera”
Zé Chove
Na vastidão do areal
Corremos sem destino ao sabor do vento,
De olhos cegos do sol brutal,
Em busca de felicidade por um momento!
Vasco Vides
Não quero voltar a ouvir falar de prazer
Vou ser seco como a tábua,
Não vou ouvir o animal,
Vou esmagar o animal!
Vasco Vides
O Terror
Anestesiados pela profusão de cores,
E embalados por melodias cerebrais,
Sorrimos insanos e provámos deliciados o sangue de alguém.
Zé Chove
Dançámos
Atravessámos os portões da ignorância.
Sentimos o gosto do vinho quente.
Afundados num sofá de prazeres fugazes.
Lúcia
Ficámos Presos
Não morremos,
Falámos por pensamentos sem nos vermos,
Pensei que gostavas de mim.
Lúcia
Assustaram-nos de Morte
Deixámos de sair para a luz do dia.
Vivemos nas trevas ansiosos,
Pelo fulgor da nova luz e da paz.
Polícias por todo o lado,
As crianças correm no fundo do metro.
O sol não nasce há três dias,
O fundo dos cinzeiros anuncia a morte.
Corremos desastrados ao longo do hangar.
Gritaram que não bebêssemos do espelho,
Torpes e sem forças deitámo-nos em esconderijos,
E agachámo-nos por séculos.
No silêncio mais absoluto,
O vento chiou sozinho,
Alegre por ser tudo dele,
A face da terra manchada de luto.
Sonhos de tragédia acordaram em praias de sol,
As palmeiras deixavam cair os seus cocos,
Rachados deixavam fluir o mal,
Do seu ventre, molhando a terra de ódio.
Um cavaleiro fustigava o Tempo,
A fúria dos mares engasgou-se à sua passagem,
Bradou com rachas nas paredes,
“Ainda não é o fim animais!”
Estarrecidos sofrendo com o cheiro pestilento,
Continuámos a morder a lama,
Chafurdámos na morte sem poder gritar,
Esperámos a nossa vez de nos esmagarem pelas costas.
na vastidão do areal,
corremos sem destino ao sabor do vento,
de olhos cegos do sol brutal,
em busca de felicidade por um momento.
Mas uma nova luz vai brilhar,
E envolver-nos do leite sagrado,
Gritaremos de prazer e pureza,
Como bebés brincando no regaço do seu pai.
Zé Chove
Até ao Fim
Subo acima das trevas e contemplo,
As florestas organizadas com um batalhão,
Vejo o oceano em chamas.
O rio velho está a secar,
Peles de bovinos ensanguentadas,
Sobre o mármore do lagar,
Onde espremem as pêras.
Zé Chove
Dez Casinhas
Branquinhas de sal a brilhar.
À beira da falésia escarpada,
Ao fundo da velha estrada.
Viviam abraçadas como irmãs,
De cada lado um jardim de maçãs.
Compartilhavam o recheio de pessoas,
Vida alegre recordações boas.
Enfrentaram o inverno juntas,
E as crianças com as suas perguntas...
Paulo Ovo
Há Frente
Gritavam todos como galos,
Caminhavam em círculo,
Esmagavam tudo à sua passagem,
Pois andavam para trás.
Não queriam ver a lua de novo,
Atiravam esparguete à multidão,
Faziam chorar as velhas,
As crianças riam sem parar,
Quando algum caía para trás.
O céu trovejou sobre esta horda,
Enraivecido com a insolência.
Tapavam-se com folhas de alumínio,
Não haviam de parar,
Há séculos que andam para trás.
Já esfaimados e a cuspirem os pulmões,
À lua cheia continuavam a gritar.
No pico da sua raiva,
Caíram dum precipício para o mar,
Afogaram-se porque andavam para trás.
Zé Chove
O Projecto
Que não chegou a começar.
Debaixo do sol violento o pó no ar,
Misturava-se com o suor e sufocava.
Tentou imaginar a grande torre,
Sentiu o peso esmagador do betão.
Cravou as unhas na poeira,
Levantou as mãos bem cheias,
O pó caiu qual lençol dourado,
Cegando-o, espalhando-se pelo peito.
O projecto que ficara sem forma,
O desejo que permanecera mais belo no seu espírito.
Lúcia
Umas Gorditas
Eu dançava o dia inteiro,
O capitão comia sopa no porão,
À noite uivávamos à lua cheia.
Andamos em frota,
Há mil anos perdemos a rota,
Comemos gaivotas venenosas,
Alucinamos em ondas gigantes atirados pelo ar.
Estas velas não são nossas,
Venderam-nas ao coveiro que nos enterra no mar,
Sonhamos debaixo de estrelas,
A 2 escudos cada sonho.
Só o amor é que é livre,
Neste tronco de salvação,
Mas o Inverno é muito frio e,
Gostamos mais de esfregar o chão.
Zé Chove
Linfa na Estrada
Resina na colher de pau ressequida,
Os teus pneus amarram raízes,
Num novo mundo de vida natural.
Os papagaios invadiram Lisboa,
Todos os vidros se desfizeram em areia,
E o nosso amor tornou-se mais racional,
Num novo mundo de vida natural.
Zé Chove
14.7.07
Verme
Mergulhaste na terra como um verme,
Envolto na escuridão do húmus,
E preparaste o teu regresso.
Lúcia
Toda a família
Toda a família perdeu a virgindade,
Com a morte do mais novo.
Rezaram todos juntos,
Mais unidos que nunca.
Uma luz cega cai do céu,
Envolve o clã e separa-os do mundo.
Agora compreendem a vida,
Agora entendem a morte.
André Istmo
Perdão
Cada vez mais gastas as palavras.
Quando é que me rebentas com um estalo?
Oh! Todo-Poderoso ajuda-me!
André Istmo
Já Tentámos Tudo
Já tentámos tudo.
Batotas foleiras,
Era a forma mais directa.
Não temos tempo.
Morreram as esperanças,
Os bifes arderam nas brasas.
Os estômagos roncam em ácido,
Deitados no chão em desespero.
Não buscávamos algo concreto,
Só queríamos satisfação.
Não nos queixávamos da dor,
Só a rotina mata de desilusão.
Aqui ao lado vivem da matéria,
Lá em baixo comem carne todos os dias.
No meio do nosso desespero,
Só nos resta um estáter dentro dum peixe.
André Istmo
Tristes Trópicos
Será que alguma vez vão aprender?
No meio de rumba e de flores,
Qual o sentido da vida?
Não hão-de preferir a música do Sol?
Paulo Ovo
Mergulhar no Sonho
O despertador tocou,
Despertei com o Sol na vidraça,
O corpo ainda não estava preparado,
Voltei a mergulhar no sonho.
Nessa letargia matinal,
Em quinze minutos eternos,
Atravessei palácios de luz calma,
Paisagens sombrias sagradas.
Respirei profundamente de prazer,
Voltei a mergulhar no saco de aço,
Refunfunhei na almoçada fresca,
Acordei de novo para almoçar.
Gritas que sempre a amarás
Gritas que sempre a amarás,
Estás louco por ela,
Cortarias os pulsos por ela,
Mas ela continua calada.
Agora que ela foi com outro,
Nem olhou para ti,
Não és nada para ela,
Enforca-te e mostra o teu amor.
Tenho a certeza nessa altura,
Do desespero em que se abre o cadafalso,
Virá um anjo em teu socorro,
“Baixa esse cutelo”.
“Eu amo-te com loucura”.
Filipe Elites
Todos foram à festa
Todos foram à festa menos eu,
Fiquei em casa a tentar compensar.
O sol brilha tudo parado lá fora,
Os olhos saltitam sem terem nada em que pegar.
Imagino as crianças a brincar no lago,
As moças bem vestidas a palrar,
Casais risonhos a contemplar,
O passado e o futuro do seu lar.
André Istmo
Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
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Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria. Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros Escrito por um clérigo da época. Tu...
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