22.7.08

Não Desistas

O esplendor dos arbustos enfezados
Vem tudo é glorioso no tempo
Talvez se liquefeito em petróleo
Sob as mornas banhas duma lama
Ou num esquecido fogo fátuo já depois
De soterrado levanta vôo a coruja
É um gaz mas é brilhante
A plena glória do ser

Nicolau Divan

Excessos Exegetas

As colinas coroadas com excesso
choram vinagre coalhado de mosquitos
as crianças atiram moedas
com violência
para afonte e não vão buscá-las
algumas tribus de exegetas
corroídas pela vaidade
as volutas de violinos
e as massagens com ímans
os passeios na Babilónia
saciavam de fome
um espirro
e nem chegámos a preencher
os requerimentos
fugimos

lúcia

Lisboa Romântica #1

Archivo de imagens #123

Meditação Oriental #4

Mastiguei todas as rochas
Servida está a tigela de lava
Não tens de comer as vísceras
Porque choras?
E o prazer se te descoso as feridas antigas?
Engolidas as caravelas
Defecados os brasões
Foram aplanados os montes os vales
São agora alcovas
Olhos perdidos por planícies
Crivadas de bocas sem fundo o rio
Subterrâneo de olhos sem luz
É vomitado em canto negro onde
Se banha de pálpebras descansadas
Um Maldoror
Ou será o Magog?

Lúcio Ferro

Cit.#12 - Arctic Monkeys

Curiosity becomes a heavy load,
Too heavy to hold, too heavy to hold

Arctic Monkeys

Chico...

Chicoteeia
Os seus frutos apodrecem agora no chão
Gritei-lhe
Nada escondas do sol
Então só me via o halo
Excitava a parte gorda dos braços vergastados
Antes de afogá-la

Filipe Elites

10.7.08

Restos

Da janela nuvens dia de pranto

Sob o leito do moribundo
Gemendo na penumbra
O tempo passa vermelho
No relógio digital

Mantos de veludo entapam o salão
Mágoas ensombram o coração
Pesam os maples de tons escuros
Abafam as lágrimas de luto

Rápida passou em queda
Turbina no lago espelho
Pluma negra flutuando
Veloz como uma flecha
Beija o lago suspensa

Rui Barbo

Danças de Salão

Não abriu a boca como criança
Levada ao bloco operatório
A sua carne pura de infante
Exposta
Traça um meticoloso golpe
Divide o músculo em duas margens
E a carne é boca são rosas
Florescem

Lúcia

Emilio Vedova - Tondo ,87

Archivo de imagens £121

9.7.08

Merge

“Universalizar é negar a arte”. Ruy Belo

“A palavra começa a existir com carácter necessário pela ausência e transitoriedade das coisas, isto é, pelo tempo. A palavra, filha do tempo, nasce contra ele, para remediar a sua acção mortal”. José Maria Valverde

“Mas outros, Raça do Fim, limite espiritual da Hora Morta, nem tiveram a coragem da negação e do asilo em si próprios, viveram foi em negação, em descontentamento e em desconsolo.”FP

"Todo o estado de alma é uma paisagem. (…)Há em nós um espaço um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria umdia de sol no nosso espírito.
(…)Temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma (…) sofre um pouco da paisagem exterior (e vice-versa).
De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea das duas paisagens (…) terá de dar uma intersecção das duas paisagens".FP

Paisagem – tudo o que forma o mundo exterior ou interior num determinado momento da nossa percepção.
[música, leituras, estudos, calor, doença, barulho]

Nos sonetos podes definir 4 imagens ou passos e desbrochas cada uma à la Baudelaire.

Outros vão escrevendo semi-automaticamente sobre vários temas.
Vão recolhendo e misturando e adulterando textos de outros autores.
Começam a formar vários blocos sedimentares sobre temas de fundo.
Esculpe então uma forma que desde o início estava enterrada dentro dos vários textos iniciais. Como uma mãe nunca vê defeitos no seu filho, entrega-o nas mãos de um tutor amigo (Ezra Pound) para que este o ajude a crescer.

Lúcio Ferro

Sequência X

Desenterrado das areias
Só conheço a noite
E vejos os fogos
Na outra margem do pântano
Livres da multidão dos grãos
Os galhos veneram a lua
A água e a lama lambem-se
Uma à outra em polvorosos lamentos
Entumescendo as raízes
Ao crisol dos ventos gritam os fogos
Carpindo as árvores decompostas no atoleiro
Sem aquecer o funil da noite

de "Ética Manicómio"

Zé Chove

Aos Meus Amores

Toquei o superlativo
Inglório
Ombro porcelânico
Ansiando o lábio

Mário Mosca

8.7.08

Cérebro de Rato

Archivo de imagens #121

Sou Guiado

Sou guiado como um cão pela trela
Forço para fuçar nas lamas e poças
Resvalo na calçada e como a erva
Furiosa besta de imensa força

Com a delicadeza de fêmea esbelta
Dirige-me mão firme com a destreza
Do indiano que guia o elefante
Porta-aviões nas unhas do comandante

Mas fui eu que me entreguei afinal
Farejei a eternidade numa gamela
Podengo abanei a cauda submisso

Ai se agora sou mais animal
E tento alargar o compromisso
“Meu anjo não te me largues a trela”

Lúcia

Está Longe

Está longe e difusa a alegria
Como leões escondidos no matagal
Que a gazela cabisbaixa não divisa
Contentando-se com a erva seca à sua volta

Enchota as moscas com a cauda
Que lhe sugam o sangue nas feridas
E desdiz a vida entre os arbustos
Sem saber que espreita a alegria

Refundido entre a savana
Com esgares de predador
Respirando a tensão do ar

Só quando sentimos perto a garra
Saltamos graciosos com terror
Da alegria da morte santa

Lúcia

Corres

Corres esfuziante
Não tens mais contas a pagar
Saltas em câmara lenta
De cabelo ao vento
Com a alegria da criança
O Verão está a arrebentar
Todas as flores com novos cheiros
Um amor intenso no coração
Todo o céu a brilhar
E ao fundo mar infinito
E a alma livre e límpida
E os sons matinais do mundo
Envolvem-te numa doce sinfonia
Tudo está em ordem
Tudo palpita em harmonia

Marco Íris

Vizinha

Ai querida vizinha
Nas ondas do sol és uma sereia
Mas se te bamboleias
És mais leão marinho
E se à mão tivesse o arpão
Sulcava o teu corpo
Faminto de teu óleo de baleia

Diniz Giz

Ratazanas e Lagartos

Comprazido no acasalar
Rápido das pombas nos beirados
Marchava obcecado com o rastejar dos lagartos
E ratazanas nos arbustos secos no carreiro

Orlando Tango

7.7.08

Vomitorium

Archivo de imagens #120

IV

vidrado na linha-esfera
brilhante derme a lágrima
não aguenta o espelho
e funde-se em água

Orlando Tango

EX

ex-
agero
ex-
agero
ex-
agero

André Istmo

AlexanderPlatz

e sobre as duas como manta desce a noite
respiram máquina e árvore lado a lado
brisa balsâmica velada de divindade
da plenitude do aquário de mil sóis

é horizontal o crawl voraz da máquina
o barro cego funcional plasticidade
moldando ao labirinto do engenho as paredes

Corpo e alma carne e espírito geme a árvore
Esticada entre polos de verticalidade
Co-princípios que lhe garantem a unidade

navegar é preciso, viver não é preciso

Filipe Elites

Sequência I

A carne envolve o tronco
à árvore o sangue prova a seiva
compadecida dos lenhos
sinal da casca e
percorre os leitos
desde as raízes
identifica os séculos
elevasse
e busca os ventos com os dedos
perdidos entre os ramos que
só a noite
conhece

Zé Chove

Sequência I

Discorre à lucidez
Do fruto fermentado

Só voga de noite o barco mítico
E assombra os peixes de dia

E as algas mortas escrevem a pureza
Das areias brancas
Crescem o relevo

Polpa dos frutos enjoa
A árvore enjoa
Onde chafurda
Toda a gamela
Presta culto ao nada
Transborda lama
Vulcânica
Ração de marrãs

A nobreza do bago temprano
Destila vileza
Ao sol de justiça exposto
E breve seca

Sequência I

Perturbou-se o vento fez
Tremer as folhas
Novos corredores iluminados
Na antiga biblioteca

A densa noite aguça a
Verticalidade da multidão
Das árvores

E o silêncio desmentido
Em proverbialidade extracta
Acrescenta opacidade
Aos corredores da biblioteca

São pauta e sulco os sons do dia
E advogam ser dum universo espelho
Mas é a noite que mesmo sem querer
Perfumam

Ah o mistério
Suspiram os troncos
Por um vulto estranho

“O que abarca a vista é uma casa”

Árvores que a-
Prenderam a ver o musgo
Como benesse a perpetuação da lua
Caminho de ascese
Permanência de mistério
Durante o dia

Vibram à mutação
Quadrante dos recortes na luz
Mais e mais negros
Se mais e mais se ajuntam
Até serem noite
E a sombra deixar
De ser mistério

Zé Chove

Sequência I

Onde um trote se aproxima
Da alma desolada como um castelo
Urgência que desperta do húmus

Recorda-te da água
Que deixámos passar entre os pés
Buscando a noite sob
Os seixos do rio

Deixei-me embalar paralítico
Através do telhado numa jangada
De pedra extasiado
Com os reflexos do sol

Vem agora oh noite
Abafa nossos ramos
Auxilia a leveza da nossa cepa
E afoga-nos em teus redemoinhos

Zé Chove

Ann-Margret - Viva Las Vegas

Archivo de imagens #119

5.7.08

Raios Gama

Todos os vizinhos se queixam
Quando o sino te lambe os tímpanos
Pela matina ainda tens o olhar fixo
No sofá de veludo verde a teus pés
Semi-deitada lá se encontra tua mulher
Aspecto de cartoon a preto e branco
Mais um clarão de raios gama faz transparecer
Por milésimos de segundo as paredes do prédio
E contemplas o esqueleto dos teus filhos na cama

Mário Mosca

Engenheiro Civil

O bem estruturado engenheiro
Cínico olhar exprimia rigor
Sapato oleado de cangalheiro
E colarinho colado ao pescoço
No metro transparecia
Fórmulas de pose calculada
Fulminou-lhe desdenhosa o escapulário
E ele disparou sobre o peito decotado

Filipe Elites

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...