26.8.08

VII

O egoísmo imanente
Da árvore só
Devora podre o seu fruto

A diferença entre intenção e gesto

Egofania ou Alofania
A pedra a noite compacta
Não o sabia

Emanas-te sobre as árvores
Mas não és o rio
Permaneces
Com a unção da nata
A luz, o ouro, a prata

Zé Chove

23.7.08

Hino ao Irmão Vento

Nem é tanto a luz é é mais o vento
Não é o tempo que afoga é o momento
Nada fundo pranto sob-desalento
Ninguém assiste à queda pára o tempo

Nunca alcança o proposto alcanço
Nenhuma inércia aguenta tal balanço
Não não é a luz que dá o avanço
Nada aponta o vento sem descanço

Não basta um folgo intermitente
No girar do mundo pendente
Nalgo mais constante mais permanente

Necessita o barco do sopro fulgurante
Não é da luz potente o movimento
É do vento é do vento incessante

Orlando Tango

Lisboa Romântica V

Archivo de imagens #127

Sequência X

a noite toma as árvores
com paralelas de luz
a clareira é possuída
a metade observa a metade
já tomada num silêncio emprestado
todo o ser noite

Zé Chove

Substracto I

a natural petrificação do gesto
dilui-se em contacto com o segundo
o suspiro grava a vergastada
no campo de areia virginal
onde se encavam destroços
doutras palavras

Zé Chove

Vertigens

a torre sineira
da desolada aldeia
é casa de aranhas
contemplo os campos celestes
sentado numa ameia
perto duma densa teia
à vertigem que revolve as entranhas
dobro-mesobremimmesmo
e caio desamparado na teia

Ivo Lascivo

22.7.08

Lisboa Romântica #4

Archivo de imagens #126

Memória Descritiva

Tangencío as paredes obliqúo
As perspectivas
Enquadro um segundo ponto de fuga
O horizonte afunilado num vértice
Um monumento de céu

Hiperbolizo a esférica calote
Em densa malha elíptica
E envolvo a ubiquidade do ovo
Em esquizóide mutação de superfície
Matriarcal não me permite

Nascer de novo. Rarefeita
a linha infinita é elusiva
charneira
e cruza um ponto sobre mim
em paralela dimensão que não existe

Zé Chove

Certidões de Registo – 2ª Conservatória

Waste Land – TS Eliot

The Cantos – Ezra Pound

Poema Contínuo – Herberto Helder

Aqueronte

A língua de vento alisa o lago-lençol
Nos limites crispa e baralha em
Espelhos líquidos de mil brilhos
Limalhas flamas sol sereno sol
Em dorso de sardinha

O inferno é uma eterna solidão
cantaste-me olhos nos olhos
nas margens do Arlanzón

Lúcio Ferro

Lisboa Romântica #3

Archivo de imagens #125

Hermetismo

o frigorífico hermëticamente
fechado purifica em gás desolador
inverno cerrado ao incauto
abre as portas do inverno o excesso
estalactite sobre estalactite
de gélidos tupperwares em vácuo
transparente gelo prisão eterna
de flores

Orlando Tango

Aditamento #5

Johnny Flynn - A Larum

Yeasayer's – All Hour Cymbals

The Tough Alliance – A new Chance

Vampire Weekend – Vampire Weekend

Amantes

A noite flui cristalina e rubra no vidro de cristal
E afaga o cabrito-sol
Perseguem-se como dois amantes inconfessados
Brincam tocam-se cedem e concedem
Envolvem-se azeite e água e choram
Assim assim uma vez e outra sem nunca se falarem
Exibem troféus seus anjos
Emprestam e experimentam sobre as mesmas árvores
Mas quem diz que se conhecem?

Madalena Nova

Lisboa Romântica #2

Archivo de imagens #124

Neo-Realismo

túneis percorrendo túneis
a víbora a si própria se engole
sonhei através do grande vidro
sobre a floresta sentado na carpete
verde escura duas garotas de botas
de cano alto
reclinadas nos sofás
cor-de-laranja com aspiradas cabeleiras de piche
e olhar entediado a chuva no vidro leva
a agradecer a vida moderna
o candeeiro de plexiglass alveolado
tremelica lá fora o céu troveja

Filipe Elites

Shot #21

O estúpido galã trepou
Pela baba senil
Da velha soporizada

Brás

Não Desistas

O esplendor dos arbustos enfezados
Vem tudo é glorioso no tempo
Talvez se liquefeito em petróleo
Sob as mornas banhas duma lama
Ou num esquecido fogo fátuo já depois
De soterrado levanta vôo a coruja
É um gaz mas é brilhante
A plena glória do ser

Nicolau Divan

Excessos Exegetas

As colinas coroadas com excesso
choram vinagre coalhado de mosquitos
as crianças atiram moedas
com violência
para afonte e não vão buscá-las
algumas tribus de exegetas
corroídas pela vaidade
as volutas de violinos
e as massagens com ímans
os passeios na Babilónia
saciavam de fome
um espirro
e nem chegámos a preencher
os requerimentos
fugimos

lúcia

Lisboa Romântica #1

Archivo de imagens #123

Meditação Oriental #4

Mastiguei todas as rochas
Servida está a tigela de lava
Não tens de comer as vísceras
Porque choras?
E o prazer se te descoso as feridas antigas?
Engolidas as caravelas
Defecados os brasões
Foram aplanados os montes os vales
São agora alcovas
Olhos perdidos por planícies
Crivadas de bocas sem fundo o rio
Subterrâneo de olhos sem luz
É vomitado em canto negro onde
Se banha de pálpebras descansadas
Um Maldoror
Ou será o Magog?

Lúcio Ferro

Cit.#12 - Arctic Monkeys

Curiosity becomes a heavy load,
Too heavy to hold, too heavy to hold

Arctic Monkeys

Chico...

Chicoteeia
Os seus frutos apodrecem agora no chão
Gritei-lhe
Nada escondas do sol
Então só me via o halo
Excitava a parte gorda dos braços vergastados
Antes de afogá-la

Filipe Elites

10.7.08

Restos

Da janela nuvens dia de pranto

Sob o leito do moribundo
Gemendo na penumbra
O tempo passa vermelho
No relógio digital

Mantos de veludo entapam o salão
Mágoas ensombram o coração
Pesam os maples de tons escuros
Abafam as lágrimas de luto

Rápida passou em queda
Turbina no lago espelho
Pluma negra flutuando
Veloz como uma flecha
Beija o lago suspensa

Rui Barbo

Danças de Salão

Não abriu a boca como criança
Levada ao bloco operatório
A sua carne pura de infante
Exposta
Traça um meticoloso golpe
Divide o músculo em duas margens
E a carne é boca são rosas
Florescem

Lúcia

Emilio Vedova - Tondo ,87

Archivo de imagens £121

9.7.08

Merge

“Universalizar é negar a arte”. Ruy Belo

“A palavra começa a existir com carácter necessário pela ausência e transitoriedade das coisas, isto é, pelo tempo. A palavra, filha do tempo, nasce contra ele, para remediar a sua acção mortal”. José Maria Valverde

“Mas outros, Raça do Fim, limite espiritual da Hora Morta, nem tiveram a coragem da negação e do asilo em si próprios, viveram foi em negação, em descontentamento e em desconsolo.”FP

"Todo o estado de alma é uma paisagem. (…)Há em nós um espaço um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria umdia de sol no nosso espírito.
(…)Temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma (…) sofre um pouco da paisagem exterior (e vice-versa).
De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea das duas paisagens (…) terá de dar uma intersecção das duas paisagens".FP

Paisagem – tudo o que forma o mundo exterior ou interior num determinado momento da nossa percepção.
[música, leituras, estudos, calor, doença, barulho]

Nos sonetos podes definir 4 imagens ou passos e desbrochas cada uma à la Baudelaire.

Outros vão escrevendo semi-automaticamente sobre vários temas.
Vão recolhendo e misturando e adulterando textos de outros autores.
Começam a formar vários blocos sedimentares sobre temas de fundo.
Esculpe então uma forma que desde o início estava enterrada dentro dos vários textos iniciais. Como uma mãe nunca vê defeitos no seu filho, entrega-o nas mãos de um tutor amigo (Ezra Pound) para que este o ajude a crescer.

Lúcio Ferro

Sequência X

Desenterrado das areias
Só conheço a noite
E vejos os fogos
Na outra margem do pântano
Livres da multidão dos grãos
Os galhos veneram a lua
A água e a lama lambem-se
Uma à outra em polvorosos lamentos
Entumescendo as raízes
Ao crisol dos ventos gritam os fogos
Carpindo as árvores decompostas no atoleiro
Sem aquecer o funil da noite

de "Ética Manicómio"

Zé Chove

Aos Meus Amores

Toquei o superlativo
Inglório
Ombro porcelânico
Ansiando o lábio

Mário Mosca

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...