31.5.10
Questões de Género
A besta bonacheirona à segunda tentativa logrou conquistar a beldade envergonhada da sua condição social. A submissa. Aquela com que vários homens sonharam e preteriram por não trazer vantagens financeiras. É uma bela moça. O bonacheirão já fora casado com uma gordita que ao sentir-se instalada começou a expandir-se dentro das licras e a descurar a frondosa penungem que então lhe começou a vicejar na papada do pescoço tendo numa fase final encapelado em forte barba.
Filipe Elites
Fevre
Não sei, não compreendo e isso é que mais me atormenta, se a minha pele arde da febre ou do calor do Verão, desespero. Não encontro uma nesga de frescura na cama, não sinto qualquer alívio, definho de cansaço. Adormeço por fim com o nascer do sol com uma ligeira brisa que agita levemente o cortinado que roça no meu corpo nu vencido de barriga sobre o soalho.
Tomás Manso
26.5.10
Esqueliêtos
Esqueletos dos animais
Carcaças que o tempo aspira
A cantiga do vento
Nas costelas da montanha
Os abutres os chacais os lobos cães selvagens o furão o urso
Plaino – Terra – Sol
hiemal
Hibernal; invernal.
hierática
Variedade de papel finíssimo que se empregava na escrita dos livros sagrados.
hierático
Relativo às coisas sagradas, à Igreja, aos sacerdotes.
Diz-se de uma escrita de que se serviam os sacerdotes egípcios, como abreviatura dos hieróglifos.
sorvedouro
Voragem onde a água faz remoinho.
Precipício; abismo.
O que arruína ou devora bens ou fortunas.
Sinónimo Geral: absorvedouro, absorvedoiro, sorvedoiro
pélago
O mar alto.
Grande profundidade.
Abismo, voragem.
abismo
(latim *abysmus, de abyssus, -i)
(latim *abysmus, de abyssus, -i)
Grande profundidade que se supõe insondável e tenebrosa. = profundeza
Fundo do mar. = pego, pélago
O que se compara ao abismo. = despenhadeiro, voragem
Situação difícil ou perigosa.
Tudo quanto excede o que de si é excessivo.
Coisa ou ser misterioso ou incompreensível. = mistério
Grande separação ou afastamento.
Heráld. Centro do escudo.
Relig. O Inferno.
pego (ê)
Zool. Macho da pega.
Minho Pequena refeição dos trabalhadores, entre o almoço e o jantar.
Flor de cardo que se pega no fato.
Diz-se de uma variedade de milho.
Confrontar: pejo.
pego (é)
O sítio mais fundo de um rio, lago, etc.
Abismo.
Sorvedouro.
Voragem.
Confrontar: pejo.
abíssico
Do abismo; abissal.
abisso
(latim abyssus, -i)
(latim abyssus, -i)
Abismo
abissal
Relativo às grandes profundidades submarinas; que vive nas profundidades.
Diz-se dos peixes que se encontram apenas nas grandes profundidades do mar.
abrenúncio (à)
(latim abrenuntio)
(latim abrenuntio)
Abrenunciação.
Expressão de repulsa ou de desagrado. = tarrenego, vade-retro
tarrenego (é)
(te + forma de arrenegar)
(te + forma de arrenegar)
Pop. Exprime repulsa. = abrenúncio, vade-retro
Nota: Os dois elementos desta interjeição escrevem-se distintamente, quando em construções frásicas (ex.: Eu te arrenego, diabo!).
folecho (â ou ê)
Empola; bolha na pele, com aguadilha.
fulcro
Espigão que serve de eixo a um objecto
Pedra ou ponto de apoio da alavanca.
Sustentáculo, apoio.
Bot. Denominação genérica dos órgãos que protegem ou facilitam a vegetação.
Ponto fundamental.
Azevem, sorgo, gadanha, vime.
Iracunda, lancetar
Splende a M'nhã
Esplende a manhã no clarim de ouro
Na batalha
quiasmo
Figura composta de uma dupla antítese
cujos termos se cruzam: É preciso comer para viver
e não viver para comer.
vindicar
Reclamar uma coisa que nos pertence e que está entre as mãos de outrem.
Exigir o reconhecimento ou a legalização de.
Recuperar.
Reivindicar.
Justificar; defender.
Castigar.
contumácia
(latim contumacia, -ae, perseverança, arrogância, inflexibilidade, teimosia)
(latim contumacia, -ae, perseverança, arrogância, inflexibilidade, teimosia)
Grande teimosia, obstinação.
Recusa obstinada de comparecer em juízo.
malva
Planta tipo da família das malváceas.
estar nas malvas: estar enterrado.
ir para as malvas: morrer.
ser filho das malvas: ser de nascimento muito humilde.
Antracite e carmim
Kefir ou quefir
escrapanoso (ô)
Agreste; áspero. = escrapanento
Bisonho inábil pouco amestrado
Música de dança francesa a dois tempos
gavinha
Cada um dos apêndices filiformes da vinha e outras plantas sarmentosas e trepadeiras.
grabato
Leito pequeno e pobre.
glenoidal
glenóide
glenóide
Diz-se de toda a cavidade que serve para a articulação de um osso noutro.
nó górdio: obstáculo que parece impossível de superar.
Turfa de Significados
Turfa de Montanha
Esfagno e Hypnum musgos decompostos
Estagno
Anoxia e metano
Ácido húmico e ácido fúlvico e humina
Atoleiros
Valas carreiros
Zagal guardador de gado, pastor, jovem forte
Córrego – caminho por onde corre bastante água
Caminho apertado entre montes
Regato
Arroio – é o regato mais pequeno
esfácelo
Gangrena de todos os tecidos de um membro ou órgão.
Podridão, destruição, estrago, ruína, desmembração.
Como uma serra gasta corta a carne assim era a sua voz
O mar enrola a massa
Como o padeiro
Distende-a na areia
O céu marchetado de crucitos
Até se tornar cinzento tentando abafar a sua branca
Luz interior
Clarões-gaivotas areia macerada
Macerar – amolecer, mortificar, macilento (pálido cadavérico)
Ignominiar – desonrar, infamar, desacreditar alguém
Azorragues
Látego
Flagelo, corda, asno, aflição, tormento, suplício(imensos significados: oferenda, suplica, pedido, punição, castigo), patíbulo, cadafalso, tablado, palanque ,estrado, descoroçoar, arriar, perder a coragem,
Crisol, refractário, cadinho
sevandija
Pessoa que vive à custa alheia.
Parasita.
Pessoa que passa por todas as humilhações sem mostrar ressentimento.
Nome comum a todos os insectos parasitas ou vermes imundos.
Concreção – pedra, coisa rija dentro de um corpo
Tumefacto – inchado, intumescido
Túmido – largo, grosso, que aumentou em volume, orgulhoso
Álacre – muito alegre, risonho
Lactescente
Receba rebeca
Carla lacra
Mafalda malvada
Brejos
Cálice de Agonia
Que beijo no suor da Agonia de joelhos
E sangro! Videiras retorcidas de desgosto
Vinhas retorcidas ao sol de Agosto
Lágrimas de sangue e mosto
E Sangram!
Perpétuas
Mágoas
Na escarpa
As levadas ébrias
Terras xisto granito
Racimos recebidos
Nas alquebradas escarpas
Rasgada a escarpa
Crestada escarpa
Escarpa-me o desejo
Devolve-me o beijo
Alma de brejo
Retábulos de Penhascos
Trípticos de Penhascos
Biombos ou Estantes Emergindo
Das camas de urze
Lúcio Ferro
25.5.10
Idei-as
Breviário livro de horas oração
Monge pintor de ícones
Tremor lacrimejante
Costas arquejantes
Sufocados soluços
Balanço de todo o corpo
Como se embalara Deus nos seus braços
O eu e Deus são identificados com as coisas mais dispares –onda, árvore, vento – e postos em relação. A base duma triplice relação Deus , o eu e as coisas.
Coesão, bizâncio. Estilo dourado klimt.
Povos indianos primitivos das ilhas perto de Goa
Precipitação limitação crise
Caminho desespero à salvação
Dissociação do eu até à loucura
A pobreza é um grande clarão que vem do interior
Valter Igor
Inquilino
Sou a seiva da tragédia
Que verte nas ruelas estreitas dos podres bairros
Da cidade agrafada nos revoltosos
Esgotos a céu aberto onde galopo.
Aos corações ensopados de raiva ao chegar aos
Seus tegúrios de brandos lumes
Rebaixo o olhar altivo
Prescrevo o orgulho
Dispo as crianças
Habito.
Orlando Tango
Choldra
Mar-sonho
Provações de cílica
O seu lugar na sociedade passava por divertir o povo. Trabalho pro-bono. Algumas tarefas não são devidamente valorizadas – falta-lhes um apoio empresarial...
Foi te dada a possibilidade de transgressãoNinguém lerá jamais o que escreveste logo anavalha a imaginação e deixa que o mistério te invada a cela.
Afoga-te num doce suicídio.
Dá-me a provar dessa taça de sofrimento, golpeia, mantem-me vivo, nesta concreta dança macabra, quebra a máscara tíbia da complacência, prefiro morrer esvaído pela verdade que adormecer no regaço da mentira.
Diniz Giz
Fertilidade
Pelo carinho que a viu empregar
Na ajuda da criança desconhecida
Que resolvia os deveres no ondear do autocarro
Instintivamente compreendeu
Que a rapariga não poderia ter filhos
E se entregava com todas as potências
Fervilhou no rapaz o amor de compaixão
E deixou arrastar-se pelo olhar
Dom da infertilidade mais fértil.
Filipe Elites
Verão
Despedi-me da neve dos plátanos
Percorri com os olhos nos bolsos a alameda
Não resta nada a não ser esta luz que nos cega
Dos desejos de verão cintilando na neve diáfana
Zé Chove
Filha da Mãe
O que mais a entusiasmava
Eram os poemas em que as ânsias
Não são nunca saciadas
Não a comovem os grandes feitos
Carregados de sofrimento tanto
Como os feitos nunca alcançados
Provocando a vertigem dolorosa
Da insatisfação eterna
Lúcia
18.5.10
Tensões
E se houver tensão sem ser a que prende o azulejo ao tijolo é só a de não haver qualquer tensão e a alma que eternamente desconfia asperger-se em questões sobre os veios do mármore da bancada. Casarei com a cozinha?
Tomás Manso
Cismando
A mão mole de palma virada
Para o pescoço com o polegar absorto no lábio
Os emersos olhos na imensidão da parede
O braço esquerdo pendendo sobre a cabeça não vão escapar-se as ideias
E os dedos prescrutando a incompreensibilidade do lóbulo auricular
Direito que nunca alguém teve o prazer de contemplar
Lúcio Ferro
Tritão
Abandonado pelo mar que me rodeia e esmaga, perante tamanho silêncio de que me adianta a resignação? Não será a mais subtil forma de orgulho? O mar é uma besta. Não quer saber só tem ouvidos para a sua mãe a lua.
A barba ensopada no fundo dum casco. As costas cravejadas de mexilhão e lapas. A voz deu lugar a um roar que galopa das infinidades da alma e só sabe pedir perdão. O peito curvado como uma vaga que se engole a si mesma escondendo do sol a sua interioridade. O abismo do espírito negrume do peito onde voam os monstros marítimos. Saciado no meu fim te agradeço oh pai oh mar!
Paulo Ovo
Forças
Os prédios e assassinos a soldo, torres
Persistentes nos túneis, passem-me o
Microfone, passos perdidos nos
Becos ecoam nos ocos
Oprimidos dos peitos tegúrios
Da raiva incontida. Máfias
Caseiras, refeições ligeiras
Roupas foleiras
Serviços secretos esqualidos
Movendo-se em silêncio
Nos prédios abandonados
Conspirações nos transportes públicos, agentes
Que pedem que me cale
Rui Barbo
Tudo São Paralelas
Tudo são paralelas embrulhadas em novelos
De relações de intrincadas palavras que sustêm seus sentidos
Em infinitos sentidos – fios tendidos
Agarrados a outras palavras
Emaranhando as coisas e a gadanha
Da Fala liberta e rasga e polvilha de sangue
As planícies e canta incendeia a alma
Que vagueia na garganta
Brás
12.5.10
Planícies
Ao terminar a tempestade o fim parecerá mais perto
O caminho assim aberto à vista
O meu coração é uma lua bêbada reflectida nas poças
E no mar. Ansiamos escorrer em todos os riachos
Em que se afunda a chuva
E desejamos ser o carvalho dono da vastidão da planície
Amante noturno que passeia em sombra o meu coração de lua
Madalena Nova
Na Minha Cabeça
Acordo-te para que saibas sou eu
Na minha cabeça
Abro-te os dedos em confirmação
Na minha cabeça
Quando invado as tuas
Vestes e desembainho o mar
Mergulhamos nos drapeados dos cabelos
Na minha cabeça
Onde a nobreza do linho esvoaça
E rasga o vento sem conserto
A fibra do espírito novo
André Istmo
Anastacia
Prussia-Anastacia que danças à roda
Num porão, estátua de paz,
Luz levítica abandona-nos nas mãos
Da Babilónia que ninguém há-de amparar
Tua imperial queda
Entre os pinheiros do Burgo de Catarina
Tomás Manso
8.5.10
Melra
Poiso o olhar em tuas penas de melra arisca
Mas escapa-me o teu olhar
Não que o não tivesse prescrutado
À sombra dos antigos roseirais por onde te resguardas
Esses olhos de menina incandescente demais
Para tão delicado rosto
Não que os não tivesse tentado
Ler na centelha da tua asa negra
Escondido atrás da arma de lágrimas
A mira fica cega
Manel Bisnaga
Semana-silêncio
Retro-iluminadas fábricas de escândalo-halogéneo
Da penumbra-vergonha da noite dominical- pecado
Com teu fumo-lento onde pedalas próxima semana-silêncio
Silêncio
André Istmo
Reclina
Reclina as costas sobre o firmamento da noite
E contempla-nos temeroso o temor
Que da tua noite temos
Alargámos ao máximo as cúpulas de pedra
Para te sonharmos de ouro presente
No sopro da tua luz
Que sobre nós cai do zimbório
Zé Chove
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