Entre os vendavais sociais de santa
se procuras abrigo de ti mesmo
um lar que os teus ossos recolha
das tempestades trovejantes
do Rio de Janeiro sobe até aqui
onde a Lapa é apenas um murmúrio
e descansa na varanda
ouve o linguajar doutro arquiteto
duma outra esquina do mundo
toma uma água filtrada com lentidão
do sossego enquanto baratas cruzam
o soalho e lembra-te que para chegar
ao quarto do teto alto terás
de descer às masmorras da humidade
e sentir o aroma de toda a humanidade
exalando do banheiro ali ao lado
depois duma festa junina
e a sombra dum novo contrato terminado
que se queima num semestre
mais rápido que um cigarro
atormenta o pai de familia
perdido entre as prateleiras do mundial
o celeiro desta ilustre casa
e a louça ressecando sobre a pia
é o cenário perfeito para os frascos
de milho.
E a lista dos moradores deste cemitério
sob os vintage vitrais da escada em mámore
ouvem-se barulhos na madrugada
alguém não se deitou e um outro já está acordado
um estuda para uma prova, transa ou está viciado
outro vai surfar, vai colher mangas
no quintal ou vai viajar para a barra
e do nada eis que se faz a reunião de condóminos
em volta do parco café da manhã
pão na chapa e suco concentrado
Um só canta sacagem, outro come mais do que fala
outro mete o nariz em todo o lado,
e na porta o mais atento é um cachorro
mas também esse vai variando