10.7.07

Adolescência

É fácil lutar sozinho,
o que mexe é para abater.
Do mundo escondido
adolescência amarga, dura de roer.

Madalena Nova

Missão

Descem das montanhas com a mesma missão.
Seguem cegos de fúria nas ventas.
Largam tudo: mulher, pai, irmão.
Esmagam tudo quando passam, paixão violenta.

Luzes rápidas com rastos,
fujo rasgando, o vento brutal,
olhos vermelhos dentes cerrados,
estratégia do ataque final.


Paulo

Xutos e Pontapés

Quando pensaste que o ritmo não podia acelerar mais.
Bum! Expludo, rasgo dou-te mais!
E quando pensaste que já arfava.
Pam! Chuto, parto e esmago!
Fica longe!
Em português eu canto e brado,
pensas que fico calado?
Destroço, subjugo, mordo e estrago!

Vasco Vides

Ata-me

A guitarra dedilhada de arame farpado,
sangrou lágrimas de dor,
partiu sozinha errante,
em busca de uma alma semelhante.

Ainda te quero,
é verdade, chama a polícia,
vou te perseguir louco,
ata-me com o teu amor de força.

Filipe Elites

Jovens

Bar halogénico,
problemas da puberdade,
raiva mal contida,
companhia divertida.

Cambada de putos loucos,
aos saltos pela rua paranóicos,
baterias tribais rebaldaria,
rasto de devastação.

Roucos chafurdam na lama juntos,
cantam hinos desesperados,
brilhos nos olhos conquistam mundos,
sonhos heróicos alados.

Rimas podres mal paridas,
saltam da mente como o sangue das feridas,
surgem gastas pouco sentidas,
amalgama de cenas já lidas.

Não querem saber dos outros,
dominam impérios nos seus quartos,
saltam loucos furiosos,
quando os mandam ir jantar.

Mário Mosca

Adulto

Às vezes parece que o sol vai despontar,
aguento com esperança continuo a jogar.
A vida não corre assim tão mal,
vou deixando as coisas seguirem o seu rumo,
não me vou preocupar.

Às vezes lá levo uma cacetada.
Descarrego nos putos,
a mulher lá me amansa.
Vou continuar calmo a caminhada,
o esforço inútil cansa.

Filipe Elites

España

Sonidos de ordenador,
perritos saltitando,
colores garridas en la flor de la juventud.

Filipe Elites

Funeral

Prepararam o funeral com toda a pompa,
mantas roxas nas varandas.
Todos os homens com as melhores roupas,
velhas chorando roucas,
sombria tarde sem fim.

Foi a traição que os levou,
febre,
dor,
onde estão os nossos filhos,
febre,
ardor,
faca aguda cortou seus trilhos.

Ainda soam seus risos marciais,
aldeia em festa orgulhosa.
Recebe agora muda os pueris destroços,
carne podre misturada na guerra.

Febre,
Senhor,
onde está o meu filho.
Lancinante,
amor,
quem levou meu doce milho.
Morte,
dor,
fardo esmaga sufocante peitilho.


Zé Chove

9.7.07

Salto na lama

Salto na lama de novo,
não faz efeito.
Grito no chuveiro,
não se mexe.
Como à bruta,
não se agita.
Bato com a cabeça,
já aflito.
Corro no prado,
desesperado.
Lassidão.


Zé Chove

Ouvi a sua voz

Ouvi a tua voz na distância, tinhas novidades.
Ela entra distraída no meu território,
louca criança esplendorosa,
ela safaneia o meu peso parado.

Pensava que não era assim que se processava,
tá doida só quer dançar, fito inerte.
Sua dança á minha volta desenfreada,
esboço sorrisos polites envergonhados.

Filipe Elites

Lágrimas

Nunca o tinha visto chorar,
juntos na noite conversando,
como se soubessemos tudo um do outro,
e de repente no meio das conversetas,
uma pergunta mais profunda uma chamada de atenção ou repreensão,
e a necessidade de explicar e o pôr a intimidade assim exposta,
doeu-lhe e as lágrimas correram.


Lúcia

ROCK_4

Rock! Já tou cansado de saltar nas dunas,
ao pôr do sol atiro-me sobre as canas.
Miúdas! Já tou farto atiro-me sobre ondas geladas,
soa a mentira, mas são verdades.

Vasco Vides

Na praia

Na praia cheia de ondinhas alinhadas baixas,
vi uma borboleta no contraste das nuvens negras,
choveram lágrimas por ti,
e a borboleta perdeu a cor.

Contemplei dorido o horizonte,
pensei nos nossos disparates.
Acorda borboleta antes do sol se pôr,
tenho a esperança no amor.

Mãos nos bolsos impotente,
ninguém me veja neste instante.
Palhaço triste e desbotado,
borboleta mortiça ao meu lado.

Mas a vida é mais bonita faz te ao largo,
levantei-me brusco irritado,
a borboleta estremeceu de vento,
olhos frios, corpo determinado.

Cravei as mãos na areia fria,
preparado para explodir.
Ouvi tua vós atrás de mim em lado incerto,
parou a chuva e a borboleta voltou a subir.


Lúcia

PTE - Periodic Table of Elements

Encher Chouriço #2

Shot_8

A minha vida gira sobre ti,
és a mais bela que já vi.

Mário

Toque, toque

Toque, toque, assobio,
bateria de lata,
guitarra de blues,
refrão sentimental,
todas as músicas falam de Stela.
Ritmo trôpego partido,
espraiado no refrão,
dia de trabalho matraqueado,
descanso à noite tua visão.

Nicolau Divan

Tangos

Tangos, sambas, ritmos tropicais,
verdes, sombras, viçosos matagais.
Mosquitos zunindo distraídos,
humidade imersa no grito dos pardais.
Caminhos de terra batidos,
toca o telefone serás tu?
Largo o charuto afasto tua forma de fumo
oiço a tua voz de fera ferida!

Nicolau Divan

Alpendre_3

Sentado no alpendre imóvel pelo sol,
odeio tudo o que mexa depois do almoço.
Mente em branco como a areia,
sou um peso no universo.

Mário

Cuidado

Cuidado não se aproximem acho.... ...
Alto para trás acho que.....
Fica aqui mas dá-me espaço eu vou... ..
Zonzo pela sala mão na barriga ai que........
Os olhos não focam tudo é nevoeiro acho... ....
Apoio as mãos na mobília estou mesmo..... .
Badrabum!

Diniz Giz

Desisto

Eu desisto não quero mais lutar,
vou me embora chuto irritado o ar.
Sou desajeitado faço tudo mal,
olham-me de esguelha como um animal.

Tu continua a olhar por mim.


Mário Mosca

Arcade Fire Live at Trees - Todd Slater

Encher Chouriço #1







MERGULHO

Senti algo a remorder-me as entranhas,
algo frio e repugnante que provocava dor.
Remexia-se inquieto incisivo no meu interior,
decidi a medo combater o corpo estranho.

Contemplei as águas paradas do meu espírito,
cobertas por neblinas compactas,
gélidas, por séculos preservadas no silêncio intactas.
Contemplei expectante sem saber o que encontrar, aflito.

Pedi ajuda do alto ao meu Deus com temor.
A madrugada fria da minha alma era lúgubre,
senti o monstro agitar-se gordo e fúnebre,
adentrei no lago sem esperança sem fervor.

Agitei as águas com meus passos receosos,
o espelho sereno ondulou deformando as imagens.
O líquido ficou turvo dando à besta uma vantagem,
recuei enojado agarrado ao ventre pesaroso.

Uma centelha de sol pálido refulgiu,
através da névoa fosca da manhã fresca.
Sorri animado voltei á carga molhei a testa,
um fedor podre morto da poça fluiu.

Não conhecia o nojo da minha alma,
chorei sobre mim mesmo misturando as águas.
As negras do eu desconhecido e as das mágoas.
A luz do sol lambeu a superfície calma.

Distingui os seixos das margens brilhantes,
pressenti num ruído surdo o perigo vizinho.
Mergulhei repugnado no lodaçal ribeirinho,
no abismo negro gritei delirante.

Algo me puxava com força para o fundo,
tentei fugir numa angústia mortal,
cego perdido na escura fossa abissal,
em agonia entre as paredes do poço profundo.

Cuspi, de raiva à tona, sufocado,
como uma criança, trôpego cai no chão.
Fechado como um feto, adormeci de desilusão.
Quando acordei vim um anjo ao meu lado...

Zé Chove

ROCK_5

Saí louco a guiar,
carro podre escavacado,
música brava a gritar.

Mário

Rock_3

Saí louco a guiar,
carro podre escavacado,
música brava a gritar.

Vasco Vides

Malhão

Caminhámos espapaçados pelo deserto do Malhão,
todos com o mesmo objectivo rumo ao sul.
Do lado direito brilhava o mar,
aumentava a secura.

Cada um com seus pensamentos seguíamos caminhando,
olhava tonto de calor os bois ruminando.
Roupas velhas e gastas.

Força jovem,
contemplava maravilhado o sol.
Chegámos por fim a uma praia barcos mortos e sargaço,
brisa fresca de sal na cara de olhos esbugalhados,
sardinha assada...

Paulo Ovo

Homem_43

Falava arrastado,
olhar esgazeado.
Barba dura,
olhar de bezana pura.
No chão deitado,
não vivia ralado.


Vasco Vides

Guinadas

A vida é mais risonha,
desde que entraste no meu carro.
Corremos juntos contra o vento,
curvas apertadas,
unhas cravadas no assento.

Guino para o lado e cheiro o teu cabelo,
ponho as mudanças e roço teu joelho.
Nas partes planas do caminho,
passo braço á volta do teu pescoço,
e contemplo extasiado o teu beicinho.

Filipe Elites

Toni

Putos saltando á volta do Toni,
fazia de palhaço para ganhar uns cobres.
Quando era pito apaixonou-se por uma miudinha,
numa destas festas,
mas a parva apaixonou-se pelo palhaço...
Agora vinga-se fazendo corar,
os rapazinhos apaixonados pelas miudinhas,
fazendo-as apaixonar-se pelo palhaço!

Madalena Nova

MULHER_3

No calor da noite desértica,
geme a velha aldeia,
já só cá mora uma velha,
e a sua bela neta.

Árvores gritam desesperam,
com tamanha beleza á solta,
a velha chora ao pé da fogueira,
a criança salta fresca na ladeira.

Quem a viu não voltou para contar,
morreu de febre e calores de amor,
a velha já foi como ela,
agora é seca e negra.

Olhos negros de ameixa,
ondas gordas de cabelo sedoso,
saia leve de linho puro,
nariz empinado passo seguro.

Sua avó não quis morrer,
ao ver tamanha beleza,
chorou pegou numa faca,
furou o olhos de dor.

Zé Chove

Não importa

Não importa Já passou
Porque o esforço Estou cansado
Está calor Já derramou
Passam agitados Atrás do nevoeiro
São loucos Fico aqui deitado
Estou mole Estão bêbados

Mário Mosca

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...