13.7.07

Morreu sem avisar

Morreu sem avisar os pais,
O pequeno moço matreiro.
Os manos desataram a chorar.
O velho poço coberto de ervas,
Gritou para céu quando o engoliu.

Agora as cigarras no verão gritam,
As andorinhas roçam as suas asas,
No pequeno túmulo do Pedrinho.

André Istmo

Puxava todo o folgo

Puxava todo o folgo da larga peitaça,
Escarrava terra seca com um estertor,
Parecia um motor ressequido.

Cravava as unhas a qualquer coisa que agarrasse,
Espetou-as depois na garganta com sofreguidão,
E marrou com força contra as paredes.

Ninguém nos avisa quando nos pode acontecer,
São desgraças que surgem sem avisar,
Qualquer um pode ser apanhado nas malhas do destino.


Zé Chove


Banheira de Azulejos Cor-de-rosa

Hoje revi-me de novo naquela banheira de azulejos cor-de-rosa,
Antiga da casa da vila.
Tomava banho depois de um dia de praia.
Gostava de ficar muito tempo na água quente,
Sorvia a água do fato de banho.
A casa de banho enchia-se de um vapor perfumado quente e sonolento.
Atravessava o corredor de madeira com a toalha enrolada na cintura,
E gritava - “Próximo”.
Vestia-me lentamente,
Estafado da praia,
A cara fervia do sol da tarde.
Penteado para trás e bem cheiroso,
Lá descia para a sala onde me enterrava no sofá castanho e desconjuntado,
E deixava-me anestesiar pela televisão.
Como eu, os primos, cada um com sua posição de leão empoleirado numa árvore, Moldávamo-nos aos sofás.



Mário Mosca

#231

Voltei a conferir todos os textos,
Estavam todos muito bons,
Podes mandar imprimi-los.


Lúcia

História do Visionário Magno

Imensidão
Universo
Coração
Adverso


Desperto
Sensação
Incerto
Explosão

Poesia incompleta

Carlos Marques

Shot_7

Amena Luz
Dilacera o corpo extenuado
Olhos desbotados
Rímel e suor


Diniz Giz

Cavernas

Cavernas negras do coração,
Abismos feitos de rocha afiada.

Lúcia

Kiss my Gonzo

Imaginarium Postumum #12266


Super Produzida

Super produzida, fiquei babado,
com as cores da tua roupa,
e as argolas brilhantes das orelhas,
betinha tu és bonita.

Sorriste brilhante em pose estudada,
madeixa do cabelo sobre o olho,
senti teu forte cheiro,
através da noite louca.

Senti-me muito mais pequeno do que tu,
teus jeitos eficazes de senhora,
balbuciei embasbacado apaixonado,
e lá fui contente rua abaixo a teu lado.


Filipe Elites

Motard

Deixei-te no bar queixosa,
fugi na mota,
os velhos saíram acorrer atrás de mim,
comprei te uma corrente prateada.

Cheguei montado numa nuvem de gasóleo,
tossiste com ar enjoado,
beijei-te à força,
atirei-te para cima da mota ficaste calada,

eu é que sei.


Manuel Bisnaga

Cachopita

Cachopita queres roubar o meu coração?
ainda tens as pernitas arranhadas
de saltitares na floresta,
dou-te um beijo de compaixão.

As manhãs estavam sempre chuvosas,
para ti minha inglesinha,
com o estômago entediado,
enroscavas-te no sofá.

Vias os desenhos animados farta de estar em casa,
eu ficava na cama sem posição,
vem cá trás mo pequeno almoço,
e reacende a minha paixão.


Manuel Bisnaga

Luís

Cabarets dourados enfumados,
música dos eighties, mulheres despidas,
Luís de camisa e fio dourado,
flutuava largando cheiro barato e piadas brejeiras,
as luzes reflectidas no penteado oleoso,
botinha rítmica apoiado ao balcão.

Diniz Giz

Má Fama

Não sentia a alma descansada,
voava suja, desamparada.
Asas imundas de lama,
atrás do dono de má fama.


Mário Mosca

Jade-Iceberg

Imaginarium postumum #9

Depois do moche

Depois do moche o guilhas tinha a boca cheia de areia,
o anoitecer no oceano trazia o som de ondas antigas.
Deitadas as damas a conversar fizemos uma fogueira,
cantamos ao som das guitarras vozes amigas.
Somos livres,
jovens,
amamos a praia.

Vasco Vides

Shot_4

Arquelau era um ladrão de rosquilhas de azeite.

Vasco Vides

Pardalito

Olha pardalito não vou conseguir chegar a tempo à minha amada,
leva-lhe este meu recado.
A pequena princesa mimada quis uma rosa vermelha em troca do seu amor.
roseiras azuis, amarelas, laranjas e negras.
Por fim lá encontrou outras mas eram brancas.
Por seu amo cravou seu coração num grosso espinho tingindo uma das rosas de vermelho amor vivo.
Seu amo ficou perturbado com tamanha mostra de amizade,
quando chegou ao pé da princesa esta dirigia-se ao altar com o seu,
pior inimigo,
dor.


Madalena Nova

12.7.07

Traumas de Infância

O pequeno colega invejoso viu-os juntos no galpão escondidos,
e fechou o grande portão metálico,
lá dentro ficou escuro.
Indignados correram tentando impedi-lo,
as suas vozes ecoaram aflitas no cofre.
O bufo correu entre as urzes sob o sol escaldante satisfeito com a sua façanha,
só ouvia as pancadas surdas dos prisioneiros cada vez mais longe.

Moderno

Será que alguém ainda faz estes cestinhos de vime?
que grande trabalhão....
deixem as máquinas trabalhar,
deixem as pessoas descansar,
e usarem o tempo em seu benefício próprio.

Diniz Giz

Rock_2

Não interferirei,
o único som que tens de ouvir é o meu suspiro,
deixa-me ser a melodia na tua cabeça que embalas nos transportes.


Vasco Vides

Mais uma manhã.

Mais uma manhã, mais um dia imposto,
posso forçar-me a dormir,
porquê enfrentar mais um dia?
- quando posso ter-te nos meus sonhos.


Vasco Vides

O Coração

O coração bate só na esperança do teu perdão,
e quantas mais me perdoas mais eu te quero,
só tu podes ver a minha vida do avesso,
não me negues jamais,
não sei que fazer mais,
eu quero-te.



André Istmo

Perdia-se sozinho

Perdia-se sozinho no meio da imensidão do seu país,
andava silencioso por fora,
em que é que pensava?
Provavelmente rezava.

Eu seguia os seus passos feliz também eu absorto em pensamentos,
ou orações ou ideias para o futuro já não sei.
A paisagem grandiosa está sempre calada,
mas diz muito deste mundo,
vai nos dando pistas sobre como devemos pensar.

“És pequeno parecia querer dizer” e outras coisas,
mas nunca se intrometia,
ali à solta as coisas ficam diferentes,
não sei explicar.

Paulo Ovo

Memória

Ficava horas sentada na cozinha,
pensava olhando a mata lá fora chovendo.
Dias que não deixaram marca forte na sua memória,
passam tantas pessoas pela nossa vida,
situações que decerto nos cinzelaram, deixaram o seu cunho,
nalgum canto obscuro da nossa personalidade,
mas não tiveram uma continuidade.

Por isso passaram a um estado que não misturamos com a nossa história,
ficam guardados num depósito pouco acessível,
como algumas salas do hospital de Santa Maria,
que só visitamos se por acaso nos perdermos pelos corredores,
atravancados da nossa memória.

Por vezes essas trailers surgem-nos claramente como se tivessem ocorrido dias antes,
-tia Alice - os tipos das noites no Cais Sodré - um amigo da pré-primária -
o Natal em casa da tia Bola - um jogo de futebol com o Feijão no parque do Alvito - plantar tâmaras nos vasos com o avô Tranito -
um beijo – Lúcia - Vasco - Ana - uma frase - um excesso - êxito - lágrimas -
Que Deus os guarde - que Deus nos permita ver a nossa história toda em cima de uma mesa para que nos possamos arrepender na sua presença para que possamos, compreender o desenho da tapeçaria.


Diniz Giz

Quando eras pequeno

Quando eras pequeno vibravas com as histórias de terror e do inexplicável,
vampiros espíritos e outros monstros,
à solta em noites ventosas,
nalgum castelo ou floresta perdida nos balcãs.

Esperavas que toda a casa estivesse já a dormir quando o silêncio
era mais manso e à luz de um pequeno candeeiro
lá ias sofrendo aquelas doces sensações de medo.

Paulo Ovo

Nesta Antiga Pedreira

Nesta antiga pedreira,
rasgada a céu aberto,
à beira da falésia alcantilada,
à muito que a vida se foi.

O sol realça as agudas arestas,
as casitas dos antigos trabalhadores morrem em silêncio,
no fundo sempre em sombra
poças de água turva jazem.

Olhei do alto como um estranho,
desci num arrepio expectante,
sonhando com a vida desaparecida,
quebrei a pétrea monotonia.

Coelhitos escaparam assustados,
ante os meus passos decididos,
que o grande anfiteatro ecoou,
misturando-os com o barulho do mar.


Carlos Marques

Rua de Pedra

Rua de pedra envolta na neblina matinal,
luz do sol crepuscular,
demasiadas sílabas oclusivas,
encalhavam meu fluído caminhar.

Enveredei por um atalho,
no meio do ondulado e verdejante prado,
vi uma casita ao fundo,
chegaram-me cheiros de lareira.

Bati na porta já gasta,
abriu uma criança olhando receosa,
quando entrei fiquei espantado,
dezenas de miúdos saltavam pela casa.

Falei mas quedei vidrado,
em vez da voz saiu um gemido,
de puto novo chavalito,
olhei minhas mãozitas pequenas e sorri.


Diniz Giz

Focos de luz

Focos de luz dispararam um a um,
alinhados na escuridão,
a recta infinita rasgou o espaço.
Segui aflito com duas certezas,
o chão plano e duro e as luzes do caminho.

Segui a direito sem pensar,
determinado no destino alcançar.
Por vezes clarões laranja,
brilhavam no negrume,
avançava mecânico sem descansar.


Mário Mosca

Trombones do Fim

Trombones do fim do mundo,
chegaram sem estrépito,
alguns nem acordaram,
todos ouviram a doce música,
dos anjos em delírio.

Ficaram moles nos seus leitos,
uma luz intensa brilhou igual em todo o mundo,
fugiram os recantos e as sombras,
calma paz derramada doce,
sobre as almas adormecidas.

Cantos profundos despertaram nosso sono,
onde estão os raios e o trovão?
Fomos atraídos para as águas cristalinas,
mergulhámos no fresco vitalizante dos rios,
seguimos embalados na corrente.

Vimos tudo num segundo,
família amigos e memórias num conjunto,
que nos fez sorrir de alegria,
cheiros puros de flores garridas,
envolavam nossas vidas.

Então um brilho mais intenso explodiu,
ficámos extasiados em tensão,
suspensos no fluído,
era Deus que nos olhava,
sentimos um calor no coração.


André Istmo

Sons apaixonados do tango

Sons apaixonados do tango,
choro de lágrimas do fado,
fumo triste dum cigarro,
no bar noturno fiquei apaixonado.

Bela donzela de negro,
agora as guitarras choram mais alto,
bebi o último copo,
rodopiei á sua volta e saímos para o bairro.

Sozinhos com frio na noite histórica,
mãos dadas com carinho,
cobria com a jaqueta,
e ficámos a contemplar o rio.

Amanhecia quando terminou o filme da sua vida,
sonhámos de cabeças juntas no futuro,
abraçámos quentes e chorámos de alegria,
fatos negros numa massa flutuante.


Carlos Marques

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...