16.7.07

Arvo Pärt

Infiltrações #1


Algumas ideias dispersas...

Algumas ideias dispersas...

Não me são estranhos os teus olhos querida,
Já nos amámos antes noutra noite.

Gritava esparramada na imundície.

Mil vezes por ti morto e abandonado.
Olhinhos de fingida...

Até de madrugada cavalgarão,
Poucas razões sobravam por chorar.

Não sei se hei-de falar mais alto,
Para que reparem em mim,
Ou se hei-de ficar calado,
Para que não dêem por mim.

Mário Mosca

Desabafo_7

Só fizemos isto?

Filipe Elites

Cit.#2 - Billy Corgan

my reflection / dirty mirror
no connection / to myself

Corgan

Ai Delicada flor primaveril

Ai Delicada flor primaveril,
Balanças distraída ao vento sul,
Libertando o teu aroma infantil,
Brilhando ao sol com teu vestido azul.

Pendes dum frágil galho em que balanças,
Tentas fugir do velho que te agarra,
Como das mães aflitas as crianças,
Liberdade?...

Ao fim da noite emersa na escuridão,
Ficas triste, em silêncio ao som da lua,
pesadelo no breu em solidão,


Não conseguiu soltar-se deu fruto...

Soltou morreu no chão infecunda...

André Istmo

Uma rosa amarela

Uma rosa amarela,
Um bigode afilado,
Mesa de cristal,
Toalha de brocado.

Sapato bicudo,
De verniz brilhante,
Reflectindo o teu penteado.

Filipe Elites

Pedro

Pedro morava na falésia de rochas sobre o mar,
Os dias eram tormentosos dum cinzento esverdeado.
O mar rugia furioso e ecoava nas negras covas dos rochedos,
O sol nunca brilhava o vento gritava rodando na chuva.

O pai de Pedro era forte como um tubarão,
Passava os dias no mar na matança,
A sua barba era crespa como a urze,
E a voz cava vinda dum porão.

Mário Mosca

Olhei à Distância

Olhei à distância.
Olhei ao longe através da noite,
Um quarteirão compacto e familiar dos anos 50.
Aqui bem perto o som de carros numa via rápida,
Deixando um rasto sonoro,
Marcando o compasso da cidade.
As luzitas das salas de estar apelavam a um silêncio,
Calmo descansando nos sofás,
ou roçando algum cortinado de tecido pesado.
Naquela outra sala os clarões intermitentes denunciam algum filme noturno.
O céu da cidade qual gorda nuvem laranja,
com laivos de verde nas bordas é um edredom que nos cobre a todos.
Por vezes surge algum vulto lânguido em contra-luz
nalguma janelita refundida,
sugerindo historietas noturnas de almas movendo-se na solidão.

Mais pessoas passavam nos carros acelerados
com objectivos rápidos de alcançar,
ou simplesmente perdidas sem sentido,
hipnotizadas pelos rastos de luz dos carros da frente.

Na rua aqui em baixo as árvores dançam,
levemente acariciadas pelo vento fresco da madrugada.
Fecho a janela bocejando...como serão os meus sonhos?

André Istmo

Pintar a Manta

Gosto de pintar a manta,
Correr de esguelha,
Cantar a santa,
Rodopiar a velha.

Maria Vouga

anjo da guarda

Vi-te lá de cima,
Cocuruto, ombros e sapatos,
Chegavas cansada do trabalho,
Eu olhava.

Estava parado sem fazer nada,
Decorava com carinho os teus passos,
Não sentis-te o meu olhar?
Sou o teu anjo da guarda.

Lúcia

Rainha do Verão

Passeavas distraída no apart-hotel à beira mar,
A noite caía em tons laranja.
És a rainha do Verão,
Mas entre o final do dia e o começo da noite,
Tu és minha.

Filipe Elites

Rock_6

Duas criaturas frágeis fechavam-se no quarto e,
Tic tac caem anjos no jardim,
Zic zac os garfos raspam nos pratos,
Lala melodias doces através da noite!

Vasco Vides

Dançar como uma serpente

A música fazia me dançar como uma serpente,
Deslizava ao longo da pista a escorrer libido,
Roçava em toda carne posta à minha frente,
Que pena amanhã ter aulas pela fresca.

Filipe Elites

Desabafo_5

Nos anos oitenta havia mixes podres!

Filipe Elites

Eu sou um bandalho

Não me tentes provar que as músicas,
que ouves são melhores que as que eu oiço,
só as vai tornar piores,
diz me antes que andas a ouvir algo diferente.

Não me perguntes o que achava se pintasses madeixas ruivas,
Aparece-me de madeixas loiras,
Faz-me surpresas,
Que eu gosto sempre de ti.

Não me perguntes se sou capaz de acordar sozinho,
Dir-te-ei que sim com ar compenetrado,
Mas amanhã não aguento e ficarei deitado,
Faz tudo por que eu sou um bandalho.

Perguntaste se gostava do teu novo penteado,
Disse que não para te chatear,
Mas acariciei-o deslumbrado,
Estás-me sempre a apaixonar.

Vasco Vides

Num canto mais obscuro

Num canto mais obscuro da Bracalândia,
Onde ninguém passa de tão refundido,
Existe uma alegre barraca,
E lá dentro mora um preto.

Ninguém, nem ele próprio sabe como foi lá parar.
Tem uma farta carapinha,
Dança entre as geringonças adormecidas,
Ao final da feira,
E comia pedaços de farturas frias.

Mário Mosca

Tom Waits

A palha amarfanhava-se contra a terra

A palha amarfanhava-se contra a terra,
Loira como fateixas de crina de cavalo,
O céu resplandecia de azul imaculado,
O sol imperava sobre o mundo.

Caminhava pensativo através das vinhas,
Surripiava distraído bagas ácidas de uvas verdes,
Olhar desfocado misturava a paisagem toda,
As ideias fluíam lentas e moles ao sabor da brisa morna.

Com o rosto aquecido de olhos semi-cerrados,
Pensava completamente nos teus risos doces,
Só uma abóboras ao longe davam algum grão a esta vista,
Nunca tive coragem de falar dos meus sentimentos.

Depois do almoço nem os pássaros se ouvem,
Os meus passos na terra seca dão ritmo às minhas orações,
As águias flutuam sem encontrar alimento,
O coração treme sem sobressaltos e sem alentos.

André Istmo

Linguagem dos Animais

Os nossos agentes já desvendaram a linguagem dos animais,
mas decidiram que ainda não era altura de a revelar ao Homem.

Mário Mosca

Rosto singular

Rosto singular,
Beleza adulta,
Com olhos de criança,
Sem culpa.

André Istmo

Cortar na Casaca

Quê vós sois rapazes?
Então fazeis aí sentados a cortar na casaca do alheio?
Ide trabalhar meus meninas!

Filipe Elites

Sujos de Rímel

Não adianta pintar o cabelo,
Não podereis fugir dos radares,
Põe na cabeça uma panela,
Assim não atrais os olhares.

Tendes os olhos sujos de rímel,
Foi por mim que estivestes a chorar?
Tarde volto não espereis por mim,
Talvez nem queira voltar.

Filipe Elites

Luísa

Luísa estava velha,
O rádio crepitava o fado gasto,
O pó acumulado nos móveis,
Absorvia lágrimas de juventude perdida.

Diniz Giz

Fustigava

Fustigava a pequena embarcação,
com o gemido das madeiras,
e o uivar do vento no cordame.

Lúcia

Lino

Lino partiu o braço no bidé,
gritou de dor agarrado à louça,
mas ninguém acreditou em mais uma mentira,
e chorou olhando o seu reflexo na sanita.

Zé Chove

José Andava Louco

José andava louco,
Queria encontrar uma mulher para casar.
Andou de aldeia em aldeia perdido,
Assombrado nos caminhos solitários.

Depois duma densa floresta,
No meio da escuridão,
Encontrou uma casa,
Branca como um lírio brilhando de lua.

Ouviu um cantar doce,
Abandonado de menina,
Mas não havia luzes nas janelas.
“Estava à tua espera”
“Estava à tua espera”
“Estava à tua espera”

Zé Chove

Na vastidão do areal

Na vastidão do areal,
Corremos sem destino ao sabor do vento,
De olhos cegos do sol brutal,
Em busca de felicidade por um momento!

Vasco Vides

Não quero voltar a ouvir falar de prazer

Não quero voltar a ouvir falar de prazer,
Vou ser seco como a tábua,
Não vou ouvir o animal,
Vou esmagar o animal!

Vasco Vides

O Terror

O terror entrou-nos pelos olhos,
Anestesiados pela profusão de cores,
E embalados por melodias cerebrais,
Sorrimos insanos e provámos deliciados o sangue de alguém.

Zé Chove

Dançámos

Dançámos até ao infinito,
Atravessámos os portões da ignorância.
Sentimos o gosto do vinho quente.
Afundados num sofá de prazeres fugazes.

Lúcia

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...