22.7.08
Chico...
Os seus frutos apodrecem agora no chão
Gritei-lhe
Nada escondas do sol
Então só me via o halo
Excitava a parte gorda dos braços vergastados
Antes de afogá-la
Filipe Elites
16.7.08
10.7.08
Restos
Sob o leito do moribundo
Gemendo na penumbra
O tempo passa vermelho
No relógio digital
Mantos de veludo entapam o salão
Mágoas ensombram o coração
Pesam os maples de tons escuros
Abafam as lágrimas de luto
Rápida passou em queda
Turbina no lago espelho
Pluma negra flutuando
Veloz como uma flecha
Beija o lago suspensa
Rui Barbo
Danças de Salão
Levada ao bloco operatório
A sua carne pura de infante
Exposta
Traça um meticoloso golpe
Divide o músculo em duas margens
E a carne é boca são rosas
Florescem
Lúcia
9.7.08
Merge
“A palavra começa a existir com carácter necessário pela ausência e transitoriedade das coisas, isto é, pelo tempo. A palavra, filha do tempo, nasce contra ele, para remediar a sua acção mortal”. José Maria Valverde
“Mas outros, Raça do Fim, limite espiritual da Hora Morta, nem tiveram a coragem da negação e do asilo em si próprios, viveram foi em negação, em descontentamento e em desconsolo.”FP
"Todo o estado de alma é uma paisagem. (…)Há em nós um espaço um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria umdia de sol no nosso espírito.
(…)Temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma (…) sofre um pouco da paisagem exterior (e vice-versa).
De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea das duas paisagens (…) terá de dar uma intersecção das duas paisagens".FP
Paisagem – tudo o que forma o mundo exterior ou interior num determinado momento da nossa percepção.
[música, leituras, estudos, calor, doença, barulho]
Nos sonetos podes definir 4 imagens ou passos e desbrochas cada uma à la Baudelaire.
Outros vão escrevendo semi-automaticamente sobre vários temas.
Vão recolhendo e misturando e adulterando textos de outros autores.
Começam a formar vários blocos sedimentares sobre temas de fundo.
Esculpe então uma forma que desde o início estava enterrada dentro dos vários textos iniciais. Como uma mãe nunca vê defeitos no seu filho, entrega-o nas mãos de um tutor amigo (Ezra Pound) para que este o ajude a crescer.
Lúcio Ferro
Sequência X
Só conheço a noite
E vejos os fogos
Na outra margem do pântano
Livres da multidão dos grãos
Os galhos veneram a lua
A água e a lama lambem-se
Uma à outra em polvorosos lamentos
Entumescendo as raízes
Ao crisol dos ventos gritam os fogos
Carpindo as árvores decompostas no atoleiro
Sem aquecer o funil da noite
de "Ética Manicómio"
Zé Chove
8.7.08
Sou Guiado
Forço para fuçar nas lamas e poças
Resvalo na calçada e como a erva
Furiosa besta de imensa força
Com a delicadeza de fêmea esbelta
Dirige-me mão firme com a destreza
Do indiano que guia o elefante
Porta-aviões nas unhas do comandante
Mas fui eu que me entreguei afinal
Farejei a eternidade numa gamela
Podengo abanei a cauda submisso
Ai se agora sou mais animal
E tento alargar o compromisso
“Meu anjo não te me largues a trela”
Lúcia
Está Longe
Como leões escondidos no matagal
Que a gazela cabisbaixa não divisa
Contentando-se com a erva seca à sua volta
Enchota as moscas com a cauda
Que lhe sugam o sangue nas feridas
E desdiz a vida entre os arbustos
Sem saber que espreita a alegria
Refundido entre a savana
Com esgares de predador
Respirando a tensão do ar
Só quando sentimos perto a garra
Saltamos graciosos com terror
Da alegria da morte santa
Lúcia
Corres
Não tens mais contas a pagar
Saltas em câmara lenta
De cabelo ao vento
Com a alegria da criança
O Verão está a arrebentar
Todas as flores com novos cheiros
Um amor intenso no coração
Todo o céu a brilhar
E ao fundo mar infinito
E a alma livre e límpida
E os sons matinais do mundo
Envolvem-te numa doce sinfonia
Tudo está em ordem
Tudo palpita em harmonia
Marco Íris
Vizinha
Nas ondas do sol és uma sereia
Mas se te bamboleias
És mais leão marinho
E se à mão tivesse o arpão
Sulcava o teu corpo
Faminto de teu óleo de baleia
Diniz Giz
Ratazanas e Lagartos
Rápido das pombas nos beirados
Marchava obcecado com o rastejar dos lagartos
E ratazanas nos arbustos secos no carreiro
Orlando Tango
7.7.08
IV
brilhante derme a lágrima
não aguenta o espelho
e funde-se em água
Orlando Tango
AlexanderPlatz
respiram máquina e árvore lado a lado
brisa balsâmica velada de divindade
da plenitude do aquário de mil sóis
é horizontal o crawl voraz da máquina
o barro cego funcional plasticidade
moldando ao labirinto do engenho as paredes
Corpo e alma carne e espírito geme a árvore
Esticada entre polos de verticalidade
Co-princípios que lhe garantem a unidade
navegar é preciso, viver não é preciso
Filipe Elites
Sequência I
à árvore o sangue prova a seiva
compadecida dos lenhos
sinal da casca e
percorre os leitos
desde as raízes
identifica os séculos
elevasse
e busca os ventos com os dedos
perdidos entre os ramos que
só a noite
conhece
Zé Chove
Sequência I
Do fruto fermentado
Só voga de noite o barco mítico
E assombra os peixes de dia
E as algas mortas escrevem a pureza
Das areias brancas
Crescem o relevo
Polpa dos frutos enjoa
A árvore enjoa
Onde chafurda
Toda a gamela
Presta culto ao nada
Transborda lama
Vulcânica
Ração de marrãs
A nobreza do bago temprano
Destila vileza
Ao sol de justiça exposto
E breve seca
Sequência I
Tremer as folhas
Novos corredores iluminados
Na antiga biblioteca
A densa noite aguça a
Verticalidade da multidão
Das árvores
E o silêncio desmentido
Em proverbialidade extracta
Acrescenta opacidade
Aos corredores da biblioteca
São pauta e sulco os sons do dia
E advogam ser dum universo espelho
Mas é a noite que mesmo sem querer
Perfumam
Ah o mistério
Suspiram os troncos
Por um vulto estranho
“O que abarca a vista é uma casa”
Árvores que a-
Prenderam a ver o musgo
Como benesse a perpetuação da lua
Caminho de ascese
Permanência de mistério
Durante o dia
Vibram à mutação
Quadrante dos recortes na luz
Mais e mais negros
Se mais e mais se ajuntam
Até serem noite
E a sombra deixar
De ser mistério
Zé Chove
Sequência I
Onde um trote se aproxima
Da alma desolada como um castelo
Urgência que desperta do húmus
Que deixámos passar entre os pés
Buscando a noite sob
Os seixos do rio
Através do telhado numa jangada
De pedra extasiado
Com os reflexos do sol
Abafa nossos ramos
Auxilia a leveza da nossa cepa
E afoga-nos em teus redemoinhos
Zé Chove
5.7.08
Raios Gama
Todos os vizinhos se queixam
Quando o sino te lambe os tímpanos
Pela matina ainda tens o olhar fixo
No sofá de veludo verde a teus pés
Semi-deitada lá se encontra tua mulher
Aspecto de cartoon a preto e branco
Mais um clarão de raios gama faz transparecer
Por milésimos de segundo as paredes do prédio
E contemplas o esqueleto dos teus filhos na cama
Mário Mosca
Engenheiro Civil
O bem estruturado engenheiro
Cínico olhar exprimia rigor
Sapato oleado de cangalheiro
E colarinho colado ao pescoço
No metro transparecia
Fórmulas de pose calculada
Fulminou-lhe desdenhosa o escapulário
E ele disparou sobre o peito decotado
Filipe Elites
Dreams #1
Meu sonho é morar à Miami
Num casarão branco ao sol
Com relva e piscina no jardim
Janelões e palmeiras em volta
Torres
2.7.08
Anthologia de Textículos #6 - Lautréamont, Saint-Exupéry, Echevarría
Cantos de Maldoror – Conde de Lautréamont
Cidadela - Saint-Exupéry
Da Epistemologia [1ª lição] - Fernando Echevarría
À sombra em que se oculta o repentino
Sem fim do nascimento, aonde estamos,
Embora a sombra esconda que o cumprimos.
E vermos na demora advém destino
De perdermo-nos de onde ainda estamos,
Pensando a sombra como um outro sítio.
É sombra ainda a invenção da hora
Em que se cumpre o sonho da passagem.
De lentamente ver, se erija aragem
O repente sem fim que ver demora.
Afogo
Afogo os dias
em abundância
de bem e de mal
sou cisterna ávida
sem rachas ou gretas
albergo o marasmo
de marés nojentas
e remansos de puras águas
vêm a mim beber iludidos
toda a casta de animais
pois também brilham os rios
onde bóiam cadáveres
1.7.08
Não penetra
Não penetra o pássaro a copa do pinheiro?
Foi Deus quem no-los concedeu
Para que não pecássemos mais
São mel do nosso favo
E fibra da nossa cepa
Perpetuação duma raça
Onde vagueiam vultos
Definem uma sugestão
De paisagem habitada
Cada palavra que constitui o
Texto liberta vultos nessas moradas
Sinónimo de corda de fios…
As pétalas dos meus olhos
Não impeço o seu calor
De dissecar os meus olhos
Esvoaçou desmaiada à volta do teu corpo
Do sol de fim de tarde
E serpentinam de luz a cidade
Mkristu miye niko salama
Shetani we, si nyie
Arrrgh o ar não tem ar.
Reflectido nas poças?
O poço de Babel
Logradouro alegre de ritmos
Em espiral torvelinhos de suspiros
E aromas de roupa lavada
Assados, qualquer coisa podre
E qualquer coisa longínqua
Maresia
Orlando Tango
Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
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Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria. Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros Escrito por um clérigo da época. Tu...
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palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...