15.2.10
A Invenção do Machado
Os processos, modos ou formas de actuar
Desenvolvem tal mecanicidade
Tal fluência... a técnica infere na força
Desenhando-lhe o entalhe certo
E a força aplica acutilância à técnica.
Não oferecem resistência as cabeças
Sob este pesado machado de lâmina silente.
Revoltam-se as almas com tal frieza
Sobretudo as mais apaixonadas
Pela imperfeição perfeita da natureza.
Tomás Manso
Desenvolvem tal mecanicidade
Tal fluência... a técnica infere na força
Desenhando-lhe o entalhe certo
E a força aplica acutilância à técnica.
Não oferecem resistência as cabeças
Sob este pesado machado de lâmina silente.
Revoltam-se as almas com tal frieza
Sobretudo as mais apaixonadas
Pela imperfeição perfeita da natureza.
Tomás Manso
Rock XIV
Deliro na vertigem
Da guitarra em queda
Espiralada, quase
Verto lágrimas tal a
Velocidade e todo o
Corpo sente o embate
Da bateria seca
Esmagado no chão.
Feedback descola a
Pele dos músculos
O sangue furioso
Rasga a garganta
Mário Mosca
Da guitarra em queda
Espiralada, quase
Verto lágrimas tal a
Velocidade e todo o
Corpo sente o embate
Da bateria seca
Esmagado no chão.
Feedback descola a
Pele dos músculos
O sangue furioso
Rasga a garganta
Mário Mosca
Pedagogia
Virou-se para trás e esmurrou o puto. Pumba, pumba, pumba. Sangue no vidro e silêncio – sinais exteriores de mudança no semblante ranhoso. Por o dentro o consolo do enquadramento pessoal num papel social de encarregado de educação como justificante. E para sublinhar o papel formativo prenhe de razão volta-se, o braço direito agarra a cabeceira do banco, o rosto sereno e assesta-lhe um soco na testa. A paz interior sussurra-lhe “a vida não está para brincadeiras”.
Filipe Elites
Filipe Elites
4.2.10
Sede
As grossas raízes mergulharam sedentas nas águas do rio
Umas foram arrastadas pelas torrentes
Outras apodreceram
Algumas derrubaram represas
Cavalgaram os leitos
Construiram cidades nos meandros altaneiros dos rios
E embalaram amores com as suas visões fugazes
O coração perde-se sempre nos redemoinhos
das correntes provocados pelos ramos das árvores
que volteiam submersas
por sobre as copas desses gigantescos barcos
descansam crianças devolvidas aos braços de mães imperatrizes da terra
vultos fibrosos densos de troncos sequiosos de mais água
sede extinta pelos oceanos que incendeiam
com a fúria de viver
em mil frutos exóticos com polpa de lava.
Orlando Tango
Umas foram arrastadas pelas torrentes
Outras apodreceram
Algumas derrubaram represas
Cavalgaram os leitos
Construiram cidades nos meandros altaneiros dos rios
E embalaram amores com as suas visões fugazes
O coração perde-se sempre nos redemoinhos
das correntes provocados pelos ramos das árvores
que volteiam submersas
por sobre as copas desses gigantescos barcos
descansam crianças devolvidas aos braços de mães imperatrizes da terra
vultos fibrosos densos de troncos sequiosos de mais água
sede extinta pelos oceanos que incendeiam
com a fúria de viver
em mil frutos exóticos com polpa de lava.
Orlando Tango
3.2.10
Indefinidamente
O que é que nos preocupa?
Estamos preocupados com alguma coisa?
Talvez seja essa a primeira preocupação.
Saber o que nos ocupa o pensamento emergente.
Deverei fixar o objectivo do meu olhar? Ou deverei
Desfocar os olhos e distender o tempo de urgência
Indefinidamente?
André Istmo
Estamos preocupados com alguma coisa?
Talvez seja essa a primeira preocupação.
Saber o que nos ocupa o pensamento emergente.
Deverei fixar o objectivo do meu olhar? Ou deverei
Desfocar os olhos e distender o tempo de urgência
Indefinidamente?
André Istmo
Mecânica
Quando um electrodoméstico
Define metade da humanidade...
Não tem cheiro não exige força física
Que lhe dê movimento
Prefiro habitar entre correntes e engrenagens
Sentir o contacto ferrugento das rodas dentadas
Aspirar o aroma do óleo que tinge a pele
Sentir a continuidade da força animal
Desdobrada e multiplicada pelo mecanismo metálico
Tomás Manso
Define metade da humanidade...
Não tem cheiro não exige força física
Que lhe dê movimento
Prefiro habitar entre correntes e engrenagens
Sentir o contacto ferrugento das rodas dentadas
Aspirar o aroma do óleo que tinge a pele
Sentir a continuidade da força animal
Desdobrada e multiplicada pelo mecanismo metálico
Tomás Manso
Fundamental
Como é que um olhar pode
Transparecer tanta esperteza
Concomitante com tanta lerdice
Pois lá vai ela abanando a cauda
autocarro fora mascando o resto
do seu cérebro. Uma coisa é verdadeira
o sorriso era falso.
Filipe Elites
Transparecer tanta esperteza
Concomitante com tanta lerdice
Pois lá vai ela abanando a cauda
autocarro fora mascando o resto
do seu cérebro. Uma coisa é verdadeira
o sorriso era falso.
Filipe Elites
Henry David Thoreau
“Corujas-das-torres...Oh sábias bruxas da meia-noite!...um solene canto funerário, as mútuas consolações de amantes suicídas lembrando os tormentos e deleites do amor celestial nas alamedas do inferno.”
“Enquanto os homens acreditarem no infinito, alguns lagos serão tidos como insondáveis.”
Walden
“Enquanto os homens acreditarem no infinito, alguns lagos serão tidos como insondáveis.”
Walden
Frank Black
E os gritos imprimiam um carácter
de adoração e temor implicito
aos predicados, não vos escandalizeis
infiro-o das palavras. E assim
se equivaliam deus e o bronze das
raparigas estrondosamente
expulsos da garganta com a mesma violência.
Mário Mosca
de adoração e temor implicito
aos predicados, não vos escandalizeis
infiro-o das palavras. E assim
se equivaliam deus e o bronze das
raparigas estrondosamente
expulsos da garganta com a mesma violência.
Mário Mosca
DNÇ
Um som estranho deve soar primeiro
Uma baforada de incerteza
Que desperte a curiosidade
Um ronco vindo de longe
Aveludado e ancestral
que hipnotize rasgando as planícies da memória
e desperte a vontade de “dançar”
dançar enquanto acto essencial
de expressão dum sentimento
que as palavras não saibam dizer
que o cérebro não saiba formular mas
que um frémito irreprimível da vontade
se derrame em calda de movimento interior.
Filipe Elites
Uma baforada de incerteza
Que desperte a curiosidade
Um ronco vindo de longe
Aveludado e ancestral
que hipnotize rasgando as planícies da memória
e desperte a vontade de “dançar”
dançar enquanto acto essencial
de expressão dum sentimento
que as palavras não saibam dizer
que o cérebro não saiba formular mas
que um frémito irreprimível da vontade
se derrame em calda de movimento interior.
Filipe Elites
Primavera
Revela-se o navio.
Libertas por fim da agonia
Dos cabos respirem
As velas com um silvo.
Do fogo opresso pela vergonha,
Toda a musculatura comprimida
Brota desperta por uma visão de primavera.
Os dedos tremem com um impulso
Irreprimível mas sem objecto.
O peito, profundamente matutino,
Grita como a águia esfomeada.
Os pessegueiros afloram às maçãs do rosto,
E em fonte inesgotável lança-se dos olhos
A alegria-delicadeza com um travo de sangue
Que pela saliva se expande.
Mário Mosca
Libertas por fim da agonia
Dos cabos respirem
As velas com um silvo.
Do fogo opresso pela vergonha,
Toda a musculatura comprimida
Brota desperta por uma visão de primavera.
Os dedos tremem com um impulso
Irreprimível mas sem objecto.
O peito, profundamente matutino,
Grita como a águia esfomeada.
Os pessegueiros afloram às maçãs do rosto,
E em fonte inesgotável lança-se dos olhos
A alegria-delicadeza com um travo de sangue
Que pela saliva se expande.
Mário Mosca
O Rio
Uma parede de xisto ressequido
Descansando até ao rio
Tingido de ferro uma calda de óxido milenar
Beijando infinitamente a superfície calma da água
A erva brava dava-nos pelos joelhos. Os nossos
Corpos desenhavam-se angulosos mais escuros que a sombra
Dos salgueiros que húmida nos envolvia
“Oh margens de penumbra perpétua” já cantava o poeta
Dificultam o acesso às águas do lago
Resguardam-se nos espinhos, amuralham-se em raízes,
Encavalitam-se os rochedos, abruptos como dentes arreganhados
E apodrecidos de negros limos, espantam os estranhos com detritos esvoaçantes
Trazidos pelas tumultuosas águas de janeiro,
Troncos esfiampados de longas barbas, silvedo e vestuário gasto das crianças
Afogadas no rio...
Assim que os nossos pés tocam as águas superficiais exaltam-se os girinos e pequenas rãs castanhas. As lamas intactas quebram-se em nuvens polvorosas, turvam-se os pés.
Removemos os galhos em decomposição com os dedos dos pés com se fosse um ossário submerso.
A excitação é para alcançar o sol que nos cega a três braçadas da margem. Perto de Alcafache o rio diverge em múltiplos canais formando negras e impenetráveis ilhas de lama negra e malária mosquiteira.
Rapidamente os fundos se tornam de areia. A brutalidade das torrentes invernais esculpe anualmente o leito do riocom novas fossas e cristas arenosas, é como se lhe fizesse a cama. Cada obstáculo do percurso das águas é sorvado com violência em esteiras divergentes gerando um turbilhão de redemoinhos.
No rio Poio a selvajaria das águas esculpio maravilhosas cisternas perfeitamente cilíndricas na rocha granítica.
Nas imediações das represas os rios alargam e amansam como lagos.
No centro da albufeira em que nos banhanhos emergem três blocos de granito grandes como quartos, moldados pelas águas como o sabão azul das lavadeiras, ao meio-dia escaldam sob o Ângelus impiedoso. Deitados sobre os rochedos tornamo-nos cúmplices da tertúlia dos salgueiros e urzes que se espelham na água cristalina. Na Serra da Estrela existe uma lagoa com as águas rosadas devido às algas que lá se reproduzem. Os corpos debaixo de água tingem-se de cores psicadélicas e venenosas. Na base dum dos blocos de granito está encalhado um tronco monstruoso como um mastro de caravela está recoberto com uma poalha esverdeada onde debicam dezenas de peixes negros. Nas covas dos calhaus onde o vento não toca amontoam-se os alfaiates.
Nicolau Divan
Descansando até ao rio
Tingido de ferro uma calda de óxido milenar
Beijando infinitamente a superfície calma da água
A erva brava dava-nos pelos joelhos. Os nossos
Corpos desenhavam-se angulosos mais escuros que a sombra
Dos salgueiros que húmida nos envolvia
“Oh margens de penumbra perpétua” já cantava o poeta
Dificultam o acesso às águas do lago
Resguardam-se nos espinhos, amuralham-se em raízes,
Encavalitam-se os rochedos, abruptos como dentes arreganhados
E apodrecidos de negros limos, espantam os estranhos com detritos esvoaçantes
Trazidos pelas tumultuosas águas de janeiro,
Troncos esfiampados de longas barbas, silvedo e vestuário gasto das crianças
Afogadas no rio...
Assim que os nossos pés tocam as águas superficiais exaltam-se os girinos e pequenas rãs castanhas. As lamas intactas quebram-se em nuvens polvorosas, turvam-se os pés.
Removemos os galhos em decomposição com os dedos dos pés com se fosse um ossário submerso.
A excitação é para alcançar o sol que nos cega a três braçadas da margem. Perto de Alcafache o rio diverge em múltiplos canais formando negras e impenetráveis ilhas de lama negra e malária mosquiteira.
Rapidamente os fundos se tornam de areia. A brutalidade das torrentes invernais esculpe anualmente o leito do riocom novas fossas e cristas arenosas, é como se lhe fizesse a cama. Cada obstáculo do percurso das águas é sorvado com violência em esteiras divergentes gerando um turbilhão de redemoinhos.
No rio Poio a selvajaria das águas esculpio maravilhosas cisternas perfeitamente cilíndricas na rocha granítica.
Nas imediações das represas os rios alargam e amansam como lagos.
No centro da albufeira em que nos banhanhos emergem três blocos de granito grandes como quartos, moldados pelas águas como o sabão azul das lavadeiras, ao meio-dia escaldam sob o Ângelus impiedoso. Deitados sobre os rochedos tornamo-nos cúmplices da tertúlia dos salgueiros e urzes que se espelham na água cristalina. Na Serra da Estrela existe uma lagoa com as águas rosadas devido às algas que lá se reproduzem. Os corpos debaixo de água tingem-se de cores psicadélicas e venenosas. Na base dum dos blocos de granito está encalhado um tronco monstruoso como um mastro de caravela está recoberto com uma poalha esverdeada onde debicam dezenas de peixes negros. Nas covas dos calhaus onde o vento não toca amontoam-se os alfaiates.
Nicolau Divan
Desert Rose Yelei Yelei
Adagas, sangue, templos esquecidos,
animais assassinos
rastejando as praças abandonadas à
selvajaria do vento frio,
paixão dilacerante quimérica,
por toda uma vida que será eternamente jovem
congelada numa lápide a prata,
masmorras, ecos, alucinação, gemidos lancinantes,
olhos demasiado pintados como chagas negras,
lágrimas quartesmais, jejum, correntes,
velas vertidas sobre a carne indefesa como símbolo de pureza
perdida com a brandura do cera dormente,
escorpiões, noites geladas ou o inferno impiedoso do sol,
impiedade, o zénite e o ocaso num segundo,
caravanas, areias desérticas, possessão,
algemas, escravidão, chave da caveira, trotes fulgurantes,
superfícies cromadas e enferrujadas, antagonismo,
donzelas vagamente latinas e dorsos acobreados,
índia sacerdotiza do ritual esquecido como a brasa
sob a cinza, fogo-sopro-fogo, cactos imponentes, penhascos, agressividade,
desfiladeiros, grutas, os céus como centos de cascaveis revoltos,
o assobio solitário, a fogueira tribal, o banjo, o coiote, o abutre,
impetuosidade, abnegação, paixão exacerbada, sacrifício,
culpa, voltar as costas ao mundo.
Madalena Nova
animais assassinos
rastejando as praças abandonadas à
selvajaria do vento frio,
paixão dilacerante quimérica,
por toda uma vida que será eternamente jovem
congelada numa lápide a prata,
masmorras, ecos, alucinação, gemidos lancinantes,
olhos demasiado pintados como chagas negras,
lágrimas quartesmais, jejum, correntes,
velas vertidas sobre a carne indefesa como símbolo de pureza
perdida com a brandura do cera dormente,
escorpiões, noites geladas ou o inferno impiedoso do sol,
impiedade, o zénite e o ocaso num segundo,
caravanas, areias desérticas, possessão,
algemas, escravidão, chave da caveira, trotes fulgurantes,
superfícies cromadas e enferrujadas, antagonismo,
donzelas vagamente latinas e dorsos acobreados,
índia sacerdotiza do ritual esquecido como a brasa
sob a cinza, fogo-sopro-fogo, cactos imponentes, penhascos, agressividade,
desfiladeiros, grutas, os céus como centos de cascaveis revoltos,
o assobio solitário, a fogueira tribal, o banjo, o coiote, o abutre,
impetuosidade, abnegação, paixão exacerbada, sacrifício,
culpa, voltar as costas ao mundo.
Madalena Nova
Se o Coração
Se o coração estremece ao vento sul
A vitalidade do deserto faz vibrar as pálpebras
No ar estrelejam os fogos e os estoiros no ar
Ribombam no coração
E embargam-nos a fala
Tudo se passa no ar
Resplandece a calda de nuvens imemoriais
Descende nas nossas nucas
Desnudas o arrepio sideral
E trota no espaço o trovão
Num segundo o dia rasga a noite
No paladar um travo a azul petróleo
Impressões digitais indeléveis na súbita
memória sequiosa de mudanças arrebatadoras
uohoooooohaaa
enche me de paixão
André Istmo
A vitalidade do deserto faz vibrar as pálpebras
No ar estrelejam os fogos e os estoiros no ar
Ribombam no coração
E embargam-nos a fala
Tudo se passa no ar
Resplandece a calda de nuvens imemoriais
Descende nas nossas nucas
Desnudas o arrepio sideral
E trota no espaço o trovão
Num segundo o dia rasga a noite
No paladar um travo a azul petróleo
Impressões digitais indeléveis na súbita
memória sequiosa de mudanças arrebatadoras
uohoooooohaaa
enche me de paixão
André Istmo
1.2.10
Nem Tudo o que Vem à Rede é Peixe
Sonhámos com a ressonância das palavras
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Paulo Ovo
Gostei mais do dia da marmota do que do dia do marmoto...
Rui Barbo
Graças a Deus fui abençoado com uma certa dose de estupidez que me impede de ver..
Diniz Giz
Contarei uma história baseada no Do little dos Pixies – jovens numa praia ondas que aparentemente não nos deixam surfar – faz te pequeno...
Carla Corpete
Como deveria ser feito um album
Henrique
Como reages perante o amor/paixão
Manuel Bisnaga
Os copos tilintam
Os corações declinam
Maria Vouga
Janeiro
Diário dum péroco de Aldeia e Walden
Zé Chove
Vaguear no escuro
Na antiga eremida o pó
De escuros braços das árvores
Presos no interior das minas
Nós Sombras
Lúcia
Cromo-dorsos de motociclos que irrompem
do peito de cada homem
o asfalto quente que inebria as nervosas têmporas
Mário Mosca
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Paulo Ovo
Gostei mais do dia da marmota do que do dia do marmoto...
Rui Barbo
Graças a Deus fui abençoado com uma certa dose de estupidez que me impede de ver..
Diniz Giz
Contarei uma história baseada no Do little dos Pixies – jovens numa praia ondas que aparentemente não nos deixam surfar – faz te pequeno...
Carla Corpete
Como deveria ser feito um album
Henrique
Como reages perante o amor/paixão
Manuel Bisnaga
Os copos tilintam
Os corações declinam
Maria Vouga
Janeiro
Diário dum péroco de Aldeia e Walden
Zé Chove
Vaguear no escuro
Na antiga eremida o pó
De escuros braços das árvores
Presos no interior das minas
Nós Sombras
Lúcia
Cromo-dorsos de motociclos que irrompem
do peito de cada homem
o asfalto quente que inebria as nervosas têmporas
Mário Mosca
In the City
Através da cidade esférica
na sedosa limousine
és o fulgor na bracelete metálica
no cetim indiferente nos lábios da lepra
és o balançar da city desperta
és o balançar da desgraça
sem sexo sem cheiro sem identidade
glamour inebriado um miasma
uma convulsão a morte sem dignidade
um perfume despedido pelas ruas da cidade
Filipe Elites
na sedosa limousine
és o fulgor na bracelete metálica
no cetim indiferente nos lábios da lepra
és o balançar da city desperta
és o balançar da desgraça
sem sexo sem cheiro sem identidade
glamour inebriado um miasma
uma convulsão a morte sem dignidade
um perfume despedido pelas ruas da cidade
Filipe Elites
Cuidados
Carinhosamente ou meticulosamente compões o alinhamento e a côr perfeita a dar às frases de forma a não magoar ninguém e a todos convencer. Poderemos viver com menos depois de nos embrenharmos na fartura? E uma vez sentidas todas as costelas do torso terás empenho suficiente para suportar a engorda?
Filipe Elites
Filipe Elites
As Montanhas
As montanhas vão galgando todo o espaço que a vista alcança. Tingidos de uma neblina que resplandece com os raios solares do final tarde. De memória não sei precisarse o seu tom era cinzento, rosado ou talvez violeta e perto do céu esverdeado azulado. Os montes são docemente arredondados como hematomas roxos na cabeça duma criança. No caminho as aflorações xistosas surgem como os despojos de tesouros abandonados à pressa, com os seus laivos doirados de óxidos ferrosos e a riqueza das formas. Os tojos envolvem estes retábulos como aconchegos de penas verdes frondosos. Não saberia precisar o que mais entusiasma se a segurança das formas laminadas pelas intempéries milenares se a loucura das cores vermelho sangue de boi, laranja, verdes, pretos profundos matizados os tons pelo vinagre ácido e corrosivo do óxido. Oxidare matar em latim.
Orlando Tango
Orlando Tango
18.1.10
Consternação
Facilmente me encontro perto do choro. Reprimo as lágrimas perante as maiores alegrias e tristezas dos outros, não suporto que me descubram lágrimas nos olhos, só ia piorar. A minha vida não me provoca qualquer emoção.
«Um dia de Outono andámos perdidos horas e horas entre as árvores e montanhas. Junto aos rios a vegetação é mais feroz e os espinhos reclamam pela carne. Os leitos de rios mortos escondem serpentes entre o lodo. Se largamos o rio as escarpas tornam-se abruptas. Aguçadadas como lâminas.
Soube então que também se vertem lágrimas por instinto. Vão caindo à medida que dor aperta.
Tão doente. Pensei que morria ali. Senti-me virado ao contrário com os repelões dos vómitos no caminho para casa. Os olhos brilhantes da febre, a palidez da pele, as costas recurvadas do peso da cabeça devem ter provocado a compaixão das velhas com quem me cruzei junto do cruzeiro.»
Maldita melancolia. Atacas como um vírus aspirando-me as forças.
Não que nunca tivesse pensado na morte. Quem é que nunca pensou?
Mas senti-la? Passa por nós como uma serpente silenciosa.
Olhou-me como se já nos conhecêssemos com uma insistência desusada entre os que andamos a pé pelas calçadas do castelo. Algo nos une. As mesmas fraquezas dão semelhantes tremuras nas pálpebras dos olhos ou tiques nas mãos idênticos, por vezes a mesma cadência cautelosa no respirar. Partilhamos as mesmas revoltas interiores desde sempre e o nosso coração sempre se encavalitou do mesmo lado das ameias. As florestas alinhadas a nossos pés são como exércitos em ordem de batalha.
São estes olhares que me lançam na mágoa mais profunda. "Não te conheço".
As sopas grossas eram o verdadeiro brasão desta casa em que entro.
Cheiro a comida e lenha queimada assim se constroi uma dinastia. São os sinais mais duradouros. Quem não conhece os seus pelo olfato?
De sopa no bandulho e o vinho nos olhos...
Nem é meu hábito mas gritei-lhe “não, não é o tédio. O nosso verdadeiro problema é a preguiça. Uma preguiça básica. Não uma preguiça astuta. Uma preguiça dengosa que molda as pessoas como dois corpos metálicos incandescentes. A busca gulosa da satisfação a dois iliba-nos a consciência. Imagina todo um povo!...” Sentia o corpo tremer de indignação e vergonha pela exaltação. Nunca fui de extremar opiniões. Sempre alimentei uma certa tepidez nas relações. Tentei olhar humildemente para o chão em busca do perdão pela ousadia. E outra vez aquele olhar humilhado e oprimido que me enche os dias de consternação. Cansa-me viver entre os homens.
Filipe Elites
«Um dia de Outono andámos perdidos horas e horas entre as árvores e montanhas. Junto aos rios a vegetação é mais feroz e os espinhos reclamam pela carne. Os leitos de rios mortos escondem serpentes entre o lodo. Se largamos o rio as escarpas tornam-se abruptas. Aguçadadas como lâminas.
Soube então que também se vertem lágrimas por instinto. Vão caindo à medida que dor aperta.
Tão doente. Pensei que morria ali. Senti-me virado ao contrário com os repelões dos vómitos no caminho para casa. Os olhos brilhantes da febre, a palidez da pele, as costas recurvadas do peso da cabeça devem ter provocado a compaixão das velhas com quem me cruzei junto do cruzeiro.»
Maldita melancolia. Atacas como um vírus aspirando-me as forças.
Não que nunca tivesse pensado na morte. Quem é que nunca pensou?
Mas senti-la? Passa por nós como uma serpente silenciosa.
Olhou-me como se já nos conhecêssemos com uma insistência desusada entre os que andamos a pé pelas calçadas do castelo. Algo nos une. As mesmas fraquezas dão semelhantes tremuras nas pálpebras dos olhos ou tiques nas mãos idênticos, por vezes a mesma cadência cautelosa no respirar. Partilhamos as mesmas revoltas interiores desde sempre e o nosso coração sempre se encavalitou do mesmo lado das ameias. As florestas alinhadas a nossos pés são como exércitos em ordem de batalha.
São estes olhares que me lançam na mágoa mais profunda. "Não te conheço".
As sopas grossas eram o verdadeiro brasão desta casa em que entro.
Cheiro a comida e lenha queimada assim se constroi uma dinastia. São os sinais mais duradouros. Quem não conhece os seus pelo olfato?
De sopa no bandulho e o vinho nos olhos...
Nem é meu hábito mas gritei-lhe “não, não é o tédio. O nosso verdadeiro problema é a preguiça. Uma preguiça básica. Não uma preguiça astuta. Uma preguiça dengosa que molda as pessoas como dois corpos metálicos incandescentes. A busca gulosa da satisfação a dois iliba-nos a consciência. Imagina todo um povo!...” Sentia o corpo tremer de indignação e vergonha pela exaltação. Nunca fui de extremar opiniões. Sempre alimentei uma certa tepidez nas relações. Tentei olhar humildemente para o chão em busca do perdão pela ousadia. E outra vez aquele olhar humilhado e oprimido que me enche os dias de consternação. Cansa-me viver entre os homens.
Filipe Elites
14.1.10
Saca de Batatas
A sombra sentada envolta num halo azul petróleo expele aflitas baforadas de vapor provocando o pingar do tecto da câmara de refrigeração.
Os nossos latidos frenéticos ecoaram diabolicamente na enquinada chapa do hangar.
Tacteámos como cegos o cavername expostos de batalhões de máquinas. O nosso conforto eram mãos no escuro sofregamente entrelaçadas como num acto da amor.
Sonhámos com a ressonância das palavras
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Quando saímos à noite juntos somos como dois leões treinados para caçar em equipa.
Sonolento sobre o estirador decido a vida de centenas de pessoas.
Mãos ambiciosas na escuridão
Não suportava mais o cheiro a cebolas na minha mão por isso cortei-a.
Se os olhos denunciam a ansiedade dos encontros ponde o Nevermind no stereo.
Também quem é que nunca bebeu gin duma bota de cano alto?..
Os nossos latidos frenéticos ecoaram diabolicamente na enquinada chapa do hangar.
Tacteámos como cegos o cavername expostos de batalhões de máquinas. O nosso conforto eram mãos no escuro sofregamente entrelaçadas como num acto da amor.
Sonhámos com a ressonância das palavras
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Quando saímos à noite juntos somos como dois leões treinados para caçar em equipa.
Sonolento sobre o estirador decido a vida de centenas de pessoas.
Mãos ambiciosas na escuridão
Não suportava mais o cheiro a cebolas na minha mão por isso cortei-a.
Se os olhos denunciam a ansiedade dos encontros ponde o Nevermind no stereo.
Também quem é que nunca bebeu gin duma bota de cano alto?..
...
Oh infantes calvas loiras
Em que percutem melifluamente
Os nodosos, distraídos dedos
De quem sonha com vossos rasgados lábios
Percutem, percutem até perfurar o osso.
Em que percutem melifluamente
Os nodosos, distraídos dedos
De quem sonha com vossos rasgados lábios
Percutem, percutem até perfurar o osso.
29.12.09
Melhores Discos de 2009
1. The xx - The xx
2. Grizzly Bear - Veckatimest
3. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
4. Fever Ray - Fever Ray
5. Bat For Lashes - Two Suns
6. Girls – Album
7. Dirty Projectors - Bitte Orca
8. Micachu and the Shapes - Jewellery
9. Various Artists - Dark Was the Night
10. Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!
11. Real Estate - Real Estate
12. Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
13. Bon Iver - Blood Bank EP
14. The Flaming Lips - Embryonic
15. St. Vincent - Actor
2. Grizzly Bear - Veckatimest
3. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
4. Fever Ray - Fever Ray
5. Bat For Lashes - Two Suns
6. Girls – Album
7. Dirty Projectors - Bitte Orca
8. Micachu and the Shapes - Jewellery
9. Various Artists - Dark Was the Night
10. Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!
11. Real Estate - Real Estate
12. Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
13. Bon Iver - Blood Bank EP
14. The Flaming Lips - Embryonic
15. St. Vincent - Actor
16.12.09
Consagração
Somos gota de água a teus olhos
Em queda reflexa sobre o vinho.
Ruborizado no manancial da tua oblação
O suor mínimo das nossas vidas.
Orlando Tango
Em queda reflexa sobre o vinho.
Ruborizado no manancial da tua oblação
O suor mínimo das nossas vidas.
Orlando Tango
Fall and Rise
As papas fermentam no bandulho até provocar azia, o corpo aquece em demasia, a carne repele qualquer agasalho, louca de febre, os pés exploram em vão réstias de frescura na esquadria da cama.
Numa nuvem de vapor de robe em fresca fragrância de chá molhado gotejando das axilas sobre a alcova te reclinas aspirando o ar jovem da manhã num movimento único através do espaço perfume matutino.
Lúcia
Numa nuvem de vapor de robe em fresca fragrância de chá molhado gotejando das axilas sobre a alcova te reclinas aspirando o ar jovem da manhã num movimento único através do espaço perfume matutino.
Lúcia
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Convento dos Capuchos
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