9.7.07

PTE - Periodic Table of Elements

Encher Chouriço #2

Shot_8

A minha vida gira sobre ti,
és a mais bela que já vi.

Mário

Toque, toque

Toque, toque, assobio,
bateria de lata,
guitarra de blues,
refrão sentimental,
todas as músicas falam de Stela.
Ritmo trôpego partido,
espraiado no refrão,
dia de trabalho matraqueado,
descanso à noite tua visão.

Nicolau Divan

Tangos

Tangos, sambas, ritmos tropicais,
verdes, sombras, viçosos matagais.
Mosquitos zunindo distraídos,
humidade imersa no grito dos pardais.
Caminhos de terra batidos,
toca o telefone serás tu?
Largo o charuto afasto tua forma de fumo
oiço a tua voz de fera ferida!

Nicolau Divan

Alpendre_3

Sentado no alpendre imóvel pelo sol,
odeio tudo o que mexa depois do almoço.
Mente em branco como a areia,
sou um peso no universo.

Mário

Cuidado

Cuidado não se aproximem acho.... ...
Alto para trás acho que.....
Fica aqui mas dá-me espaço eu vou... ..
Zonzo pela sala mão na barriga ai que........
Os olhos não focam tudo é nevoeiro acho... ....
Apoio as mãos na mobília estou mesmo..... .
Badrabum!

Diniz Giz

Desisto

Eu desisto não quero mais lutar,
vou me embora chuto irritado o ar.
Sou desajeitado faço tudo mal,
olham-me de esguelha como um animal.

Tu continua a olhar por mim.


Mário Mosca

Arcade Fire Live at Trees - Todd Slater

Encher Chouriço #1







MERGULHO

Senti algo a remorder-me as entranhas,
algo frio e repugnante que provocava dor.
Remexia-se inquieto incisivo no meu interior,
decidi a medo combater o corpo estranho.

Contemplei as águas paradas do meu espírito,
cobertas por neblinas compactas,
gélidas, por séculos preservadas no silêncio intactas.
Contemplei expectante sem saber o que encontrar, aflito.

Pedi ajuda do alto ao meu Deus com temor.
A madrugada fria da minha alma era lúgubre,
senti o monstro agitar-se gordo e fúnebre,
adentrei no lago sem esperança sem fervor.

Agitei as águas com meus passos receosos,
o espelho sereno ondulou deformando as imagens.
O líquido ficou turvo dando à besta uma vantagem,
recuei enojado agarrado ao ventre pesaroso.

Uma centelha de sol pálido refulgiu,
através da névoa fosca da manhã fresca.
Sorri animado voltei á carga molhei a testa,
um fedor podre morto da poça fluiu.

Não conhecia o nojo da minha alma,
chorei sobre mim mesmo misturando as águas.
As negras do eu desconhecido e as das mágoas.
A luz do sol lambeu a superfície calma.

Distingui os seixos das margens brilhantes,
pressenti num ruído surdo o perigo vizinho.
Mergulhei repugnado no lodaçal ribeirinho,
no abismo negro gritei delirante.

Algo me puxava com força para o fundo,
tentei fugir numa angústia mortal,
cego perdido na escura fossa abissal,
em agonia entre as paredes do poço profundo.

Cuspi, de raiva à tona, sufocado,
como uma criança, trôpego cai no chão.
Fechado como um feto, adormeci de desilusão.
Quando acordei vim um anjo ao meu lado...

Zé Chove

ROCK_5

Saí louco a guiar,
carro podre escavacado,
música brava a gritar.

Mário

Rock_3

Saí louco a guiar,
carro podre escavacado,
música brava a gritar.

Vasco Vides

Malhão

Caminhámos espapaçados pelo deserto do Malhão,
todos com o mesmo objectivo rumo ao sul.
Do lado direito brilhava o mar,
aumentava a secura.

Cada um com seus pensamentos seguíamos caminhando,
olhava tonto de calor os bois ruminando.
Roupas velhas e gastas.

Força jovem,
contemplava maravilhado o sol.
Chegámos por fim a uma praia barcos mortos e sargaço,
brisa fresca de sal na cara de olhos esbugalhados,
sardinha assada...

Paulo Ovo

Homem_43

Falava arrastado,
olhar esgazeado.
Barba dura,
olhar de bezana pura.
No chão deitado,
não vivia ralado.


Vasco Vides

Guinadas

A vida é mais risonha,
desde que entraste no meu carro.
Corremos juntos contra o vento,
curvas apertadas,
unhas cravadas no assento.

Guino para o lado e cheiro o teu cabelo,
ponho as mudanças e roço teu joelho.
Nas partes planas do caminho,
passo braço á volta do teu pescoço,
e contemplo extasiado o teu beicinho.

Filipe Elites

Toni

Putos saltando á volta do Toni,
fazia de palhaço para ganhar uns cobres.
Quando era pito apaixonou-se por uma miudinha,
numa destas festas,
mas a parva apaixonou-se pelo palhaço...
Agora vinga-se fazendo corar,
os rapazinhos apaixonados pelas miudinhas,
fazendo-as apaixonar-se pelo palhaço!

Madalena Nova

MULHER_3

No calor da noite desértica,
geme a velha aldeia,
já só cá mora uma velha,
e a sua bela neta.

Árvores gritam desesperam,
com tamanha beleza á solta,
a velha chora ao pé da fogueira,
a criança salta fresca na ladeira.

Quem a viu não voltou para contar,
morreu de febre e calores de amor,
a velha já foi como ela,
agora é seca e negra.

Olhos negros de ameixa,
ondas gordas de cabelo sedoso,
saia leve de linho puro,
nariz empinado passo seguro.

Sua avó não quis morrer,
ao ver tamanha beleza,
chorou pegou numa faca,
furou o olhos de dor.

Zé Chove

Não importa

Não importa Já passou
Porque o esforço Estou cansado
Está calor Já derramou
Passam agitados Atrás do nevoeiro
São loucos Fico aqui deitado
Estou mole Estão bêbados

Mário Mosca

Dona de Casa

Na sua casinha picuinhas,
vai rasgando a carcaça,
sacode as migalhinhas,
ligada a tv na tele-casa.

Naprons vermelhos imaculados,
rendas brancas nas janelas,
Ana Lima gosta de rapazes calados,
de calças sujas e flanelas.


Diniz Giz

Dois putos

Dois putos a correr rua abaixo,
casacos de cabedal reguilas,
gel na cabeça cheia de ritmos,
pincham gritam na flor da vida.

Máquina de fumos arfando,
bombeia ódio negro cheiro,
corpos brandos vão dançando,
denso aroma do pecado.

Gritos longos de júbilo,
prazeres roxos e nocturnos,
estridentes guitarras gemendo,
dores de cabeça olhares soturnos.

Vão saltando vão correndo,
no interior dum gigante silo,
vozes roucas ecoando,
loucura incontida espiralando.

Zé Chove

Cheio a Rebentar

Cheio a rebentar,
fúria pura!
Bomba a estoirar,
força bruta!

Plena energia descomunal,
chapadão na cara vermelhona!


Vasco Vides

Eram Ciganos

Eram ciganos. Cheiro de fogo e poeira,
como vento raça bravia,
paixão nas ventas talhadas pela tempestade,
sangue misterioso família milenar,
fogem orgulhosos do sol...


Lúcia

Vamos entregar-nos ao momento

Vamos entregar-nos ao momento,
sinto a vibração no teu peito,
forcei um pouco em busca dos teus lábios,
senti numa onda quente, o teu consentimento.

A noite embala os nossos corpos cansados.


Lúcia

És uma rajada

És uma rajada de vento na minha cara,
encheste de alegria os meus pulmões,
depois farto te expeli,
gasta dissolvida no ar.

Filipe Elites

pum pum pum

pum pum pum
pam pam pam
zum zum zum
tsup tsup tsup

sou uma pedra
furioso com as pessoas
não me ligam nenhuma
mas eu sou buéda fixe
tou irritado

sou muito bonito
mas ninguem olha para mim
é injusto
vou dançar
vou beber
para esquecer

as dificuldades da incompreensão
na disco todas as miúdas são giras
no escuro posso fazer o que quiser
a bebida solta o animal que à em mim
faço palhaçadas sem fim!

Mário Mosca

Ondas fortes

Ondas fortes bem desenhadas,
rebentavam em arco cada vez mais mansinhas.
Queria saltar as vagas mais fortes lá ao fundo,
tive medo da força e das misteriosas águas turvas.

O terreno irregular conduzia correntes,
brutas que me arrastavam,
gelado revoltado contrariava,
gritava revoltado depois deixava.

Fazia me leve de costas deitado,
semicerrava os olhos feridos pelo sol,
e o doce turbilhão lá me levava.

De noite na cama durante os sonhos,
acordava espantado com suaves tremuras,
nas pernas, réplicas do que no mar tinha sentido.

Lúcia

Caminhei pensativo na noite

Caminhei pensativo na noite,
junto à piscina iluminada.
Azul turvo de cloro,
pensava nas miúdas.

Sentia o cheiro da relva acabada de regar,
as casinhas brancas com varandas,
deixavam perceber os movimentos,
sonhava com aventuras quentes.

Andavas a passear com calma,
senti um calafrio,
baralhei as deixas preparadas.

Passaste por mim com um sorriso enigmático,
fui a correr até à praia desiludido,
e preparei novas frases para te galar.

Filipes Elites

Brilhantes

Brilhantes olhos refletem o horizonte,
solidão a dois, felicidade partilhada.
Marcamos a mesma meta,
fraquejei podre e moribundo,
afogado desistia deste mundo.
Sopravas ânimo no meu rosto,
sempre fui pouco agradecido.
Continuava feliz como um puto,
distraído da tua presença.
Às vezes cedo nem penso,
que te arrasto comigo.
Beijo a lama enganado,
o fel azeda as entranhas.
...desilusão

Zé Chove

Falha no Sistema #2_Personality Scanner, 1938


Shaut

Vou continuar a atirar pedras,
até acertar.
Como os artistas modernos,
buscando a fama mundial.
Por isso não te surpreendas,
se algum dos meus poemas te parecer,
qualquer coisa de jeito,
foi um golpe de sorte.

Filipe Elites

Coitada

Coitada da pobrezinha andrajosa,
mil anos de noivos passageiros.
Rio caudaloso sem apoio,
gritou desesperada.

Foi pior vieram todos os crocodilos,
debicaram as suas banhas desamparadas.
Tentou agarrar os galhos da margem,
mas a gordura partiu-os todos.

Mergulhou roliça como uma lontra,
encontrou um novo mundo de calma,
os raios de sol brilharam no exuberante jardim.

Conheceu um lontro anafado,
morava debaixo dum seixo brilhante.
Comiam limos, aprendeu a fazer tricot,

e foram felizes para sempre.

Madalena Nova

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...