31.8.07

Toronto's Don Valley Brickworks

Archivo de imagens #5


Duas esquálidas irmãs

Duas esquálidas irmãs
andavam à solha no quarto
sem pele batiam nas maçãs
dos rostos de punhos fechados

chapadonas nas trombas macilentas
sacos de ossos em colisão
palmatoadas cada vez mais violentas
agressão gera agressão


Zé Chove

Crescendo

Um brilho de vidro
cravado na sola do pé
dilacerou com requinte
a carne à sua volta e até
ao osso provocando agonia.


Diniz Giz

Este papelote em que te escrevo

Este papelote em que te escrevo
envolveu um doce rebuçado
por agora não digo, não me atrevo
qual dos dois será o mais adocicado
o caseiro rebuçado ou o mel dos teus bejos


Zé Chove

A Clepsidra de Luz

A clepsidra de luz
esvaindo-se entre os dedos nus

abate seco o tempo
cadência do malho no feno


Maria Vouga

No fulgor do sol parece quente

No fulgor do sol parece quente
mar mole e brando
mas no fundo é gelado
esmaga com um peso violento

Brás

Fauno

Vais bem armado bom soldado
deram-te o arco e as flechas
tens tudo menos as metas

sozinho vais a todo lado
são fortes os disparos das tuas setas
mas sem alvos voam incertas


Madalena Nova

Terror Infernal

Olhou a seus pés alto do cilo industrial
sugado por vertigem abismal
muralha infinita de betão
que o mar engole com fúria animal

com ribombo estoira um trovão
num hiato pára nos o coração
perante o terror infernal
nas trevas desvendadas pelo clarão


Lúcio Ferro

Gothic

Uma bela morte gótica
envolta em doce mistério
eu desejo meu amor
à noite no cemitério
sob um ogivado pórtico


Filipe Elites

O alcatrão que trazias no peito

O alcatrão que trazias no peito
melou-se d'encontró granito preto
e pingou como mel gordo
morno sobre o meu colo.


Lúcia

Brilhas ao sol pérola negra

Brilhas ao sol pérola negra
e já sangras garrida entre os meus dedos
arrancada aos espinhos doce menina
agora és minha, mordo-te com avidez
louco com o teu suco selvagem pespineta
adeus amora preta


Lúcio Ferro

29.8.07

Whaler Spitz

Archivo de imagens #5

Ambiente Místico

Entraste reverente no grande templo
teus passos ecoam o infinito
num halo santo embalado
canto vaporoso de monges
a trovoada lá fora marcha
cais de joelhos.


André Istmo

Em queda - - - --

Em queda
somos pesos de chumbo
mergulhando sem vida
no mar profundo
vamos cegos pela luz
que atravessa as águas claras
vinda do alto
guiados por finas linhas
densos nos afundamos
no negro gelado dos abismos


Zé Chove

Shot #14

Saiu de casa com a alma dilacerada
pró frio da madrugada
o grilo chorou mansinho entre os nardos
as vozes que ficaram para trás.

Lúcia

Medo

Só tens medo quando não sabes o que provoca
os estalidos no meio do escuro
algures entre os móveis do teu quarto
que respiração é aquela no celeiro abandonado?
o que se esconde no breu da adega do avô?


Madalena Nova

Bidons enferrujados

Bidons enferrujados
o latido ensandecido
dos cães à noite
quando ouvem passos
na solidão dos armazéns
as luzes tristes de um carro
parado nos arrabaldes
o fresco trilar dos grilos
as neblinas fétidas
fantasmagóricas
evolando do riacho
que corre entre as margens
frondosas e desalinhadas
onde os mortos
escondem os seus mortos

Mário Mosca

O amor brilha mais nas vidas simples?

O amor brilha mais nas vidas simples?
As coisas pobres têm mais melancolia?
Os dias sempre iguais
as vidas atonais
todos os momentos são banais
cada segundo igual aos demais
resplandecem depois com maior fulgor
o brilho das pequenas alegrias.


Henrique

Vida no campo

Livrai-me dos homens maus

já vento rebenta os gonzos da porta de casa
o carro do pai geme parece que tem vida
lembra o avô quando tem asma.

A mãe faz sempre a mesma sopa.
Não percebo porque é que o pai põem aquela cara quando vê TV.

À noite ando sozinha pela floresta
enterrei o gato num sítio que só eu sei
vejo sempre onde os outros guardam os seus segredos.


Diniz Giz

E sobre o pináculo mais alto

E sobre o pináculo mais alto
olhando os campos em xadrez verde
sente o vento do mar
agarrar o teu cabelo

e chora de dor e desespero
pelas iniquidades do mundo
e enxuga o mal à camisa de flanela
finge que tudo é cera onde te fundes

e não há coisas, tudo é matéria
lama barroca lambida em forma confusas
é enganador o que sentes tudo são acidentes

afoga-me num sono de tinta azul
não te preocupes
não penses


Lúcio Ferro

Sub Influência #1

As teias flutuam como algodão
cabelos de árvores nuas e velhas
manhã esboroada a água de limpeza
dos pincéis duma morta natureza
o coado entre os ramos
atrai-nos vagabundos mais uma vida.
Às vezes oiço vozes que não me deixam dormir
sussurrando me coisas mecânicas
martela bota parte envolve-te em dinâmicas
e é a graça que flui agora
pela raiz dos teus ossos e deixaste de ver
bate o sino ao longe entre as serras de campanários
que rasgam os céus sobre as nossa cabeças

não deixes que te interrompam
não percas a desconcentração
fixa-te no incerto e deixa borbotar
o que te vai no coração
mata qualquer sintoma de razão
afasta a vontade de rigor
arrota sem formar represa
avança sem temor
escreve o que te dá na gana
nem tu mesmo dês opinião


Lúcio Ferro

Pelo menos uma por dia

Pelo menos uma por dia,
suada, medida,
arrancada às penhas da sabedoria.
Em noites de embriaguez,
duas ou três,
de cada vez!


Filipe Elites

Termine a quadra e ganhe um prémio

Sonho sem fim nem fundo
um universo perdido
u vagueio moribundo


Madalena Nova

Meu Amor

Não é por ti que continuo acordado?
Não foi por ti que queimei as naus?
Foi em vão...


Nicolau Divan

Penetrei na garganta abrupta

Penetrei na garganta abrupta
granito negro do teu coração
vi dois anjos em violenta luta
deixando um rasto de destruição.

(lavrando um trilho de desolação)


Lúcia

Rock Agressivo

Corres em espirais escada a baixo
espremes-te por tocar o vórtice
velocidade cega
desaparece tudo num ápice
numa ânsia sôfrega de superação
aniquilamento fundido num raio

motas e carros rua abaixo
fuga louca sem travão
raios de luz na cidade
velocidade fria em explosão

Ramon de barba cerrada
criminoso sem esquadra
violento na rua à noite

bairro islâmico calor violento
olhos cerrados em sofrimento
esta bomba vai rebentar


Vasco Vides

Túneis

Túneis,
descendo húmidos
de água podre e limos,
mais recônditos e emaranhados
que são os teus medos.
Fugindo eternamente
das luzes suspeitas
que surgem no caminho,
cego e inseguro,
foges do vapor que te sai da boca,
até caires no lamaçal profundo
onde mergulham os falhados
e sorves a imundície até ao sufoco.


Zé Chove

Havia um homem que gostava de esmagar

Havia um homem que gostava de esmagar
tudo o que lhe viesse parar às mãos
na mó do seu moinho de água
estacava depois sonhador
a ver o sangue das suas vítimas
dançar na corrente sombria do rio.


Zé Chove

Continuas atravessando as trevas

Continuas atravessando as trevas
com medo de olhar para trás
mas eles saíram-te ao caminho
na esquina assaltada
os lobos uivando ao longe

Brás

Vislumbraste a sua doce voz

Vislumbraste a sua doce voz
qual sopro de búzio
entre o marulhar do mar
e os crocitos das gaivotas
assomou-te suave na brisa do oceano
e aqueceu teu peito como o sol de Verão.


Madalena Nova

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...