14.11.07

Estatística #4

Anfetamina
Menina
Purpurina
Bonina
Ocarina
Feminina
Bailarina
Narina
Ferina
Assassina
Sonetina
Cantina
Barretina
Creolina
Mandarina
Tangerina
Cabotina

Madalena Nova

Sobre o sofrimento dos animais

Esfacelaram toda a carne dos seus braços
com uns estilete escreveram dilacerados de raiva
agora não conseguem estacar o sangue
enchorrada aos borbotões
flui pelos tubos do soro
fisiológico esgotado
maca trespassada de dor
almofada suja das mordidelas alucinadas

O pato que deu as penas
sente as dentadas
no seu limbo de animais trucidados
por homens em busca de prazer e lucro


de volta aos frascos de soro
na salinha interior sem luz do sol
as crianças berram
gemem gatinhos esfomeados
Embalada, seu espírito
nos miasmas de desinfectante
dos aquecedores metálicos evolado
Aquecedores Metálicos do Tempo
da guerra e das lutas sangrentas...
Já sonha...
...lentamente afogam-se os gatos

Lúcia

Um Homem Interessado

Passava horas na sala de espera da clínica
escutando de soslaio atentíssimo
as inconfidências
das meninas bonitas impacientes

Wilson

PS: Cuidado! Não leia tudo o que lhe vai parar às unhas! Ainda se quilha...

Criaturas Transcendentes

Desejas visitar a cigana
ver desvendado o teu futuro
ter um sentido no passado
ardes pela revelação dos anjos
acreditas nos símbolos dos sonhos
atentas na disposição dos astros

Ao mesmo tempo buscas a consolação
na benfeitoria e acalentas todos os teus desejos

Tens pena do cão sem dentes?
Acaricías as criaturas abandonadas?

Nicolau Divan

O Homem Insaciável

Oh! Divino taumaturgo
conceda-nos novas combinações de cordas
delicie-nos com novos sons

Desenterre o seu machado de guerra
guie-nos através de novas contendas
alente-nos com vitórias sobre novos inimigos

molde novas vénus
insufle os nossos desejos
delicie-nos até à exaustão
com a doce calda das musas

Lúcio Ferro

Paraísos Terrestres

Claro que existem autênticos paraísos terrestres
vidas quentes mornas como piscinas ao sol aquecidas
em climas tropicais
belas mulheres
frondosos manjares
tépidas melodias
drogas leves
sem limites de orçamento
amizades para trás e prá frente
sem sentimentos de ânsia
angústia ou sede
desejo ou fome
tudo se sacia rapidamente
a consciência dorme tranquila
os pés descalços ao sol
semi-deitado despertando
inveja a quem passa
na rua com pressa

Filipe Elites

11.11.07

Gyps Fulvus - Abutre-fouveiro

Archivo de imagens #17

Maior ave necrófaga existente em Portugal
2,70m de envergadura

Anthologia de Textículos #1

Evelyn Waugh – Reviver o passado em Brideshead

“…quando parti e me voltei dentro do carro para ver aquilo que prometia ser a minha última visão da casa, senti que deixava para trás parte de mim mesmo e que, aonde quer que fosse depois, sentiria a sua falta e a procuraria sem esperanças, como dizem que os espíritos fazem, frequentando os locais onde enterraram tesouros materiais sem os quais não podem pagar a viagem para o inferno.”



T. S. Eliot - The Love Song of J. Alfred Prufrock (excerto)

And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.



(Nota: o corpus editorialis não tem paciência para bibliografias
qualquer dúvida telefone para o número 764928 ou 708172)

Indi(g)nação

Estamos a milhas da guerra
em paralesia-geral
contendas interiores
são punidas pela constituição

perdemos o contacto com as armas
proibimos o esgatanhar dos tigres bebés
chora-mama, borra-limpa
sofre-anestesia, grita-anestesia

anestesia-anestesia

Os funis estão cheios
Os grandes celeiros reais
frascos derramam
de crânios formatados
vomitam febras todas iguais

corpos amansados pelos media
enroscados no morno dos sofás
sob a cúpula do entretenimento
"não papás" não desliguem as máquinas
influxo de vida das vossas crias

Atingimos a glória da nação
erradicámos o escorbuto malsão
e toda a forma de ansiedade
boia afogada a juventude
em poças de água estagnada

Brás

Insónias

O prédio dorme
a luz da lua cala os lampiões
andam nos corredores
solitários
em passos de ladrão
nevoeiro
derramado debaixo das portas
das celas de morfeu
sonolência de horas e horas
"aqui estou eu"
vidrado
de queixo pendente sobre a cidade
gemendo meio-morta

Wilson

Rodelas de Chouriço

O meu tio roncava como um porco
fazendo tremer o pó dos livros
enroscado como um musaranho
no cadeirão de veludo


A técnica permite que o tempo passe mais rápido.
Basta pensar na Poda Automática


Traços bruscos
tela amarfanhada
tinta-sangue, lágrimas-terbentina
regaço de amor
quadro de vida

Mário Mosca

Domingos

Domingo ao fim da tarde
quando melhor sabe andar na rua
O hiato entre a sonolência de Sábado
e a urgência de segunda

Noutra encarnação
tingia domingos de pijama
vagabundo entre a sala e a cama

Sentem se já os aromas acres
do refogado de segunda-feira
com o vento vou deslizando
afiando a imponência solitária
das universidades e edifícios públicos
enjoados da ressaca.

...............................................................

e lambendo assim o tédio
todas as fachadas de todos os prédios

nos passeios pescoços cortados
artéria a artéria
tendão a tendão
com arames finos
fachos de palhas decepados rente
com toda a raiva exigida


Zé Chove

9.11.07

Devolvidos ao Remetente - P.B.C.

Paredes de betão cinza,
com nuances ferrugentas,
pessoas cabisbaixas moribundas,
ruas negras não aguentas.

Vais chorar em silêncio,
todas as mágoas deste mundo,
à janela arrebentas,
em pranto incontido profundo.

Atrás das nuvens não vês esperança,
lágrimas amargas dolentes,
no teu rosto estão quentes,
na alma cravada uma fria lança.

Desce a noite, morre a gente,
sem um sentido choros lancinantes,
já nada será como d'antes,
chuva morna diluiu as mentes.

Vasco Vides

Beijos 1/1

Parece que a história se vai repetindo,
vou ficar aqui sentado,
à espera do replay,
dos teus beijos do passado.

Lúcia

Beijos 2/4

À neve, à chuva, sob o sol tórrido,
esperei alegre por teus lábios,
que como dizem os sábios,
voltaram ao seu depósito.

Lúcia

Beijos 3/4

Comecei a pensar se não estarias já velha,
levantei-me fraco, cambaleante,
e voltei a sentar-me empurrado,
pela história volteante.

Lúcia

Beijos 4/4

Chove no meu quarto,
ajoelhado com frio,
desejo o teu regresso,
beijo a marca que deixaste no lençol.

Lúcia

Voltei

Voltei a puxar a fita atrás,
queria rever o teu olhar distraído,
o teu andar de flor de chá,
és o meu filme preferido.

Zé Chove

BONITO

Remix feat. Miura

7.11.07

Ezra Pound

Archivo de imagens #16

Tempus Fugit

Azulejos partidos
Sanitas secas
limos preguiçosos conquistando os mais altos cantos
da casa-de-banho pública
a luz intermitente atrai a traça
no espelho desbotado luz
reflecte o rosto macilento
o bafo execrando
a túnel abandonado
gota a gota coordena a torneira
não chega a acumular o tempo cai pelo ralo

Paulo Ovo

Não chores minha querida

Ontem houve disparos no Palácio da Justiça
vão prender o teu irmão
não chores minha querida
podemos fugir para Santarém
lá não nos vão encontrar
Chiça – Não vão – Acredita – Não há ninguém – Pára de chorar
– No fim tudo acaba por se arranjar

Vasco Vides

Aditamentos Diferidos #2

“O Profeta Sabuk do alto Egipto esteve 9 dias no ventre do divino crocodilo branco.
Ao 9º dia foi cagado fininho nas margens do Nilo.”

“Experimente Cerelac com leitinho frio e grumos de pó mal misturado.”

"Filhote, quem foi o Sócrates?
Um grande filósofo, avozinha.
Muito bem, netinho."

“Abre-me o teu coração e esvai-te aí no lava-loiças”

“Hey! Puto!
Gostas de mamar pasta dos dentes?
Armas tendas no sofá da sala?
Brincas com Playmobiles no bidé?
Gostas que a empregada te aspire o cabelo com aspirador?”

“Força! Avia-me na tromba! Eu até gosto...”

“Manela! O teu filho anda de novo com as guelras ao léu.”

“Oh, Migalhinha, fecha braguilha.”

“Quem compreenderá a solidão
de mais uma tromba esquecida por todos no metro.”

Cardápio - 3ª feira - Almoço

Entrada
Ovos de Codorniz com fósforos usados

Sopa
Sopinha d'algas d'ria d'Aveiro morna
Soupa de grelo transgénico

Peixe
Solhas na tromba em sangue

Carne
Gelatina de casco de boi au arroz de framboesas
Arroz ensopado de merda de vaca

Sobremesa
Encharcada Alentejana

Bom Apetite

"Caminhava rápido. O frio congelou-me o ranho..."

Meia noite na gasolineira
A floresta sufoca de breu o halogénio...


VA

5.11.07

Crucificado

Vento-vai e vento-vem
mar engole e logo sopra
paixão que inflama quem ama
insuflada a pulmão em tensão
cravado entre o céu e a terra

André Istmo

Europa

Doces carros de madeira e carne de cavalo
chiam nos ermos
místicos vales afogados em neblinas
em neblinas emergidos
onde monges-oratórios alcantilados
repletos de juventude bradam as Laudes

Derramas com jeitinho mais fumo no panorama
fábricas fumam em Tróia
escondidos mortiços
grandes caldeiras explodem
em lofts abandonados
ao passo que o cavalo pasta solitário
no estádio vazio em Sábados
de nevoeiro

Huuuuuuuuuummm boa!
Toda a Europa vazia!
Sim.......Venham Felisteus
Venham Vândalos e Tártaros
Cabem todos salafrários
hordas de Malaquias e Iosafats
banhem-se 7 vezes no Douro

Arrepanhem-me a pele toda das costas
não hesitem
cortem-na com um X-acto
bem rente às costelas
e atirem os bifes
aos linces da Malcata.

Lúcio Ferro

Vómitos

Não te digo já do que vou falar
deixa a tempestade acalmar
ventos-areias trastes pelo ar
lendo os veios da madeira
sob os segredos guardados nas estrelas
convocados os espíritos
exaltas as paixões, adormecem razões
Suões varrendo as ideias
até se encastrarem em nichos de memórias
e voas para além de todas as glórias
vomitas oceanos lá do alto
dum banco de jardim-arrochado
e não acordas

Nicolau Divan

18.10.07

“Não vás, não vás, não vás”

“Não vás, não vás, não vás”
crianças demasiado novas
O choro de mães

Neste século os homens voltam a partir

em busca de virgens ilhas
mares de liberdade

cadelas assanhadas na praça pública
rosnam estúpidas ao cruzeiro central


Tribulações, vagalhões, remoinhos sentimentais
fossas tenebrosas
calmarias pestilentas

galgam novas áfricas, novos brasis
aterram já velhos
onde está a doçura da partida?

Destroços boiam esfiampados nas margens
não conseguem atracar
Tudo são sonhos
o passado é pesadelo uma desembarcada encarnação

os remos golpeiam o mar
são portas a fechar, são portas a fechar

vangloriam-se da troca
a Costa de Prata pela Costa da Malária
Descobrem a Ilha dos Amores

Um vento laminar arrasta
pedaços de carne nas ruas
sem vida ruas sem casas
só o vento
o pó e cães escanzelados
lambendo repugnados
bifes crus
bolos de sangue
polvilhados de terra seca
revoltos pelo vento



Lúcio Ferro

Certidões de Registo - 1ª Conservatória

25ª Hora – Virgil Gheorghiu

Crime e Castigo – Fiódor Dostoievski

O Coração das Trevas – Joseph Conrad

Pães de sangue e terra

Pães de sangue e terra
amassados à pancada
bocas empaturradas à pressa
sais de lágrimas enregeladas

flutuas abraçado com carinho
força bruta que arrasta
toda a (matéria) em uníssono redemoinho
zonzo. Nada se chega nada se afasta.

Bois desamparados à tona
coisas giram num funil
giram apáticos ronda em ronda.

Oh sopa morna e fútil
marinada em que volteiam nossos corpos
valsa lorpa sem acordar os mortos.


Nicolau Divan

Cit#23 - Guns N' Roses

November Rain

When I look into your eyes
I can see a love restrained
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same

'Cause nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain

We've been through this such a long long time
Just tryin' to kill the pain

But lovers always come and lovers always go
An no one's really sure who's lettin' go today
Walking away

If we could take the time
to lay it on the line
I could rest my head
Just knowin' that you were mine
All mine
So if you want to love me
then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain

Do you need some time...on your own
Do you need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone

I know it's hard to keep an open heart
When even friends seem out to harm you
But if you could heal a broken heart
Wouldn't time be out to charm you

Sometimes I need some time...on myown
Sometimes I need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone

And when your fears subside
And shadows still remain
I know that you can love me
When there's no one left to blame
So never mind the darkness
We still can find a way
'Cause nothin' lasts forever
Even cold November rain

Don't ya think that you need somebody
Don't ya think that you need someone
Everybody needs somebody
You're not the only one
You're not the only one



Aproveite Novembro para rechear
os seus celeiros antes de hibernar

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...