13.12.13

Creuza

Bata creuza no meu peito
e tente sair do quarto ilesa
renato prior do Crato
e do lorvão colhão de gato
esparguete na goela mete sardinha
espinha aguçada penteia
a traqueia da minha filha
espeta-lho esôfago estrafega sem mania
alinha-se o soldado na fila esguia
deste plateau desta messe
em que se tece
o meu complot e dance

como o messi

12.12.13

Shane MacGowan dos Pogues canabalizado no concerto dos Clash



ïÎâ¾¢

Lembra-se quando os comíamos vivos enchia-me uma malga com troços bem picados do braço, eu esperava sempre que tu te servisses, envergonhada dos olhares incrédulos, estarrecidos, sofredores e irados dos teus mutilados silenciosos e sem língua...

Considerações Biométricas

Os travecos da Glória viravam as costas ao trânsito porque pela frente lembravam demasiado paraíbas de sorrisos largos com cabeleira de mulher

La Petrona

domínio popular
Tú eres la linda Petrona,
Clavel de Tehuantepec.

Tú eres la linda Petrona,
Clavel de Tehuantepec.

Rosa de Castilla en rama,
Ay, Petrona, cortada al amanecer.

Rosa de Castilla en rama,
Ay, Petrona, cortada al amanecer.

En el jardín del amor, ay, Petrona,
Se para un pájaro a ver.

En el jardín del amor, ay, Petrona,
Se para un pájaro a ver.

Después de picar la flor, ay, Petrona,
No quiso permanecer.

Después de picar la flor, ay, Petrona,
No quiso permanecer.

Petronita de mi vida,
Pertonita mi adorada.

Petronita de mi vida,
Pertonita mi adorada.

No te quiero por bonita, ay, Petrona,
Sino por mujer honrada.


No te quiero por bonita, ay, Petrona,
Sino por mujer honrada.

11.12.13

Dr Aulácio

O doutor Aulácio tinha um ligeiro bafo de café misturado com cigarro que se sentia apesar da proteção de dentista que usava nas fuças. Com o seu humor estranho sempre repetia “um desabafo é sempre melhor que uma desabufa” e dizia que ainda que ao olhar lhe atraíssem mais as bundas que as bocas ainda assim melhor suportava o cheiro das segundas e inclinava-se sobre o meu peito com a broca vrrr vrrr eu controlava a dor com as sobrancelhas e pensava em varias bundas e bocas como um grande catálogo e com a agilidade dum mega computador ia atribuindo notas e aromas a cada uma. Comecei a sentir o sabor de sangue perto dos maxilares para onde a minha língua havia sido sugada pelo aspirador de saliva...

Desalento

Chico Buarque
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos

10.12.13

Manifesto Cachaça

Tem certos dias de jogo em que me entrego à bebida. Bebo sôfrego dando-me todo ao júbilo esfuziante da alegria mareada que afoga o meu juízo, faz o meu corpo ondear graciosamente, salga o romantismo do paladar e agudiza meus pânicos expande-os até ao horizonte. Deitado numa soleira de um prédio qualquer antes que o domínio de mim me abandone totalmente e com os olhos semicerrados vejo as luzes da cidade como lençóis ou asas de luz de todas as cores em vectores de Balla e as mulheres futuristas também elas, iluminadas só até ao pescoço que passam ao meu lado puro movimento são anjos de luz sem rosto

Guerra de Palavras - Horizontes de Petróleo

Os selêucidas apátridas eleutérios>
desgracias se abaten sobre nosotros>
pancrácias e erros crassos>
deus meu que abraços>
transes demográficos>>
abanicos__ lápis
chocos grátis
na práxis
no tórax e no pélvis

liberta-se a fumaça
que desgraça
o final de tarde em estio de guerra,
os helis estacionados de chapa-quente e as embreagens
já gastas cheiro de gato morto e pólvora
que ofusca os céus ocres do deserto
escrevo uma carta incerta
como um poço que brota lanço fogo nesta nafta
que aos gargomilos me brota
vomito em forma de tinta este lamento sem receptor
que m’abra passo tempestades de areia no papel,
seiva de cacto, um bordel de odaliscas imaginado um fungo
de ranho inalo por não ver mulheres há tanto
tanto tempo passo tudo embotado como petróleo,
escarrado por um canhão tesudo bem de aço firme,
que se alinha com o horizonte________
e sinto que acordo se mudo as tônicas regentes,
e abandono um transe, certo, que outro se anuncia perto,

e subitamente vejo tudo preto

Coríntios

Lázaros e coríntios são
sábios que se sentam à sombra na boca do poço
e falam com brisas
ouvem os passos do sol que trilha os imensos espaços que a vista alberga sem se apegar
ouvem o gemer da areia que se despende do reboco dos tijolos daquela branca parede que vai descongelando o reboco
ouvem o roçagar dos vestidos que atravessam a praça

e o sublime espadanar dum voo dum preguiçoso pássaro que adormece nas fuças do vento quente enfiando o bico na morte do bafo que se levanta grosso, sem barulho, cheio de sal, veneno, morte, escorpião em poalho e vingança islâmica e vingança ardurosa judaica e ainda que não tenha som se alevante o coríntio, com uma ligeira mezena que faça a túnica cair sem vincos e se abrigue em casa porque vem ai tempestade

9.12.13

Acção de decomposição pensada

Locsis abraxas//fucsas...terminal,sobral,castro,cristal++hieroglifo gafanha_ 
gadanha decepa os corpos dos cepos
estendidos no meio duma estrada
que cruza o verão das planícies além-tejanas
decepa um braço bem rente ao tronco depois o outro braço perto
do cotovelo em seguida corta junto ao joelho
uma perna ficando a ver-se o pequeno
osso da rotula e junto da virilha a outra perna
não saía sangue quase pois estava morto faz dias ali
defumando nas ondas de calor do alcatrão
não cortava como um talhante com violência mas com a delicadeza dum sibarita destrinçando um peru natalício
primeiro o peito com a carne branca
fumegante sob a pele dourada e estaladiça
em seguida um pedaço de carne escura da perna
trinchada como manteiga e por fim cava com destreza
nas entranhas aquele preparado de carne moída

com as miudezas da ave – assim destrinçava os corpos

desolação da casa pensada

Qron magnon//tulherias..graças leves<>
mãos frias de descascar as árvores) deixá-las secas) e frias)
 soalhos de osso calcinado, aquele cheiro de cano desalmado,
 na cozinha.
até as aranhas abandonaram a casa
deixando para trás algumas teias negras de pó e abnegação
o sol grita todos os dias lá para dentro
na varanda das traseiras onde o desânimo se instala feito sombra, ainda soçobram pequenas poças de fevereiro
pintando rostos fantasmagóricos nas cornucópias
esburacadas do lioz
os tubos de queda abdicaram dos caminhos retos
e deixaram-se cair lá embaixo no mato denso que viceja no pátio
carcomidos pela ferrugem da mentira
os solos esvaiem-se sob as sapatas como ratazanas nos subterrâneos
provocando um solo osteoporoso e vencido
a estrutura do prédio (repousa) assenta as muletas nas falhas
e o arcaboiço recurva-se como um aleijado de quadril
(deslocado) e omoplatas salientes
como uma boca os sanitários são onde a desolação
e a falta de cuidados se tornam mais patentes
os azulejos de rosa velho partem-se como dentes podres e as sanitas exalam a morto

caçador

Era um exímio caçador paciente e despachado ao mesmo tempo, acho que é o calculismo físico, era aquele soldado que independentemente das condições do campo de batalha dará um tiro no adversário. Todo ele era um molde de mercenário eficaz, tinha um arranque de corrida potente que stressava todos os músculos salientes do seu corpo enxuto, quando pensava viam-se os pequenos músculos de maxilar em tensão permanente como se o raciocinar fosse antes o seu instinto de tubarão inclinado por natureza a abocanhar qualquer presa.

caldos

O escarro negro a tez macilenta o arfar contínuo a roupa no fio a irritabilidade e a lassidão mescladas como uma sopa turbilhonada num caldeirão com o caldo, as couves, as batatas, as raízes, as cristas de galo, os abdômenes de barata, as esbranquiçadas patas de galinha, acho que um nabo. O fumo espirala pela cratera da chaminé que é uma boca negra engolindo toda a sala, um gato impassível aos modos da mão que o alimenta refastela-se naquele canto mais próximo da chaminé onde descansa também uma vassoura de graveto rijos... o fogo no chão da chaminé desvenda o semicirculo de imundo chão onde a lama e folhagens se empapam num vómito marrom....

6.12.13

Rio de Janeiro

O rio de janeiro sem uma justificação destruiu as mais belas pérolas do seu patrimônio construído o filé mignon do espaço público carioca em busca dum sistema viário mais eficiente. Cilindraram as melhores praças com uma estrambótica e jactante Presidente Vargas, destruíram Sta Luzia com um aeroporto enjoado e alabancioso, violentaram a Praça XV com a besta negra da perimetral arrasaram o Morro do Castelo berço da cidade por falta de miolos nos cornos, destruíram mouriscos e outros palacetes para dar lugar a transformers e outras bestas quejandas e fizeram um jardinzeco que transpira falsidade que é um Aterro oxalá aterre de vez e seja devorado pela ressaca. Para quê? Por favor, devolvam-nos os meretrícios, as cabeças de porco, a rua do Sabão e a de São Pedro, o largo do rocio pequeno, os cortiços, a antiga praça XI...

Dó-Ré-Mi

acorde decadente um traste mete dó
"eu sou vosso réu! eu sou vossa ré"
ainda é longo o caminho
mais leve se faz
é um homem sem sol
que suspira oxalás
sob o sol sob o chover em si

5.12.13

Banquete Celestial

No fúlgido almiazar sobre o tabernáculo de granito grosseiro relaxava uma traça descomunal

☻☻☻☻

Um vento de poeira da traição
levanta-se e entra-me nos olhos
tento segurar o vento que me empurra
e obriga
a encolher-me
vão me enganar por onde não
vejo grito mais alto e desce sobre
mim uma lona que amortalha e me isola da impiedade do
vento e sai-me
o solo de debaixo
do corpo todo
de uma vez

o corpo reage como um gato e toda a pele se empolga

A amplitude das entradas - condição de aguaceiros

A entrada era um mar de seixos rolados brancos ou cinza claro com umas ilhotas de cactos redondos de espinhos que iam do verde ao vermelho passando pelo amarelo. os seixos não tinham ervas daninhas parecia que esterilizavam o pátio  como pedras de sal grossas como punhos, somente um discreto verdete pintava o bojo das pedras no céu dum cinza leitoso piavam duas gaivotas entediadas pelos dias que secam como algas no areal e meses como barcos encalhados no fundo do mar onde nem as ondas perturbam

Des-a-bafos

“Quem terá sido o filho da puta que arrotou? Foda-se! Que cheiro a carniça! Caralho do ônibus sempre cheio puta puta ...uns porcos não tomam banho outros tomam banho em after-shave de chulo mas pior são os que tresandam a cinzeiro que agonia! louvo os que guardam a pirisca no bolso da camisa essência de catarro escarro negro piça ...por vezes temos a companhia de um mendigo ou um cata lata de pé preto e cheiro a mijo abafado debaixo da coberta mas esses têm o distintivo visual da própria miséria que nos alerta ...admiro ainda os que perturbam o sossego e a paz dos passageiros ora com radiolas ou mp3 fudidos de funks regionais ou melhor fodendo os tímpanos das pessoas gritando no celular ou no walkie talkie ou nextel ou que merda é aquela toda fodida em que cada um tem que deixar o interlocutor palrar tudo o que quer antes de mandá-lo cagar-se. Amo os condutores que nos estilhaçam os ossos fazendo curvas bruscas porque não comem buceta em casa e despejam as raivas nos cus dos passageiros"

La llorona

No sé si el corazón peca, llorona,
en aras de un tierno amor
por una linda tehuana, llorona,
más hermosa que una flor.

¡Ay!, ¡ay!, ¡ay! llorona,
llorona tú eres mi xunca,
me quitarán de quererte, ¡ay! llorona,
pero de olvidarte, nunca.

Dos besos llevo en el alma, llorona,
que no se apartan de mí,
el último de mi madre, ¡ay! llorona,
y el primero que te di.

¡Ay! ¡ay! llorona,
llorona de azul celeste,
aunque la vida me cueste, ¡ay! llorona,
no dejaré de quererte.

Si porque te quiero quieres, llorona,
quieres que te quiera más,
te quiero más que a mi vida, llorona,
¿qué más quieres?, ¿quieres más?


Sones e Huapangos de la Huasteca

Ready, Able

Labyad la salette
danielle bernardette
lábias de ouro
beijos de mel
laço no ventre
cama de dossel
três francesas no chambre e um
monegasco de cimitarra recurva brilhante
empunhada na cabeça um turbante
e luva branca
diamantes
na palma da mão
tamareiras no oásis distante
é um leão do deserto
uma fera na cama
o zimbório em chamas
refuma o incenso inconstante
e já rolam as cabeças
de olhar rutilante
e refrescam as bochechas

no mármore com veios de sangue

Why can't love ever touch my heart like fear does

Why can't love ever touch my heart like fear does

3.12.13

Mansão dos Arquitetos

Entre os vendavais sociais de santa
se procuras abrigo de ti mesmo
um lar que os teus ossos recolha
das tempestades trovejantes
do Rio de Janeiro sobe até aqui
onde a Lapa é apenas um murmúrio
e descansa na varanda
ouve o linguajar doutro arquiteto
duma outra esquina do mundo
toma uma água filtrada com lentidão
do sossego enquanto baratas cruzam
o soalho e lembra-te que para chegar
ao quarto do teto alto terás
de descer às masmorras da humidade
e sentir o aroma de toda a humanidade
exalando do banheiro ali ao lado
depois duma festa junina
e a sombra dum novo contrato terminado
que se queima num semestre
mais rápido que um cigarro
atormenta o pai de familia
perdido entre as prateleiras do mundial
o celeiro desta ilustre casa
e a louça ressecando sobre a pia
é o cenário perfeito para os frascos
de milho.
E a lista dos moradores deste cemitério
sob os vintage vitrais da escada em mámore
ouvem-se barulhos na madrugada
alguém não se deitou e um outro já está acordado
um estuda para uma prova, transa ou está viciado
outro vai surfar, vai colher mangas
no quintal ou vai viajar para a barra
e do nada eis que se faz a reunião de condóminos
em volta do parco café da manhã
pão na chapa e suco concentrado
Um só canta sacagem, outro come mais do que fala
outro mete o nariz em todo o lado,
e na porta o mais atento é um cachorro
mas também esse vai variando

26.11.13

Moleskine

Pag1 – Identificação: Tenente VB; Contacto:

Pag2 – Deixei todos os portos do mundo vazios e não me lembro
em qual despejei o sentimento. Os cães escanzelados que se
coçam demasiado nas docas ainda poisam um olhar vazio sobre o
navio que parte  mas nem um latir do coração.

Pag3 – Ainda tremo.
Fumava lá fora. A banda tocando frenética. As pessoas cruzam
agitadas e satisfeitas. Irrita-me a dispersão. Os risos fúteis
das velhas libidinosas com os seus cus gordos alapadas ao
balcão.
Perto da meia-noite. O mar e o céu são um só. Serenidade. A lua
exala uma luz azeitona realçando as arestas das coisas.
Enquanto os homens acreditarem no infinito, o mar será tido
como insondável... Debruçado sobre a amurada fumo. As
gargalhadas no salão estão cada vez mais longínquas. Envolto na
noite.

Pag4 – Liberta-se a imaginação. Só tenho medo do sobrenatural.
Um arrepio. Um sopro frio varre o convés e insinua-se-me na
nuca. Os olhos não acreditam se um espectro de nuvens negras se
agiganta vindo não se sabe de onde e troça da lua. Uma primeira
vaga varre o oceano mobilizando as hostes. As vagas espumam de
raiva. Catatónico. Treme o navio. Estala um trovão. Oiço de
novo os gritos no salão. Corro. Quase atropelo um bêbado que
resmunga. Afasto um chinês. Corredores brancos.Uma mulher de
olhar desesperado.Corredores. Claustrofobia. Tranco-me no
quarto e tremo. O medo é sempre sobrenatural. Alguém grita lá
fora...

Dois Rios


eu sou o rio que rasga o desfiladeiro
abrupto no inverno rasgo-lhe o peito
manso no Verão moldo-lhe o leito

E se entre rochas me estreita
mais o meu corpo incha
e se em praias de sol se abre
meu corpo fino e espelho e
sobre o areal desmaio

bullying adulto ou das mágoas de viver só

Acordo mole no escritório
com medo que o patrão
veja esta bagunça e lhe
chegue ao nariz o cheiro
a ropa e carne estufada


Sou o que mais sofre e ainda
me incitam a pagar a rodada
olho desconsolado na cerveja
uma mosca morta a boiar

Sou a chacota do escritório
ninguém me conhece no prédio
nunca recebi um sorriso
mas tenho a companhia dos pombos
passeando no Sábados pelas áleas
do torpor do jardim público
Amor desde que te vi
as ruas perderam seu rosto
secaram as luzes das lojas
e a calçada soluçou sem brilho

A luz do sol torna-se anotação no canto do livro
quando de súbito entras na sala com teu brilho
e tua voz trinada faz parecer um ronco
o grilar do grilo

se saio da tua órbita só sinto terror e frio
e isso me leva a escrever
afasta-te de mim minha musa sai da cama
que precisamos de dinheiro para viver

As vidraças

oh sombra que tanto levas a passar
afasta teus dedos vingativos da testa da criança
televisão sem som vidraça
passos singulares no apartamento vazio de cima
ameaça

øøø

O amor é uma longa espera
de que uma rosa nos pouse nas mãos
à sombra de uma aveleira

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...