7.7.10

Canção das Terras

Na entrada do palacete havia um pátio murado totalmente possuído por uma borracheira descomunal. As raízes encapeladas abriam-se em túneis escuros que levavam a diferentes portões ou outros pátios. O pouco chão com que a árvore não rebentara era decorado com calçada portuguesa com desenhos incompreensíveis de tanta vez que tinham sido refeitos. Num canto dos muros descansava um banco monolítico de pedra escurecida e por cima tinha um painel de azulejo representando a espada de São Paulo. Era aqui que se costumava conversar... aqui me ensinaram a canção das terras:
“Oh Chaparro do Homem à sombra das sombras do Tempo que amparas as tardes nos teus ramos silencia as orgulhosas asseiceiras que se arrastam indomáveis nas planícies.

Chaparral imenso que escondes o Poço da Partilha dedilha o alaúde a cigarra entre uns canaviais ao longe na Barragem do Vinte e Dois conjura a força das ervas que loucura das tuas solidões se aparte do coração das nossas crias” Assim cantavam os ansiãos.

“Sesmarias terra do inculto e do abandono onde pastam a solidão e o vento

Maninho estéril que te levantas infecundo, congregação de baldios solos incultos onde lavra a ignorância e respiram ao longo dos séculos sem donos que vos conheçam, primos das Enxaras parceiros das charnecas avancem sobre vós as estevas a chupar-vos o sal das rochas brancas quebradas do sol e lamente-se a cornicabra sedada do chá da alcachofra velha.”

“Oh cornicabra essa outra que pintalga nossos horizontes Trás-os-Montes retira-te nos sesmos esconde-te dos aceiros foge do fogo que corta a eito. Negrita que te querem para escrava para fazerem de ti estaca a exaltar outras senhoras.

Água lustral que te envenena as têmporas boi conspurcado que não nasça mais de ti fruto como sinal.

Ajuntem-se enxaras cavalgue sobre vós o pôr de sol vermelho da morte do Verão.”

As canções enchiam as três noites do início do Verão...

4.7.10

Electrelane - In Berlin




There is thunder in Berlin
We fell down under a moving sky
When you walked into the room tonight
Lighting took hold of my heart for a while
You are all that I want
You are all that I need
Snow will come and cover this town
If we freeze I want to freeze next to you
City lights shine overheads
I never want to leave you
You are all that I want
You are all that I need
You are all that I've longed for this wintertime
You are all that I need

Diálogo

--Então como é que vais?
--Sapato de verniz e fato preto.
--Pois é parece que vais passar o Natal à terra.

Lições do professor Jurado

“Podemos ter um encontro com um amante e na manhã seguinte acordar com a sensação de que fomos enganados pelo demónio.”

“Podemos ter a impressão sensacional de uma vingança voltar-se contra nós. Sentimentos e contra-sentimentos.”

“Podemos buscar um sentimento de culpa dilacerante e encontrarmo-nos emersos em perdão.”

“ Todo o tipo de pactos com entidades espirituais desde a consciência pessoal, aos espíritos dos autómatos asiáticos passando pelas forças mais frequentes referênciadas em livros conhecidos arrastam a entidade da pessoa.”

“As pessoas admiram quem se enfia por túneis ou zonas labirínticas.”

André Istmo

Spazzatura VI

Oh elevador de Santa Justa que vais tão alto
A tua justiça ficou cá em baixo
Sobem te os socialistas, os turistas, políticos dum raio
Mas o povo fica cá em baixo
Mas a Baixa é nossa
É nossa a Baixa.

Ages como um Sentinelese
Na tua primeira vez
Como uma flecha na mão
E uma possibilidade de concessão de paz
Se alguma vez flutuarem os côcos no mar.
Todos para ti e para a tua tribo.
Ninguém precisa de cuidar das seitas familiares
Despontam como cogumelos
Na sombra das florestas
Mas secam se lhes dá o sol
O ritmo da música mostra-te o movimento dos animais
A sua cadência, intenções e ferocidade.
As melodias desenham
A sua pele ou penas. O seu colorido.

Sonhei com a invenção de uma nova língua.
Um mecanismo uma engrenagem
Do encadeamento do pensamento
Babel na boca Babel no coração.

Enchia o prato do ChéChé com espinhas
De sardinha e dizia-lhe: “come, come. São
Todas para ti. Não tenhas vergonha”.
Oh madrinha dá-me um coiratinho
Para eu dar ao ChéChé.”

Ear a thousand voices possessing her
Reostato
The guitar leaves glittery trails.
Violet eyes my gold mask.
Larva berneira.
Larva czarnívora.
Nemátodos

Ej Atrajado?

Orlando Tango

Electrelane - The Valleys







I heard it from the valleys
I heard it ringing in the mountains
(repeat verse)
Robert when I drowse tonight,
skirting lawns of sleep to chase,
shifting dreams in mazy light,
somewhere then I'll see your face.
Turning back to bid me follow,
where I wag my arms and hollow,
over hedges hasting after,
crooked smile and baffling laughter,
we know such dreams are true.

He's come back, all mirth and glory,
--Running tireless, floating, leaping
--down your web-hung woods & valleys
--where the glow worm stars are peeping.
Like a prince in a fairy story
--Till I find you, quiet as a stone,
--on a hilltop all alone, staring outward,
--gravely pondering, jumbled leagues
--of hillock wandering.

Winter called him far away
--You and I have walked together
--in the starving winter weather.
--We've been glad because we knew
--time's too short and friends are few.
Blossoms bring him home wiht May
--We've been sad, because we missed
--one whose yellow head was kissed
--by the gods who thought about him
--til they couldn't do without him.
Now he's here again,
standing in a wood that swings.
To the madrigal he sings.

And I'm sure as here I stand,
that he shines through every land,
that he sings in every place,
where we're thinking of his face.

While we know, such dreams are true...



Com a ajuda do Vidal Sasson - A Letter Home

Insensibilidade

Insensibilidade das mãos
Cobertas de resina seca
Enjoado do espólio de imagens
E ambientes inertes sem história
Que os vivifique: o paúl de nebelina madrugadora,
O prado de sequeiro definhando ao sol.
Não estou disposto a provocar emoções
Recorrendo à pornografia ou imundícies
Desse calibre e não tenho vontade de provocar o riso.

Não era criatura etérea que paira nos céus.
O seu olhar era bastante sexy.

- fui à feira do artesanato e encharquei-me em essência
De Sândalo enquanto enfardava
Cubos de gengibre cristalizado.

Mário Mosca

Túneis

Durante a construção da avenida central do vale de Chelas nos anos 70, uma equipa de engenheiros foi paga para construir uma sequência de 7 câmaras subterrâneas. Um movimento de ex-militares suspeitando o advento da 3ª Guerra Mundial concebeu o plano de criar um refúgio à prova de Armagedão. Grupos semelhantes deram passos em Itália, Espanha e Grécia. Em 2025 realizou-se a última feira do Relógio. Nos idos anos 80 foi arrasado o Bairro do Relógio. A comunidade era composta de retornados da guerra do Ultramar e ciganos do Alentejo que sempre juntaram a sua indigência aos grupos mais carênciados como as doenças que sugam as últimas forças aos mais fracos.
O bairro ficava numa encosta baldia que confinava nas traseiras da gasolineira da Rotunda do Relógio.
Os construtores dos túneis secretos habitavam todos neste bairro. Os financiadores do projecto foram todos assassinados por forças do partido socialista. Alguns dos trolhas sentindo a ameaça fugiram para Marrocos. Partiram em barcos pesqueiros do porto de Setúbal à caça do peixe espada nas águas marroquinas. Muitos ficavam por Marrocos outros gastavam os cem contos do ordenado em droga para venderem nas costas portuguesas mas acabavam por consumir a maior parte do produtodando à costa novas espécies de imoralidade e vício.
Manel Torres Fez carreira pelos bazares e praças de Fez vendendo dentes. Andava com uma bandeja prateada carregada de molares, caninos e cisos apregoando a felicidade dum sorriso perfeito. Costumava arranjar o produto por baixos preços junto do coveiro do município um francês mal encarado.
O filho de Manel trocou a Medina pelas ruelas empestadas pela maléria do Guadalquivir nas redondezas pobres de Sevilha. Pescava motas e pedaços de carros lançados no guadalquivir e vendia as peças no mercado do Charco de la Pava. Foi num Domingo que se apaixonou pela sua mulher uma cigana de cabelo oleoso e olhos profundamente azuis que mais tarde veio a descobrir serem lentes de contacto. Quando o seu pai morreu recebeu de herança um mapa com a localização dos túneis de Chelas.

Lúcio Ferro

Destino

Comecei a criticar o governo
Perdi amigos conheci muita gente
Senti-me perseguido e cresceu em mim
Um rancor ácido como o mijo
Ressequido nos pilares duma ponte
Onde não passa ninguém e decidi
Emigrar, mas um vulcão prendeu-me
Numa sala de espera onde vim
Conhecer o meu actual marido, o destino

Lúcia

2.7.10

Busecke

Das Terras

Chaparro do Homem à sombra das sombras do Tempo que amparas as tardes nos teus ramos silencia as orgulhosas asseiceiras que se arrastam indomáveis nas planícies.
Chaparral imenso que escondes o Poço da Partilha dedilha o alaúde a cigarra entre uns canaviais ao longe na Barragem do Vinte e Dois.
Sesmarias terra do inculto e do abandono onde pastam a solidão e o vento.
Maninho estéril que te levantas infecundocongregação de baldios solos incultos onde lavra a ignorância respiram ao longo dos séculos sem donos que vos conheçam primos das Enxaras parceiros das charnecas avancem sobre vós as estevas a chupar-vos o sal das rochas brancas quebradas do sol e lamente-se a cornicabra sedada do chá da alcachofra velha.
Oh cornicabra essa outra que pintalga nossos horizontes Trás-os-Montes retira-te nos sesmos esconde-te dos aceiros foge do fogo que corta a eito. Negrita que te querem para escrava para fazerem de ti estaca e exaltar outras senhoras.
Água lustral que te envenena as têmporas boi conspurcado que não nasça mais de ti fruto como sinal.
Ajuntem-se enxaras cavalgue sobre vós o pôr de sol vermelho da morte do Verão.

Zé Chove

Assombrações

As vozes mergulham
Sensivelmente entre entre os anos
Ofuscam como um clarão
Se passam cadentes mais de perto.
As vozes definham sem eco
Caem na imensidão.
Como as vagas as vozes enchem-se
Nos peitos do vento
Forças invisíveis que se engolfam e despejam
Mergulham no silêncio como as gaivotas na noite
Dançam as vozes na escuridão

Nicolau Divan

Premeditação

Sou o ex-presidiário
Liberto à sombra do muro
Num escaldante dia de Junho
Trouxa vazia ao ombro
O que é que eu faço?
Já tou às portas da cidade
Algo me diz que me afaste
E o corpo que esse se cale
O que á que eu faço
As estradas refletidas
Nas lentes poeirentas
E as canções das cigarras
Secas na garganta
O que é que se faz?

“Stick it my veins”

Filipa Elites

Desolation

Live My Head

Miau miau miau jump clearer
Miau miau miau jump clearer
Like a cat might kill her

Live my head
With a big jump killer
You got to be kitten
You got to be kid’in
You should be caughten
You got to be kiddin
You should a go pausen
I’m in my hour
You got to be hidden
Your got to be partin’

Cyntia César

Synth ta falta

Precisamos de nada
Precisamos de nada
Precisamos de nada
Precisamos de nada
Cisamos de nada
Ninguém nos falta
Nada nos falta
Nada nos falta
Nada nos falta
I need ah I need Ah
I need ah I need Yah
Nada nos falta
Nada nos falta
Nada nos falta nada nos

Cintya César

Barbárie Pop

Se fossemos pacientes talvez
tivéssemos assistido ao nascimento
da Barbárie Pop o duelo
histórico entre Black
Francis e o Kurt Cobain

oiço gritos ali ao virar da esquina

Diniz Giz

23.6.10

Manuscrito Encontrado em Saragoça

Conversas

Na entrada do palacete havia um pátio murado totalmente possuído por uma borracheira descomunal. As raízes encapeladas abriam-se em túneis escuros que levavam a diferentes portões ou outros pátios. O pouco chão com que a árvore não rebentara era decorado com calçada portuguesa com desenhos incompreensíveis de tanta vez que tinham sido refeitos. Num canto dos muros descansava um banco monolítico de pedra escurecida e por cima tinha um painel de azulejo representando a espada de São Paulo. Era aqui que se costumava conversar...

Zé Chove

22.6.10

Doenças

Doenças. Tudo está doente. A doença é um estado tão natural que nem damos por ela. Somos doentes. Doentes em tudo. No corpo. No fôlego. No carácter. Nas coisas que possuímos. Ás vezes damo-nos conta dalgum quisto, de que nos atrasamos, da sujidade nas costas do nosso casaco, uma dor de cabeça ligeira mas persistente. Damos conta de algumas doenças nos outros, embora a nossa capacidade de observar também adoeça com frequência. Não são terminais. Nunca terminam. Provocam uma ligeira urticária se pensamos nelas. Como estamos doentes não existe um conceito universal do que seja ou não doença. Um hospital cura-nos de maleitas que nos obrigaram a ingerir noutro centro de saúde. Apesar de tudo conseguimos dormir relativamente descansados. Talvez seja outra doença...

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Libre Vermell de Monserrat
1399  - Jordi Savall
Medico della Peste
Le Royaume Oblie
Cátaros Cathar
Charles de Lorme
Máscara veneziana
Bico de Íbis
A cartola, o bastão para evitar
o contacto físico com os doentes

Tomás Manso

Medecine Interne

Salinas Brancas

Remansos cristalinos nos cantos
Dos olhos pureza estéril do sal
Salinas brancas que atravessam o gesto
Remansos líquidos que amargam o gosto
Geografias as covas do teu rosto
São lagos que absorvo com um beijo

Manuel Bisnaga

Esquecimento ou a Vontade de Desaparecer

Myriam et Mamadou
Guitarras dolentes africanas

O som das guitarras insinuantes africanas na tenda inicial da feira do relógio.
Mon amour ma cherrie

IARN – instituto de apoio ao retornado nacional...
Um homem da banca da fruta na feira do relógio contou-me a história da sua deserção durante a guerra do ultramar. Na altura refugiou-se numa aldeia zulu que o acolheu. Lá viveu 20 anos até ganhar coragem para voltar. Tinha medos das represálias pela deserção. Na altura nem soube bem quando terminara a guerra.
Agora gosta de tentar advinhar de onde são os pretos que vão lá comprar fruta. Sente alguma cumplicidade com eles. Eles nem por isso.
Quanto tempo pensamos que nos levam a perdoar? Quanto tempo leva um país a esquecer que existimos?
Não será o melhor perdão que se esqueçam de nós? Quando é que um país volta a abraçar os milhares que transgrediram a mesma cancela farpada que nós...

Na ânsia do esquecimento que a náusea por vezes provoca no diminuido.

Deuses Lares a quem se oferecia o fogo. O fogo que não podia extinguir-se pois era a chama dos antepassados o sacramento do passado que deve ser honrado.

Um beijo pode ficar marcado na consciência como um acto impuro durante toda a vida e isso é bom. Talvez sejam os melhores beijos...
A memória do gesto brilha como um diapositivo recordado às escuras projectado no silêncio do nosso quarto. Não te esqueças.

Nicolau Divan

Esboço

Almiscarada nava ou nova
Glosa de grosas ou grossas rosas
As grosas e as roças
A garota moderna do colar de pérolas corolas
Formosas borlas envoltas
Em soltas notas folhas vaporosas
Duma toga se esvoa uma névoa
O entorno, o contorno como de bossas
Formosas do torso onde me retorço
Aguento o dorso num escorço de esforço
Mas não lhe toco

Lúcia

11.6.10

Corpus - Sevilla

Scum

Inferno de rapaz que não sossega
Vais bater com os costados num colégio interno em inglaterra
O teu padrinho leva-te por uma orelha mares afora o mar vai esquecer as tuas lágrimas
Alimentado a tabefes britânicos

Paulo Ovo

Crochê


Loquazes cobres algozes sequazes
Estampido fulmina vozes velozes artrozes
Termina albumina anemia afasia
Rasganço golpejava
Lavores vergões verdasca
Derme freme treme creme
Brame derrame
Sardónico falsetto

Madalena Nova

Desabrochar

Medrou nele a veia poética. No dia em que teve de escrever um requerimento ao reitor do seu estabelecimento de ensino a fim de que lhe reavaliassem um exame, aí, foi o flagelo da lógica que despontou. Na manhã seguinte tendo sido acordado pelo avô jazendo ébrio ensopado em vómito à porta do elevador do prédio esboçou uma máscara de sofrimento, aí, despontou dionísio.

Filipe Elites

Segura

Só se sentia segura
Se ele se apoiava com as suas
Amplas mãos sobre os seus
Tensos ombros
Nunca se tocavam

Madalena Nova

Aprender a Falar Sozinho #5


  1. Regatos transfiguram de brilho as colinas
  2. Indolentes sorvem as lamas em lenta queda canais de desejo

  1. Kingfisher – guarda-rios

  1. 4 chopas, 3 besugos, 1 pampo, 5 cavalas, 4 fanecas, 8 douradas, 1 sarguete, 2 parguetes e o quinhão habitual de bogas.

  1. A vida transcorre
Pelo mesmo regato
Estação após estação


  1. Princípio
Senhoras e senhores: Fuga
Cresce o casario
Os campos de arroz

  1. Vivemos entre gigantes
Emersos nesta batalha em que valemos
De moeda de troca
Olho por olho alma por alma

  1. Sua besta acha que consegue enfiar essa peida nessa cadeira – língua mirrada – fingir que anda de carro debaixo duma planta na sala de estar – pontapés na porta da cozinha quando havia visitas – ele não disse porra – cair no lago – gordo que os salva – esfregaço com aguardente – mãe e filhas declamando poemas de memória.


  1. Só começo os livros para lhes roubar um mote para escrever. Absorvo o ambiente geral e como sou mal educado começo eu a contar a minha experiência em casos parecidos. Nunca termino os livros porque a indefinição das histórias inacabadas é muito mais suculenta para a imaginação.

  1. Aparência envolucro
Que deixa intacta a essência
Mas estilhaça o conceito

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...