13.7.10

Mareado II

Clara trabalhava no armazém do Feira Nova de Telheiras entre corredorese câmaras de refrigeração. Ngoy operava o empilhador e usava uma garra de tigre ao peito um amuleto da sua tribo. Costumavam descansar os dois sonhado em cima das paletes de Evax.
--Na nossa tribo os maníacos são contidos e reprimidos muito mais pelas pancadas, ameaças e censuras do que pelos fármacos, que nem querem tomar.
--Coitadinhos
-- O tratamento, administrado pelo mestre dos loucos, inclui dietas, banhos de mar de madrugada, vomitórios, trabalho e freqüentemente castigos, como aconselham os grandes curandeiros.

Casa na estância balnear abandonada na praia do Outão. Piscina de água verde escura onde dançava todas as noites na prancha uma rapariga selvagem abandonada pelos pais.
Na Rua do Arsenal os prédios confinam com a encosta onde foram escavadas dependências e caminhos secretos. Foi encontrado um túmulo fenício e uma adega romana, um armazém de âncoras enferrujadas...

Tomás Manso

Mareado I

Dois Demónios Fenícios costumavam assaltar as noites dos turistas que se alojavam no largo do Chafariz de Dentro. Esta reentrância na cidade era uma baía de fundação dos barcos mais pobres dos fenícios que não podiam pagar as taxas do cais das colunas.
Os turistas acordavam deitados no lodo da doca seca ladeados de corpos de fenícios decepados. Todas as noites se ouviam gritos lancinantes na emparedada Alfândega. As canções antigas de escravos com fome nos porões de caravelas.

Muitos alemães com a descrença no Führer passaram a consultar cabalístas judeus refugiados em alfama de onde haviam sido expulsos mas que um tal de Sousa Mendes voltara a realojar.

As primeiras discotecas a surgir em Portugal começaram em pavilhões industriais e cilos abandonados na zona do poço do bispo. A Lisnave andava num frenesim, eram os loucos anos do Canecão e do babyboom lusitano entre prostitutas de Famalicão perdidas na margem sul e latagões alentejanos que precisavam de descansar do trabalho nas docas.

Existem dois tipos de ciganos o oleoso e colorido que costuma vender pensos e posters religiosos e o cigano que veste de negro e é desdentado e vende roupa. O oceano sempre foi uma maldição para a raça.

A antiga cozinheira do canecão habituada à fama da melhor moamba com galinha do campo fez uma última moamba com uma gaivota e algas como legumes antes do restaurante fechar as portas. Ninguém sobreviveu a esta última refeição. Uns desconfiam que a gaivota estivesse carregada de radioactividade outro supõem que uma osga tenha caído no caldo outros afirmam simplesmente que a direcção do afamado restaurante era composta por espíritos com uma missão e que simplesmente se retiraram.

Tomás Manso

7.7.10

Foros das Passarinhas

Turbamulta

Adonai criou o mundo pela palavra e em seguida ele próprio se fez palavra. O seu avô nascera Alentejano e desde então ninguém havia abandonado a região. Eram conhecidos na zona como os Seres Sublunares. Eram pacatos e veneravam a noite. Elohim era o filho mais novo e as gémeas as do meio. Delas escrevera o notário um opúsculo bizarro que se lia nas festas da aldeia para gáudio da criançada chamado Cântico dos Cânticos. Ele fantasiava que as duas seriam suas esposas vivendo o trio com uma alegria fulgurosa. O filho do notário chamava-se Himeneu e passava o Verão dando concelhos aos jovens sobre a forma de alcançar a felicidade envolvido na sombra e nos vapores dionísicos da tasca do Senhor Pafo. Himeneu era belo e a sua mãe por ele morria de amores. Adonai estava às portas da morte e escrevia. Pensava para si que: ” Todas as histórias deviam começar com alguém às portas da morte”. Enquanto Aguardava aternamente pela consulta do oráculo do médico de família na frescura da sala de espera do centro de dia ia escrevendo e adormecendo num jogo continuo de sonho e assentar de ideias. Lamentava-se se alguma vez se esquecia dos pormenores deliciosos com que os mafarricos o embalavam.


O cunhado de Adonai, Sepher Zohar era o verdadeiro solitário de Tebaida, adquirira por 5 garrafões de vinho uma velha caserna perdida no sobral perto dum casebre alentejano estiado ao chão esquecido por um segundo na berma da auto-estrada numa nesga de terreno ataviado de bravas azinheiras esquecido num canal non-aedificandi. O barulho dos pássaros era acamado por um roar contínuo de camiões de fruta em trânsito. No Verão era o seu porto de abrigo onde podia dar largas à sua preguiça e o seu egoísmo deixava a cama por fazer. No seu retiro gritava feliz ao fim da tarde canções sem nexo:

“Suplira dzaniatha
Hadra Raba Hadra Sutha
Sanedrim Sanedrim”

E eventualmente acabava por mudar o destino do mundo com invocações lançadas aos céus incoscientemente. Reuniu-se à sua volta um grupo de discípulos que o reverenciavam como Cabalista. O sol da tarde seca as ruas de gente mas no pátio de Sepher discutem a Amizade e a Traição e aferem o calibre da verdade.

Thoth a filha de Sepher veste de negro e com o seu nariz afilado e recurvo assusta como um furacão nas folhas da floresta as crianças que regressam a casa depois das aulas. O seu espírito indomável levou-a a beijar Adonai roubando ao velho o último suspiro.

Odin-Loki, Midgard, Thor, Jormungand construiam todas as casas das redondezas. Cada um andava com a sua ferramenta pela qual era conhecido. Surpreendiam-se em uníssono com as maravilhas do mundo e agiam sempre colegialmente. Eram como os dados do poker. Eram os pilares de vários lares disseminados pelas faldas dos montes.

Jean Sony morava numa casa de cantoneiro. A casa foi construída mas a estrada acabou por não passar por lá, por isoo ficou perdida no meio da mata. Pensa-se que a sua família eclodiu por cá aquando das invasões francesas. Dispersa a família em busca de outras guerras sobrou Jean que tinha um espírito mais contemplativo. Trabalhava na Maxam, uma empresa de explosivos para exploração mineira. Por essa altura subia e descia o Mondego à procura de clientes. Marcava almoços com homens que afundavam as suas empresas nos meandros lodosos do rio.Nas suas andanças cruzava lugarejos e edifícios abandonados que lhe despertavam pensamentos poéticos:

“O vento uiva nas ruas desertas porque é um selvagem e não tem quem o guarde.
O vento uiva nas ruas desertas porque tem saudade dos rostos das gentes que lhe fizeram frente”
ou se atravessava a fachada dum antigo sanatório:

“Costumava ouvir esses urros do meu quarto no Ospital de los Incurables. O doutor prescreve-me sessões de espancamentoe jejuns rigorosos. Sou uma camisa de forças esfrangalhada...”

Divagava ensimesmado fixando tão atentamente o infinito que a realidade se desfocava e não raramente acabava com as botas ensopadas nalguma poça.

Ragnarör usava um penso no olho esquerdo, tinha um sorriso preocupado que khe fazia inchar uma veia perto do olho tapado. Dava aulas de psicologia. Nunca chegara a sair da universidade. A sorte dos protegidos. Para ele um certo conforto financeiro era natural. Preocupava-me que com aquela idade ainda andasse de chapéu australiano como se ainda tivesse folgo para aventuras exóticas. Apartir de certa idade devemos aprender a disfarçar as emoções que nos provocam as descobertas. Não cai bem num rosto maduro a sofreguidão jovial por um prazer recém descoberto. Claro que tal fogosidade há-de despertar paixões em alguém, e isso é sempre benefício, mas devemos ficar agastados perante as paixões. Os seus passos eram trágicos. Durante a sua fase Heavy Metal tatuara no peito “Saga-Götterdämmerung” e o martelo de Thor rasgando um trovão nos céus.

O Judeu errante era o personagem mais assustador da serra. Trazia o símbolo do tau impresso na fronte e o T de Tubal cravado no peito. Reverenciava Artaxerxes alçando-lhe laudes em linguas mortas ou agonizantes. Trazia um volume da Cabala no coração. Entrava e saía pelos canais de Sefirot como um bom vizinho pelo que o declaram morto várias vezes. Caía em êxtase à beira dos caminhos. Os seus antepassados eram os guardiães das páginas perdidas do Libre Vermell de Monserrat onde os Cátaros em 1399 haviam escrito a canção dos Cavaleiros do Apocalípse no dia da sua passagem pelo Egipto.

O Sr. Carlos D’Orme usava máscara para disfarçar um angioma que lhe deflagrara na infância. Usava um bastão afilado para sentir as vibrações dos ventres das suas ovelhas prenhas para não ter de lhes tocar temeroso da larva berneira. A sua tia Karin Dreijer perecera com um deses obuzes a mastigar-lhe o esfenóide.

Myriam et Mamadou como bom casal de africanos professos na mais pura tradição animista deixavam uma cesta de frutas debaixo da cama, cerejas para ser mais concreto. Gerem um café situado no istmo que liga a Serra da gardunha à aldeia de Alpedrinha por cima da auto-estrada. Tingem as redondezas de guitarras dolentes africanas e “Mon amour ma cherrie’s” com que se golpeiam a toda a hora. Deuses Lares a quem se oferecia o fogo que não podia extinguir-se pois era a chama dos antepassados o sacramento do passado que deve ser honrado tinham o seu recanto junto da casa da lenha nas traseiras do estabelecimento comercial.

Miriam sonhava com os gestos dos cães: a forma como piscam os olhos, o cuidado com que se sentam, o jeito de transportarem os filhos na boca é tão delicadamente humano que Miriam sentia o seu coração arrebatado. São gestos, mas o nosso coração é mais tocado pelo que move.

Para Mamadou as armas e utensílios devem ser belos. Devemos rodear-nos de coisas belas. Por isso o homem tribal enfeita de penas a sua lança e o homem moderno deve adocicar o seu discurso porque num mundo cada vez mais robotizado a palavra volta a ser uma arma.

Thoth sempre foi o coração e a língua de Ra. Habituada a fazer as suas vontades recebera o encargo dos celeiros. Os celeiros eram um conjunto de pavilhões obsoletos com chão de betão e largas vidraças quebradas onde se podiam ver milhões de esqueletos de pássaros mortos.

Decamarão e Demorgia deitaram-se dez vezes e dez vezes o Senhor os abençoou.
As dez criaturas tinham fartas melenas e ao final da tarde de rostos voltados para o sol agonizante pareciam bois almiscarados ao vento. Pareciam todos do sexo feminino mas três eram rapazes.

Epinefrina ou Adrenalina alcandorada sobre os montes rins sempre dera à nação filhos acelarados e sedentos de guerrilha. As suas filhas eram tesas e boas parideiras. As vacas de raça Alentejana sempre foram boas mães, pachorrentas, tetas generosas e um tom castanho nos modos que relaxa tanto como a languidez distendida das hastes.

Comia Häagen-Dazs encostada num muro do porto. Fixava o sol durante uns segundos e quando fechava os olhos via um anjo branco a flutuar dentro das pálpebras e falava com ele. As histórias encadeadas que vão puxando outras histórias numa estrutura espiralante ribossomática, como as sementes de um girassol. Haloarcula chamara ao seu anjo.

Buzatti e Potocki fumavam psicotrópicos deitados entre as giestas. Costumavam convidar Larissa para os seus passeios mas ela recusava sempre com altivez e frieza no seu olhar. Quando alucinavam crivavam as estrelas de palavras e frases que lhes incendiavam o entendimento a memória e a curiosodade:

“--Quarentena Czar
--Guardei a tua morada
--Todos temos segredos
--Crise nervosa
--Quatrocentas facas
--Toda a gente em baixo
--Umlaut Urlaub
--Gorgoroth
--Nemátodos”

Na ânsia do esquecimento que a náusea lhe provocava por aqueles dias, Goebbles ergueu paredes duplas que escondendo a podridão das alvenarias velhas. Perdeu área nas salas mas alcançou um maior controlo sobre os seus estados de espírito. Sim porque a ira mais básica é influenciada pelo ambiente. O estampido da fúria encapela-se perante a desordem e leva o homem acometido de ira a escravizar os seus súbditos.

A descrição dum homem tinge totalmente um ambiente. Hispano no seu recanto da enfermaria passou os meses que lhe haviam concedido de vida a esboçar na memória os homens com que se cruzara. Deu um estilo ao album como um mestre que desenvolve a técnica do Sfumato ou a Assimetria dos componentes. Falava com todos eles em mono-tertúlias pós-prandiais na sombra do alpendre. Vinham encontrá-lo as enfermeiras de rosto transfigurado e luminoso balbuciando frases disconexas com várias referências a Babilónia. Por ter desobedecido ao horário de deitar davam-lhe tabefes amigáveis com as costas da mão no cachaço.

O Sr. Olof um emigrante apaixonado pela luz do Bombarral era o encarregado da manutenção do serviço. A sua filha de pernas altas e narinas largas parecia uma égua graciosa. Olof usava o creme depilatório da filha para reparar falhas na alvenaria se lhe faltava o reboco.

Hispano teve um ataque no dia 13 de Maio pelas 2 da manhã depois duma mija noturna, a mão escorregou no Veet ainda fresco e bateu com o crânio numa mesa de vidro baixinha de estilo oriental. O peso das memórias era tanto que o vidro se pulverizou e as limalhas cravaram-se no corpo dos restantes companheiros do dormitório.

Tomás Manso

Canção das Terras

Na entrada do palacete havia um pátio murado totalmente possuído por uma borracheira descomunal. As raízes encapeladas abriam-se em túneis escuros que levavam a diferentes portões ou outros pátios. O pouco chão com que a árvore não rebentara era decorado com calçada portuguesa com desenhos incompreensíveis de tanta vez que tinham sido refeitos. Num canto dos muros descansava um banco monolítico de pedra escurecida e por cima tinha um painel de azulejo representando a espada de São Paulo. Era aqui que se costumava conversar... aqui me ensinaram a canção das terras:
“Oh Chaparro do Homem à sombra das sombras do Tempo que amparas as tardes nos teus ramos silencia as orgulhosas asseiceiras que se arrastam indomáveis nas planícies.

Chaparral imenso que escondes o Poço da Partilha dedilha o alaúde a cigarra entre uns canaviais ao longe na Barragem do Vinte e Dois conjura a força das ervas que loucura das tuas solidões se aparte do coração das nossas crias” Assim cantavam os ansiãos.

“Sesmarias terra do inculto e do abandono onde pastam a solidão e o vento

Maninho estéril que te levantas infecundo, congregação de baldios solos incultos onde lavra a ignorância e respiram ao longo dos séculos sem donos que vos conheçam, primos das Enxaras parceiros das charnecas avancem sobre vós as estevas a chupar-vos o sal das rochas brancas quebradas do sol e lamente-se a cornicabra sedada do chá da alcachofra velha.”

“Oh cornicabra essa outra que pintalga nossos horizontes Trás-os-Montes retira-te nos sesmos esconde-te dos aceiros foge do fogo que corta a eito. Negrita que te querem para escrava para fazerem de ti estaca a exaltar outras senhoras.

Água lustral que te envenena as têmporas boi conspurcado que não nasça mais de ti fruto como sinal.

Ajuntem-se enxaras cavalgue sobre vós o pôr de sol vermelho da morte do Verão.”

As canções enchiam as três noites do início do Verão...

4.7.10

Electrelane - In Berlin




There is thunder in Berlin
We fell down under a moving sky
When you walked into the room tonight
Lighting took hold of my heart for a while
You are all that I want
You are all that I need
Snow will come and cover this town
If we freeze I want to freeze next to you
City lights shine overheads
I never want to leave you
You are all that I want
You are all that I need
You are all that I've longed for this wintertime
You are all that I need

Diálogo

--Então como é que vais?
--Sapato de verniz e fato preto.
--Pois é parece que vais passar o Natal à terra.

Lições do professor Jurado

“Podemos ter um encontro com um amante e na manhã seguinte acordar com a sensação de que fomos enganados pelo demónio.”

“Podemos ter a impressão sensacional de uma vingança voltar-se contra nós. Sentimentos e contra-sentimentos.”

“Podemos buscar um sentimento de culpa dilacerante e encontrarmo-nos emersos em perdão.”

“ Todo o tipo de pactos com entidades espirituais desde a consciência pessoal, aos espíritos dos autómatos asiáticos passando pelas forças mais frequentes referênciadas em livros conhecidos arrastam a entidade da pessoa.”

“As pessoas admiram quem se enfia por túneis ou zonas labirínticas.”

André Istmo

Spazzatura VI

Oh elevador de Santa Justa que vais tão alto
A tua justiça ficou cá em baixo
Sobem te os socialistas, os turistas, políticos dum raio
Mas o povo fica cá em baixo
Mas a Baixa é nossa
É nossa a Baixa.

Ages como um Sentinelese
Na tua primeira vez
Como uma flecha na mão
E uma possibilidade de concessão de paz
Se alguma vez flutuarem os côcos no mar.
Todos para ti e para a tua tribo.
Ninguém precisa de cuidar das seitas familiares
Despontam como cogumelos
Na sombra das florestas
Mas secam se lhes dá o sol
O ritmo da música mostra-te o movimento dos animais
A sua cadência, intenções e ferocidade.
As melodias desenham
A sua pele ou penas. O seu colorido.

Sonhei com a invenção de uma nova língua.
Um mecanismo uma engrenagem
Do encadeamento do pensamento
Babel na boca Babel no coração.

Enchia o prato do ChéChé com espinhas
De sardinha e dizia-lhe: “come, come. São
Todas para ti. Não tenhas vergonha”.
Oh madrinha dá-me um coiratinho
Para eu dar ao ChéChé.”

Ear a thousand voices possessing her
Reostato
The guitar leaves glittery trails.
Violet eyes my gold mask.
Larva berneira.
Larva czarnívora.
Nemátodos

Ej Atrajado?

Orlando Tango

Electrelane - The Valleys







I heard it from the valleys
I heard it ringing in the mountains
(repeat verse)
Robert when I drowse tonight,
skirting lawns of sleep to chase,
shifting dreams in mazy light,
somewhere then I'll see your face.
Turning back to bid me follow,
where I wag my arms and hollow,
over hedges hasting after,
crooked smile and baffling laughter,
we know such dreams are true.

He's come back, all mirth and glory,
--Running tireless, floating, leaping
--down your web-hung woods & valleys
--where the glow worm stars are peeping.
Like a prince in a fairy story
--Till I find you, quiet as a stone,
--on a hilltop all alone, staring outward,
--gravely pondering, jumbled leagues
--of hillock wandering.

Winter called him far away
--You and I have walked together
--in the starving winter weather.
--We've been glad because we knew
--time's too short and friends are few.
Blossoms bring him home wiht May
--We've been sad, because we missed
--one whose yellow head was kissed
--by the gods who thought about him
--til they couldn't do without him.
Now he's here again,
standing in a wood that swings.
To the madrigal he sings.

And I'm sure as here I stand,
that he shines through every land,
that he sings in every place,
where we're thinking of his face.

While we know, such dreams are true...



Com a ajuda do Vidal Sasson - A Letter Home

Insensibilidade

Insensibilidade das mãos
Cobertas de resina seca
Enjoado do espólio de imagens
E ambientes inertes sem história
Que os vivifique: o paúl de nebelina madrugadora,
O prado de sequeiro definhando ao sol.
Não estou disposto a provocar emoções
Recorrendo à pornografia ou imundícies
Desse calibre e não tenho vontade de provocar o riso.

Não era criatura etérea que paira nos céus.
O seu olhar era bastante sexy.

- fui à feira do artesanato e encharquei-me em essência
De Sândalo enquanto enfardava
Cubos de gengibre cristalizado.

Mário Mosca

Túneis

Durante a construção da avenida central do vale de Chelas nos anos 70, uma equipa de engenheiros foi paga para construir uma sequência de 7 câmaras subterrâneas. Um movimento de ex-militares suspeitando o advento da 3ª Guerra Mundial concebeu o plano de criar um refúgio à prova de Armagedão. Grupos semelhantes deram passos em Itália, Espanha e Grécia. Em 2025 realizou-se a última feira do Relógio. Nos idos anos 80 foi arrasado o Bairro do Relógio. A comunidade era composta de retornados da guerra do Ultramar e ciganos do Alentejo que sempre juntaram a sua indigência aos grupos mais carênciados como as doenças que sugam as últimas forças aos mais fracos.
O bairro ficava numa encosta baldia que confinava nas traseiras da gasolineira da Rotunda do Relógio.
Os construtores dos túneis secretos habitavam todos neste bairro. Os financiadores do projecto foram todos assassinados por forças do partido socialista. Alguns dos trolhas sentindo a ameaça fugiram para Marrocos. Partiram em barcos pesqueiros do porto de Setúbal à caça do peixe espada nas águas marroquinas. Muitos ficavam por Marrocos outros gastavam os cem contos do ordenado em droga para venderem nas costas portuguesas mas acabavam por consumir a maior parte do produtodando à costa novas espécies de imoralidade e vício.
Manel Torres Fez carreira pelos bazares e praças de Fez vendendo dentes. Andava com uma bandeja prateada carregada de molares, caninos e cisos apregoando a felicidade dum sorriso perfeito. Costumava arranjar o produto por baixos preços junto do coveiro do município um francês mal encarado.
O filho de Manel trocou a Medina pelas ruelas empestadas pela maléria do Guadalquivir nas redondezas pobres de Sevilha. Pescava motas e pedaços de carros lançados no guadalquivir e vendia as peças no mercado do Charco de la Pava. Foi num Domingo que se apaixonou pela sua mulher uma cigana de cabelo oleoso e olhos profundamente azuis que mais tarde veio a descobrir serem lentes de contacto. Quando o seu pai morreu recebeu de herança um mapa com a localização dos túneis de Chelas.

Lúcio Ferro

Destino

Comecei a criticar o governo
Perdi amigos conheci muita gente
Senti-me perseguido e cresceu em mim
Um rancor ácido como o mijo
Ressequido nos pilares duma ponte
Onde não passa ninguém e decidi
Emigrar, mas um vulcão prendeu-me
Numa sala de espera onde vim
Conhecer o meu actual marido, o destino

Lúcia

2.7.10

Busecke

Das Terras

Chaparro do Homem à sombra das sombras do Tempo que amparas as tardes nos teus ramos silencia as orgulhosas asseiceiras que se arrastam indomáveis nas planícies.
Chaparral imenso que escondes o Poço da Partilha dedilha o alaúde a cigarra entre uns canaviais ao longe na Barragem do Vinte e Dois.
Sesmarias terra do inculto e do abandono onde pastam a solidão e o vento.
Maninho estéril que te levantas infecundocongregação de baldios solos incultos onde lavra a ignorância respiram ao longo dos séculos sem donos que vos conheçam primos das Enxaras parceiros das charnecas avancem sobre vós as estevas a chupar-vos o sal das rochas brancas quebradas do sol e lamente-se a cornicabra sedada do chá da alcachofra velha.
Oh cornicabra essa outra que pintalga nossos horizontes Trás-os-Montes retira-te nos sesmos esconde-te dos aceiros foge do fogo que corta a eito. Negrita que te querem para escrava para fazerem de ti estaca e exaltar outras senhoras.
Água lustral que te envenena as têmporas boi conspurcado que não nasça mais de ti fruto como sinal.
Ajuntem-se enxaras cavalgue sobre vós o pôr de sol vermelho da morte do Verão.

Zé Chove

Assombrações

As vozes mergulham
Sensivelmente entre entre os anos
Ofuscam como um clarão
Se passam cadentes mais de perto.
As vozes definham sem eco
Caem na imensidão.
Como as vagas as vozes enchem-se
Nos peitos do vento
Forças invisíveis que se engolfam e despejam
Mergulham no silêncio como as gaivotas na noite
Dançam as vozes na escuridão

Nicolau Divan

Premeditação

Sou o ex-presidiário
Liberto à sombra do muro
Num escaldante dia de Junho
Trouxa vazia ao ombro
O que é que eu faço?
Já tou às portas da cidade
Algo me diz que me afaste
E o corpo que esse se cale
O que á que eu faço
As estradas refletidas
Nas lentes poeirentas
E as canções das cigarras
Secas na garganta
O que é que se faz?

“Stick it my veins”

Filipa Elites

Desolation

Live My Head

Miau miau miau jump clearer
Miau miau miau jump clearer
Like a cat might kill her

Live my head
With a big jump killer
You got to be kitten
You got to be kid’in
You should be caughten
You got to be kiddin
You should a go pausen
I’m in my hour
You got to be hidden
Your got to be partin’

Cyntia César

Synth ta falta

Precisamos de nada
Precisamos de nada
Precisamos de nada
Precisamos de nada
Cisamos de nada
Ninguém nos falta
Nada nos falta
Nada nos falta
Nada nos falta
I need ah I need Ah
I need ah I need Yah
Nada nos falta
Nada nos falta
Nada nos falta nada nos

Cintya César

Barbárie Pop

Se fossemos pacientes talvez
tivéssemos assistido ao nascimento
da Barbárie Pop o duelo
histórico entre Black
Francis e o Kurt Cobain

oiço gritos ali ao virar da esquina

Diniz Giz

23.6.10

Manuscrito Encontrado em Saragoça

Conversas

Na entrada do palacete havia um pátio murado totalmente possuído por uma borracheira descomunal. As raízes encapeladas abriam-se em túneis escuros que levavam a diferentes portões ou outros pátios. O pouco chão com que a árvore não rebentara era decorado com calçada portuguesa com desenhos incompreensíveis de tanta vez que tinham sido refeitos. Num canto dos muros descansava um banco monolítico de pedra escurecida e por cima tinha um painel de azulejo representando a espada de São Paulo. Era aqui que se costumava conversar...

Zé Chove

22.6.10

Doenças

Doenças. Tudo está doente. A doença é um estado tão natural que nem damos por ela. Somos doentes. Doentes em tudo. No corpo. No fôlego. No carácter. Nas coisas que possuímos. Ás vezes damo-nos conta dalgum quisto, de que nos atrasamos, da sujidade nas costas do nosso casaco, uma dor de cabeça ligeira mas persistente. Damos conta de algumas doenças nos outros, embora a nossa capacidade de observar também adoeça com frequência. Não são terminais. Nunca terminam. Provocam uma ligeira urticária se pensamos nelas. Como estamos doentes não existe um conceito universal do que seja ou não doença. Um hospital cura-nos de maleitas que nos obrigaram a ingerir noutro centro de saúde. Apesar de tudo conseguimos dormir relativamente descansados. Talvez seja outra doença...

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1399  - Jordi Savall
Medico della Peste
Le Royaume Oblie
Cátaros Cathar
Charles de Lorme
Máscara veneziana
Bico de Íbis
A cartola, o bastão para evitar
o contacto físico com os doentes

Tomás Manso

Medecine Interne

Salinas Brancas

Remansos cristalinos nos cantos
Dos olhos pureza estéril do sal
Salinas brancas que atravessam o gesto
Remansos líquidos que amargam o gosto
Geografias as covas do teu rosto
São lagos que absorvo com um beijo

Manuel Bisnaga

Esquecimento ou a Vontade de Desaparecer

Myriam et Mamadou
Guitarras dolentes africanas

O som das guitarras insinuantes africanas na tenda inicial da feira do relógio.
Mon amour ma cherrie

IARN – instituto de apoio ao retornado nacional...
Um homem da banca da fruta na feira do relógio contou-me a história da sua deserção durante a guerra do ultramar. Na altura refugiou-se numa aldeia zulu que o acolheu. Lá viveu 20 anos até ganhar coragem para voltar. Tinha medos das represálias pela deserção. Na altura nem soube bem quando terminara a guerra.
Agora gosta de tentar advinhar de onde são os pretos que vão lá comprar fruta. Sente alguma cumplicidade com eles. Eles nem por isso.
Quanto tempo pensamos que nos levam a perdoar? Quanto tempo leva um país a esquecer que existimos?
Não será o melhor perdão que se esqueçam de nós? Quando é que um país volta a abraçar os milhares que transgrediram a mesma cancela farpada que nós...

Na ânsia do esquecimento que a náusea por vezes provoca no diminuido.

Deuses Lares a quem se oferecia o fogo. O fogo que não podia extinguir-se pois era a chama dos antepassados o sacramento do passado que deve ser honrado.

Um beijo pode ficar marcado na consciência como um acto impuro durante toda a vida e isso é bom. Talvez sejam os melhores beijos...
A memória do gesto brilha como um diapositivo recordado às escuras projectado no silêncio do nosso quarto. Não te esqueças.

Nicolau Divan

Esboço

Almiscarada nava ou nova
Glosa de grosas ou grossas rosas
As grosas e as roças
A garota moderna do colar de pérolas corolas
Formosas borlas envoltas
Em soltas notas folhas vaporosas
Duma toga se esvoa uma névoa
O entorno, o contorno como de bossas
Formosas do torso onde me retorço
Aguento o dorso num escorço de esforço
Mas não lhe toco

Lúcia

11.6.10

Corpus - Sevilla

Scum

Inferno de rapaz que não sossega
Vais bater com os costados num colégio interno em inglaterra
O teu padrinho leva-te por uma orelha mares afora o mar vai esquecer as tuas lágrimas
Alimentado a tabefes britânicos

Paulo Ovo

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...