22.11.13

Ação das Onda

Milhões de olhos crivam a rocha cuspindo a espuma trazida nas ondas engolidas nas fossas de sombra com soluços e sufocos que fazem arrotar mexilhões e limpam os pretos olhos dos caranguejos

17.9.13

XX

Tudo o que é público esterilizado
altamente definido supersónico cristalizado
e eternamente de novo
nos adolescentes que tropeçam nas suas poses
de branco e negro esborratado em amores
incutidos pelo público revistos
por câmaras de circuitos integrados
equilíbrio de sexos garotas de olhar pardo
rapazes de olhar desconfiado
estradas e ruas - carros de noite andando vazios
o tempo da cidade
renovado pelas brisas arrastadas pelos notivagos taxis
encapsuladas nas marquises e cartazes do estado
ninguém acorde ainda(clap clap) só apartir das 6
antes disso o sonho é um veneno a mais
solta os ombros faz os vegetais
em picado tira os martinis
da parede a pele da diva no frio
aço escovado a rua serpenteia
em luzes pelas fachadas de cristal
sussurro ao teu ouvido não existe
o esgoto não existe o lixo,não
não existem pais não passam duma canção
de antigamente existe a ordem e a obediência
existem regras de trânsito e sinalização
existe o comércio a moda e o tesão
que entumesce as avenidas ilumina a sociedade
e nos dá uma razão
sentes no coração palpitar um frémito
no peito o sangue borbulha como um rumor ancestral
ameaça nos teus olhos secos uma lágrima brotar
suspende o pensamento e adormece

5.7.13

.-)

a pedra fecha com pedra a gruta a lama
 cega os rumores surdos do lavrar das raízes
 cada vez mais profundo ecoa no poço
 o gotejar esquecido no escuro sufoco
 frio húmido calabouçoo
 perfeição do silêncio imutabilidade milenar
 beleza sem ar 
congelada escarpada 
e dura a rachadura
 o hiato do que ficou por preencher
 o equilíbrio exato
 das forças sem força que o pó domina
 que a larva carcome
 que o sol ignora
 e a chuva devora
 em soluços de vácuo e tédio secular
 perturbado
 um peito de terra
 um folgo minério
 um templo litostroto onde vagueiam toupeiras,
 cobras, escorpiões, centopeias,
 morcegos, ratazanas e salamandras
 todos cegos os animais mais perfeitos
um silencio que reverbera
 e transborda e se encapela
 feito um mar de invisíveis ondas 
turbilhonadas em espirais de subtração
 alimando e aguçando as superfícies do nada
 a clivagem da perfeição
 é perfeita a harmonia conservada pelo milénio
 desaba e rui por um desiquilíbrio
 emocional um desequilíbrio 
de forças no ar retirado após a decomposição
 duma pata de barata um estertor
 ribomba uma tosse seca arreganha-se
 torna-se violenta
 arqueiam-se as costas e tudo rebenta 

Um pouco mais à esquerda

Depois do tribunal popular ter perdoado o pitbull que matara o seu filho bebê e livrado legalmente a besta de uma morte química indolor, R. quis vingar-se dos donos do cachorro um casal de malhados jovens bem sucedidos, ele tatuado e ela ligeiramente nipônica que moravam num AP umas quadras acima. Salvem o cachorrinho gritavam as teenagers à porta do tribunal lavadas em lágrimas amachucando entre as mãos convulsas fotocópias do bicho decorado com um belo laço de photoshop e ele a uns vinte passos sentado no muro sozinho rememorava aquela manhã trágica em que fora pegar a criança com a mãe para um intenso sábado parental. Acabou condenado à tortura depois de ter sido flagrado a torturar o jovem casal com lâminas e brasas e com mordidelas. As pessoas já não tem o know how das torturas mas açougueiros e cirurgiões nunca hão de faltar e assim tínhamos o dr lamy e o torres preparando o animal. Atado pelas quatro patas introduzia torres um espeto metálico no ânus coadjuvado pelo dr lamy que ia sentindo a passagem do varão ao longo das costelas certificando-se que nenhum órgão vital seria atingido. “Porra torres um pouco mais para a esquerda”

A Call to Arms



claro que agora toda a razão nos manda absorver a força e engolir a raiva que as injustiças dos governos nos despertam, convidam-nos a embarcar no cinismo e a aguardar no conforto de nossas casas o destino que as instituições traçaram como mais adequado à nossa classe. Não nos olvidemos que os bem sucedidos da política hodierna gastaram outrora as suas vozes para serem ouvidos e como se não chegasse ainda perderam dedos. se a veterana classe trabalhadora era robustecida por um passado passado tisnando ao sol vigorada pelo trabalho braçal, a nova classe fervilha de uma nova consciência social, garante-se da facilidade de fazer número para reivindicar e neste novo gigante que se levanta corre todo o sangue esperançoso do imberbe universitário! Pega na bandeira e junta-te à multidão que engrossa!

Chico Buarque

Chico levou minhas palavras
 gastou meus argumentos
 secou minhas ideias
arrombou meus pensamentos
 e eu sua eterna mulher
só eu quem é
 em casa fazendo feijoada
 sonhando com amor sambado (todo sábado)
cortejos cafonas
valsas ao som das sanfonas
 mas chico levou minha história

 e canta no rádio minha memória

Paiol

Meu peito é paiol
 de amarras amarras
 soltas embaralhadas
baralhadas que a nada
 se amarram
 amores de paiol
 que não veem o sol
 só servem se ancoradas
coradas e coroadas do sol
 curadas bem estiradas

 entre a areia e o barco 

Farpas no Celular

  • As metades separadas do limão quem as voltara a juntar?
  • O que dizer em 3k caracteres? Tenho uma fome de bicho. Sou imigrante. Deram-te um nome para te subjugarem deram-te um nome que deves honrar
  • Destroços de mexilhão e gerimum aguadilha de côco o choro do sereno no morro o coroné de cueca passeando em botafogo um porco passeando perto do meu carro uma porca preta as lagrimas assomam-nos aos olhos não é um hífen é um sinal de menos quando o meu amor vai chegar e ao pé da porta indeciso se à campainha ha-de tocar com medo de me acordar me dormir nao vou antes de agente se amar alerta alerta que oiço passos no lobby será ele será?
  • Abram alas pra minha folia abram alas pra minha fobia .
  • Abrem-se as portas da barca sede a ferrugem enquistada ao peso da engrenagem forcada pela massa das ondas. É uma porta aberta para o destino que se afunila míope sobre a fatalidade. Oooooh somos ignorantes.
  • O cabelo segurado num picho nipônico e o casaco de cabedal sem gola os olhos imunes ao que rodeia e o corpo balançando ligeiramente aos ritmos que o mp3 lhe da.
  • Quem nunca levou porrada da policia por contestar no meio da rua o preco da tarifa de onibus quem nunca foi decapitado por não ter pago uma divida não sabe o q é a vida. Adoro qd os universitarios se reunem e fazem parar o transito reclamando de qqr propina sorrio sozinho na rua com a luta por ideais em defesa dos pobres e sorrio tambem com as cargas policiais.
  • Nautilus aeolos. Gosto de os ver falhar quem se manifesta publicamente da um tropecao no meio da agencia bancaria cheia e quem bate em alguém é ridiculo toda a forma de agressão fisica é meio simiesca.


  •  Guardo as minhas vozes atras da porta

cabeça

tinham os crâneos ossudos, sob a pele do grande occipital advinhavam-se mossas e protuberâncias cornuptas e sob tal relevo as veias dificultadas no seu fluxo entumesciam e arroxeavam como os riachos caudalosos das altas serras

Coração

Passos acelerados tentando esquecer nas falhas do alcatrão a culpa que nos persegue quando nem de nós resgatamos o perdão e o choro encharca as grossas nuvens que ameaçam abater-se sufocando a garganta, espera, espera sem desespero que o corpo a tudo se habitua e no fundo o coração é tao pequeno. afoga-o na caneca de cerveja e vomita-o na próxima sarjeta ou entrega-o a alguém ainda mais sufocado que tu e compraz-te por teres salvo alguém. “vem vomita na minha boca coração”

4.7.13

Crochet enfermo

O grande motel de vidro espelhado abre as cuecas para entrarem e saírem os carros, em frente no gramado as silhuetas das estátuas gregas e as palmeiras imperiais iluminadas por neons roxos e verde-inveja.  No grande cartaz um romano chicoteia uma quadriga com um chicote de neon vermelho. Há volta asfalto e galpões brancos e cinzentos.  Por ali um só prédio residencial de 3 pisos entrescondia a lua. O lampião frontal tremeluzia uma insônia freudiana. Uma luz alaranjada no résdochão denunciava uma sombra cadavérica.

 Andava descarnada sarabandando a ossatura de xaile encharcado perdida na sala de estar cogitando nos reflexos deformados dos espelhos dos armários, as pranchas do soalho plangendo como um grasnar da alma da casa, o lamento fraco mas contínuo da decrepitude. Mira-se e o tempo osteoporoso estilhaça-se entre memórias embaçadas e uma mistela de oco e murmúrio como o que ressoa nos entreforros dos salões abandonados.

Porca preta


1.7.13

leite adolescente

Ele dançava dando dois passos com o esquerdo e dois com o direito e estocava os indicadores como se contasse os passageiros de um onibus depois da parada para xixis umdois tresquatro se esbarrava com alguém apontava para o céu umdois fechava os olhos com sentimento e piruetava noutra direção puntzpuntz a noite toda mamando daikiri colas como um elefante furibundo e guloso. por vezes no passo quaternário mimava uma bufinha empinando ligeiramente a peida "bumbum/ aqui estou /arregaça a manga/ e lá vou eu" claro que eram trejeitos meio abichanados mas a sua vontade era só a de beijar uma garota. várias chamavam a sua atenção e com todas elas fantasiava ou por causa do rimel preto que dava algum mistério ou talvez por uns collants malha larga ou um sorriso com covinhas ou um decote suado ou porque lhe parecia que duas meninas falavam de si e dançava frenético como se fosse um ritual tribal convencido que o seu êxtase, a sua vibe se transmitia a quem passasse e contagiava. Interiormente emulava diálogos com garotas sem nunca ter arriscado um oi. por ele podiam arrancar-lhe beijos sem ter de dizer nada mas isso nunca aconteceu. voltava para casa de táxi, comia uma torrada com o pullover a cheirar a bedum fumado arrotava e peidava como se tivesse carcomido de ácidos e os olhos ardiam como tochas. batia uma pivia no lavatório para baixar a tensão e adormecia a sonhar com jogadas de futebol "gingo à esquerda, ligeiro toque à direita, defesa queimado tapando o ângulo de visão do redes e finfa chupa lá para dentro com violência e adormece... esse estágio de pré crisálida pode ter se arrastado por uns 6 anos até que numa festa de carnaval deu uma bimbada num despojo etilizado e dai em diante aprendeu a caçar e cansou-se do daikiri enjoou das coisas doces e fáceis engrossou a voz e tomou o gostou por marretadas nos colhões...

testes

Se não é psicológico ou psiquiátrico deve haver um teste nas farmácias como o da gravidez que através dum palito embebido no mijo ou numa defecada nos diga se estamos homossexuais

Na Cova dos Leões

Desde que parou de orar tanto perdeu um certo pudor e visão beatifica que tinha sobre os homens e os seus pensamentos perderam elevação e candura e tornaram-se mais grotescos e palpáveis não mais reais mas menos metafísicos e julgando mais as aparências perderam justiça e encheram-se de detalhes e repetições. Os presos interiormente dialogavam com os seus respirares que era tudo o que expunha para fora nos primeiros dias. Talvez lhe quisessem fazer mal alguns, tirar proveito da sua inexperiência e da sua solidão. No meio das feras não queiras estar só assim deviam pensar os primeiros cristãos em Roma, com a mente postada em Daniel . Eles liam os seus suspiros profundos e os minutos em que sustinha a respiração. De tão absorto em pensamentos: penetrava as paredes de concreto com o olhar, travava a fila para receber a comida de olhar esgazeado no vapor libertado pelos rechauds. Interiormente remoía os seus conselhos dados à sua esposa: se eu te abandonar procura rapidamente um homem que assuma o meu papel e cuide dos nossos filhos.

Caldeirada de Piranha

O barraco era nos arredores da praia da Luz andava-se meia hora pela serpenteante estrada de terra que leva à praia da Luz. Por entre a mata aos solavancos deixando uma nuvem de pó, cruzávamos pesebres com gente negra de olhar vago ou alcoólatra, casas distantes umas das outras como se todos prezassem a sua solidão ou tivessem algo a esconder da comunidade, por vezes a vegetação acachapava-se escondendo braços de mangue. o sol chapava o tejadilho do carro. Um barraco do tamanho de um quarto todo feito de madeira. Há volta só mato e floresta, lá dentro na penumbra um cheiro a merda de gato misturado com o caldo de piranha, um negão que a cada movimento levantava um cheiro de cu talvez por estar todo aberto e o velho que o comia chupando as espinhas .”come aí isso é casa de pobre mas tá tudo limpinho”. eu recusei sou um pouco enjoadinho. os gatos andavam para todo o lado e os pássaros saltavam frenéticos nas gaiolas levantando penas. não dava para ver os limites do cômodo, a luz que entrava pela pequena janela cegava.  Mais tarde pensava no que leva um homem casado, com filhos adultos, fama de bruto e amigo da bebida a aninhar-se nos braços dum negão em busca de afeto, carinho e sexo selvagem. Depois de descarnadas as piranhas e decepados os temas de conversa começaram a entoar macumbas e o negro acendeu um charuto velho, o breu ganhou densidade. Sentimos abater-se o sono e a custo saímos de casa, entardecia e o calor do dia emanava agora da terra escaldada numa onda morna e pestilenta de mangues em decomposição. um batalhão de mosquitos foi destacado para nos chupar. seguimos a pé rumo à praia, de lá chegava-nos entrecortado pela frondosa floresta,  o som dos fanhosos sound systems dos botecos da praia. Assaltavam-me sonhos de jogo ilegal, caveiras, diabos de new orleans. Por que sigo eu com estas pessoas porque me juntei a elas. Poderemos cortar abruptamente laços de sangue? Ou em certos refogados é nos lícito desejar a morte? O cortejo seguia fúnebre e lancei mais um tema: ” Alguns assassinos são muito burros na hora de encobrir a sua matança. Não falo daqueles que vão até ao posto de saúde tentar matar uma ex-parceira (feia como entulho) à frente de uma fila de espera de velhos com doenças indefinidas, não, falo daqueles que tendo cumprido bem a primeira parte, a da matança cometem erros estúpidos na hora de esconder os despojos da sua selvajaria.

21.6.13

Rio de Janeiro Riot

As manifestações públicas excitam-me. o partilhar de emoções extremas faz desta rua um urbano bacanal em que gememos sofremos exaltamos e glorificamos como umas…
primeiramente amigos: bom dia

nem tão bom que leve a preferir amar no ônibus em vez de no motel nem tão mau que me estupre cada vez que freia e já agora a unidade de intenções duma multidão só poderá ser garantida na sintonia de pedidos simples feitos pacificamente. qualquer exaltação extremada dos ânimos puxando pela força do gigante só provocará o seu desmembramento. Ah e se te sobrevier uma tentação irresistível de vandalizar lembra-te que uma bala de borracha nas partes íntimas doi muito mais que o fim duma relação amorosa apaixonada e que um bastão da PM na cara te pode desfigurar.

Kaspar Hauser

Hauser é a semente calada
que explode nas entranhas do porão
sonhando com os gemidos vagos da escuridão
tecendo entre os galhos da árvore
a música do que apenas conhece
um sonho entretecido de acordares cegos

na neblina de mistério que um dia se rasga
de encontro ao chão frio duma praça germânica
foi o teu purgatório oh bem-aventurado
que tiveste a dita de viver mais sonho e menos realidade
o teu paraíso foi a infância
do anel de luz cintilando atrás das pálpebras

do breu agora floresce

tartamudeando nas pautas do inferno 



2.6.13

issso

Petição
O cais tinha uns pilares toscos de concreto pintado de branco a ponte metalica descendo do cais mergulhando no mar suavementeonde se refletiam nas mansas ondas o guardacorpo e as pilastras azul forte que descansavam na sombra do telhado de fibrocimento. A esquerda uma pequena praia de esquina onde saltam os urubus que a destancia da barca se confundem com as rochas negras de sargaco anos e oleo dos motores das embarcacoes
ali se ajoelhou Célio comovido com combinacao dos esforcos da industria humana com a dadiva divina ajoelhou e orou por um redil onde pudesse acolher um rebanho carente e em busca de renovacao e apesar da imundicie vergou as costas compungido do seu atrevimento exultante de espirito e beijou a fimbria do manto que é a baia de guanabara que se esparramava mansamente por aquelas areias quase rocando os joelhos de Célio

Ação de Graças
O pastor célio abriu o portao da loja numa nuvem de sol e po alinhada com as restantes construcoes da comunidade destacava-se por uma pintura ligeiramente mais recente a sua cabeca fervilhava com os inspirados sermoes que cantaria no meio do povo uma causa ganha na justica contra uma telefonica fora o aval divino aquela empresa o escancarar do redil com uma patada de 6000 reais

Perdão
Eu que preguei o arrependimento arrastado morro abaixo pelos cabelos a cara em sangue feito um cristo negro negro de compaixao

notas do celular 06 - da solidão e da vontade de morrer escrvendo

Nao conheco nenhum escritor pessoalmente, nao sei o valor do que escrevo, nao toco qualquer politica, nao sou aventureiro ou diletante ou farrista ou mulherengo sinto conforto no dia a dia nao me insurjo tenho ideais e esperancas que nao partilho com ninguem gosto de musica mas nao ligo pras letras nao penso em suicidio ou revolucao procuro deus domingos de manha o exito segundas à tarde
Mais que os anos moem-me as saudades

praia da luz I

Um barraco do tamanho de um quarto toda feita de madeira Há volta só mato e floresta, lá dentro na penumbra um cheiro a merda de gato misturado com o caldo de piranha, um negão que a cada movimento levantava um cheiro de cu talvez por tar todo aberto e o velho que o comia chupando as espinhas _ come aí isso é casa de pobre mas tá tudo limpinho. eu recusei sou um pouco enjoadinho. os gatos andavam para todo o lado e os pássaros saltavam frenéticos nas gaiolas levantando penas. não dava para ver os limites do cômodo, a luz que entrava pela pequena janela cegava.

Antares da Rola Souza

testes


Se nao é psicologico ou psiquiatrico deve haver um teste nas farmacias como o da gravidez que através dum palito embebido no mijo ou numa defecada nos diga se estamos homossexuais

goverrno

Malvasias

Malvasias
mal vazias
maviosas
flores da vida
camélias que se julgam rosas
que se alçam nos saltos
de coxas grossas
engates silenciosos
caixas ocas de ossos

Conde de Ornelas

29.5.13

Godés

Mergulham feitas loucas as pigarças a barca das 8h40 esfuma-se
no nevoeiro que esconde o rio de janeiro na proa o
antiderrapante cimentício brilha o céu choroso o vento nas
poças dança como se lavasse arroz ou misturasse tintas todas
as tintas como fazem os meninos nos seus godés de plástico
branco misturam as tintas e a água da chuva sem fechar a
torneira a água balouça e os vermelhos rasgam tudo
prenunciando uma cor raiada maravilhosa como os beirados de
telha numa poça o amarelo recebe entrega-se dá a sua luz não
se vê hoje o sol mas o seu bafo insufla o nevoeiro e às vezes a
luz torna-se mais insuportável aos olhos. as pessoas tossem e
pigarreiam tocam celulares o mp3 só toca canções de que já
estou farto e tenho preguiça de procurar outra. se agora
estivesse a chegar a cacilhas de certo estaria sol e os olores
do tejo enrolados com fragrâncias de frango assado churrascos
grelhados

Cris Manta

objetivos

O nosso objectivo agora é enriquecer comprar uma casa um carro
uma mulher e irmo-nos equilibrando em contas que nos permitam
pagar a subsistência, a nossa e a do estado e dos nossos filhos
bastardos os bancos e se possível acumular para termos umas
férias ou outra merda qualquer que compense a vida de burros
que levamos, damos por nós rezando para que nos saia a lotaria
ou que nos dêem uma herança de algum cadáver que não sabíamos
ser nosso primo, vemos algumas pessoas, todos nós conhecemos
alguém que não aparenta ter de se esforçar para ter tudo
aquilo que nós queremos, aposto que esse quer também coisas que
não tem, coisas que talvez para nós sejam demasiado boas e se
olharmos para trás com certeza alguém pensará o mesmo de nós
como é que aquele babaca se permite alugar um apê de 800 reais
mensais como é que aquela vaca pode ir ao Mac sozinha durante
o almoço num dia de semana estes pesadelos assombram-nos todas
as tardes no caminho casa depois do trabalho

Diniz Malafeita

Surtado

Surtado coração por entre silvas e malvas, o sangue flui na
resina da roseira e a carne faz-se pão, o fulgor do vento força
o fumo a atrofiar os quartos da casa quem nunca escutou um
festivo tiroteio e um pivete de fuzil na mão e as ânsias
que vagueiam entre o sonho de uma casa rustica perto das rochas
e um vencer a lotaria ou uma quaresma de putaria mas o olhar
disléxico de novo afunila na fragmentada rua que trepa morros
fora tijolo escada e escarpa e estilhaços de céu que cegam o
peito é um ermitério cheio de refugiadas revoltas e alegrias
tolas que a boca de pedra sela inventemos então as vozes
interiores com quem desabafar elejamos o cabrão o porco o rei
o anjo dentro de nossa canalização e aprendamos a apreciar o
nosso próprio vómito tenhamos o garbo até de o pintar com
diferentes fragrâncias papilando-o de taninos e sais e molhos
suculentos uma barca cruza o nosso horizonte negro de
guanabara com a sua cintura odalisca de luzes ali no morro
cara de cão fica uma virilha acolá o forte de niterói outra
virilha e o atlântico ah o atlântico não saio. entro em
atlântico

9.1.13

Jurujuvae

vigário por onde andava esta ovelha que me zombava fora do redil.


Jurujuba é a nossa Córsega nosso ninho de marisco nosso esporão afoito entre águas do mar
contemplando o anfiteatro das serras à sombra do Patrício forte ao alto do Pico
(Serras ou morros? concordo com morros.)
Não haverá tristeza por esta terra? Porque insistem em andar em festas?
Em vão choram os chicos seus maiores poetas?
Atravesso na barca já sem noção para onde vou
(onde estão as barcas que nos prometeram para o Natal?)
Praça ArariXVAritas ou simplesmente vou dar um passeio de biciclete dupla toldada
na formosa paquetá e comer um peixe frito em fuelóleo filtrado nas areias baças da praia da luz?
Alá entre as silhouetas dos montes (montes ou morros) a urca o prepúcio do páo de Açúcar
o morro da viúva o rigor do corcovado um câncer ou um cancro neste caso seria de mama
o Rio Sul todo o santo dia pra lá rumo
com o coração nas jurujubas nas praias vermelhas nos itaipavas e nas brahmas e nos cânticos em latim que se perderam e já só se ouvem em surdina nalgumas capelas bem tratadas


treinos de sucker

El increíble rugador de fußball Emilio Putragueño

19.8.12

Cantares de Coimbra


todo o bem que não se alcança
mora em nós como uma dor

Oh belo luar em calda
derramado na cara da água
vieste para me atormentar
que me ia atirar ao mar

se o governo não quer
que eu jovem vá trabalhar
largar o couro pla pátria
o que eu hei de fazer
só me resta agradecer
hei-de passar uma década
pela casa a vaguear
entre o quarto e a sala
coçando o rabo e o saco
mas também hei-de implorar
uma reforma aos 40
para me poder alimentar
e vou cantar com o zeca
ao som da cabra coimbrã
está na hora da cama
não chamem mais por mim

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...