12.7.07

O que é que me distancia

O que é que me distancia dum Pessoa ou de dum Camões?
Será que sentem de maneira diferente?
O que é que os distingue?
Como é que alcançaram tamanho império?
Também me sei expressar.
Será que é importante aquilo da métrica?
Será que tudo tem de rimar?
Que tenho de fazer para que leiam os meus escritos?
O que é querem que eu diga?
Acho que não tenho um divino jeito.
Vou agora olhar os poemas dos conceituados,
para perceber como poderei escrever como eles.
Será das palavras caras?
Terei de comprar um dicionário?
Donde lhes veio tanta vontade de falar?
Será que escreviam para ganhar dinheiro?
Ou seria uma vontade irresistível de exprimirem as suas almas?
E qual seria o seu método?
Trabalhoso ou de rasgos e de génio?
Pelo menos não podem dizer que escrevi pouco,
tenho aqui matéria para um livrito de bolso.
Mas será que vale alguma coisa?
Vou-me comparar com os grandes?

Li alguns só para me inspirar.
Todas as rimas certinhas e a métrica exacta.
As palavras são rebuscadas,
e os sentidos que nos querem transmitir são vagos,
porque a forma é exigente,
e não se podem alongar em extensas prosas,
palavras bem escolhidas e airosas.


Madalena Nova

Corrias no teu carro

Corrias no teu carro pela cidade,
o frio agradável da excitação no ventre.
As luzes desfiavam-se na escuridão,
o cheiro do rio à noite iluminou-me a mente.
Arrepios na pele de maldade.


Filipe Elites

Abandono

Abandono,
ao sol em passos lentos,
sinto ainda o peso do teu corpo,
larga tu também o meu.
Não quis ficar só.

Mário Mosca

A Morte

A morte dançou bem junto,
procurava o beijo de abandono.
Cego cheirando de longe o abismo,
sentia nela algum conforto.

Torpe agarrado ao ventre,
entranhas de gelo repugnantes.
Caiu sorrindo de joelhos,
-vozes longínquas breves conselhos-
gritaria interior "já nada é como dantes".

Os olhos não querem ver...

Lúcia

Metal

Ventre quebrado de bronze tiniu,
o oco frio em sombra brilhava outrora,
na esperança de calor intenso,
aproximaram-se em busca de abrigo,
ofuscados foram pelo metal frio.

Zé Chove

11.7.07

Aurora meu Amor

Segredos de Estado #1

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #1

Estamos aqui para ouvir
histórias curtinhas
e divertidas
monstros, fadas e mitos
novos ideais
de alcançar impossíveis

Madalena Nova

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #2

Sejam benvidos os novos selvagens
rastas de cheiro nauseabundo
preguiças líquidas as urbes invadem
silvas daninhas adormecem o mundo


Filipe Elites

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #3

Não nos importam as questões
que perturbavam a mente dos antigos
A morte a glória, as almas as nações
A praia o sol, cervejas e amigos

Vasco Vides

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #4

Hoje chegaste à cama
sem teres metido conversa
com qualquer bela dama
vais repassando no cérebro
situações perdidas por falta de chama

Ivo Lascivo

Rock_5

Riff básico, bateria fenomenal,
gritos de ordem islâmicos,
terror permitido jovial,
controlado dentro dos fones.

Ninguém ligou ao seu poder,
bem os viam amansados,
mas nas orelhas gritavam-lhes brutos,
trovas de sangue enlameado.

Raiva miúda que vai crescendo,
no imaginário frágil da criança,
corrompida desde início,
por marchas violentas de matança.


Zé Chove

10.7.07

Máquinas de Guerra

Forças que se engancham uma na outra,
cada uma com seu ritmo,
batem forte tempestivas,
guiadas do alto em uníssono.

Cavalgada marcial pelos pântanos,
brutas correm para o embate,
colidem chapas gritos insanos,
morrem brutas de enfarte.

Já diminuídas seguem juntas,
novo corpo de guerra mais perfeito......
(inc)

Zé Chove

Vaidoso

Olhei-me no espelho orgulhoso,
tirei a camisa inspeccionando,
meus melhores ângulos vaidoso,
estou à tua espera, vai te preparando.

O nosso amor é um barco,
no lago do Campo Grande,
poucas ondas, já estou farto,
tenho uma ideia fascinante.

Diniz Giz

O Meu Remédio

Atravessaram o corredor da escola,
armados em cavaleiros da idade média,
ri de desprezo afastei levantando a gola,
olhei as miúdas com acédia.

O frio entrou debaixo do casaco,
nada para fazer aqui morro de tédio,
como mais um bolo insatisfeito,
as miúdas devem ser o meu remédio.


Filipe Elites

Rocha de Som

Rocha de som cuspida em turbilhões,
brutos arrastou a multidão,
vieste contra mim aos trambolhões,
apanhei-te como uma pena na praia.

Tratei de ti que voavas despida,
no meio do mundo desamparada,
olhaste para mim não disseste nada,
juntos enfrentaremos toda a raiva.

Vasco Vides

As madeiras

As madeiras começaram a ranger,
correste escada abaixo sorridente,
saltaste na rua de ar no peito,
gritaste de alegria animalesca.
Cadências novas na cabeça,
não queres incomodar ninguém,
assumes o desafio do autocarro,
olhas de cima as miúdas.
O baixo sedutor fê-las vibrar,
danças ancestrais reboladas,
guitarras de bar mal afamado,
passaste loira rabo de cavalo.
Assobiei guloso rebarbado.
piscaste o olho fiquei pasmado.
Rouca mota do desejo,
acelerei sem capacete contra o vento.
A tua voz demasiado miúda,
fazia-me palpitar de desejo,
repetias infinitamente o meu libido.

Vasco Vides

Loucura_9

Velhote entra no casino,
tiras as calças e salta na roleta,
um negro gordo canta sedutor no palco,
um careca chora por ele apaixonado.

Uma velha grita com um troar de tempestade,
álcool puro em cada ferida,
despojos humanos vidas perdidas,
uma quarentona loira vende rosas tristes.

Falta de memória gritos índios,
tribos devastando Nova York,
putos governando em lisboa,
aviões roxos largando serpentinas de ácido.

Gritos roucos, furiosos,
leões espojados em suas mansões,
gordos arrastados no asfalto,
rímel desbotado em caras feias.

Samba frescos mal dançados,
luxúria gasta e cansada,
más apostas, desânimo à chuva,
vasos de ira barroca rachados.

Cantos angelicais popularizados,
jogando tetris em retretes de ouro,
raiva bruta, cornos de touro,
corpos mortos, estraçalhados.

Pancadaria em trombas de água morna,
breguilha aberta de sono,
adeus normalidade,
viva o grito inox do jovem louco.

Zé Chove

Adolescência

É fácil lutar sozinho,
o que mexe é para abater.
Do mundo escondido
adolescência amarga, dura de roer.

Madalena Nova

Missão

Descem das montanhas com a mesma missão.
Seguem cegos de fúria nas ventas.
Largam tudo: mulher, pai, irmão.
Esmagam tudo quando passam, paixão violenta.

Luzes rápidas com rastos,
fujo rasgando, o vento brutal,
olhos vermelhos dentes cerrados,
estratégia do ataque final.


Paulo

Xutos e Pontapés

Quando pensaste que o ritmo não podia acelerar mais.
Bum! Expludo, rasgo dou-te mais!
E quando pensaste que já arfava.
Pam! Chuto, parto e esmago!
Fica longe!
Em português eu canto e brado,
pensas que fico calado?
Destroço, subjugo, mordo e estrago!

Vasco Vides

Ata-me

A guitarra dedilhada de arame farpado,
sangrou lágrimas de dor,
partiu sozinha errante,
em busca de uma alma semelhante.

Ainda te quero,
é verdade, chama a polícia,
vou te perseguir louco,
ata-me com o teu amor de força.

Filipe Elites

Jovens

Bar halogénico,
problemas da puberdade,
raiva mal contida,
companhia divertida.

Cambada de putos loucos,
aos saltos pela rua paranóicos,
baterias tribais rebaldaria,
rasto de devastação.

Roucos chafurdam na lama juntos,
cantam hinos desesperados,
brilhos nos olhos conquistam mundos,
sonhos heróicos alados.

Rimas podres mal paridas,
saltam da mente como o sangue das feridas,
surgem gastas pouco sentidas,
amalgama de cenas já lidas.

Não querem saber dos outros,
dominam impérios nos seus quartos,
saltam loucos furiosos,
quando os mandam ir jantar.

Mário Mosca

Adulto

Às vezes parece que o sol vai despontar,
aguento com esperança continuo a jogar.
A vida não corre assim tão mal,
vou deixando as coisas seguirem o seu rumo,
não me vou preocupar.

Às vezes lá levo uma cacetada.
Descarrego nos putos,
a mulher lá me amansa.
Vou continuar calmo a caminhada,
o esforço inútil cansa.

Filipe Elites

España

Sonidos de ordenador,
perritos saltitando,
colores garridas en la flor de la juventud.

Filipe Elites

Funeral

Prepararam o funeral com toda a pompa,
mantas roxas nas varandas.
Todos os homens com as melhores roupas,
velhas chorando roucas,
sombria tarde sem fim.

Foi a traição que os levou,
febre,
dor,
onde estão os nossos filhos,
febre,
ardor,
faca aguda cortou seus trilhos.

Ainda soam seus risos marciais,
aldeia em festa orgulhosa.
Recebe agora muda os pueris destroços,
carne podre misturada na guerra.

Febre,
Senhor,
onde está o meu filho.
Lancinante,
amor,
quem levou meu doce milho.
Morte,
dor,
fardo esmaga sufocante peitilho.


Zé Chove

9.7.07

Salto na lama

Salto na lama de novo,
não faz efeito.
Grito no chuveiro,
não se mexe.
Como à bruta,
não se agita.
Bato com a cabeça,
já aflito.
Corro no prado,
desesperado.
Lassidão.


Zé Chove

Ouvi a sua voz

Ouvi a tua voz na distância, tinhas novidades.
Ela entra distraída no meu território,
louca criança esplendorosa,
ela safaneia o meu peso parado.

Pensava que não era assim que se processava,
tá doida só quer dançar, fito inerte.
Sua dança á minha volta desenfreada,
esboço sorrisos polites envergonhados.

Filipe Elites

Lágrimas

Nunca o tinha visto chorar,
juntos na noite conversando,
como se soubessemos tudo um do outro,
e de repente no meio das conversetas,
uma pergunta mais profunda uma chamada de atenção ou repreensão,
e a necessidade de explicar e o pôr a intimidade assim exposta,
doeu-lhe e as lágrimas correram.


Lúcia

ROCK_4

Rock! Já tou cansado de saltar nas dunas,
ao pôr do sol atiro-me sobre as canas.
Miúdas! Já tou farto atiro-me sobre ondas geladas,
soa a mentira, mas são verdades.

Vasco Vides

Na praia

Na praia cheia de ondinhas alinhadas baixas,
vi uma borboleta no contraste das nuvens negras,
choveram lágrimas por ti,
e a borboleta perdeu a cor.

Contemplei dorido o horizonte,
pensei nos nossos disparates.
Acorda borboleta antes do sol se pôr,
tenho a esperança no amor.

Mãos nos bolsos impotente,
ninguém me veja neste instante.
Palhaço triste e desbotado,
borboleta mortiça ao meu lado.

Mas a vida é mais bonita faz te ao largo,
levantei-me brusco irritado,
a borboleta estremeceu de vento,
olhos frios, corpo determinado.

Cravei as mãos na areia fria,
preparado para explodir.
Ouvi tua vós atrás de mim em lado incerto,
parou a chuva e a borboleta voltou a subir.


Lúcia

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...