12.7.07

Traumas de Infância

O pequeno colega invejoso viu-os juntos no galpão escondidos,
e fechou o grande portão metálico,
lá dentro ficou escuro.
Indignados correram tentando impedi-lo,
as suas vozes ecoaram aflitas no cofre.
O bufo correu entre as urzes sob o sol escaldante satisfeito com a sua façanha,
só ouvia as pancadas surdas dos prisioneiros cada vez mais longe.

Moderno

Será que alguém ainda faz estes cestinhos de vime?
que grande trabalhão....
deixem as máquinas trabalhar,
deixem as pessoas descansar,
e usarem o tempo em seu benefício próprio.

Diniz Giz

Rock_2

Não interferirei,
o único som que tens de ouvir é o meu suspiro,
deixa-me ser a melodia na tua cabeça que embalas nos transportes.


Vasco Vides

Mais uma manhã.

Mais uma manhã, mais um dia imposto,
posso forçar-me a dormir,
porquê enfrentar mais um dia?
- quando posso ter-te nos meus sonhos.


Vasco Vides

O Coração

O coração bate só na esperança do teu perdão,
e quantas mais me perdoas mais eu te quero,
só tu podes ver a minha vida do avesso,
não me negues jamais,
não sei que fazer mais,
eu quero-te.



André Istmo

Perdia-se sozinho

Perdia-se sozinho no meio da imensidão do seu país,
andava silencioso por fora,
em que é que pensava?
Provavelmente rezava.

Eu seguia os seus passos feliz também eu absorto em pensamentos,
ou orações ou ideias para o futuro já não sei.
A paisagem grandiosa está sempre calada,
mas diz muito deste mundo,
vai nos dando pistas sobre como devemos pensar.

“És pequeno parecia querer dizer” e outras coisas,
mas nunca se intrometia,
ali à solta as coisas ficam diferentes,
não sei explicar.

Paulo Ovo

Memória

Ficava horas sentada na cozinha,
pensava olhando a mata lá fora chovendo.
Dias que não deixaram marca forte na sua memória,
passam tantas pessoas pela nossa vida,
situações que decerto nos cinzelaram, deixaram o seu cunho,
nalgum canto obscuro da nossa personalidade,
mas não tiveram uma continuidade.

Por isso passaram a um estado que não misturamos com a nossa história,
ficam guardados num depósito pouco acessível,
como algumas salas do hospital de Santa Maria,
que só visitamos se por acaso nos perdermos pelos corredores,
atravancados da nossa memória.

Por vezes essas trailers surgem-nos claramente como se tivessem ocorrido dias antes,
-tia Alice - os tipos das noites no Cais Sodré - um amigo da pré-primária -
o Natal em casa da tia Bola - um jogo de futebol com o Feijão no parque do Alvito - plantar tâmaras nos vasos com o avô Tranito -
um beijo – Lúcia - Vasco - Ana - uma frase - um excesso - êxito - lágrimas -
Que Deus os guarde - que Deus nos permita ver a nossa história toda em cima de uma mesa para que nos possamos arrepender na sua presença para que possamos, compreender o desenho da tapeçaria.


Diniz Giz

Quando eras pequeno

Quando eras pequeno vibravas com as histórias de terror e do inexplicável,
vampiros espíritos e outros monstros,
à solta em noites ventosas,
nalgum castelo ou floresta perdida nos balcãs.

Esperavas que toda a casa estivesse já a dormir quando o silêncio
era mais manso e à luz de um pequeno candeeiro
lá ias sofrendo aquelas doces sensações de medo.

Paulo Ovo

Nesta Antiga Pedreira

Nesta antiga pedreira,
rasgada a céu aberto,
à beira da falésia alcantilada,
à muito que a vida se foi.

O sol realça as agudas arestas,
as casitas dos antigos trabalhadores morrem em silêncio,
no fundo sempre em sombra
poças de água turva jazem.

Olhei do alto como um estranho,
desci num arrepio expectante,
sonhando com a vida desaparecida,
quebrei a pétrea monotonia.

Coelhitos escaparam assustados,
ante os meus passos decididos,
que o grande anfiteatro ecoou,
misturando-os com o barulho do mar.


Carlos Marques

Rua de Pedra

Rua de pedra envolta na neblina matinal,
luz do sol crepuscular,
demasiadas sílabas oclusivas,
encalhavam meu fluído caminhar.

Enveredei por um atalho,
no meio do ondulado e verdejante prado,
vi uma casita ao fundo,
chegaram-me cheiros de lareira.

Bati na porta já gasta,
abriu uma criança olhando receosa,
quando entrei fiquei espantado,
dezenas de miúdos saltavam pela casa.

Falei mas quedei vidrado,
em vez da voz saiu um gemido,
de puto novo chavalito,
olhei minhas mãozitas pequenas e sorri.


Diniz Giz

Focos de luz

Focos de luz dispararam um a um,
alinhados na escuridão,
a recta infinita rasgou o espaço.
Segui aflito com duas certezas,
o chão plano e duro e as luzes do caminho.

Segui a direito sem pensar,
determinado no destino alcançar.
Por vezes clarões laranja,
brilhavam no negrume,
avançava mecânico sem descansar.


Mário Mosca

Trombones do Fim

Trombones do fim do mundo,
chegaram sem estrépito,
alguns nem acordaram,
todos ouviram a doce música,
dos anjos em delírio.

Ficaram moles nos seus leitos,
uma luz intensa brilhou igual em todo o mundo,
fugiram os recantos e as sombras,
calma paz derramada doce,
sobre as almas adormecidas.

Cantos profundos despertaram nosso sono,
onde estão os raios e o trovão?
Fomos atraídos para as águas cristalinas,
mergulhámos no fresco vitalizante dos rios,
seguimos embalados na corrente.

Vimos tudo num segundo,
família amigos e memórias num conjunto,
que nos fez sorrir de alegria,
cheiros puros de flores garridas,
envolavam nossas vidas.

Então um brilho mais intenso explodiu,
ficámos extasiados em tensão,
suspensos no fluído,
era Deus que nos olhava,
sentimos um calor no coração.


André Istmo

Sons apaixonados do tango

Sons apaixonados do tango,
choro de lágrimas do fado,
fumo triste dum cigarro,
no bar noturno fiquei apaixonado.

Bela donzela de negro,
agora as guitarras choram mais alto,
bebi o último copo,
rodopiei á sua volta e saímos para o bairro.

Sozinhos com frio na noite histórica,
mãos dadas com carinho,
cobria com a jaqueta,
e ficámos a contemplar o rio.

Amanhecia quando terminou o filme da sua vida,
sonhámos de cabeças juntas no futuro,
abraçámos quentes e chorámos de alegria,
fatos negros numa massa flutuante.


Carlos Marques

O que é que me distancia

O que é que me distancia dum Pessoa ou de dum Camões?
Será que sentem de maneira diferente?
O que é que os distingue?
Como é que alcançaram tamanho império?
Também me sei expressar.
Será que é importante aquilo da métrica?
Será que tudo tem de rimar?
Que tenho de fazer para que leiam os meus escritos?
O que é querem que eu diga?
Acho que não tenho um divino jeito.
Vou agora olhar os poemas dos conceituados,
para perceber como poderei escrever como eles.
Será das palavras caras?
Terei de comprar um dicionário?
Donde lhes veio tanta vontade de falar?
Será que escreviam para ganhar dinheiro?
Ou seria uma vontade irresistível de exprimirem as suas almas?
E qual seria o seu método?
Trabalhoso ou de rasgos e de génio?
Pelo menos não podem dizer que escrevi pouco,
tenho aqui matéria para um livrito de bolso.
Mas será que vale alguma coisa?
Vou-me comparar com os grandes?

Li alguns só para me inspirar.
Todas as rimas certinhas e a métrica exacta.
As palavras são rebuscadas,
e os sentidos que nos querem transmitir são vagos,
porque a forma é exigente,
e não se podem alongar em extensas prosas,
palavras bem escolhidas e airosas.


Madalena Nova

Corrias no teu carro

Corrias no teu carro pela cidade,
o frio agradável da excitação no ventre.
As luzes desfiavam-se na escuridão,
o cheiro do rio à noite iluminou-me a mente.
Arrepios na pele de maldade.


Filipe Elites

Abandono

Abandono,
ao sol em passos lentos,
sinto ainda o peso do teu corpo,
larga tu também o meu.
Não quis ficar só.

Mário Mosca

A Morte

A morte dançou bem junto,
procurava o beijo de abandono.
Cego cheirando de longe o abismo,
sentia nela algum conforto.

Torpe agarrado ao ventre,
entranhas de gelo repugnantes.
Caiu sorrindo de joelhos,
-vozes longínquas breves conselhos-
gritaria interior "já nada é como dantes".

Os olhos não querem ver...

Lúcia

Metal

Ventre quebrado de bronze tiniu,
o oco frio em sombra brilhava outrora,
na esperança de calor intenso,
aproximaram-se em busca de abrigo,
ofuscados foram pelo metal frio.

Zé Chove

11.7.07

Aurora meu Amor

Segredos de Estado #1

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #1

Estamos aqui para ouvir
histórias curtinhas
e divertidas
monstros, fadas e mitos
novos ideais
de alcançar impossíveis

Madalena Nova

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #2

Sejam benvidos os novos selvagens
rastas de cheiro nauseabundo
preguiças líquidas as urbes invadem
silvas daninhas adormecem o mundo


Filipe Elites

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #3

Não nos importam as questões
que perturbavam a mente dos antigos
A morte a glória, as almas as nações
A praia o sol, cervejas e amigos

Vasco Vides

Caca Acumulada nos Cantos da Pocilga #4

Hoje chegaste à cama
sem teres metido conversa
com qualquer bela dama
vais repassando no cérebro
situações perdidas por falta de chama

Ivo Lascivo

Rock_5

Riff básico, bateria fenomenal,
gritos de ordem islâmicos,
terror permitido jovial,
controlado dentro dos fones.

Ninguém ligou ao seu poder,
bem os viam amansados,
mas nas orelhas gritavam-lhes brutos,
trovas de sangue enlameado.

Raiva miúda que vai crescendo,
no imaginário frágil da criança,
corrompida desde início,
por marchas violentas de matança.


Zé Chove

10.7.07

Máquinas de Guerra

Forças que se engancham uma na outra,
cada uma com seu ritmo,
batem forte tempestivas,
guiadas do alto em uníssono.

Cavalgada marcial pelos pântanos,
brutas correm para o embate,
colidem chapas gritos insanos,
morrem brutas de enfarte.

Já diminuídas seguem juntas,
novo corpo de guerra mais perfeito......
(inc)

Zé Chove

Vaidoso

Olhei-me no espelho orgulhoso,
tirei a camisa inspeccionando,
meus melhores ângulos vaidoso,
estou à tua espera, vai te preparando.

O nosso amor é um barco,
no lago do Campo Grande,
poucas ondas, já estou farto,
tenho uma ideia fascinante.

Diniz Giz

O Meu Remédio

Atravessaram o corredor da escola,
armados em cavaleiros da idade média,
ri de desprezo afastei levantando a gola,
olhei as miúdas com acédia.

O frio entrou debaixo do casaco,
nada para fazer aqui morro de tédio,
como mais um bolo insatisfeito,
as miúdas devem ser o meu remédio.


Filipe Elites

Rocha de Som

Rocha de som cuspida em turbilhões,
brutos arrastou a multidão,
vieste contra mim aos trambolhões,
apanhei-te como uma pena na praia.

Tratei de ti que voavas despida,
no meio do mundo desamparada,
olhaste para mim não disseste nada,
juntos enfrentaremos toda a raiva.

Vasco Vides

As madeiras

As madeiras começaram a ranger,
correste escada abaixo sorridente,
saltaste na rua de ar no peito,
gritaste de alegria animalesca.
Cadências novas na cabeça,
não queres incomodar ninguém,
assumes o desafio do autocarro,
olhas de cima as miúdas.
O baixo sedutor fê-las vibrar,
danças ancestrais reboladas,
guitarras de bar mal afamado,
passaste loira rabo de cavalo.
Assobiei guloso rebarbado.
piscaste o olho fiquei pasmado.
Rouca mota do desejo,
acelerei sem capacete contra o vento.
A tua voz demasiado miúda,
fazia-me palpitar de desejo,
repetias infinitamente o meu libido.

Vasco Vides

Loucura_9

Velhote entra no casino,
tiras as calças e salta na roleta,
um negro gordo canta sedutor no palco,
um careca chora por ele apaixonado.

Uma velha grita com um troar de tempestade,
álcool puro em cada ferida,
despojos humanos vidas perdidas,
uma quarentona loira vende rosas tristes.

Falta de memória gritos índios,
tribos devastando Nova York,
putos governando em lisboa,
aviões roxos largando serpentinas de ácido.

Gritos roucos, furiosos,
leões espojados em suas mansões,
gordos arrastados no asfalto,
rímel desbotado em caras feias.

Samba frescos mal dançados,
luxúria gasta e cansada,
más apostas, desânimo à chuva,
vasos de ira barroca rachados.

Cantos angelicais popularizados,
jogando tetris em retretes de ouro,
raiva bruta, cornos de touro,
corpos mortos, estraçalhados.

Pancadaria em trombas de água morna,
breguilha aberta de sono,
adeus normalidade,
viva o grito inox do jovem louco.

Zé Chove

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...