27.1.08

Tédio Melancólico

silenciosa e morna
tremia-lhe o peito agoniado
as unhas cravadas na almofada
de joelhos no tapete ao pé da cama
quando olhava pela janela do meu quarto

pela janela do meu quarto
distingui ao longe o ladrar dos cães
cigarras no silêncio
harpas de desejo
o céu enfermo e triste
sem saber vontade morta
sem centelha
com sol brando morto
e sem paixão ou afazer
que me mova

o céu roxo
silhueta do carvalho só.

Diniz Giz

21.1.08

Arrábida

Sei duma chafarica lavrada na rocha
Numa falésia à beira mar
Sou sempre bem recebido
faça chuva ou faça Sol
No pino do Verão
camisa desabotoada
chanatas
e calção

sentado cabeça e o peito à sombra
contemplando o oceano ao Sol
em toda a área se sente o cheiro
mistura de assados, acendalhas,
sargaço e alcatrão
e das crestadas urzes da serra ao Sol
enquanto espero pelos chocos
a imperial gelada e a pele estala
ao longe, cegam-me os reflexos
do mar nas ondinhas feitas
pelos barcos de pesca ao Sol

Nicolau Divan

Spazzatura III

Língua gretada e pustulosa
orgulhosa e cheia de sangue

Fuça de porco entumescida
roxa e saturada de micro-veios palpitantes

Gorgulhos na virilha-assada ______sorolho
lodaçal de pus onde cândidos bambis
dessedentam a sua sede de saber

o mar enchendo com fúria as covas e os poços dos rochedos

Oh anormal engoliste uma granada
Boca do Inferno

Amendoeiras e rouxinóis

Craquelette de caganeira
dissolvendo-se em lagos azuis de ácido

conversas bafientas de gordos rosados
sob as dificuldades da vida no caminho pró trabalho

distanias tristanias dinastias
D Afonso Henriques
D Sancho I
D Afonso II
D Sancho II
D Salazar
D Soares
D Solares
D Sanzala
D Sancholas
Infante=Não Fala

Choros lancinantes de ciganos
Bafos de mijo seco
napron de bosta escafiada
bajulador oleoso
laranjas podres nos sovacos
saliva sulfúrica
e cáries barradas de merda
sopa de pescoços de cadela jovem
e unhas de galo
risos temíveis de africanos treinados para matar
há muito sem nada para fazer
O escroto assado
incisão da crosta – antro de larvas suadas
dançando ao som da sanfona
ralos repletos de esterco empapado
barrigana com pregas exalando chulé
podridão fecal fétida
charuto ensopado de vómito bilioso
criatura de dois tóraxes
e ente os dois uma cordilheira óssea

Toscano Tucano Texano
Melíade Dríade
Vidro Cinzazul fulvo
Noigandres – d'enoi ganres

Almofadas de cinza de tabaco
e mijo de gato
alcatifa com ácaros da geração passada

Jezebel Crown
Diadem frown

O poder da novidade
a capacidade didáctica da experimentação
para ele a experiência e a busca constantes
de algo mais belo funcionam e têm bons resultados
...as cores podem ter vários significados
dependendo fundo ao qual se sobrepõem...

Quando estamos desesperados
falamos com uns anjos
e deixamos que a melancolia nos invada
não somos nenhuns santos

Lavramos o solo
em busca de novas palavras
em vão busquei consolo
em terras de mal dizer e escárnio

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Em vão fugi do teu olhar
só me deixou mais intrigado
meu coração não parou de saltar
na dúvida se de mim terias gostado

mas em vão voltei a olhar
teus olhos resguardaste em mistério
e uma ânsia louca de os beijar
osculare oculus tuus desiderio


como o amante pressente
no escuro a sua amada
como vê o escultor no ar a forma
como vidro visto debaixo d'água

Não consigo coordenar as duas mãos
não tenho um comando central
os pés não seguem o rumo
que apontam os olhos
.................................................................
A levada fresca d'água
com fundo de areia purificada
nas margens canaviais de vento
em que se escondem as rãs

e na curva onde transborda a água
está deitada Ofélia
à sombra do grande carvalho
de olhos semicerrados

Quem conta a sua história?
Será prazer ou sofrimento nos seus olhos?
Será que espera alguém?

Será que dorme?
Será louca?
Estará morta?

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Cajarana
salafrário
rançoso
Carnocho
crápula
cafageste
judiador
usurpador
calinas
bisnau

Oh ignorância opaca
-O homem é racional?
“Hei-de interromper os meus cálculos
a descer para mastigar uma fatia do cu do porco?”
Acabe com o apetite
e destrói a humanidade!

Zé Chove

16.1.08

Aquecimento Global

Archivo de imagens #19

Spazzatura I

Imagismo-vorticismo-monólogos dramáticos
personae-máscaras-veritate-misticismo

PJ - Poetry Jockey
Copia, inspira-te adapta toda a poesia existente.
Recauchuta ideias e sentimentos
provocados por outras formas de arte.
Mimesis da mimesis – a cavalgada final

Ceausescus
Ionescus
Gestos bruscos
simiescus
Jorge Buescu
Capelas de afrescos
Textos cheios de arabescos
Arroz de legumes frescos
misturado com restos

We don't need tha key we'll break it

Memória falha a cada passo
perdido na sala de jantar
deserta noite de Natal
em silêncio puro silêncio
violado, pela sereia da ambulância

Aqui temos toda a casta de negros
este é quase verde o outro é quase azul
este com cabeça de apito, este com cabeça de tamanco,
este cheira a catinga e o outro a Louis Vuitton

Somos totalmente livres
Podes escrever qualquer barbaridade
juízos temerários são bem-vindos
emporcalha o nome dos ministros

Sarkozy ne rime pas avec Bruni

Mas acautela-te dos maus espíritos
“eles” podem dar-te um corpo novo
mas temo pela tua alma
esventram-te o corpo mas não se compram baptizados

“Your mother is dancing outside
with spirits
her eyes are vague
the hair and clothes are wet”

não confundas o sinal de partida do metro
ou a gaita do amolador
nem sequer a merda do despertador
com as cornetas do Apocalipse

Zé Chove

Spazzatura II

A inobservância dos rituais conduz à lassidão

Danças com equilíbrio das tranças
estão os músculos em tensão
o contraste do negrume e os flashes
e posas toda a sensualidade sobre as botas
estático suspenso no teu olhar enigmático
Frenético frémito eléctrico

Música prós fachos
lailarós

Agobiado
“Chora sobre o meu ombro. Confessámos.
E mais certos de nós, mais um do outro,
mais impuros, mais puros, nós ficámos.”

Todas as noites sai à conquista do mundo
evolada mansamente das águas mansas do mundo
a neblina esconde tudo num torpor profundo

Lábios plúmbeos
bombeando o sub-bass
undertones sob a lama
bubbles

Flávia você não falha
é flecha de folha e farpa aguçada

Oblongas nuvens sem fundo
onda a banda dumb abandona a monda
passam Almonda e a Brandôa
uma bimba bambola a bunda
bondade e alabanza
lambe o fundo do balão de brande
laudanum furebundo
embate brandamente a onda ao fundo
and bend down oh obnubilado
Ana não sondas o anel
no meu anelar?
não te lembra nada?

“Com asas quer ele, como com chamas,
ficar diante da tua face sombria
e quer, à luz clara delas, ver
se os teus cenhos escuros o condenam.”

Visitou-me o mafarrico
em sonhos
sentado no escuro do passeio à chuva
adensou-se com um sorriso
que alentou a minha vontade
de certeza confiante

Tentei fixar o seu rosto
já só lembro o esgar
a normalidade pacata
o piscar do olho
quando me viu a afogar

“Dá-me, ó meu Deus um temor filial, que me faça reagir!”

A máscara do leproso
não lhe disfarça o fedor
cipriotas-agiotas-poliglotas
queimem as gaivotas

Wash my back
avec savon de marseille

Zé Chove

15.1.08

Gangsta Rap

Não tens medo da vizinhança?
Nunca te degolaram ao virar da esquina?
Nunca te enfiaram lâminas pela retina?
Não te batiam quando eras criança?

E não tens medo da sociedade?
Nunca foste esventrado
em plena praça pública com um machado?
Nunca foste oprimido pela autoridade?

E não tens medo dos médicos?
juramentos à pressa de hipócrates?
que te anestesiem e envenenem com remédios?

Não tens medo do estado?
do Mário Lino, a ASAE, Loçã e o Sócrates?
Não tens medo de ao sabor da lei seres violado?

Lúcio Ferro


Descansa a vista #14

9.1.08

Week thoughts

-Week thoughts-
em todo o lado

Ontem não tinha nada a agradecer a esta vida
bastou um passeio para tudo mudar

___e não te esqueças de tomar os comprimidos
se sempre vier a sensação de náusea

O petróleo entranhado nos ninhos das gaivotas
mashed potatos and stuff like that
“Elisa, de jêto manêra”

'sta noite
(ao vol)tar do trabalho
labuta, dura, labuta
sumário mental
passado em contas
Le chiffre du jour

Esta casta de mulher foi descontinuada
posta for a de circulação

dá-lhe chumbo, dá-lhe fio

___e s'a tua alcova aquece como um inferno
___podes ter pesadelos

arte e cultura
__arte e usura
carne e sutura
__bife e nervura
alma em secura
__horticultura
ultra levure aaaahhhh

polígonos de laranja e preta sombra
corbusiana luz engripada

sequências lógicas de grafittis
__discotraxx nos ouvidos
pensamentos em electroclash

Existe uma razão que te confirma
mais que as outras

__e fatias, lembra-te são só fatias
fininhas de fiambre

crème analgésico

metro-cidade veloz
berra com estrépito
sem parar nas estações

preta de cabelo cristalizado em gel
vestido às bolas
pérolas de plástico amarelas

Nijinski o grande bailarino
___________ficou louco
andava nos alpes sozinho
e ouvia Deus

Eu fui à terra do bravo
brado também
brado também

Um sorriso judicioso de estrela que
___brilha na noite
escura do meu coração que
___é teu

__testosterona
Manifesto

“Dar mais importância aos sentimentos
e imagens que a música desperta
que ao sentido das letras.
Ir incorporando...”

___e a pedra esconde o opus incertum

___e não é uma história
Tzigane and the ebony in dark conspiracy
____já no quarto
_O sol em si
__O dom tem dó
_____e em sonho
Um pião luminoso – chorando estará
pois um dia não soube cuidar
_________e olhando pela janela do trabalho
vi esmagarem o melro sobre a velha mesa da cave
donde se libertaram vísceras de humidade noturna
e insectos do húmus
_________e avistei
Aperta-o-papo a mais um boss da noite
quem te dera abraçares máfia
A pomba moribunda geme toda a noite
dentro de caixote do lixo em sacos das compras embalada
________e novos elementos arquitectónicos
poças do grego no paredão lambidos pela água do mar
“Routine doesn't amaze me
but strokes me all the time”
______e todas as noites sangro das gengivas
____e acordo de dentes coagulados
___e na retrete
topaz...amarelo...laranja...
_____the scale should be
________rosa, carmesim, vermelho
Ezra nunca será velho

_______e olhando o Quiosque
.....50 anos atrás – estamos em 2008
...30% da Turquia era cristã
..Capadócia monumento morto
lar do vento e do turismo
_______e extremamente imenso
“a poesia não consiste
___em partir as frases dum texto
em prosa em trechos
mais pequenos
__para isso temos
____as colunas do jornal”
_________E flutuando na internet
..Organizemos uma festa em Kouloon Walled City
miasmas de fritos e roupa lavada a secar
__________E o nome do rato é, é ,é Remy
__sex, sex, sex ...sexta-feira completada pelo PC.
Aos 13 anos descobri a cura prás constipações
andar sempre agasalhado
____Three girls circle overhead.
I am coming Lord; I am coming, for the door to Thy kingdom lies
_not at my head but at my heel.
__________Call me under.
________& Prepareth thee my way
____________E passeando à noite na rua
CUIDADO! Se a cama aquece muito
tens pesadelos
__________e acordei a chorar angustiado
adoro o teu cabelinho molhado
a cheirar a johnson's
acorda a minha infância
_____faz pouca espuma – é certo,
mas __tem um cheirinho...
and abuse of cosmetics
_________e junto ao balcão
.......Manjericão e Rúcula
fleumas na passerelle
_________e no metro
guinchos ululantes
de baleia nas escadas rolantes
____Galeria-oca-tíbia
_Um bebé sorria todo lambuzado de chocolate
_________e fui imaginando
as relações no seu rosto
entre pálpebras – olhos e maçãs do rosto -
nariz era idêntica
à observada nos babuínos
ou seja, tinha um aspecto selvagem.
____Olhe depois arrume-me a secretária
___Olhe depois não se esqueça
______Olhe não se atrase
___________E no Sábado à tarde
_______aura pétrea
______despida
_____austera
____mística
galerias de gélida palidez
paredes de escovado calcário
impermeáveis ao cheiro da chuva lá fora
devido ao poalho microscópico
aquela que fica entre os dedos e deposita nos pulmões
a pele crispada de frio
os pés agrafados de frio
dolente et lorente lamentatio
ecoando e guinando no calcário


Orlando Tango
Descansa a vista #13

6.1.08

Jardim Português

Os muros sombreados, a água calma e o sol devorador, a intimidade e a mistura entre trabalho e lazer. A mata, o pomar, a casa escondida com o jardinzinho de recepção em frente, a seara de novo envolvida pela mata, os caminhos claros curtos de terra batida, o cantinho das ervas aromáticas e medicinais o recanto predilecto das senhoras. O pequeno coberto de sombra fresca o banco corrido e o som da água a pingar.

O jardim é consciência da paisagem. É vislumbre do belo através dos olhos de um povo. O nosso jardim é pleno de intimismo, franciscano na austeridade. Criador de oportunidades de encontro. A natureza é actuante não é paisagem.

Conheces o país onde floresce o limoeiro?
Por entre a rama escura ardem laranjas de ouro,
do céu azul sopra um arzinho ligeiro
eis que se ergue a murta calma, olha o altivo louro!
Conheces?
Oh! Partir! Partir!
P'ra lá contigo, Amado! oh! quem me dera ir...


As paisagens em Portugal são ricas, diversas, imbricadas, promíscuas. O desenho dos nossos jardins é rico, desregrado mas não aleatório, é caprichoso. O nosso jardim é ser e estar. Juntamos o útil ao agradável. A atitude contemplativa perante a paisagem é de bom português. Os jardins portugueses não são para percorrer mas para estar.

A laranja é um símbolo do jardim português – sempre foi uma das nossas maiores fontes de riqueza.

O nosso jardim é chão.
A matriz da horta é transformada, evolui presa a questões práticas e as pessoas enriquecem o espaço, tornam-no agradável fazem o seu jardim. Horta, pomar e mata estão sempre presentes só a região dita as diferenças. Os espaços são separados por muros ou buxo e cada espaço tem uma porta, uma entrada. Fazemos a desmaterialização dos muros de suporte, assim fundem-se com a natureza, no sul com azulejos e no norte com sebes, mas não topeamos as sebes.

As arquitecturas de prazer são espaços de estar e usufruir. No jardim funcionam como rótulas ou elementos articulantes entre os vários espaços. As casas de fresco e os sítios para sentar.
Os percursos da água e os caminhos ligam os diferentes espaços e estabelecem eixos de composição dos espaços. Água utilizada de forma clara, calma, natural, sem teatralidades, com carácter funcional. Por vezes temos os percursos demarcados com as latadas. Não precisamos dos artefactos espectaculares dos jardins do norte da Europa cá o espectáculo é a luz do sol e a riqueza dos espaços feitos como cada um gosta...

Orlando Tango

13.12.07

Alimento Espiritual

Pancadaria entre Anjos e demónios

Thunder Underground

Soterrado
Asfixia mórbida
Ao mofo identificado
angústia permanente indefinida
pulmões opressos
e boca cheia de terra
estagnado entre matéria
sem progresso
cada pazada do coveiro
ribomba, faz trepidar o corpo
ânsias de laje, anseio
viver vida de morto

Zé Chove

Azeite com alho picado e ervas aromáticas

Gregos e cipriotas
refugados balsâmicos
sol refulgenta minaretes islâmicos
bazares negócios poliglotas

entre refúgios balcânicos
mulheres gritando nas lotas
sol brilhando nos homens nas frotas
enseadas paraísos mediterrânicos


Lúcia

State of Things

Extirpados pela faca romba do estado
bolsos e ânimos rotos
dois vultos para cada lado.

Horas e horas às escuras
No café. Fechado. Na penumbra
desfocando os transeuntes
lá fora o frio das geleiras
e as borras frias
entumescidas no cinzeiro
cornetas fogosas de orgulho ferido
memórias a dois sem trilho
dissipadas nas neblinas da floresta
passos solitários penando o troço que resta.

André Istmo

Atmosferas #1

Silêncio
a atmosfera noturna
depois da festa
na frescura do terraço
arrefece mais um prazer que passou.

Nada dura nesta vida
tudo tem a duração duma pilha
que faz mover, dinamiza
num momento
e se fina
em silêncio.

Rui Barbo

Dr. Jekyll and Mr. Hyde - Victor Fleming 1941


Tópicos de Consulta

  • Gazes Soporíferos
  • Erros no Sistema
  • Treblinka
  • Senhoritas
  • Aberta Zona de Vírus
  • Morte Lenta
  • Regresso ao Dentista
  • Top-Top
  • Morsas Lavajonas
  • Cães Sarnosos

- A Administração

Madalena

A palavra Madalena
tem um volume na boca
equivalente ao de banana
ou anona.

Os enes e os às juntos
dão à palavra uma textura
branda mas com alguma consistência
uma carnosidade que se desfaz
entre a língua e o céu da boca
“pomo franco”
que permanece firme
mas que um bebé esmaga
com manitas almofadadas.

Além disso é doce.


Nicolau Divan

Pricípio Modernista

Verticalistas
arcadas de progresso
ventanias
70 nós de vento fresco

incontinente
Betão decrépito
urinou ferrugem
cenário psicadélico


.....depois acabo o que falta....


Filipe Elites

7.12.07

Alma Penada

Foi condenado
a viver encarcerado
numa conduta metálica
de ar condicionado
na antiga fábrica

Despojo total
Dor infligida sem igual
anos e anos de escuridão
frio e ardor infernal
espírito trefilado à solidão

Lúcio Ferro

Quilhado

Embora não tenhas pedido
não te faltam temas
tens sido analisado em todas as direcções
tás farto do álcool
em todos as feridas

O cérebro enfaixado
queijinho morno e amanteigado
melodias e visões queridas
não o deixam extravasar

Tarefas
Nem pensar nelas

Esconde as chaves
amortalha os teus enigmas

Nicolau Divan

Os Porcos

Todos os porcos
comemos da mesma malga
foçando todos à uma
com estrépito e fúria

confusão de corpos
grunhidos
estardalhaço e rebelião
sombra densa da pocilga

um suíno abrutalhado
esfacelou duma tranchada
meu focinho
gritei como um humano

o sangue jorrou escuro e quente
empapando a ração

toda a vara em alvoroço
vibrou gulosa
varada com o sabor do sangue
e lançou-se em estrepitosa cavalgada
sobre o meu corpo estarrecido

gritei apavorado como um homem


Zé Chove

Good Vibrations

Sun is shining, the weather is sweet
Yeah! Toma carraspana
Dormir na praia
dia em delírio
misturando os sonhos
de areia e mar
Sun is shining
lift our heads and give jah praises
Make you want to move your dancing feet
As Cadências de Verão
Preocupações evaporadas
To the rescue, here i am
y'all, where i stand
Vozes alegres Yeah

(rewind)

de novo a doce melodia
tonturas paradisíacas
junto ao pontão
i'm a rainbow too
chuca-chuk chuca-chuk
corpos langorosos
moldados ao areal
o calor e os cheiros
rochas banhadas pelo mar
o carvão, o creme solar
(monday morning) here i am
Want you to know just if you can
(tuesday evening) where i stand
(wenesday morning)Tell myself a new day is rising

Mário Mosca

Anthologia de Textículos #3

A Leste do Paraíso / John Steinbeck

"Ao monstro, o normal deve parecer monstruoso, visto que tudo é normal para ele. E para aquele cuja monstruosidade é apenas interior, o sentimento deve ser ainda mais difícil de analisar, visto que nenhuma tara visível lhe permite comparar-se aos outros. Para o homem nascido sem consciência, o homem torturado deve parecer ridículo. Para o ladrão, a honestidade não é mais que fraqueza. Não esqueçam que o monstro não passa de uma variante e que, aos olhos do monstro, o normal é monstruoso."


25ª Hora / Virgil Gheorghiu

"«A vida nunca tem um fim objectivo, a não ser que assim se chame à morte: todo o fim real e verdadeiro é subjectivo». A Sociedade Técnica Ocidental quer oferecer à vida um fim objectivo. É a melhor maneira de a aniquilar. Reduziram a vida a uma estatística. Mas.: «Toda a estatística deixa escapar o caso único no seu género, e quanto mais a humanidade evolui, tanto mais será a unicidade de cada indivíduo e de cada caso particular que contará». A Sociedade Técnica progride exactamente no sentido inverso: generaliza tudo. «Foi à força de generalizar e de investigar, ou de colocar todos os valores no que é geral, que a humanidade ocidental perdeu todo o sentido dos valores do único, e, por consequência, da existência individual. Dai o imenso perigo do colectivismo, quer seja compreendido à russa ou à americana»."

«»Conde H. De Keyserling

5.12.07

Páteo das Cantigas

Bazel Tov!

F.U. Like Curtis
across the street

Venha daí vizinha
manchemos as toalhas
brancas de vinho

Dançai ao som do acordeão
vinde rapaziada saciai a vossa fome
praça pobre de granito e parras
ao sol
risos dos gaiatos
alegria simples
tarde fora

gerações d'aldeias
todas festejando à uma
numa praça sem limites

miríades de bimbos
saltaricando ao entardecer
soltai foguetes
já se aproximó anoitecer
soltai toiros, soltai mascarados
soltai o juízo, engoli-o com loucura
junto à fogueira
crianças contentes embriagadas
soltai foguetes

Diniz Giz

Inícios

Adora a indefinição dos inícios
a emoção de não saber o que
se ganha ou que
se perde
o sol e a lua desfocados
na mesma tela
bruma de ideias primordiais
confundind'o presente
carregando todos os horizontes
de luz temblorosa
e amistosa
que tudo faz brilhar como
se tudo fosse bom

Lúcia

Paredes

Cantos de paredes
Grossos de reboco
espesso e branco
tradicional e tosco
conduzind'as nossas vidas
com curvas, planos e quinas
através dos anos e dias
branc'azul, branc'amarelo
branco verde, branco branco

Carlos Marques

3.12.07

Dans la Bonbonnière

Todo momento foi cunhado
com o selo branco da fatalidade.

Bastava a sua presença
para nos agoniarmos na vertigem
da imponente e fria
penha da moralidade.
Temor permanente temor
de sermos destrinçados pelo seu olhar
e em vez de luz
mergulharmos nas trevas.

Poupa-me das tuas revelações.
Prefiro ignorar o poço e o pêndulo
vaguear nas escuridões.

Sirvam-me a aconitina
dans la bonbonnière.

Lúcio Ferro



PS: toma lá bombons

Sopros

Sopros sonoros arrastados,
eles chegaram de novo,
almas mortas do outro mundo,
enchem de calma as tardes de verão.

Enchem o parque de melancolia,
movem-se sem se mover,
sons de mel e fantasia,
olhos baços, curvas de mulher.

Sobem seus halos mais alto no céu,
estamos vencidos deitados na relva,
contemplando extasiados,
os seus lamentos de madrugada.

Lúcia

Tzigane

Tangos russos gogolianos,
vodka marinheira em coxa argentina,
fados toureiros vitoriosos,
cornetas na noite mourisca.

Narguilhés de tempos imemoriais,
tarimbas soam internacionais,
danço o mundo apaixonado,
pelos portos abandonados.

O mar é minha cama,
solidão da estepe calma africana,
encantador de serpentes insegurança,
incenso e cheiro a barro.

Violinos ciganos à fogueira,
vagabundo no sangue irrequieto,
lágrimas sorvidas terra sedenta,
morrerei na terra infinita.


Zé Chove

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...