E os gritos imprimiam um carácter
de adoração e temor implicito
aos predicados, não vos escandalizeis
infiro-o das palavras. E assim
se equivaliam deus e o bronze das
raparigas estrondosamente
expulsos da garganta com a mesma violência.
Mário Mosca
3.2.10
DNÇ
Um som estranho deve soar primeiro
Uma baforada de incerteza
Que desperte a curiosidade
Um ronco vindo de longe
Aveludado e ancestral
que hipnotize rasgando as planícies da memória
e desperte a vontade de “dançar”
dançar enquanto acto essencial
de expressão dum sentimento
que as palavras não saibam dizer
que o cérebro não saiba formular mas
que um frémito irreprimível da vontade
se derrame em calda de movimento interior.
Filipe Elites
Uma baforada de incerteza
Que desperte a curiosidade
Um ronco vindo de longe
Aveludado e ancestral
que hipnotize rasgando as planícies da memória
e desperte a vontade de “dançar”
dançar enquanto acto essencial
de expressão dum sentimento
que as palavras não saibam dizer
que o cérebro não saiba formular mas
que um frémito irreprimível da vontade
se derrame em calda de movimento interior.
Filipe Elites
Primavera
Revela-se o navio.
Libertas por fim da agonia
Dos cabos respirem
As velas com um silvo.
Do fogo opresso pela vergonha,
Toda a musculatura comprimida
Brota desperta por uma visão de primavera.
Os dedos tremem com um impulso
Irreprimível mas sem objecto.
O peito, profundamente matutino,
Grita como a águia esfomeada.
Os pessegueiros afloram às maçãs do rosto,
E em fonte inesgotável lança-se dos olhos
A alegria-delicadeza com um travo de sangue
Que pela saliva se expande.
Mário Mosca
Libertas por fim da agonia
Dos cabos respirem
As velas com um silvo.
Do fogo opresso pela vergonha,
Toda a musculatura comprimida
Brota desperta por uma visão de primavera.
Os dedos tremem com um impulso
Irreprimível mas sem objecto.
O peito, profundamente matutino,
Grita como a águia esfomeada.
Os pessegueiros afloram às maçãs do rosto,
E em fonte inesgotável lança-se dos olhos
A alegria-delicadeza com um travo de sangue
Que pela saliva se expande.
Mário Mosca
O Rio
Uma parede de xisto ressequido
Descansando até ao rio
Tingido de ferro uma calda de óxido milenar
Beijando infinitamente a superfície calma da água
A erva brava dava-nos pelos joelhos. Os nossos
Corpos desenhavam-se angulosos mais escuros que a sombra
Dos salgueiros que húmida nos envolvia
“Oh margens de penumbra perpétua” já cantava o poeta
Dificultam o acesso às águas do lago
Resguardam-se nos espinhos, amuralham-se em raízes,
Encavalitam-se os rochedos, abruptos como dentes arreganhados
E apodrecidos de negros limos, espantam os estranhos com detritos esvoaçantes
Trazidos pelas tumultuosas águas de janeiro,
Troncos esfiampados de longas barbas, silvedo e vestuário gasto das crianças
Afogadas no rio...
Assim que os nossos pés tocam as águas superficiais exaltam-se os girinos e pequenas rãs castanhas. As lamas intactas quebram-se em nuvens polvorosas, turvam-se os pés.
Removemos os galhos em decomposição com os dedos dos pés com se fosse um ossário submerso.
A excitação é para alcançar o sol que nos cega a três braçadas da margem. Perto de Alcafache o rio diverge em múltiplos canais formando negras e impenetráveis ilhas de lama negra e malária mosquiteira.
Rapidamente os fundos se tornam de areia. A brutalidade das torrentes invernais esculpe anualmente o leito do riocom novas fossas e cristas arenosas, é como se lhe fizesse a cama. Cada obstáculo do percurso das águas é sorvado com violência em esteiras divergentes gerando um turbilhão de redemoinhos.
No rio Poio a selvajaria das águas esculpio maravilhosas cisternas perfeitamente cilíndricas na rocha granítica.
Nas imediações das represas os rios alargam e amansam como lagos.
No centro da albufeira em que nos banhanhos emergem três blocos de granito grandes como quartos, moldados pelas águas como o sabão azul das lavadeiras, ao meio-dia escaldam sob o Ângelus impiedoso. Deitados sobre os rochedos tornamo-nos cúmplices da tertúlia dos salgueiros e urzes que se espelham na água cristalina. Na Serra da Estrela existe uma lagoa com as águas rosadas devido às algas que lá se reproduzem. Os corpos debaixo de água tingem-se de cores psicadélicas e venenosas. Na base dum dos blocos de granito está encalhado um tronco monstruoso como um mastro de caravela está recoberto com uma poalha esverdeada onde debicam dezenas de peixes negros. Nas covas dos calhaus onde o vento não toca amontoam-se os alfaiates.
Nicolau Divan
Descansando até ao rio
Tingido de ferro uma calda de óxido milenar
Beijando infinitamente a superfície calma da água
A erva brava dava-nos pelos joelhos. Os nossos
Corpos desenhavam-se angulosos mais escuros que a sombra
Dos salgueiros que húmida nos envolvia
“Oh margens de penumbra perpétua” já cantava o poeta
Dificultam o acesso às águas do lago
Resguardam-se nos espinhos, amuralham-se em raízes,
Encavalitam-se os rochedos, abruptos como dentes arreganhados
E apodrecidos de negros limos, espantam os estranhos com detritos esvoaçantes
Trazidos pelas tumultuosas águas de janeiro,
Troncos esfiampados de longas barbas, silvedo e vestuário gasto das crianças
Afogadas no rio...
Assim que os nossos pés tocam as águas superficiais exaltam-se os girinos e pequenas rãs castanhas. As lamas intactas quebram-se em nuvens polvorosas, turvam-se os pés.
Removemos os galhos em decomposição com os dedos dos pés com se fosse um ossário submerso.
A excitação é para alcançar o sol que nos cega a três braçadas da margem. Perto de Alcafache o rio diverge em múltiplos canais formando negras e impenetráveis ilhas de lama negra e malária mosquiteira.
Rapidamente os fundos se tornam de areia. A brutalidade das torrentes invernais esculpe anualmente o leito do riocom novas fossas e cristas arenosas, é como se lhe fizesse a cama. Cada obstáculo do percurso das águas é sorvado com violência em esteiras divergentes gerando um turbilhão de redemoinhos.
No rio Poio a selvajaria das águas esculpio maravilhosas cisternas perfeitamente cilíndricas na rocha granítica.
Nas imediações das represas os rios alargam e amansam como lagos.
No centro da albufeira em que nos banhanhos emergem três blocos de granito grandes como quartos, moldados pelas águas como o sabão azul das lavadeiras, ao meio-dia escaldam sob o Ângelus impiedoso. Deitados sobre os rochedos tornamo-nos cúmplices da tertúlia dos salgueiros e urzes que se espelham na água cristalina. Na Serra da Estrela existe uma lagoa com as águas rosadas devido às algas que lá se reproduzem. Os corpos debaixo de água tingem-se de cores psicadélicas e venenosas. Na base dum dos blocos de granito está encalhado um tronco monstruoso como um mastro de caravela está recoberto com uma poalha esverdeada onde debicam dezenas de peixes negros. Nas covas dos calhaus onde o vento não toca amontoam-se os alfaiates.
Nicolau Divan
Desert Rose Yelei Yelei
Adagas, sangue, templos esquecidos,
animais assassinos
rastejando as praças abandonadas à
selvajaria do vento frio,
paixão dilacerante quimérica,
por toda uma vida que será eternamente jovem
congelada numa lápide a prata,
masmorras, ecos, alucinação, gemidos lancinantes,
olhos demasiado pintados como chagas negras,
lágrimas quartesmais, jejum, correntes,
velas vertidas sobre a carne indefesa como símbolo de pureza
perdida com a brandura do cera dormente,
escorpiões, noites geladas ou o inferno impiedoso do sol,
impiedade, o zénite e o ocaso num segundo,
caravanas, areias desérticas, possessão,
algemas, escravidão, chave da caveira, trotes fulgurantes,
superfícies cromadas e enferrujadas, antagonismo,
donzelas vagamente latinas e dorsos acobreados,
índia sacerdotiza do ritual esquecido como a brasa
sob a cinza, fogo-sopro-fogo, cactos imponentes, penhascos, agressividade,
desfiladeiros, grutas, os céus como centos de cascaveis revoltos,
o assobio solitário, a fogueira tribal, o banjo, o coiote, o abutre,
impetuosidade, abnegação, paixão exacerbada, sacrifício,
culpa, voltar as costas ao mundo.
Madalena Nova
animais assassinos
rastejando as praças abandonadas à
selvajaria do vento frio,
paixão dilacerante quimérica,
por toda uma vida que será eternamente jovem
congelada numa lápide a prata,
masmorras, ecos, alucinação, gemidos lancinantes,
olhos demasiado pintados como chagas negras,
lágrimas quartesmais, jejum, correntes,
velas vertidas sobre a carne indefesa como símbolo de pureza
perdida com a brandura do cera dormente,
escorpiões, noites geladas ou o inferno impiedoso do sol,
impiedade, o zénite e o ocaso num segundo,
caravanas, areias desérticas, possessão,
algemas, escravidão, chave da caveira, trotes fulgurantes,
superfícies cromadas e enferrujadas, antagonismo,
donzelas vagamente latinas e dorsos acobreados,
índia sacerdotiza do ritual esquecido como a brasa
sob a cinza, fogo-sopro-fogo, cactos imponentes, penhascos, agressividade,
desfiladeiros, grutas, os céus como centos de cascaveis revoltos,
o assobio solitário, a fogueira tribal, o banjo, o coiote, o abutre,
impetuosidade, abnegação, paixão exacerbada, sacrifício,
culpa, voltar as costas ao mundo.
Madalena Nova
Se o Coração
Se o coração estremece ao vento sul
A vitalidade do deserto faz vibrar as pálpebras
No ar estrelejam os fogos e os estoiros no ar
Ribombam no coração
E embargam-nos a fala
Tudo se passa no ar
Resplandece a calda de nuvens imemoriais
Descende nas nossas nucas
Desnudas o arrepio sideral
E trota no espaço o trovão
Num segundo o dia rasga a noite
No paladar um travo a azul petróleo
Impressões digitais indeléveis na súbita
memória sequiosa de mudanças arrebatadoras
uohoooooohaaa
enche me de paixão
André Istmo
A vitalidade do deserto faz vibrar as pálpebras
No ar estrelejam os fogos e os estoiros no ar
Ribombam no coração
E embargam-nos a fala
Tudo se passa no ar
Resplandece a calda de nuvens imemoriais
Descende nas nossas nucas
Desnudas o arrepio sideral
E trota no espaço o trovão
Num segundo o dia rasga a noite
No paladar um travo a azul petróleo
Impressões digitais indeléveis na súbita
memória sequiosa de mudanças arrebatadoras
uohoooooohaaa
enche me de paixão
André Istmo
1.2.10
Nem Tudo o que Vem à Rede é Peixe
Sonhámos com a ressonância das palavras
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Paulo Ovo
Gostei mais do dia da marmota do que do dia do marmoto...
Rui Barbo
Graças a Deus fui abençoado com uma certa dose de estupidez que me impede de ver..
Diniz Giz
Contarei uma história baseada no Do little dos Pixies – jovens numa praia ondas que aparentemente não nos deixam surfar – faz te pequeno...
Carla Corpete
Como deveria ser feito um album
Henrique
Como reages perante o amor/paixão
Manuel Bisnaga
Os copos tilintam
Os corações declinam
Maria Vouga
Janeiro
Diário dum péroco de Aldeia e Walden
Zé Chove
Vaguear no escuro
Na antiga eremida o pó
De escuros braços das árvores
Presos no interior das minas
Nós Sombras
Lúcia
Cromo-dorsos de motociclos que irrompem
do peito de cada homem
o asfalto quente que inebria as nervosas têmporas
Mário Mosca
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Paulo Ovo
Gostei mais do dia da marmota do que do dia do marmoto...
Rui Barbo
Graças a Deus fui abençoado com uma certa dose de estupidez que me impede de ver..
Diniz Giz
Contarei uma história baseada no Do little dos Pixies – jovens numa praia ondas que aparentemente não nos deixam surfar – faz te pequeno...
Carla Corpete
Como deveria ser feito um album
Henrique
Como reages perante o amor/paixão
Manuel Bisnaga
Os copos tilintam
Os corações declinam
Maria Vouga
Janeiro
Diário dum péroco de Aldeia e Walden
Zé Chove
Vaguear no escuro
Na antiga eremida o pó
De escuros braços das árvores
Presos no interior das minas
Nós Sombras
Lúcia
Cromo-dorsos de motociclos que irrompem
do peito de cada homem
o asfalto quente que inebria as nervosas têmporas
Mário Mosca
In the City
Através da cidade esférica
na sedosa limousine
és o fulgor na bracelete metálica
no cetim indiferente nos lábios da lepra
és o balançar da city desperta
és o balançar da desgraça
sem sexo sem cheiro sem identidade
glamour inebriado um miasma
uma convulsão a morte sem dignidade
um perfume despedido pelas ruas da cidade
Filipe Elites
na sedosa limousine
és o fulgor na bracelete metálica
no cetim indiferente nos lábios da lepra
és o balançar da city desperta
és o balançar da desgraça
sem sexo sem cheiro sem identidade
glamour inebriado um miasma
uma convulsão a morte sem dignidade
um perfume despedido pelas ruas da cidade
Filipe Elites
Cuidados
Carinhosamente ou meticulosamente compões o alinhamento e a côr perfeita a dar às frases de forma a não magoar ninguém e a todos convencer. Poderemos viver com menos depois de nos embrenharmos na fartura? E uma vez sentidas todas as costelas do torso terás empenho suficiente para suportar a engorda?
Filipe Elites
Filipe Elites
As Montanhas
As montanhas vão galgando todo o espaço que a vista alcança. Tingidos de uma neblina que resplandece com os raios solares do final tarde. De memória não sei precisarse o seu tom era cinzento, rosado ou talvez violeta e perto do céu esverdeado azulado. Os montes são docemente arredondados como hematomas roxos na cabeça duma criança. No caminho as aflorações xistosas surgem como os despojos de tesouros abandonados à pressa, com os seus laivos doirados de óxidos ferrosos e a riqueza das formas. Os tojos envolvem estes retábulos como aconchegos de penas verdes frondosos. Não saberia precisar o que mais entusiasma se a segurança das formas laminadas pelas intempéries milenares se a loucura das cores vermelho sangue de boi, laranja, verdes, pretos profundos matizados os tons pelo vinagre ácido e corrosivo do óxido. Oxidare matar em latim.
Orlando Tango
Orlando Tango
18.1.10
Consternação
Facilmente me encontro perto do choro. Reprimo as lágrimas perante as maiores alegrias e tristezas dos outros, não suporto que me descubram lágrimas nos olhos, só ia piorar. A minha vida não me provoca qualquer emoção.
«Um dia de Outono andámos perdidos horas e horas entre as árvores e montanhas. Junto aos rios a vegetação é mais feroz e os espinhos reclamam pela carne. Os leitos de rios mortos escondem serpentes entre o lodo. Se largamos o rio as escarpas tornam-se abruptas. Aguçadadas como lâminas.
Soube então que também se vertem lágrimas por instinto. Vão caindo à medida que dor aperta.
Tão doente. Pensei que morria ali. Senti-me virado ao contrário com os repelões dos vómitos no caminho para casa. Os olhos brilhantes da febre, a palidez da pele, as costas recurvadas do peso da cabeça devem ter provocado a compaixão das velhas com quem me cruzei junto do cruzeiro.»
Maldita melancolia. Atacas como um vírus aspirando-me as forças.
Não que nunca tivesse pensado na morte. Quem é que nunca pensou?
Mas senti-la? Passa por nós como uma serpente silenciosa.
Olhou-me como se já nos conhecêssemos com uma insistência desusada entre os que andamos a pé pelas calçadas do castelo. Algo nos une. As mesmas fraquezas dão semelhantes tremuras nas pálpebras dos olhos ou tiques nas mãos idênticos, por vezes a mesma cadência cautelosa no respirar. Partilhamos as mesmas revoltas interiores desde sempre e o nosso coração sempre se encavalitou do mesmo lado das ameias. As florestas alinhadas a nossos pés são como exércitos em ordem de batalha.
São estes olhares que me lançam na mágoa mais profunda. "Não te conheço".
As sopas grossas eram o verdadeiro brasão desta casa em que entro.
Cheiro a comida e lenha queimada assim se constroi uma dinastia. São os sinais mais duradouros. Quem não conhece os seus pelo olfato?
De sopa no bandulho e o vinho nos olhos...
Nem é meu hábito mas gritei-lhe “não, não é o tédio. O nosso verdadeiro problema é a preguiça. Uma preguiça básica. Não uma preguiça astuta. Uma preguiça dengosa que molda as pessoas como dois corpos metálicos incandescentes. A busca gulosa da satisfação a dois iliba-nos a consciência. Imagina todo um povo!...” Sentia o corpo tremer de indignação e vergonha pela exaltação. Nunca fui de extremar opiniões. Sempre alimentei uma certa tepidez nas relações. Tentei olhar humildemente para o chão em busca do perdão pela ousadia. E outra vez aquele olhar humilhado e oprimido que me enche os dias de consternação. Cansa-me viver entre os homens.
Filipe Elites
«Um dia de Outono andámos perdidos horas e horas entre as árvores e montanhas. Junto aos rios a vegetação é mais feroz e os espinhos reclamam pela carne. Os leitos de rios mortos escondem serpentes entre o lodo. Se largamos o rio as escarpas tornam-se abruptas. Aguçadadas como lâminas.
Soube então que também se vertem lágrimas por instinto. Vão caindo à medida que dor aperta.
Tão doente. Pensei que morria ali. Senti-me virado ao contrário com os repelões dos vómitos no caminho para casa. Os olhos brilhantes da febre, a palidez da pele, as costas recurvadas do peso da cabeça devem ter provocado a compaixão das velhas com quem me cruzei junto do cruzeiro.»
Maldita melancolia. Atacas como um vírus aspirando-me as forças.
Não que nunca tivesse pensado na morte. Quem é que nunca pensou?
Mas senti-la? Passa por nós como uma serpente silenciosa.
Olhou-me como se já nos conhecêssemos com uma insistência desusada entre os que andamos a pé pelas calçadas do castelo. Algo nos une. As mesmas fraquezas dão semelhantes tremuras nas pálpebras dos olhos ou tiques nas mãos idênticos, por vezes a mesma cadência cautelosa no respirar. Partilhamos as mesmas revoltas interiores desde sempre e o nosso coração sempre se encavalitou do mesmo lado das ameias. As florestas alinhadas a nossos pés são como exércitos em ordem de batalha.
São estes olhares que me lançam na mágoa mais profunda. "Não te conheço".
As sopas grossas eram o verdadeiro brasão desta casa em que entro.
Cheiro a comida e lenha queimada assim se constroi uma dinastia. São os sinais mais duradouros. Quem não conhece os seus pelo olfato?
De sopa no bandulho e o vinho nos olhos...
Nem é meu hábito mas gritei-lhe “não, não é o tédio. O nosso verdadeiro problema é a preguiça. Uma preguiça básica. Não uma preguiça astuta. Uma preguiça dengosa que molda as pessoas como dois corpos metálicos incandescentes. A busca gulosa da satisfação a dois iliba-nos a consciência. Imagina todo um povo!...” Sentia o corpo tremer de indignação e vergonha pela exaltação. Nunca fui de extremar opiniões. Sempre alimentei uma certa tepidez nas relações. Tentei olhar humildemente para o chão em busca do perdão pela ousadia. E outra vez aquele olhar humilhado e oprimido que me enche os dias de consternação. Cansa-me viver entre os homens.
Filipe Elites
14.1.10
Saca de Batatas
A sombra sentada envolta num halo azul petróleo expele aflitas baforadas de vapor provocando o pingar do tecto da câmara de refrigeração.
Os nossos latidos frenéticos ecoaram diabolicamente na enquinada chapa do hangar.
Tacteámos como cegos o cavername expostos de batalhões de máquinas. O nosso conforto eram mãos no escuro sofregamente entrelaçadas como num acto da amor.
Sonhámos com a ressonância das palavras
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Quando saímos à noite juntos somos como dois leões treinados para caçar em equipa.
Sonolento sobre o estirador decido a vida de centenas de pessoas.
Mãos ambiciosas na escuridão
Não suportava mais o cheiro a cebolas na minha mão por isso cortei-a.
Se os olhos denunciam a ansiedade dos encontros ponde o Nevermind no stereo.
Também quem é que nunca bebeu gin duma bota de cano alto?..
Os nossos latidos frenéticos ecoaram diabolicamente na enquinada chapa do hangar.
Tacteámos como cegos o cavername expostos de batalhões de máquinas. O nosso conforto eram mãos no escuro sofregamente entrelaçadas como num acto da amor.
Sonhámos com a ressonância das palavras
O mesmo eco libertado do sino nos vales
Quando saímos à noite juntos somos como dois leões treinados para caçar em equipa.
Sonolento sobre o estirador decido a vida de centenas de pessoas.
Mãos ambiciosas na escuridão
Não suportava mais o cheiro a cebolas na minha mão por isso cortei-a.
Se os olhos denunciam a ansiedade dos encontros ponde o Nevermind no stereo.
Também quem é que nunca bebeu gin duma bota de cano alto?..
...
Oh infantes calvas loiras
Em que percutem melifluamente
Os nodosos, distraídos dedos
De quem sonha com vossos rasgados lábios
Percutem, percutem até perfurar o osso.
Em que percutem melifluamente
Os nodosos, distraídos dedos
De quem sonha com vossos rasgados lábios
Percutem, percutem até perfurar o osso.
29.12.09
Melhores Discos de 2009
1. The xx - The xx
2. Grizzly Bear - Veckatimest
3. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
4. Fever Ray - Fever Ray
5. Bat For Lashes - Two Suns
6. Girls – Album
7. Dirty Projectors - Bitte Orca
8. Micachu and the Shapes - Jewellery
9. Various Artists - Dark Was the Night
10. Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!
11. Real Estate - Real Estate
12. Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
13. Bon Iver - Blood Bank EP
14. The Flaming Lips - Embryonic
15. St. Vincent - Actor
2. Grizzly Bear - Veckatimest
3. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion
4. Fever Ray - Fever Ray
5. Bat For Lashes - Two Suns
6. Girls – Album
7. Dirty Projectors - Bitte Orca
8. Micachu and the Shapes - Jewellery
9. Various Artists - Dark Was the Night
10. Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!
11. Real Estate - Real Estate
12. Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
13. Bon Iver - Blood Bank EP
14. The Flaming Lips - Embryonic
15. St. Vincent - Actor
16.12.09
Consagração
Somos gota de água a teus olhos
Em queda reflexa sobre o vinho.
Ruborizado no manancial da tua oblação
O suor mínimo das nossas vidas.
Orlando Tango
Em queda reflexa sobre o vinho.
Ruborizado no manancial da tua oblação
O suor mínimo das nossas vidas.
Orlando Tango
Fall and Rise
As papas fermentam no bandulho até provocar azia, o corpo aquece em demasia, a carne repele qualquer agasalho, louca de febre, os pés exploram em vão réstias de frescura na esquadria da cama.
Numa nuvem de vapor de robe em fresca fragrância de chá molhado gotejando das axilas sobre a alcova te reclinas aspirando o ar jovem da manhã num movimento único através do espaço perfume matutino.
Lúcia
Numa nuvem de vapor de robe em fresca fragrância de chá molhado gotejando das axilas sobre a alcova te reclinas aspirando o ar jovem da manhã num movimento único através do espaço perfume matutino.
Lúcia
Insônia
Separo a carne e como só as cartilagens numa farta malga de alumínio em que se reflecte a solitária vela que conjura nesta não-cozinha todos os espíritos que procuram algum conforto entre as sombras. Mas nunca o encontram - foi vendido. O nível do vinho – a escuridão engarrafada – sussurra o esvaziar das horas. Quando não existe posição para dormir o melhor é ficar acordado...
Zé Chove
Zé Chove
Sevilha
Oh leaving again! This city is so succulent! And again we leave the best for the everlasting moment! And I let the tears in my eyes melt with lights outside the bus melted in the night! I felt so sick to ear the Lusitanian language: Boa noite! The experience is over for three days I was the emperor of Sevilha. Te hablo en inglé me siento internazionalle almost roman com tudo o que isso implica.
Senti o conforto do tijolo de burro, enquanto os olhos explodiam de lágrimas fulminados pelo espraiar dosol no lagedo granítico. “I’ve measured this street. Exactly two steps between facades.” E rodeado de africanos e nipónicos e sumérios e nabatenos e ciganos sigo pelo túnel negro que me despejará em Sete Rios. As vermelhas horas cintilam digitais em múltiplos reflexos. Na boca fervilham ainda as papas alioli. O alho é supremo na sua humildade. Festas-fiestas-Sevilha-Sevilha-pagãs e religiosas- one step religious and another pagan, mas verdadeiramente molhado de lágrimas. Poetastro grita-me ela aos ouvidos. O rosto guarnecido com sobrecamadas de base. Base sobre base. E umas pontas de olhos atrevidos redesenhados com vigor sobre um olhar naturalmente tradicional. What the fuck is this? 3 red hearts shinning over a tower in the middle of nowhere? Naturalmente se não tens uma forte imagem diante dos olhos a que se te apegue o coração acabarás por divagar num marasmo de fantasmagorias inconsequente.
Vais caminhando pelo denso entramado do pueblo docemente fulminado em cada praça. Com a cadência dum pachá deixas que todos te ultrapassem nas suas fonas, tão lento que te tornas o reboco das casas. Y mi hermana surripia primaveril essência da banca da l’occitane. O melhor de Sevilha é a primavera, as gordas laranjas boiando garridas, pesadas, nas límpidas e rumorejantes fontes salpicando o ar da sua fragrância rainha ornada de magnólias e príncipes perfeitos matizandonoite e dia num só corpo feminil com solavancos de anca e palmadas na coxa, rodopia a primavera sevilhana do vestido vermelho.
Tapas cerveza, tapas cerveza. Pátios e terraços de branco ferino da giralda a cidade é ferozmente árabe, árabe a perder de vista. Presuntos ao alto, o giz no balcão do rinconcillo!
Por momentos fui o príncipe do islão entre as abóbodas argilosas que encerram a penumbra duma piscina de águas um tanto mornas e um ligeiramente sagradas.
“But she’ll cry if I lie”, ”Oh but your wish is my command”
Oh and once I was the gemstone of the catholic monarchy transpirando devoção recolhido sobre o altar de la capilla real.
Albero calcado sobre o teu peito desnudo de orgulhosas e fúteis palmeiras, sinais da tua riqueza cigana-pura. Tão, tão dramática...
Mi Alma! Cariño Mio!
Tomás Manso
Senti o conforto do tijolo de burro, enquanto os olhos explodiam de lágrimas fulminados pelo espraiar dosol no lagedo granítico. “I’ve measured this street. Exactly two steps between facades.” E rodeado de africanos e nipónicos e sumérios e nabatenos e ciganos sigo pelo túnel negro que me despejará em Sete Rios. As vermelhas horas cintilam digitais em múltiplos reflexos. Na boca fervilham ainda as papas alioli. O alho é supremo na sua humildade. Festas-fiestas-Sevilha-Sevilha-pagãs e religiosas- one step religious and another pagan, mas verdadeiramente molhado de lágrimas. Poetastro grita-me ela aos ouvidos. O rosto guarnecido com sobrecamadas de base. Base sobre base. E umas pontas de olhos atrevidos redesenhados com vigor sobre um olhar naturalmente tradicional. What the fuck is this? 3 red hearts shinning over a tower in the middle of nowhere? Naturalmente se não tens uma forte imagem diante dos olhos a que se te apegue o coração acabarás por divagar num marasmo de fantasmagorias inconsequente.
Vais caminhando pelo denso entramado do pueblo docemente fulminado em cada praça. Com a cadência dum pachá deixas que todos te ultrapassem nas suas fonas, tão lento que te tornas o reboco das casas. Y mi hermana surripia primaveril essência da banca da l’occitane. O melhor de Sevilha é a primavera, as gordas laranjas boiando garridas, pesadas, nas límpidas e rumorejantes fontes salpicando o ar da sua fragrância rainha ornada de magnólias e príncipes perfeitos matizandonoite e dia num só corpo feminil com solavancos de anca e palmadas na coxa, rodopia a primavera sevilhana do vestido vermelho.
Tapas cerveza, tapas cerveza. Pátios e terraços de branco ferino da giralda a cidade é ferozmente árabe, árabe a perder de vista. Presuntos ao alto, o giz no balcão do rinconcillo!
Por momentos fui o príncipe do islão entre as abóbodas argilosas que encerram a penumbra duma piscina de águas um tanto mornas e um ligeiramente sagradas.
“But she’ll cry if I lie”, ”Oh but your wish is my command”
Oh and once I was the gemstone of the catholic monarchy transpirando devoção recolhido sobre o altar de la capilla real.
Albero calcado sobre o teu peito desnudo de orgulhosas e fúteis palmeiras, sinais da tua riqueza cigana-pura. Tão, tão dramática...
Mi Alma! Cariño Mio!
Tomás Manso
Lua Nova
Esta noite a lua redonda cosida à manta do firmamento faz fugir as nuvens apressadas, temerosas do seu império. A rainha dos astros desvenda-se nua e deixa que a contemplemos, entrega-se-nos e nós na nossa mesquinhez não vemos um corpo mas um furo, um grande óculo na tenda da noite. Um grande óculo que nos promete que uma vez levantado o véu uma brilhante e luminosa realidade nascerá para nós, e por isso choramos ao vê-la porque as nossas paixões esvoaçam de noite e é à noite que nos alimentamos. Temos medo do sorriso opressor do sol que ruge de fastio. A lua é nossa mãe.
Tomás Manso
Tomás Manso
4.12.09
Traças e Osgas
Oh como compreendo as traças... A fria, gélida luz branca dum lampião ao lado dum casebre branco intermitente à beira da auto-estrada atrai-nos como uma lareira numa tarde de Outono. Expresso Lisboa Sevilha. Meios-tons, tudo se reveste de meios-tons, Aljustrel embebida na nebelina acolhe-nos numa paragem de 20 minutos. Daqui podia partir, fugir das obrigações. Em vez de Sevilha por aqui fico. Meia-hora e lá vou eu rumo a Madrid. Sem poiso, sem ninguém, como a traça. Nova paragem, uma vila perdida no centro da Ibéria e novo golpe, agora rumo a Marselha e assim até ao Cáucaso.
Paragens de vinte minutos podem mudar a vida dum homem. Paragens em estações de serviço desertas, as portas da camionete abertas à geada, abertas como um convite aos estranhos. A caminho, o ronronar dos pneus no alcatrão, crioulo no banco de trás, o americano esquálido à direita na coxia e se alguém ronca com mais paixão: tosses nervosas e pigarreios anónimos. Meios-tons. Iluminação pública rasgando o nevoeiro e as silhouetas das solitárias oliveiras. Mas falava das traças. Confiamos uns nos outros, conforta-nos uma espécie de alívio quente ao sermos recebidos pelas geladas luzes de qualquer erma povoação. Em cada corpo humano pelo menos 36 graus centígrados emanados, assim à cabeça, como uma dádiva involuntária... caminhamos convictos auto-estrada fora, como a traça se acerca da esfera, do globo luminoso, felizes. Dançamos. Nessas casas brancas esculpidas pelo vento à beira da estrada esperam pela nossa leveza de espírito, esperam, as osgas para nos matar.
Zé Chove
Paragens de vinte minutos podem mudar a vida dum homem. Paragens em estações de serviço desertas, as portas da camionete abertas à geada, abertas como um convite aos estranhos. A caminho, o ronronar dos pneus no alcatrão, crioulo no banco de trás, o americano esquálido à direita na coxia e se alguém ronca com mais paixão: tosses nervosas e pigarreios anónimos. Meios-tons. Iluminação pública rasgando o nevoeiro e as silhouetas das solitárias oliveiras. Mas falava das traças. Confiamos uns nos outros, conforta-nos uma espécie de alívio quente ao sermos recebidos pelas geladas luzes de qualquer erma povoação. Em cada corpo humano pelo menos 36 graus centígrados emanados, assim à cabeça, como uma dádiva involuntária... caminhamos convictos auto-estrada fora, como a traça se acerca da esfera, do globo luminoso, felizes. Dançamos. Nessas casas brancas esculpidas pelo vento à beira da estrada esperam pela nossa leveza de espírito, esperam, as osgas para nos matar.
Zé Chove
19.11.09
Tardes
Magoa pensar no tempo passado, tanto desperdício de horas. Não precisávamos de falar e não falámos, mas o olhar, sim o conforto vem do olhar mais que da palavra e se não nos apercebemos dum brilho ainda que fugaz é porque morreu.
Sentados no sofá lado a lado assistiamos ao cair do tempo nas partículas de pó que dançam nos feixes de luz. Apredendemos todas as estrias do veludo do sofá, no fundo a única rectidão confortável. Explico, não existem vidas canalizadas, fluímos a céu aberto como as águas pela montanha, a cloaca máxima comunitária fede.
Eternamente contemplamos um corpo, durante a eternidade que em dadas alturas nos sufoca a lei da carne. Orgulhosamente cravamos os troféus no nosso peito desnudado, consagramo-nos com a efusão de sangue na solidão das altas montanhas do Orgulho. Humildemente permitimos que se dessedentem nos rios do nosso sangue sacrificial.
Ao final da tarde arrastamo-nos até à cozinha que o ventre reclama, o fiel revoltado. Que simplicidade admirável não tem o estômago dirão alguns, para outros é uma criança caprichosa.
A materialidade da casa acaba por ser o emboço do nosso caráter: aqueles azulejos, aquele tapete, determinada pedra, a largura das janelas... A cozinha é um Fogo, o fogo do lugar, não um Fogo como o da Sala. O Fogo é o crisol da tradição.
Uma chaleira enegrecida, umas mãos que remexem os tições directamente, um sopro que aviva as chamas.
A ressonância do sino ao longe. Irrompem as Vésperas.
Sentados no sofá lado a lado assistiamos ao cair do tempo nas partículas de pó que dançam nos feixes de luz. Apredendemos todas as estrias do veludo do sofá, no fundo a única rectidão confortável. Explico, não existem vidas canalizadas, fluímos a céu aberto como as águas pela montanha, a cloaca máxima comunitária fede.
Eternamente contemplamos um corpo, durante a eternidade que em dadas alturas nos sufoca a lei da carne. Orgulhosamente cravamos os troféus no nosso peito desnudado, consagramo-nos com a efusão de sangue na solidão das altas montanhas do Orgulho. Humildemente permitimos que se dessedentem nos rios do nosso sangue sacrificial.
Ao final da tarde arrastamo-nos até à cozinha que o ventre reclama, o fiel revoltado. Que simplicidade admirável não tem o estômago dirão alguns, para outros é uma criança caprichosa.
A materialidade da casa acaba por ser o emboço do nosso caráter: aqueles azulejos, aquele tapete, determinada pedra, a largura das janelas... A cozinha é um Fogo, o fogo do lugar, não um Fogo como o da Sala. O Fogo é o crisol da tradição.
Uma chaleira enegrecida, umas mãos que remexem os tições directamente, um sopro que aviva as chamas.
A ressonância do sino ao longe. Irrompem as Vésperas.
Instintos
Deixámos todos os portos do mundo vazios e não nos lembramos em qual despejámos o sentimento. Os cães escanzelados que se coçam demasiado nas docas ainda poisam um olhar vazio enquanto partimos mas nem um latir do coração. O instinto é precoce: os cães amadurecem sobre uma cadela poucos dias depois do primeiro osso. O que se faz ao mar é precoce por natureza.
O Sangue
O sangue vertido sobre a terra cultivada nunca tem o mesmo impacto do que aquele vertido sobre a neve ou sobre o mármore dum palácio. É sofregamente absorvido e as árvores esquecem.
Diário de Bordo I
Até então só viajara no mar em traineiras pesqueiras. Partia de Setúbal em direcção ao sul. Rondávamos sempre os 20, 25. Largávamos o porto por volta das 4 e 30. Preparávamos a bomboca ao largo de Tróia. O mar e o céu não se distinguem do negrume. O frenesim inicial do reencontro com o mar e parceiros, o reboliço das tralhas, lancheiras, canas, agasalhos, estojos de iscos e puxadas vai esmorecendo à medida que as luzes sadinas mergulham na escuridão. Alguns descem ao porão de duas liteiras para ferrar o galho.
O mestre tem um sotaque rasgadamente setubalense. As manápulas destacam-se da sua alta fisionamia.
Puxadas triplas, carretos de recuperação rápida, alumínio e fibra, ameijoa, camarão, ganso, as geleiras escancaradas, “o camaroeiro”, lugares marcados, mini prateleiras atulhadas de isco...
Tomás Manso
O mestre tem um sotaque rasgadamente setubalense. As manápulas destacam-se da sua alta fisionamia.
Puxadas triplas, carretos de recuperação rápida, alumínio e fibra, ameijoa, camarão, ganso, as geleiras escancaradas, “o camaroeiro”, lugares marcados, mini prateleiras atulhadas de isco...
Tomás Manso
Fim da Exibição
De peito cheio percorro a alameda. O queixo ligeiramente levantado, os ombros gingãos e a leveza de espírito. Tão cheio e tão leve... escorrego na relva húmida. Um segundo; a mão que sai em defesa aparasse num cagalhão com aparência de salsicha e consistência de diospiro. O adónis perde a parra. Fechem as portas do museu.
Filipe Elites
Filipe Elites
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