14.1.14
Selos Reais
Estávamos
viajando pela Europa havíamos parado num oratório duma cidade bela, mas pouco excitante
do interior italiano e rezávamos. Havia peregrinos no salão passando como
silhuetas em frente à luz forte que entrava pelo portão lateral até que entrou
a minha irmã madalena que apesar de não nos vermos à dois anos depois de um abraço
esfuziante pela coincidência de nos encontrarmos ali tudo voltou a ficar igual
como se nunca nos houvéramos separado. Ela vinha com um grupo de numerárias de
que eu tentei guardar a vista. Vieram chamá-la para uma visita guiada e ela ia
sair sem levar a mochila e a maquina talvez se fiando na honestidade que as
religiosas supostamente têm. Eu levantei-me e obriguei-a a levar tudo alegando
que os italianos são gatunos como os brasileiros e que não se lhes pode
oferecer oportunidade que eles aproveitam logo fui ríspido na reprimenda e fui
afastando-a da capela para não incomodar a Michele que
rezava de joelhos.
“Uma cagadela catedrática foi aquela que efetuei em
cambridge depois de uma semana sem evacuar por andar em turismo” aflorava-me...
Quando chegamos ao pátio que era um plátano obsceno
no centro dum alargamento da estrada de terra que levava ao mosteiro passou bem
devagar para não levantar pó um conversível com os meus pais lá dentro. O meu
pai com suas espessas sobrancelhas numa blusa tipo lorde sorrindo com os olhos
rasgados e a minha mãe de óculos escuros fumando com um olhar distante perdido
na berma da estrada não se dando conta de que ali estávamos até que o meu pai a
fizesse levantar os olhos espicaçando-a com um enigma qualquer. Uuuhh gritou
ela dando uma última passa bem puxada e envolvendo-nos num abraço de fumo
baixando a cabeça para que a beijássemos na testa.
Eu e a Michele
casar-nos-íamos na Suécia e precisávamos da autorização do rei sueco. Depois de
me enrolar um pouco na burocracia sem nada ter resolvido,
para desespero e irritação da Michele, passei a incumbência para o meu pai que
depois de uma inércia inicial lá foi aos guichês competentes agilizar o
requerimento e ali mesmo foi buscar ao porta-luvas cheio de orgulho o documento
com selo real
Corpus Christi Carol
Lulley, lully, lulley, lully,
The faucon hath born my mak away.
The faucon hath born my mak away.
He bare hym up, he bare hym down,
He bare hym into an orchard brown.
He bare hym into an orchard brown.
In that orchard ther was an hall,
That was hanged with purpill and pall.
That was hanged with purpill and pall.
And in that hall ther was a bede,
Hit was hangid with gold so rede.
Hit was hangid with gold so rede.
And yn that bede ther lythe a knyght,
His wowndes bledyng day and nyght.
His wowndes bledyng day and nyght.
By that bedes side ther kneleth a may,
And she wepeth both nyght and day.
And she wepeth both nyght and day.
And by that bedes side ther stondith a ston,
"Corpus Christi" wretyn theron.
"Corpus Christi" wretyn theron.
10.1.14
tele
Para lá chegar descíamos uma escadaria de incêndio
com cheiro a mijo, saímos num plateau donde se avistava já o mar batido com
espuma e lixo flutuando, sempre que lá ia o tempo soalheiro ia se fechando. Um
caminho de terra com umas sardinheiras junto ao muro que depois caia em
rochedos até ao mar dirigia-se de súbito subindo até a uma floresta meio careca
e suja havia muito dejeto plástico ressecado espalhado na areia e os pinheiros
pareciam atacados de acidez, eu caminhava com Paulo Portas e íamos em busca de
votos naquela população medonha que habitava naquela colônia junto ao mar. Numa
encruzilhada da floresta distinguimos no caminho que cortava o nosso uma gang
com suas motos. Vimos o monte de jovens e ficamos assustados e aceleramos o
passo. Chegamos à vila um aglomerado de edifícios dispersos pelas rochas e
entradas de mar prédios baixos de antigas colônias de férias dos anos 70 de
cores acidas corroídas pela humidade marítima e o desleixo. Todos os habitantes
são rapazes adolescentes que para ali fogem fugindo da perseguição aos joy
division, throwing muses, marillions e outros mijões de escada. A rapaziada
move-se em cardumes não entrando nunca nos edifícios que se adivinham vazios
como as suas almas e frios acolhendo no máximo móveis despedaçados ou plantas
daninhas enfezadas. A rapaziada corre em fatos de banhos de cores frias em direcção
ao mar sujo com urgência cruzando por nós sentido a nossa presença mas sem
nunca olhar e jogam-se às ondas sujas que estouram nos pontões e vêm rebolando
aos encontrões sufocados entre corpos e detritos plásticos coloridos que boiam
eternamente
18.12.13
O Salto do Peixe
Algumas coisas nos vemos mas não em todo o seu
detalhe. Por exemplo: já toda a gente viu um peixe saltar prateado e
impertigado chapando como uma lata na água, mas e se eu te disser que ele salta
gritando um grito ultrassônico provocado por uma agitação propulsionada das
guelras e no ápice do salto esbugalha e rutila os olhos em todas as direções e
num milésimo de segundo contraindo os músculos do corpo provocam uma agitação
nas escamas incrementando o volume do corpo e optimizando a superfície
refletora das suas escamas provocando um flash idêntico a uma explosão estelar.
É um sacrifício, praticamente um martírio ou imolação pelo rebanho, é um salto
para atrair as gaivotas que certamente será o selar do seu caixão no marasmo ácido
de um ventre estúpido.
13.12.13
Creuza
Bata creuza no meu peito
e tente sair do quarto ilesa
renato prior do Crato
e do lorvão colhão de gato
esparguete na goela mete sardinha
espinha aguçada penteia
a traqueia da minha filha
espeta-lho esôfago estrafega sem mania
alinha-se o soldado na fila esguia
deste plateau desta messe
em que se tece
o meu complot e dance
como o messi
12.12.13
ïÎâ¾¢
Lembra-se quando os comíamos vivos enchia-me uma
malga com troços bem picados do braço, eu esperava sempre que tu te servisses,
envergonhada dos olhares incrédulos, estarrecidos, sofredores e irados dos teus
mutilados silenciosos e sem língua...
Considerações Biométricas
Os travecos da Glória viravam as costas ao trânsito
porque pela frente lembravam demasiado paraíbas de sorrisos largos com cabeleira
de mulher
La Petrona
domínio popular
Tú eres la linda Petrona,
Clavel de Tehuantepec.
Clavel de Tehuantepec.
Tú eres la linda Petrona,
Clavel de Tehuantepec.
Rosa de Castilla en rama,
Ay, Petrona, cortada al amanecer.
Ay, Petrona, cortada al amanecer.
Rosa de Castilla en rama,
Ay, Petrona, cortada al amanecer.
Ay, Petrona, cortada al amanecer.
En el jardín del amor, ay,
Petrona,
Se para un pájaro a ver.
Se para un pájaro a ver.
En el jardín del amor, ay,
Petrona,
Se para un pájaro a ver.
Se para un pájaro a ver.
Después de picar la flor, ay,
Petrona,
No quiso permanecer.
No quiso permanecer.
Después de picar la flor, ay,
Petrona,
No quiso permanecer.
No quiso permanecer.
Petronita de mi vida,
Pertonita mi adorada.
Pertonita mi adorada.
Petronita de mi vida,
Pertonita mi adorada.
Pertonita mi adorada.
No te quiero por bonita, ay,
Petrona,
Sino por mujer honrada.
Sino por mujer honrada.
No te quiero por bonita, ay,
Petrona,
Sino por mujer honrada.
Sino por mujer honrada.
11.12.13
Dr Aulácio
O doutor Aulácio tinha um ligeiro bafo de café misturado
com cigarro que se sentia apesar da proteção de dentista que usava nas fuças. Com
o seu humor estranho sempre repetia “um desabafo é sempre melhor que uma
desabufa” e dizia que ainda que ao olhar lhe atraíssem mais as bundas que as
bocas ainda assim melhor suportava o cheiro das segundas e inclinava-se sobre o
meu peito com a broca vrrr vrrr eu controlava a dor com as sobrancelhas e
pensava em varias bundas e bocas como um grande catálogo e com a agilidade dum
mega computador ia atribuindo notas e aromas a cada uma. Comecei a sentir o
sabor de sangue perto dos maxilares para onde a minha língua havia sido sugada
pelo aspirador de saliva...
Desalento
Chico Buarque
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos
10.12.13
Manifesto Cachaça
Tem certos dias de jogo em que me entrego à
bebida. Bebo sôfrego dando-me todo ao júbilo esfuziante da alegria mareada que
afoga o meu juízo, faz o meu corpo ondear graciosamente, salga o romantismo do
paladar e agudiza meus pânicos expande-os até ao horizonte. Deitado numa
soleira de um prédio qualquer antes que o domínio de mim me abandone totalmente
e com os olhos semicerrados vejo as luzes da cidade como lençóis ou asas de luz
de todas as cores em vectores de Balla e as mulheres futuristas também elas, iluminadas
só até ao pescoço que passam ao meu lado puro movimento são anjos de luz sem
rosto
Guerra de Palavras - Horizontes de Petróleo
Os selêucidas apátridas eleutérios>
desgracias se abaten sobre nosotros>
pancrácias e erros crassos>
deus meu que abraços>
transes demográficos>>
abanicos__ lápis
chocos grátis
na práxis
no tórax e no pélvis
liberta-se a
fumaça
que desgraça
o final de
tarde em estio de guerra,
os helis
estacionados de chapa-quente e as embreagens
já gastas
cheiro de gato morto e pólvora
que ofusca
os céus ocres do deserto
escrevo uma
carta incerta
como um poço
que brota lanço fogo nesta nafta
que aos
gargomilos me brota
vomito em
forma de tinta este lamento sem receptor
que m’abra
passo tempestades de areia no papel,
seiva de
cacto, um bordel de odaliscas imaginado um fungo
de ranho
inalo por não ver mulheres há tanto
tanto tempo
passo tudo embotado como petróleo,
escarrado
por um canhão tesudo bem de aço firme,
que se
alinha com o horizonte________
e sinto que
acordo se mudo as tônicas regentes,
e abandono
um transe, certo, que outro se anuncia perto,
e
subitamente vejo tudo preto
Coríntios
Lázaros e coríntios são
sábios que se sentam à sombra na boca do poço
e falam com brisas
ouvem os passos do sol que trilha os imensos espaços
que a vista alberga sem se apegar
ouvem o gemer da areia que se despende do reboco
dos tijolos daquela branca parede que vai descongelando o reboco
ouvem o roçagar dos vestidos que atravessam a praça
e o sublime espadanar dum voo dum preguiçoso pássaro
que adormece nas fuças do vento quente enfiando o bico na morte do bafo que se
levanta grosso, sem barulho, cheio de sal, veneno, morte, escorpião em poalho e
vingança islâmica e vingança ardurosa judaica e ainda que não tenha som se
alevante o coríntio, com uma ligeira mezena que faça a túnica cair sem vincos e
se abrigue em casa porque vem ai tempestade
9.12.13
Acção de decomposição pensada
Locsis abraxas//fucsas...terminal,sobral,castro,cristal++hieroglifo
gafanha_
gadanha decepa os corpos dos cepos
estendidos no meio duma estrada
que cruza o verão das planícies além-tejanas
decepa um braço bem rente ao tronco depois o outro braço
perto
do cotovelo em seguida corta junto ao joelho
uma perna ficando a ver-se o pequeno
osso da rotula e junto da virilha a outra perna
não saía sangue quase pois estava morto faz dias
ali
defumando nas ondas de calor do alcatrão
não cortava como um talhante com violência mas com
a delicadeza dum sibarita destrinçando um peru natalício
primeiro o peito com a carne branca
fumegante sob a pele dourada e estaladiça
em seguida um pedaço de carne escura da perna
trinchada como manteiga e por fim cava com destreza
nas entranhas aquele preparado de carne moída
com as miudezas da ave – assim destrinçava os
corpos
desolação da casa pensada
Qron magnon//tulherias..graças leves<>
mãos frias
de descascar as árvores) deixá-las secas) e frias)
soalhos de osso calcinado, aquele cheiro de
cano desalmado,
na cozinha.
até as
aranhas abandonaram a casa
deixando
para trás algumas teias negras de pó e abnegação
o sol grita
todos os dias lá para dentro
na varanda
das traseiras onde o desânimo se instala feito sombra, ainda soçobram pequenas
poças de fevereiro
pintando
rostos fantasmagóricos nas cornucópias
esburacadas
do lioz
os tubos de
queda abdicaram dos caminhos retos
e
deixaram-se cair lá embaixo no mato denso que viceja no pátio
carcomidos
pela ferrugem da mentira
os solos
esvaiem-se sob as sapatas como ratazanas nos subterrâneos
provocando
um solo osteoporoso e vencido
a estrutura
do prédio (repousa) assenta as muletas nas falhas
e o arcaboiço
recurva-se como um aleijado de quadril
(deslocado)
e omoplatas salientes
como uma
boca os sanitários são onde a desolação
e a falta de
cuidados se tornam mais patentes
os azulejos
de rosa velho partem-se como dentes podres e as sanitas exalam a mortocaçador
Era um exímio caçador paciente e despachado ao
mesmo tempo, acho que é o calculismo físico, era aquele soldado que
independentemente das condições do campo de batalha dará um tiro no adversário.
Todo ele era um molde de mercenário eficaz, tinha um arranque de corrida
potente que stressava todos os músculos salientes do seu corpo enxuto, quando
pensava viam-se os pequenos músculos de maxilar em tensão permanente como se o
raciocinar fosse antes o seu instinto de tubarão inclinado por natureza a
abocanhar qualquer presa.
caldos
O escarro negro a tez macilenta o arfar contínuo a
roupa no fio a irritabilidade e a lassidão mescladas como uma sopa turbilhonada
num caldeirão com o caldo, as couves, as batatas, as raízes, as cristas de galo,
os abdômenes de barata, as esbranquiçadas patas de galinha, acho que um nabo. O
fumo espirala pela cratera da chaminé que é uma boca negra engolindo toda a
sala, um gato impassível aos modos da mão que o alimenta refastela-se naquele
canto mais próximo da chaminé onde descansa também uma vassoura de graveto
rijos... o fogo no chão da chaminé desvenda o semicirculo de imundo chão onde a
lama e folhagens se empapam num vómito marrom....
6.12.13
Rio de Janeiro
O rio de janeiro sem uma justificação destruiu as
mais belas pérolas do seu patrimônio construído o filé mignon do espaço público
carioca em busca dum sistema viário mais eficiente. Cilindraram as melhores praças
com uma estrambótica e jactante Presidente Vargas, destruíram Sta Luzia com um
aeroporto enjoado e alabancioso, violentaram a Praça XV com a besta negra da
perimetral arrasaram o Morro do Castelo berço da cidade por falta de miolos nos
cornos, destruíram mouriscos e outros palacetes para dar lugar a transformers e
outras bestas quejandas e fizeram um jardinzeco que transpira falsidade que é
um Aterro oxalá aterre de vez e seja devorado pela ressaca. Para quê? Por
favor, devolvam-nos os meretrícios, as cabeças de porco, a rua do Sabão e a de
São Pedro, o largo do rocio pequeno, os cortiços, a antiga praça XI...
Dó-Ré-Mi
acorde decadente um traste mete dó
"eu sou vosso réu! eu sou vossa ré"
ainda é longo o caminho
mais leve se faz
é um homem sem sol
que suspira oxalás
sob o sol sob o chover em si
"eu sou vosso réu! eu sou vossa ré"
ainda é longo o caminho
mais leve se faz
é um homem sem sol
que suspira oxalás
sob o sol sob o chover em si
5.12.13
Banquete Celestial
No fúlgido almiazar sobre o tabernáculo de granito
grosseiro relaxava uma traça descomunal
☻☻☻☻
Um vento de poeira da traição
levanta-se e entra-me nos olhos
tento segurar o vento que me empurra
e obriga
a encolher-me
vão me enganar por onde não
vejo grito mais alto e desce sobre
mim uma lona que amortalha e me isola da impiedade
do
vento e sai-me
o solo de debaixo
do corpo todo
de uma vez
o corpo reage como um gato e toda a pele se empolga
A amplitude das entradas - condição de aguaceiros
A entrada era um mar de seixos rolados brancos
ou cinza claro com umas ilhotas de cactos redondos de espinhos que iam do verde
ao vermelho passando pelo amarelo. os seixos não tinham ervas daninhas parecia
que esterilizavam o pátio como pedras de
sal grossas como punhos, somente um discreto verdete pintava o bojo das pedras
no céu dum cinza leitoso piavam duas gaivotas entediadas pelos dias que secam
como algas no areal e meses como barcos encalhados no fundo do mar onde nem as
ondas perturbam
Des-a-bafos
“Quem terá sido o filho da puta que arrotou?
Foda-se! Que cheiro a carniça! Caralho do ônibus sempre cheio puta puta ...uns
porcos não tomam banho outros tomam banho em after-shave de chulo mas pior são
os que tresandam a cinzeiro que agonia! louvo os que guardam a pirisca no bolso
da camisa essência de catarro escarro negro piça ...por vezes temos a companhia
de um mendigo ou um cata lata de pé preto e cheiro a mijo abafado debaixo da
coberta mas esses têm o distintivo visual da própria miséria que nos alerta ...admiro
ainda os que perturbam o sossego e a paz dos passageiros ora com radiolas ou
mp3 fudidos de funks regionais ou melhor fodendo os
tímpanos das pessoas gritando no celular ou no walkie talkie ou nextel ou que
merda é aquela toda fodida em que cada um tem que deixar o interlocutor palrar
tudo o que quer antes de mandá-lo cagar-se. Amo os condutores que nos estilhaçam
os ossos fazendo curvas bruscas porque não comem buceta em casa e despejam as
raivas nos cus dos passageiros"
La llorona
No sé si el corazón
peca, llorona,
en aras de un tierno amor
por una linda tehuana, llorona,
más hermosa que una flor.
¡Ay!, ¡ay!, ¡ay! llorona,
llorona tú eres mi xunca,
me quitarán de quererte, ¡ay! llorona,
pero de olvidarte, nunca.
Dos besos llevo en el alma, llorona,
que no se apartan de mí,
el último de mi madre, ¡ay! llorona,
y el primero que te di.
¡Ay! ¡ay! llorona,
llorona de azul celeste,
aunque la vida me cueste, ¡ay! llorona,
no dejaré de quererte.
Si porque te quiero quieres, llorona,
quieres que te quiera más,
te quiero más que a mi vida, llorona,
¿qué más quieres?, ¿quieres más?
en aras de un tierno amor
por una linda tehuana, llorona,
más hermosa que una flor.
¡Ay!, ¡ay!, ¡ay! llorona,
llorona tú eres mi xunca,
me quitarán de quererte, ¡ay! llorona,
pero de olvidarte, nunca.
Dos besos llevo en el alma, llorona,
que no se apartan de mí,
el último de mi madre, ¡ay! llorona,
y el primero que te di.
¡Ay! ¡ay! llorona,
llorona de azul celeste,
aunque la vida me cueste, ¡ay! llorona,
no dejaré de quererte.
Si porque te quiero quieres, llorona,
quieres que te quiera más,
te quiero más que a mi vida, llorona,
¿qué más quieres?, ¿quieres más?
Sones e Huapangos de la Huasteca
Ready, Able
Labyad la salette
danielle bernardette
lábias de ouro
beijos de mel
laço no ventre
cama de dossel
três francesas no chambre e um
monegasco de cimitarra recurva brilhante
empunhada na cabeça um turbante
e luva branca
diamantes
na palma da mão
tamareiras no oásis distante
é um leão do deserto
uma fera na cama
o zimbório em chamas
refuma o incenso inconstante
e já rolam as cabeças
de olhar rutilante
e refrescam as bochechas
no mármore com veios de sangue
3.12.13
Mansão dos Arquitetos
Entre os vendavais sociais de santa
se procuras abrigo de ti mesmo
um lar que os teus ossos recolha
das tempestades trovejantes
do Rio de Janeiro sobe até aqui
onde a Lapa é apenas um murmúrio
e descansa na varanda
ouve o linguajar doutro arquiteto
duma outra esquina do mundo
toma uma água filtrada com lentidão
do sossego enquanto baratas cruzam
o soalho e lembra-te que para chegar
ao quarto do teto alto terás
de descer às masmorras da humidade
e sentir o aroma de toda a humanidade
exalando do banheiro ali ao lado
depois duma festa junina
e a sombra dum novo contrato terminado
que se queima num semestre
mais rápido que um cigarro
atormenta o pai de familia
perdido entre as prateleiras do mundial
o celeiro desta ilustre casa
e a louça ressecando sobre a pia
é o cenário perfeito para os frascos
de milho.
E a lista dos moradores deste cemitério
sob os vintage vitrais da escada em mámore
ouvem-se barulhos na madrugada
alguém não se deitou e um outro já está acordado
um estuda para uma prova, transa ou está viciado
outro vai surfar, vai colher mangas
no quintal ou vai viajar para a barra
e do nada eis que se faz a reunião de condóminos
em volta do parco café da manhã
pão na chapa e suco concentrado
Um só canta sacagem, outro come mais do que fala
outro mete o nariz em todo o lado,
e na porta o mais atento é um cachorro
mas também esse vai variando
se procuras abrigo de ti mesmo
um lar que os teus ossos recolha
das tempestades trovejantes
do Rio de Janeiro sobe até aqui
onde a Lapa é apenas um murmúrio
e descansa na varanda
ouve o linguajar doutro arquiteto
duma outra esquina do mundo
toma uma água filtrada com lentidão
do sossego enquanto baratas cruzam
o soalho e lembra-te que para chegar
ao quarto do teto alto terás
de descer às masmorras da humidade
e sentir o aroma de toda a humanidade
exalando do banheiro ali ao lado
depois duma festa junina
e a sombra dum novo contrato terminado
que se queima num semestre
mais rápido que um cigarro
atormenta o pai de familia
perdido entre as prateleiras do mundial
o celeiro desta ilustre casa
e a louça ressecando sobre a pia
é o cenário perfeito para os frascos
de milho.
E a lista dos moradores deste cemitério
sob os vintage vitrais da escada em mámore
ouvem-se barulhos na madrugada
alguém não se deitou e um outro já está acordado
um estuda para uma prova, transa ou está viciado
outro vai surfar, vai colher mangas
no quintal ou vai viajar para a barra
e do nada eis que se faz a reunião de condóminos
em volta do parco café da manhã
pão na chapa e suco concentrado
Um só canta sacagem, outro come mais do que fala
outro mete o nariz em todo o lado,
e na porta o mais atento é um cachorro
mas também esse vai variando
26.11.13
Moleskine
Pag1 – Identificação: Tenente VB; Contacto:
Pag2 – Deixei todos os portos do mundo vazios e não me lembro
em qual despejei o sentimento. Os cães escanzelados que se
coçam demasiado nas docas ainda poisam um olhar vazio sobre o
navio que parte mas nem um latir do coração.
Pag3 – Ainda tremo.
Fumava lá fora. A banda tocando frenética. As pessoas cruzam
agitadas e satisfeitas. Irrita-me a dispersão. Os risos fúteis
das velhas libidinosas com os seus cus gordos alapadas ao
balcão.
Perto da meia-noite. O mar e o céu são um só. Serenidade. A lua
exala uma luz azeitona realçando as arestas das coisas.
Enquanto os homens acreditarem no infinito, o mar será tido
como insondável... Debruçado sobre a amurada fumo. As
gargalhadas no salão estão cada vez mais longínquas. Envolto na
noite.
Pag4 – Liberta-se a imaginação. Só tenho medo do sobrenatural.
Um arrepio. Um sopro frio varre o convés e insinua-se-me na
nuca. Os olhos não acreditam se um espectro de nuvens negras se
agiganta vindo não se sabe de onde e troça da lua. Uma primeira
vaga varre o oceano mobilizando as hostes. As vagas espumam de
raiva. Catatónico. Treme o navio. Estala um trovão. Oiço de
novo os gritos no salão. Corro. Quase atropelo um bêbado que
resmunga. Afasto um chinês. Corredores brancos.Uma mulher de
olhar desesperado.Corredores. Claustrofobia. Tranco-me no
quarto e tremo. O medo é sempre sobrenatural. Alguém grita lá
fora...
Pag1 – Identificação: Tenente VB; Contacto:
Pag2 – Deixei todos os portos do mundo vazios e não me lembro
em qual despejei o sentimento. Os cães escanzelados que se
coçam demasiado nas docas ainda poisam um olhar vazio sobre o
navio que parte mas nem um latir do coração.
Pag3 – Ainda tremo.
Fumava lá fora. A banda tocando frenética. As pessoas cruzam
agitadas e satisfeitas. Irrita-me a dispersão. Os risos fúteis
das velhas libidinosas com os seus cus gordos alapadas ao
balcão.
Perto da meia-noite. O mar e o céu são um só. Serenidade. A lua
exala uma luz azeitona realçando as arestas das coisas.
Enquanto os homens acreditarem no infinito, o mar será tido
como insondável... Debruçado sobre a amurada fumo. As
gargalhadas no salão estão cada vez mais longínquas. Envolto na
noite.
Pag4 – Liberta-se a imaginação. Só tenho medo do sobrenatural.
Um arrepio. Um sopro frio varre o convés e insinua-se-me na
nuca. Os olhos não acreditam se um espectro de nuvens negras se
agiganta vindo não se sabe de onde e troça da lua. Uma primeira
vaga varre o oceano mobilizando as hostes. As vagas espumam de
raiva. Catatónico. Treme o navio. Estala um trovão. Oiço de
novo os gritos no salão. Corro. Quase atropelo um bêbado que
resmunga. Afasto um chinês. Corredores brancos.Uma mulher de
olhar desesperado.Corredores. Claustrofobia. Tranco-me no
quarto e tremo. O medo é sempre sobrenatural. Alguém grita lá
fora...
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Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
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Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria. Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros Escrito por um clérigo da época. Tu...
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