14.1.14

Suicidal Tendencies

Antes do barco andar parece que os pilares de madeira da plataforma se movem para cima e para baixo, ao sabor das ondas, e o querer vê-las paradas (que é como realmente estão) dá-me enjoos... o forçar da razão sobre o que nos diz os sentimentos, transportei o diferencial das duas apreciações para dentro do corpo e já sentia o meu mar interior encapelar-se e certamente teria vomitado se o barco não tivesse arrancado e o diferencial da brisa não me tivesse enchido a cara de frescura afastando a náusea e os grossos pilares de madeira brancos e amarelos do porto agora à distancia bem firmes contra as cabriolices das vagas. Estávamos em tempo de ressacas marítimas e o barco parecia provocar e arrastar consigo grandes ondas que rolavam pela noite como uma parte subaquática e orgânica do barco como se debaixo da nave a propulsão fosse feita por grandes tentáculos. Sentia-me nessa noite à beira de desejar o suicídio...

Os reflexos da noite sobre a baia quando a barca se aproxima são como cardumes de dedos luminosos acenando, agarrando-se fundindo-se e mergulhando

Selos Reais

Estávamos viajando pela Europa havíamos parado num oratório duma cidade bela, mas pouco excitante do interior italiano e rezávamos. Havia peregrinos no salão passando como silhuetas em frente à luz forte que entrava pelo portão lateral até que entrou a minha irmã madalena que apesar de não nos vermos à dois anos depois de um abraço esfuziante pela coincidência de nos encontrarmos ali tudo voltou a ficar igual como se nunca nos houvéramos separado. Ela vinha com um grupo de numerárias de que eu tentei guardar a vista. Vieram chamá-la para uma visita guiada e ela ia sair sem levar a mochila e a maquina talvez se fiando na honestidade que as religiosas supostamente têm. Eu levantei-me e obriguei-a a levar tudo alegando que os italianos são gatunos como os brasileiros e que não se lhes pode oferecer oportunidade que eles aproveitam logo fui ríspido na reprimenda e fui afastando-a da capela para não incomodar a Michele que rezava de joelhos.
“Uma cagadela catedrática foi aquela que efetuei em cambridge depois de uma semana sem evacuar por andar em turismo” aflorava-me...
Quando chegamos ao pátio que era um plátano obsceno no centro dum alargamento da estrada de terra que levava ao mosteiro passou bem devagar para não levantar pó um conversível com os meus pais lá dentro. O meu pai com suas espessas sobrancelhas numa blusa tipo lorde sorrindo com os olhos rasgados e a minha mãe de óculos escuros fumando com um olhar distante perdido na berma da estrada não se dando conta de que ali estávamos até que o meu pai a fizesse levantar os olhos espicaçando-a com um enigma qualquer. Uuuhh gritou ela dando uma última passa bem puxada e envolvendo-nos num abraço de fumo baixando a cabeça para que a beijássemos na testa.
Eu e a Michele casar-nos-íamos na Suécia e precisávamos da autorização do rei sueco. Depois de me enrolar um pouco na burocracia sem nada ter resolvido, para desespero e irritação da Michele, passei a incumbência para o meu pai que depois de uma inércia inicial lá foi aos guichês competentes agilizar o requerimento e ali mesmo foi buscar ao porta-luvas cheio de orgulho o documento com selo real

Corpus Christi Carol

Lulley, lully, lulley, lully,
The faucon hath born my mak away.
He bare hym up, he bare hym down,
He bare hym into an orchard brown.
In that orchard ther was an hall,
That was hanged with purpill and pall.
And in that hall ther was a bede,
Hit was hangid with gold so rede.
And yn that bede ther lythe a knyght,
His wowndes bledyng day and nyght.
By that bedes side ther kneleth a may,
And she wepeth both nyght and day.
And by that bedes side ther stondith a ston,
"Corpus Christi" wretyn theron.

10.1.14

tele

Para lá chegar descíamos uma escadaria de incêndio com cheiro a mijo, saímos num plateau donde se avistava já o mar batido com espuma e lixo flutuando, sempre que lá ia o tempo soalheiro ia se fechando. Um caminho de terra com umas sardinheiras junto ao muro que depois caia em rochedos até ao mar dirigia-se de súbito subindo até a uma floresta meio careca e suja havia muito dejeto plástico ressecado espalhado na areia e os pinheiros pareciam atacados de acidez, eu caminhava com Paulo Portas e íamos em busca de votos naquela população medonha que habitava naquela colônia junto ao mar. Numa encruzilhada da floresta distinguimos no caminho que cortava o nosso uma gang com suas motos. Vimos o monte de jovens e ficamos assustados e aceleramos o passo. Chegamos à vila um aglomerado de edifícios dispersos pelas rochas e entradas de mar prédios baixos de antigas colônias de férias dos anos 70 de cores acidas corroídas pela humidade marítima e o desleixo. Todos os habitantes são rapazes adolescentes que para ali fogem fugindo da perseguição aos joy division, throwing muses, marillions e outros mijões de escada. A rapaziada move-se em cardumes não entrando nunca nos edifícios que se adivinham vazios como as suas almas e frios acolhendo no máximo móveis despedaçados ou plantas daninhas enfezadas. A rapaziada corre em fatos de banhos de cores frias em direcção ao mar sujo com urgência cruzando por nós sentido a nossa presença mas sem nunca olhar e jogam-se às ondas sujas que estouram nos pontões e vêm rebolando aos encontrões sufocados entre corpos e detritos plásticos coloridos que boiam eternamente

18.12.13

O Salto do Peixe

Algumas coisas nos vemos mas não em todo o seu detalhe. Por exemplo: já toda a gente viu um peixe saltar prateado e impertigado chapando como uma lata na água, mas e se eu te disser que ele salta gritando um grito ultrassônico provocado por uma agitação propulsionada das guelras e no ápice do salto esbugalha e rutila os olhos em todas as direções e num milésimo de segundo contraindo os músculos do corpo provocam uma agitação nas escamas incrementando o volume do corpo e optimizando a superfície refletora das suas escamas provocando um flash idêntico a uma explosão estelar. É um sacrifício, praticamente um martírio ou imolação pelo rebanho, é um salto para atrair as gaivotas que certamente será o selar do seu caixão no marasmo ácido de um ventre estúpido.

13.12.13

Creuza

Bata creuza no meu peito
e tente sair do quarto ilesa
renato prior do Crato
e do lorvão colhão de gato
esparguete na goela mete sardinha
espinha aguçada penteia
a traqueia da minha filha
espeta-lho esôfago estrafega sem mania
alinha-se o soldado na fila esguia
deste plateau desta messe
em que se tece
o meu complot e dance

como o messi

12.12.13

Shane MacGowan dos Pogues canabalizado no concerto dos Clash



ïÎâ¾¢

Lembra-se quando os comíamos vivos enchia-me uma malga com troços bem picados do braço, eu esperava sempre que tu te servisses, envergonhada dos olhares incrédulos, estarrecidos, sofredores e irados dos teus mutilados silenciosos e sem língua...

Considerações Biométricas

Os travecos da Glória viravam as costas ao trânsito porque pela frente lembravam demasiado paraíbas de sorrisos largos com cabeleira de mulher

La Petrona

domínio popular
Tú eres la linda Petrona,
Clavel de Tehuantepec.

Tú eres la linda Petrona,
Clavel de Tehuantepec.

Rosa de Castilla en rama,
Ay, Petrona, cortada al amanecer.

Rosa de Castilla en rama,
Ay, Petrona, cortada al amanecer.

En el jardín del amor, ay, Petrona,
Se para un pájaro a ver.

En el jardín del amor, ay, Petrona,
Se para un pájaro a ver.

Después de picar la flor, ay, Petrona,
No quiso permanecer.

Después de picar la flor, ay, Petrona,
No quiso permanecer.

Petronita de mi vida,
Pertonita mi adorada.

Petronita de mi vida,
Pertonita mi adorada.

No te quiero por bonita, ay, Petrona,
Sino por mujer honrada.


No te quiero por bonita, ay, Petrona,
Sino por mujer honrada.

11.12.13

Dr Aulácio

O doutor Aulácio tinha um ligeiro bafo de café misturado com cigarro que se sentia apesar da proteção de dentista que usava nas fuças. Com o seu humor estranho sempre repetia “um desabafo é sempre melhor que uma desabufa” e dizia que ainda que ao olhar lhe atraíssem mais as bundas que as bocas ainda assim melhor suportava o cheiro das segundas e inclinava-se sobre o meu peito com a broca vrrr vrrr eu controlava a dor com as sobrancelhas e pensava em varias bundas e bocas como um grande catálogo e com a agilidade dum mega computador ia atribuindo notas e aromas a cada uma. Comecei a sentir o sabor de sangue perto dos maxilares para onde a minha língua havia sido sugada pelo aspirador de saliva...

Desalento

Chico Buarque
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos

10.12.13

Manifesto Cachaça

Tem certos dias de jogo em que me entrego à bebida. Bebo sôfrego dando-me todo ao júbilo esfuziante da alegria mareada que afoga o meu juízo, faz o meu corpo ondear graciosamente, salga o romantismo do paladar e agudiza meus pânicos expande-os até ao horizonte. Deitado numa soleira de um prédio qualquer antes que o domínio de mim me abandone totalmente e com os olhos semicerrados vejo as luzes da cidade como lençóis ou asas de luz de todas as cores em vectores de Balla e as mulheres futuristas também elas, iluminadas só até ao pescoço que passam ao meu lado puro movimento são anjos de luz sem rosto

Guerra de Palavras - Horizontes de Petróleo

Os selêucidas apátridas eleutérios>
desgracias se abaten sobre nosotros>
pancrácias e erros crassos>
deus meu que abraços>
transes demográficos>>
abanicos__ lápis
chocos grátis
na práxis
no tórax e no pélvis

liberta-se a fumaça
que desgraça
o final de tarde em estio de guerra,
os helis estacionados de chapa-quente e as embreagens
já gastas cheiro de gato morto e pólvora
que ofusca os céus ocres do deserto
escrevo uma carta incerta
como um poço que brota lanço fogo nesta nafta
que aos gargomilos me brota
vomito em forma de tinta este lamento sem receptor
que m’abra passo tempestades de areia no papel,
seiva de cacto, um bordel de odaliscas imaginado um fungo
de ranho inalo por não ver mulheres há tanto
tanto tempo passo tudo embotado como petróleo,
escarrado por um canhão tesudo bem de aço firme,
que se alinha com o horizonte________
e sinto que acordo se mudo as tônicas regentes,
e abandono um transe, certo, que outro se anuncia perto,

e subitamente vejo tudo preto

Coríntios

Lázaros e coríntios são
sábios que se sentam à sombra na boca do poço
e falam com brisas
ouvem os passos do sol que trilha os imensos espaços que a vista alberga sem se apegar
ouvem o gemer da areia que se despende do reboco dos tijolos daquela branca parede que vai descongelando o reboco
ouvem o roçagar dos vestidos que atravessam a praça

e o sublime espadanar dum voo dum preguiçoso pássaro que adormece nas fuças do vento quente enfiando o bico na morte do bafo que se levanta grosso, sem barulho, cheio de sal, veneno, morte, escorpião em poalho e vingança islâmica e vingança ardurosa judaica e ainda que não tenha som se alevante o coríntio, com uma ligeira mezena que faça a túnica cair sem vincos e se abrigue em casa porque vem ai tempestade

9.12.13

Acção de decomposição pensada

Locsis abraxas//fucsas...terminal,sobral,castro,cristal++hieroglifo gafanha_ 
gadanha decepa os corpos dos cepos
estendidos no meio duma estrada
que cruza o verão das planícies além-tejanas
decepa um braço bem rente ao tronco depois o outro braço perto
do cotovelo em seguida corta junto ao joelho
uma perna ficando a ver-se o pequeno
osso da rotula e junto da virilha a outra perna
não saía sangue quase pois estava morto faz dias ali
defumando nas ondas de calor do alcatrão
não cortava como um talhante com violência mas com a delicadeza dum sibarita destrinçando um peru natalício
primeiro o peito com a carne branca
fumegante sob a pele dourada e estaladiça
em seguida um pedaço de carne escura da perna
trinchada como manteiga e por fim cava com destreza
nas entranhas aquele preparado de carne moída

com as miudezas da ave – assim destrinçava os corpos

desolação da casa pensada

Qron magnon//tulherias..graças leves<>
mãos frias de descascar as árvores) deixá-las secas) e frias)
 soalhos de osso calcinado, aquele cheiro de cano desalmado,
 na cozinha.
até as aranhas abandonaram a casa
deixando para trás algumas teias negras de pó e abnegação
o sol grita todos os dias lá para dentro
na varanda das traseiras onde o desânimo se instala feito sombra, ainda soçobram pequenas poças de fevereiro
pintando rostos fantasmagóricos nas cornucópias
esburacadas do lioz
os tubos de queda abdicaram dos caminhos retos
e deixaram-se cair lá embaixo no mato denso que viceja no pátio
carcomidos pela ferrugem da mentira
os solos esvaiem-se sob as sapatas como ratazanas nos subterrâneos
provocando um solo osteoporoso e vencido
a estrutura do prédio (repousa) assenta as muletas nas falhas
e o arcaboiço recurva-se como um aleijado de quadril
(deslocado) e omoplatas salientes
como uma boca os sanitários são onde a desolação
e a falta de cuidados se tornam mais patentes
os azulejos de rosa velho partem-se como dentes podres e as sanitas exalam a morto

caçador

Era um exímio caçador paciente e despachado ao mesmo tempo, acho que é o calculismo físico, era aquele soldado que independentemente das condições do campo de batalha dará um tiro no adversário. Todo ele era um molde de mercenário eficaz, tinha um arranque de corrida potente que stressava todos os músculos salientes do seu corpo enxuto, quando pensava viam-se os pequenos músculos de maxilar em tensão permanente como se o raciocinar fosse antes o seu instinto de tubarão inclinado por natureza a abocanhar qualquer presa.

caldos

O escarro negro a tez macilenta o arfar contínuo a roupa no fio a irritabilidade e a lassidão mescladas como uma sopa turbilhonada num caldeirão com o caldo, as couves, as batatas, as raízes, as cristas de galo, os abdômenes de barata, as esbranquiçadas patas de galinha, acho que um nabo. O fumo espirala pela cratera da chaminé que é uma boca negra engolindo toda a sala, um gato impassível aos modos da mão que o alimenta refastela-se naquele canto mais próximo da chaminé onde descansa também uma vassoura de graveto rijos... o fogo no chão da chaminé desvenda o semicirculo de imundo chão onde a lama e folhagens se empapam num vómito marrom....

6.12.13

Rio de Janeiro

O rio de janeiro sem uma justificação destruiu as mais belas pérolas do seu patrimônio construído o filé mignon do espaço público carioca em busca dum sistema viário mais eficiente. Cilindraram as melhores praças com uma estrambótica e jactante Presidente Vargas, destruíram Sta Luzia com um aeroporto enjoado e alabancioso, violentaram a Praça XV com a besta negra da perimetral arrasaram o Morro do Castelo berço da cidade por falta de miolos nos cornos, destruíram mouriscos e outros palacetes para dar lugar a transformers e outras bestas quejandas e fizeram um jardinzeco que transpira falsidade que é um Aterro oxalá aterre de vez e seja devorado pela ressaca. Para quê? Por favor, devolvam-nos os meretrícios, as cabeças de porco, a rua do Sabão e a de São Pedro, o largo do rocio pequeno, os cortiços, a antiga praça XI...

Dó-Ré-Mi

acorde decadente um traste mete dó
"eu sou vosso réu! eu sou vossa ré"
ainda é longo o caminho
mais leve se faz
é um homem sem sol
que suspira oxalás
sob o sol sob o chover em si

5.12.13

Banquete Celestial

No fúlgido almiazar sobre o tabernáculo de granito grosseiro relaxava uma traça descomunal

☻☻☻☻

Um vento de poeira da traição
levanta-se e entra-me nos olhos
tento segurar o vento que me empurra
e obriga
a encolher-me
vão me enganar por onde não
vejo grito mais alto e desce sobre
mim uma lona que amortalha e me isola da impiedade do
vento e sai-me
o solo de debaixo
do corpo todo
de uma vez

o corpo reage como um gato e toda a pele se empolga

A amplitude das entradas - condição de aguaceiros

A entrada era um mar de seixos rolados brancos ou cinza claro com umas ilhotas de cactos redondos de espinhos que iam do verde ao vermelho passando pelo amarelo. os seixos não tinham ervas daninhas parecia que esterilizavam o pátio  como pedras de sal grossas como punhos, somente um discreto verdete pintava o bojo das pedras no céu dum cinza leitoso piavam duas gaivotas entediadas pelos dias que secam como algas no areal e meses como barcos encalhados no fundo do mar onde nem as ondas perturbam

Des-a-bafos

“Quem terá sido o filho da puta que arrotou? Foda-se! Que cheiro a carniça! Caralho do ônibus sempre cheio puta puta ...uns porcos não tomam banho outros tomam banho em after-shave de chulo mas pior são os que tresandam a cinzeiro que agonia! louvo os que guardam a pirisca no bolso da camisa essência de catarro escarro negro piça ...por vezes temos a companhia de um mendigo ou um cata lata de pé preto e cheiro a mijo abafado debaixo da coberta mas esses têm o distintivo visual da própria miséria que nos alerta ...admiro ainda os que perturbam o sossego e a paz dos passageiros ora com radiolas ou mp3 fudidos de funks regionais ou melhor fodendo os tímpanos das pessoas gritando no celular ou no walkie talkie ou nextel ou que merda é aquela toda fodida em que cada um tem que deixar o interlocutor palrar tudo o que quer antes de mandá-lo cagar-se. Amo os condutores que nos estilhaçam os ossos fazendo curvas bruscas porque não comem buceta em casa e despejam as raivas nos cus dos passageiros"

La llorona

No sé si el corazón peca, llorona,
en aras de un tierno amor
por una linda tehuana, llorona,
más hermosa que una flor.

¡Ay!, ¡ay!, ¡ay! llorona,
llorona tú eres mi xunca,
me quitarán de quererte, ¡ay! llorona,
pero de olvidarte, nunca.

Dos besos llevo en el alma, llorona,
que no se apartan de mí,
el último de mi madre, ¡ay! llorona,
y el primero que te di.

¡Ay! ¡ay! llorona,
llorona de azul celeste,
aunque la vida me cueste, ¡ay! llorona,
no dejaré de quererte.

Si porque te quiero quieres, llorona,
quieres que te quiera más,
te quiero más que a mi vida, llorona,
¿qué más quieres?, ¿quieres más?


Sones e Huapangos de la Huasteca

Ready, Able

Labyad la salette
danielle bernardette
lábias de ouro
beijos de mel
laço no ventre
cama de dossel
três francesas no chambre e um
monegasco de cimitarra recurva brilhante
empunhada na cabeça um turbante
e luva branca
diamantes
na palma da mão
tamareiras no oásis distante
é um leão do deserto
uma fera na cama
o zimbório em chamas
refuma o incenso inconstante
e já rolam as cabeças
de olhar rutilante
e refrescam as bochechas

no mármore com veios de sangue

Why can't love ever touch my heart like fear does

Why can't love ever touch my heart like fear does

3.12.13

Mansão dos Arquitetos

Entre os vendavais sociais de santa
se procuras abrigo de ti mesmo
um lar que os teus ossos recolha
das tempestades trovejantes
do Rio de Janeiro sobe até aqui
onde a Lapa é apenas um murmúrio
e descansa na varanda
ouve o linguajar doutro arquiteto
duma outra esquina do mundo
toma uma água filtrada com lentidão
do sossego enquanto baratas cruzam
o soalho e lembra-te que para chegar
ao quarto do teto alto terás
de descer às masmorras da humidade
e sentir o aroma de toda a humanidade
exalando do banheiro ali ao lado
depois duma festa junina
e a sombra dum novo contrato terminado
que se queima num semestre
mais rápido que um cigarro
atormenta o pai de familia
perdido entre as prateleiras do mundial
o celeiro desta ilustre casa
e a louça ressecando sobre a pia
é o cenário perfeito para os frascos
de milho.
E a lista dos moradores deste cemitério
sob os vintage vitrais da escada em mámore
ouvem-se barulhos na madrugada
alguém não se deitou e um outro já está acordado
um estuda para uma prova, transa ou está viciado
outro vai surfar, vai colher mangas
no quintal ou vai viajar para a barra
e do nada eis que se faz a reunião de condóminos
em volta do parco café da manhã
pão na chapa e suco concentrado
Um só canta sacagem, outro come mais do que fala
outro mete o nariz em todo o lado,
e na porta o mais atento é um cachorro
mas também esse vai variando

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...