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5.7.08

Raios Gama

Todos os vizinhos se queixam
Quando o sino te lambe os tímpanos
Pela matina ainda tens o olhar fixo
No sofá de veludo verde a teus pés
Semi-deitada lá se encontra tua mulher
Aspecto de cartoon a preto e branco
Mais um clarão de raios gama faz transparecer
Por milésimos de segundo as paredes do prédio
E contemplas o esqueleto dos teus filhos na cama

Mário Mosca

23.6.08

Vesga de Amor

Tão vidrada estava em seu amor
Que os olhos embicavam para o meio
E quem olhasse no momento do beijo
Pareceria meio vesga sim senhor

Beijavam-se furiosamente
Mas sobre o ombro do rapaz
Fixava meus olhos melosamente
Porque nada a satisfaz

Beijavam-se não havia mais ninguém
Saía eu do metro prá cidade
Toquei-lhes os ombros com cumplicidade
E sussurrei esta é a vossa paragem

Mário Mosca

4.6.08

Sermão Danado

Dois demónios rondam a vossa casa
Um tentando os vossos pais
Outro ronda os caminhos assustando
Os vossos irmãos

O prédio mudo é sua mansão
Sussurra baixo a decrepitude
Cego à avenida em agitação
A natureza camuflou-o

Veio até mim em sonhos
Um sagrado turíbulo
Argêntio pêndulo
Mil cornucópias de ouro acrisolado
Inalei o fumo de carnes
A multidão de criaturas imoladas
Entre gemidos brasas negras
Densas como leite condensado
Tingido de sangue e ferrugem
Incenso de dor em nuvens
Do bálsamo de vida sobre as brasas
Um querubim remexe com os dedos
Pouco articulados de bebé
As cinzas putrefactas
Que poderiam encher uma sala
Rescoldo duma existência
No fundo negro do turíbulo
Flutuando de asas cada vez mais cinzas
Com um suspiro encontra fio de prata
Retesado como um aguilhão adamântio
Eleva-se nos ares…

Do púlpito atiço a multidão
Oh monte de sargaço informe
Que atordoas até as moscas
Com teus humores de podridão
Acorda!

O ser que em nós jaz
É Deus quem no-lo dá

Mergulhai em sangue e mel
Sem vos afogardes
Contemplai tudo com a brandura
Dos gestos subaquáticos

A fúria da mãe leoa
Protegendo os filhos
Dos babuínos

Vede a sociedade
Sob os nossos pés que pairamos
7 moças gordas e 7 magras
mas são as mesmas 7
7 gordas e 7 magras

Quiseram ser nossos mestres
E nós sem querer deixámos

Toda a água benta derramada sobre
A pele evaporou-se com o barulho
Dos fritos e efervescentes nuvens de vapor

Sim! Porque é que hão-de obedecer se não entendem?
Atrevessou-vos de olhar febril amarelo líquido

O sofrimento e o medo
Doenças de estábulo
Que vos atacam humilde rebanho
Já as ultrapassásteis
Descobri agora a verdade


Zé Chove

1.6.08

Comité Central

Espero por ti há porta da cabine
Das fotografias de passe
Vestimentas tribais
Olhares esbugalhados
Não somos normais desde o sorvo
De Maldoror

Só uma linha ou duas
Prá apimentar a febra
Cubos e cubos de carne
Sobre o assador

Forçou a fina loiça dos pés
Loiça craquelé
Averiguou se as mãos não teriam manchas de sangue
Calou todos os sons da urbe externa
Gritou até sentir nas cordas vocais um ardor

Estremece ligeira
Do calor em brasa os colants
A textura de areão grosso
Cravada na banha dos braços
De noite entre as tabernas
Um deleitoso furor

O poço, a relva, a hera
Dependurada do telheiro
Os sóis brilhando em tudo
Mas mais nos cílios
Pestanas e cabelos
Meu amor

E ao final da tarde
Juntou a sua à voz do tordo
E chora sem consolo
Não não chora
Morre
Não não morre
Gozo
Gozo desta trampa de poema
- que aborto.

Diniz Giz

Morte ao Sol

Atormentámos o poeta
Obrigámos a fonte a jorrar
Sim rapaz merece ser escrito

A saudade lusitana
Símbolo de estupidez humana
Que se lamenta do tempo passado
Sem tirar todo o proveito
De alguém que já não está connosco

Eu mato as moscas
Mas deixo viver as aranhas
No meu quarto

O rio caudaloso com uma azenha
de cada lado

Quem é que
Munido das tabelas
Matemáticas deporá
O seu coração num prato
Para alimentar as víboras?

Atormentámos o poeta
Obrigámos a fonte a jorrar

Atado a um poste
no meio do deserto
vimo-lo secar como um sarmento quebradiço
todo o sangue, escorreram todas as lágrimas
secou toda a saliva e o suor das axilas
até que chegaram as miragens e a besta falou
até caírem secas as miragens
e por fim o próprio sol secou
e desintegrou-se em pó
o poste que sustinha o profeta.

Orlando Tango

17.5.08

Afago o Grácil

Uns palmos a mais e tinha vista do mar
Ando com uma defloração no cotovelo
Como escamas talvez da veia marítima
Bebedeiras em bares mal-afamados

Venho curá-las a casa
com lamentações
uns palmos a mais
maldito cotovelo
Sentado de perna aberta
Na retrete
Mando grandes arrotos para acordar
A vizinhança
A bezana, o reflexo do azulejo
A intermitência
Do néon no espelho
E o balançar do badalo do autoclismo
Sacodem memórias
Senão todo, pelo menos parte do filme
Da minha vida
E ainda algum recheio.
O álcool benfazejo
anestésico
De queixo caído quase babado
Abre as comportas ao grande rio de ideias
luminescências, relâmpagos,
Conceitos morais, projectos de vida
Agoniado com o cheiro na roupa do tabaco
Apoio a cabeça ao toalheiro
Bem poupo no uso do papel
Higiénico
-Dobra e volta a usar-
Afago o grácil
Onde estão os pátios
À noite sob o céu de Verão
Onde está tocador do alaúde
Ainda não cheirei a ambrósia
Onde se esconderam as garotas das saias
Compridas e os decotes enfunados
Onde estão as palmas
Espeto a cara toda na almofada
O pijama e a barriga para baixo
A neblina sai do corpo e evapora
A cabeça
Anestesia geral e sonhos
Pelos becos fora


Diniz Giz

2.5.08

Bucólicas

Num plácido domingo o cavalo
Do meu primo comia no pátio
Uma mecha de loiro cabelo
E os fios abafavam-lha traqueia

Era tão opressivo o calor que só
Deitado na tijoleira da cozinha
Encontrava conforto hipnótico
O serrar das cigarras no jardim

No alguidar verde cheio de vinho
Boiavam calotes de laranjas
E metades de porco-da-índia
Marinando para a janta


Diniz Giz

4.4.08

Mau Dormir

Sou o que mais sofre e ainda
me incitam a pagar a rodada
olho desconsolado na cerveja
uma mosca morta a boiar
só se está bem na cama

Acordo mole no escritório
com medo que o patrão
veja esta bagunça e lhe
chegue ao nariz o cheiro
a ropa e carne estufada

de olhos embotados como
batatas, vagueio secretárias
durmo sempre em agonia
com ideia de ser apanhado
de pijama por um funcionário

De novo o acne do adolescente
De novo mau génio e raiva impudente
De novo os sonhos grandiosos
De novo os serões ociosos
De novo na cama deitado

A música é foleira – não contesto
Mas atiça-mo sentimento
Não faço grandes considerações
Já estou deitado na cama

Alguns poemas ficam espinhados
Quando vagueio na cama já deitado
Dos riscos de contar as sílabas
Parece que brilham, parecem cactos
Secando nas dunas do deserto

Marco Íris

27.3.08

Romance Grotesco

No meu dicionário mental
Associo à palavra grotesco
A sua cara de cavalo.

De olhos fechados vagueio
Através da matina de ar fresco
Tremendo pela rua com anseio.

Transpor tão desgraçada cancela
Foi impulso quixotesco
Em busca de tão feia donzela.

Aterrorizada a grande mula zurrou
Mal vislumbrou meu jeito simiesco
De pernas tortas e capote de grou.

De damas é que eu não pesco
Terminou mal começou
Meu romance pitoresco.

Diniz Giz

22.3.08

Quadras Açoreanas

O vento uiva
de culpa
à noite
nas grutas.

Eu te asseguro
filho meu
não é bom auguro
se chora o breu.

O mar ruge
é monstro imenso
imensidão sem luz
cemitério imenso

se por feitiço
ou encantação
se por enguiço
ou tentação

teu corpo flutuar
quiser perdido
entre as ondas do mar.
não lhe dês ouvidos.

Faz-te mouco
e desentendido
que só um louco
não vê o perigo

O choro que escutas
não é humano
lá entre as grutas
do mar insano

é o sono profundo
do Leviatã
Respira fundo
Aguarda pla manhã

Mário Mosca

27.2.08

Monte dos Vendavais

Conquistaste mais um forte,
da minha fraca vontade.
Amor sincero, afável,
todo teu te entrego.

Abafo o teu corpo descoberto,
solto a sombra do meu desejo,
cubro a brancura pura da tua face,
de imundos beijos negros.

Faca dilacera o teu peito,
sangue fluido imundo misturado,
no podre cancro do meu seio.

Na palidez enferma da tua pele,
surge o vergão vermelho infamante,
sou mau toquei-te de morte.


Diniz Giz

27.1.08

Desvarios Assonetados

Subiu e desceu as escadas levemente,
Agitado sem saber bem o que procurava.
Coçou a cabeça tentando ter alguma ideia,
De cotovelo apoiado no corrimão fitou fixamente,

A luz na porta do seu quarto nas águas furtada.
Lá de baixo vinha o cheiro dos sofás velhos,
E o bichanar da t.v. notívaga de sonos,
Suspirou profundamente antes de decidir sair.

“Talvez lá fora haja alguma coisa para fazer”
Quem puxa é o corpo, embrutecido pelo tédio.
Puxou com força o cabelo para trás,

Deixou o frio lamber o seu nariz,
De mãos nos bolsos cantarolou até ao bar,
Mais próximo.
De novo o calor,
Ar gasto e álcool no sangue.
Saiu de ouvidos zumbindo a metal,
Os últimos carros abandonaram o parque acimentado,
Algo no coração ainda não se sentia satisfeito.
Deitou-se na relva e chorou ardendo em desejos,
De não sei quê que lhe dilacerou o peito.

Mário Mosca

Tédio Melancólico

silenciosa e morna
tremia-lhe o peito agoniado
as unhas cravadas na almofada
de joelhos no tapete ao pé da cama
quando olhava pela janela do meu quarto

pela janela do meu quarto
distingui ao longe o ladrar dos cães
cigarras no silêncio
harpas de desejo
o céu enfermo e triste
sem saber vontade morta
sem centelha
com sol brando morto
e sem paixão ou afazer
que me mova

o céu roxo
silhueta do carvalho só.

Diniz Giz

7.12.07

Good Vibrations

Sun is shining, the weather is sweet
Yeah! Toma carraspana
Dormir na praia
dia em delírio
misturando os sonhos
de areia e mar
Sun is shining
lift our heads and give jah praises
Make you want to move your dancing feet
As Cadências de Verão
Preocupações evaporadas
To the rescue, here i am
y'all, where i stand
Vozes alegres Yeah

(rewind)

de novo a doce melodia
tonturas paradisíacas
junto ao pontão
i'm a rainbow too
chuca-chuk chuca-chuk
corpos langorosos
moldados ao areal
o calor e os cheiros
rochas banhadas pelo mar
o carvão, o creme solar
(monday morning) here i am
Want you to know just if you can
(tuesday evening) where i stand
(wenesday morning)Tell myself a new day is rising

Mário Mosca

5.12.07

Páteo das Cantigas

Bazel Tov!

F.U. Like Curtis
across the street

Venha daí vizinha
manchemos as toalhas
brancas de vinho

Dançai ao som do acordeão
vinde rapaziada saciai a vossa fome
praça pobre de granito e parras
ao sol
risos dos gaiatos
alegria simples
tarde fora

gerações d'aldeias
todas festejando à uma
numa praça sem limites

miríades de bimbos
saltaricando ao entardecer
soltai foguetes
já se aproximó anoitecer
soltai toiros, soltai mascarados
soltai o juízo, engoli-o com loucura
junto à fogueira
crianças contentes embriagadas
soltai foguetes

Diniz Giz

11.11.07

Rodelas de Chouriço

O meu tio roncava como um porco
fazendo tremer o pó dos livros
enroscado como um musaranho
no cadeirão de veludo


A técnica permite que o tempo passe mais rápido.
Basta pensar na Poda Automática


Traços bruscos
tela amarfanhada
tinta-sangue, lágrimas-terbentina
regaço de amor
quadro de vida

Mário Mosca

16.10.07

Contemplo o teu sono

Contemplo o teu sono de lareira
no reflexo do licoroso vidro
em fundo de alma do céu em ténebras
enterrado no veludo do sofá

Memória que respiras em paz
atrás de mim dissolvida na tempestade
da janela em que me miro
aconchega-me nas tardes de Inverno.


Diniz Giz

3.10.07

Um miasma de carpideiras

Um miasma de carpideiras
descendo às caves do metro
e cego batucando os ritmos do apocalipse
maralha autista de olhar trôpego

demos origem à comunidade
os que aqui estamos minha gente
na moderna carruagem de metro
o trilho comum é sempre em frente

Vamos em êxtase grupal
cantando o nosso hino
carne humana cheiro animal
“O barrasco não sabe travar este chouriço!”

“Não queremos mais seguir nesta direcção”
“Que força é esta que nos faz mover?
-O número do movimento segundo um antes
e um depois.-
E depois?
Os que aqui estamos não paramos o vagão
nem que andemos todos para trás.

Absolvição geral!
Vamos atacar a carruagem da frente!


Diniz Giz

1.10.07

Shot#17

Tens inocência nos teus olhos apesar deste mar de podridão
Mas já baloiças desamparada
Os tubarões já te rodeiam


Mário Mosca

14.9.07

oh doces luzes do terror

oh doces luzes do terror
morte dura de um jovem

um boi esventrado
fachada decadente
de laranja afagada
rio de sorte inclemente

não sei se faço bem em revolver esta sutura
o corpo dorido queixa-se ao mínimo movimento


Diniz Giz

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...