11.11.07

Anthologia de Textículos #1

Evelyn Waugh – Reviver o passado em Brideshead

“…quando parti e me voltei dentro do carro para ver aquilo que prometia ser a minha última visão da casa, senti que deixava para trás parte de mim mesmo e que, aonde quer que fosse depois, sentiria a sua falta e a procuraria sem esperanças, como dizem que os espíritos fazem, frequentando os locais onde enterraram tesouros materiais sem os quais não podem pagar a viagem para o inferno.”



T. S. Eliot - The Love Song of J. Alfred Prufrock (excerto)

And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window-panes;
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.



(Nota: o corpus editorialis não tem paciência para bibliografias
qualquer dúvida telefone para o número 764928 ou 708172)

Indi(g)nação

Estamos a milhas da guerra
em paralesia-geral
contendas interiores
são punidas pela constituição

perdemos o contacto com as armas
proibimos o esgatanhar dos tigres bebés
chora-mama, borra-limpa
sofre-anestesia, grita-anestesia

anestesia-anestesia

Os funis estão cheios
Os grandes celeiros reais
frascos derramam
de crânios formatados
vomitam febras todas iguais

corpos amansados pelos media
enroscados no morno dos sofás
sob a cúpula do entretenimento
"não papás" não desliguem as máquinas
influxo de vida das vossas crias

Atingimos a glória da nação
erradicámos o escorbuto malsão
e toda a forma de ansiedade
boia afogada a juventude
em poças de água estagnada

Brás

Insónias

O prédio dorme
a luz da lua cala os lampiões
andam nos corredores
solitários
em passos de ladrão
nevoeiro
derramado debaixo das portas
das celas de morfeu
sonolência de horas e horas
"aqui estou eu"
vidrado
de queixo pendente sobre a cidade
gemendo meio-morta

Wilson

Rodelas de Chouriço

O meu tio roncava como um porco
fazendo tremer o pó dos livros
enroscado como um musaranho
no cadeirão de veludo


A técnica permite que o tempo passe mais rápido.
Basta pensar na Poda Automática


Traços bruscos
tela amarfanhada
tinta-sangue, lágrimas-terbentina
regaço de amor
quadro de vida

Mário Mosca

Domingos

Domingo ao fim da tarde
quando melhor sabe andar na rua
O hiato entre a sonolência de Sábado
e a urgência de segunda

Noutra encarnação
tingia domingos de pijama
vagabundo entre a sala e a cama

Sentem se já os aromas acres
do refogado de segunda-feira
com o vento vou deslizando
afiando a imponência solitária
das universidades e edifícios públicos
enjoados da ressaca.

...............................................................

e lambendo assim o tédio
todas as fachadas de todos os prédios

nos passeios pescoços cortados
artéria a artéria
tendão a tendão
com arames finos
fachos de palhas decepados rente
com toda a raiva exigida


Zé Chove

9.11.07

Devolvidos ao Remetente - P.B.C.

Paredes de betão cinza,
com nuances ferrugentas,
pessoas cabisbaixas moribundas,
ruas negras não aguentas.

Vais chorar em silêncio,
todas as mágoas deste mundo,
à janela arrebentas,
em pranto incontido profundo.

Atrás das nuvens não vês esperança,
lágrimas amargas dolentes,
no teu rosto estão quentes,
na alma cravada uma fria lança.

Desce a noite, morre a gente,
sem um sentido choros lancinantes,
já nada será como d'antes,
chuva morna diluiu as mentes.

Vasco Vides

Beijos 1/1

Parece que a história se vai repetindo,
vou ficar aqui sentado,
à espera do replay,
dos teus beijos do passado.

Lúcia

Beijos 2/4

À neve, à chuva, sob o sol tórrido,
esperei alegre por teus lábios,
que como dizem os sábios,
voltaram ao seu depósito.

Lúcia

Beijos 3/4

Comecei a pensar se não estarias já velha,
levantei-me fraco, cambaleante,
e voltei a sentar-me empurrado,
pela história volteante.

Lúcia

Beijos 4/4

Chove no meu quarto,
ajoelhado com frio,
desejo o teu regresso,
beijo a marca que deixaste no lençol.

Lúcia

Voltei

Voltei a puxar a fita atrás,
queria rever o teu olhar distraído,
o teu andar de flor de chá,
és o meu filme preferido.

Zé Chove

BONITO

Remix feat. Miura

7.11.07

Ezra Pound

Archivo de imagens #16

Tempus Fugit

Azulejos partidos
Sanitas secas
limos preguiçosos conquistando os mais altos cantos
da casa-de-banho pública
a luz intermitente atrai a traça
no espelho desbotado luz
reflecte o rosto macilento
o bafo execrando
a túnel abandonado
gota a gota coordena a torneira
não chega a acumular o tempo cai pelo ralo

Paulo Ovo

Não chores minha querida

Ontem houve disparos no Palácio da Justiça
vão prender o teu irmão
não chores minha querida
podemos fugir para Santarém
lá não nos vão encontrar
Chiça – Não vão – Acredita – Não há ninguém – Pára de chorar
– No fim tudo acaba por se arranjar

Vasco Vides

Aditamentos Diferidos #2

“O Profeta Sabuk do alto Egipto esteve 9 dias no ventre do divino crocodilo branco.
Ao 9º dia foi cagado fininho nas margens do Nilo.”

“Experimente Cerelac com leitinho frio e grumos de pó mal misturado.”

"Filhote, quem foi o Sócrates?
Um grande filósofo, avozinha.
Muito bem, netinho."

“Abre-me o teu coração e esvai-te aí no lava-loiças”

“Hey! Puto!
Gostas de mamar pasta dos dentes?
Armas tendas no sofá da sala?
Brincas com Playmobiles no bidé?
Gostas que a empregada te aspire o cabelo com aspirador?”

“Força! Avia-me na tromba! Eu até gosto...”

“Manela! O teu filho anda de novo com as guelras ao léu.”

“Oh, Migalhinha, fecha braguilha.”

“Quem compreenderá a solidão
de mais uma tromba esquecida por todos no metro.”

Cardápio - 3ª feira - Almoço

Entrada
Ovos de Codorniz com fósforos usados

Sopa
Sopinha d'algas d'ria d'Aveiro morna
Soupa de grelo transgénico

Peixe
Solhas na tromba em sangue

Carne
Gelatina de casco de boi au arroz de framboesas
Arroz ensopado de merda de vaca

Sobremesa
Encharcada Alentejana

Bom Apetite

"Caminhava rápido. O frio congelou-me o ranho..."

Meia noite na gasolineira
A floresta sufoca de breu o halogénio...


VA

5.11.07

Crucificado

Vento-vai e vento-vem
mar engole e logo sopra
paixão que inflama quem ama
insuflada a pulmão em tensão
cravado entre o céu e a terra

André Istmo

Europa

Doces carros de madeira e carne de cavalo
chiam nos ermos
místicos vales afogados em neblinas
em neblinas emergidos
onde monges-oratórios alcantilados
repletos de juventude bradam as Laudes

Derramas com jeitinho mais fumo no panorama
fábricas fumam em Tróia
escondidos mortiços
grandes caldeiras explodem
em lofts abandonados
ao passo que o cavalo pasta solitário
no estádio vazio em Sábados
de nevoeiro

Huuuuuuuuuummm boa!
Toda a Europa vazia!
Sim.......Venham Felisteus
Venham Vândalos e Tártaros
Cabem todos salafrários
hordas de Malaquias e Iosafats
banhem-se 7 vezes no Douro

Arrepanhem-me a pele toda das costas
não hesitem
cortem-na com um X-acto
bem rente às costelas
e atirem os bifes
aos linces da Malcata.

Lúcio Ferro

Vómitos

Não te digo já do que vou falar
deixa a tempestade acalmar
ventos-areias trastes pelo ar
lendo os veios da madeira
sob os segredos guardados nas estrelas
convocados os espíritos
exaltas as paixões, adormecem razões
Suões varrendo as ideias
até se encastrarem em nichos de memórias
e voas para além de todas as glórias
vomitas oceanos lá do alto
dum banco de jardim-arrochado
e não acordas

Nicolau Divan

18.10.07

“Não vás, não vás, não vás”

“Não vás, não vás, não vás”
crianças demasiado novas
O choro de mães

Neste século os homens voltam a partir

em busca de virgens ilhas
mares de liberdade

cadelas assanhadas na praça pública
rosnam estúpidas ao cruzeiro central


Tribulações, vagalhões, remoinhos sentimentais
fossas tenebrosas
calmarias pestilentas

galgam novas áfricas, novos brasis
aterram já velhos
onde está a doçura da partida?

Destroços boiam esfiampados nas margens
não conseguem atracar
Tudo são sonhos
o passado é pesadelo uma desembarcada encarnação

os remos golpeiam o mar
são portas a fechar, são portas a fechar

vangloriam-se da troca
a Costa de Prata pela Costa da Malária
Descobrem a Ilha dos Amores

Um vento laminar arrasta
pedaços de carne nas ruas
sem vida ruas sem casas
só o vento
o pó e cães escanzelados
lambendo repugnados
bifes crus
bolos de sangue
polvilhados de terra seca
revoltos pelo vento



Lúcio Ferro

Certidões de Registo - 1ª Conservatória

25ª Hora – Virgil Gheorghiu

Crime e Castigo – Fiódor Dostoievski

O Coração das Trevas – Joseph Conrad

Pães de sangue e terra

Pães de sangue e terra
amassados à pancada
bocas empaturradas à pressa
sais de lágrimas enregeladas

flutuas abraçado com carinho
força bruta que arrasta
toda a (matéria) em uníssono redemoinho
zonzo. Nada se chega nada se afasta.

Bois desamparados à tona
coisas giram num funil
giram apáticos ronda em ronda.

Oh sopa morna e fútil
marinada em que volteiam nossos corpos
valsa lorpa sem acordar os mortos.


Nicolau Divan

Cit#23 - Guns N' Roses

November Rain

When I look into your eyes
I can see a love restrained
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same

'Cause nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain

We've been through this such a long long time
Just tryin' to kill the pain

But lovers always come and lovers always go
An no one's really sure who's lettin' go today
Walking away

If we could take the time
to lay it on the line
I could rest my head
Just knowin' that you were mine
All mine
So if you want to love me
then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain

Do you need some time...on your own
Do you need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone

I know it's hard to keep an open heart
When even friends seem out to harm you
But if you could heal a broken heart
Wouldn't time be out to charm you

Sometimes I need some time...on myown
Sometimes I need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone

And when your fears subside
And shadows still remain
I know that you can love me
When there's no one left to blame
So never mind the darkness
We still can find a way
'Cause nothin' lasts forever
Even cold November rain

Don't ya think that you need somebody
Don't ya think that you need someone
Everybody needs somebody
You're not the only one
You're not the only one



Aproveite Novembro para rechear
os seus celeiros antes de hibernar

Terra Encharcada
















erra encharcada

arrefece, gela à noite
os vultos arrastam
carcaças de desânimo.

Ao longe um sino brada
ecoa em todas as árvores,
a chuva abate morna.

Uma luz chama
um calor nos atrai
toda a consolação
ânsia do nosso peito
clama por nós de porta aberta.


A luz, os sinos, o calor,
da pequena brasa
pequena capela
inflamam o escuro da serra.


Coros de crianças
amaciam o silêncio
da caruma e das pinhas
o roçagar dos vestidos apressados.


André Istmo

Illustrated by Miura

16.10.07

Gato Fedorento

Archivo de imagens #15

Cit#22 - Planctus destructionis regni Ungarie per Tartaros, 1º pergaminho

Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria.
Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros
Escrito por um clérigo da época.

Tu, qui deus es cunctorum,
iustus iudex meritorum
bonis reddens bona multa
mala nulla fers inulta
equa lance iustitie.

'Peccaverunt' 'nostri' 'patres'
tibi, nos et nostri fratres,
mala nostra succreverunt,
que nos nimis invenerunt
in diebus angustie.

Cuncti sumus neci dati,
sunt populi captivati,
sunt milites gladiati;
ad quid ergo sumus nati
tanta mala cernere ?

Fluit saguis feminarum,
pallet decor puellarum,
puerorum turba tacet,
senex, anus ense iacet
nephario funere,

Domum Saul Philistei,
genus Iacob Canopei,
gregem iusti Iob Sabei;
cum insontes oves dei
tanta cede sternitis.

Trucidatis matronarum
turbam, simul puellarum
neque clerum reverentes
neque senum miserentes
nec parvulis parcitis.

Que vos terra, qui parentes
genuerunt tales gentes
tam crudeles, tam feroces,
ad nocendum tam veloces
et sub armis vivere.

O natura mater dura,
quare tibi fuit cura
sevam gentem Tartharorum
ad flagellorum populorum
in hanc lucem ducere?

Cur non matres conclusisti;
cur conceptum concessisti,
nequam proles cur creatur,
per quam mundus conturbatur,
cultor Christi moritur?

Heu, quis aquas capitibus
nec non nostris luminibus
lacrimarum dabit munus
ad plangendum tantum funus,
quod nobis ingeritur?

Ierusalem mater, plange,
celi forum planctu tange,
mitte sursum suspirium,
vestem sume cilicium,
caput sparge cinere.

Grandis tibi venit dolor,
omnis a te fugit color,
funde fontem lacrimarum,
planctum tibi fac amarum
diro lesa vulnere.

Universi tui nati
probi, pulcri, delicati
sunt ab hoste iugulati,
vulnerati, vinculati
per ingens obprobrium.

Interfecti sepultura,
wlnerati carent cura,
vinculati solutore,
fugitivi protectore
pro timore gentium.

Arma duces acceperunt,
viri fortes convenerunt
hosti terga percussuri
vel ab hoste ruituri
cuncti pari prelio.

Set cum belli lux illuxit,
hostem Martem mox instruxit,
Hungarorum cor expavit,
castra timor perturbavit,
fugit mens et ratio.

Regnum nutat et corona,
Mars desevit et Bellona,
vibrat hastas, tela iacit
et in mensem cedem facit,
fusa iacent corpora.

Pontifices et primatos
una cadunt, almi vates
prosternuntur, viri fortes
disperguntur et cohortes,
instant dura tempora.

Summa nescit occisorum
mera claudi numerorum,
det bine, que venerunt,
cum sorore vix ruperunt
morientum licia.

Hungarorum pro ruina
celum stupet pro ruina,
chaos ferri mundi rebus
crederetur hiis diebus
hac visa miseria.

Est completum, Davitico
quod cantatur in cantico,
nullus fuit; magnatorum
carnes sive clericorum
qui telbari traderet.

Tabescentes putruerunt,
aves celi commederunt,
dentes canum consumpserunt,
ossa lupi disperserunt;
nemo, qui repelleret.

Non est mirum, quod sunt victi,
quod sic morti sunt addicti,
nam maiores et minores
corrumpentes bonos mores
sectabantur vitia.

Erant eneim viri duri
repugnantes omni iuri,
falsi testes et periuri,
mechi, fures, Epicuri,
quorum deus dolia.

Oppressores advenarum,
vastatores viduarum,
exactores egenorum
et predones pupillorum
repulsa iustitia.

In vestitu sumptuosi,
in ornatu studiosi,
compti, docti superbire,
curiosi lasciviri
prolventes mandacia.

Plorans plorat Rachel pia
non admittens solatia
Tartharo malitia
filiorum tot milia
cessa brevi spatio.

Nata Syon luget via,
venit ad se nemo quia
nec filius nec filia
matris agens solempnia
pacis in naufragio.

Truculentus hostis finit,
dei domus ignis unit,
tempus transit lucis feste
non honeste, set moleste
cum multa mestitia.

Non salutis officium
pro salute fidelium
in hac vita viventium
nec a carne migrantium
aguntur obsequia.

Cit#22 - Planctus destructionis regni Ungarie per Tartaros, 2º pergaminho

Blasphemantur sancti dei,
sacra tractant viri rei,
violantur ornamenta,
temerantur sacramenta
hostili nequitia.

Liber vite lacerantur,
sacerdotes trucidantur,
crux et calix confiscantur,
vasa templi prophanantur,
cessant ministeria.

Disturbantur heremite,
dissolvuntur cenobite,
loca pacis sine lite
frequentantur a milite,
nulla viget regula.

Vacant laudes matutine,
silent voces vespertine,
nulla sonat psalmodia
nec auditur melodia,
claustra fiunt stabula.

Cuncti fuge consulentes,
se salvare cupientes
aurum linquunt et argentum,
servos et equos et armentum,
cara fiunt vilia.

Mulieres delicate,
que vix ibant substentate,
metu mortis perturbate
currunt pedes longe late
per terrarum spatia.

Inter artam constitutam,
defensore destitutam
gentem sprevit Hungarorum
cetus omnis amicorum
in cucta vicinia.

Qui paganos evaserunt,
sclavi captos abduxerunt,
res preclaras nobilium
rapuerunt, flebilium
detraxerunt spolia.

Candit honon et honestas,
perit robur et potestas,
iura, leges abrogantur,
possessores spoliantur
rerum patrimonio.

Languit fides, spes tabescit
et caritas refrigescit,
pudor castus erubescit
et incestus invalescit,
pudor cedit vitio.

Contra pium ius nature
sunt infantes nimis dure,
per parentes interfecti
flammis, aquis vel abiecti,
quod est nefas dicere.

Olyim Nilus et Iudea
puerorum nece rea,
nunc et nostra Panonnia
superavit nec omnia
pari madens scelere.

Persequentis timens manus
intrat templum Christianus
matris sperans auxilium;
matrem simul et filium
consumit incendium.

Hostis ensis quos subtraxit
captivatos secum traxit,
clara natos genitura
servitutis ligant iura,
miles fit mancipium.

Olyim dives Hungaria,
dum fulgeres in gloria
firma tincta. potentia,
regna vincens felicia
rerum affluentia,

Regrum tibi latitudo,
rerum clara celsitudo,
pugnatorum fortitudo,
populorum multitudo
paxque per confinia;

Per te regna sunt vestata,
set tu nunqmam superata,
fama; laude dilatata,
paradiso comparata
cum bonorum copia.

Nunc in sena tempestate
te confusam vastitate,
rerum pressam paupertate
pre virorum paucitate
regna vincunt omnia.

Tibi versit hic eventus
tanta peste turbulentus
ob peccata, que fecisti,
messuisti,
meritorum premia.

Perdidisti fame florem,
grande nomen et honorem,
sanda tua sunt polluta,
sacra loca destituta
tua pro malitia.

Dives marcet egestate,
trabeatus nuditate,
fame, gelu fatigati
micas rogant delicati
pre panis penuria.

Qui sub cancro latuerunt;
port in Iano perierunt,
hastas, arcus qui fugerunt;
elementa perimerunt
illos clade varia.

In croceis enutriti
fuge longe via triti
tanta pena sunt puniti,
quod vixerunt, set inviti,
canum cadaveribus.

Ira dei non quievit
his patratis, ymo crevit,
nam fit fames, nigratur
os mandorum, quod cibatur
humanis corporibus.

Multi facti sunt Therei
et Thereo magis rei,
dunt parentes replent neti
sua per se iugulati
viscera visceribus.

Famis malo nemo tutus,
fratrem frater persecutus
et amicos amicorum
et ignotus ignotorum
nascitur de carnibus.

Visu pulcra perierunt,
pretiosa viluerunt,
ordo, sesus, etas ruit,
qui iuvaret, nemo fuit,
in hac pestilentia.

Surge, Christe, rex virtutis,
fuga rei, spes salutis,
arma, scutum apprehende
et in hostes manum tende
regali potentia.

Salva nostram Ungariam
gravem passam angariam,
quam gens lesit Thartharina,
tua sana medicina
per celestem gratiam.

Virgo mater, roga natum
et peccatis irritatum
tua prece fac placatum,
nostrum solvat ut reatum
et pellat mestitiam,

Perdat, hostem furibundum,
reddat regrum letabundum,
hastas, arcus, tela terat,
veram nobis pacem ferat
post tantarum miserias.

Nostram, deus, sume precem,
harc a nobis aufer necem
et, fecisti quam lugere,
terso luctu fac gaudere
populi reliquias.

Et cetera. Amen.

Contemplo o teu sono

Contemplo o teu sono de lareira
no reflexo do licoroso vidro
em fundo de alma do céu em ténebras
enterrado no veludo do sofá

Memória que respiras em paz
atrás de mim dissolvida na tempestade
da janela em que me miro
aconchega-me nas tardes de Inverno.


Diniz Giz

Sesta

Diálogos gemidos da televisão
na sala ao lado
misturam-se com sonhos da sesta
pouco consentidos
No torpor do quarto interior
depois do almoço
vigiado pelos teus antepassados
deliras no bréu
até que uma fresta de luz te desperta
do suplício à salvação.


Madalena Nova

Shaman

Convoca os rostos do passado
inebriado dos perfumes de outrora
caldeirão de salas e ruas,
quadros girando à tua volta

entre as nuvens do esquecimento
dançam focos-sombras shamânicas
tocado ao de leve pelas asas do sono és de novo criança
e uma chuva morna e picante marina no teu palato
evolando reconhecidas fragrâncias.


Zé Chove

Convento dos Capuchos

palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...