22.3.21
Meu filho é um orgulho - ver te criar
alegrias
vitórias não sabemos
o que é alcançar?
fazemos o círculo toda a noite
pelo vagão a pescar
ao som do gato na empedrada rua
melro a suplicar
não temos dinheiro para meditar
* * *
Só ouvimos quem queremos
e a eleição das fontes
dá-se bem cedo
se em adolescentes
pelos ermos vagabundos
de coração disperso
de olhos bem abertos
sob o calor de Verão
entre azinhagas de abetos
Trafaria 2
desbotados no pândego varal
tanto despedicio de homem
a areia colmata o asfalto
mas carrega-se o sobrolho
isto é tudo um jogo
e salmodeiam de magia as giestas
encantam os pinheiros na sua gorda sombra
as leituras que faço da outra margem
de olhos embriagados
o ponto de amarração do pensamento
distante bugio
ladainhas de embarcado
códigos de assalariado
Trafaria
sorvem de tarde no desbotado
rasgo dos passos na azinhaga
entre os dias emparedados
latoaria, industria humana
escravidão da própria raça
junto ao rio orgulho de sofrer
junto de fumo ao aço
do carril como um pão duro
de fim do sol junto ao cais
paredes de nicotina e sódio
treliças, rebites deste ventoso arcaboiço
flagelado de cabos elétricos
olhos cavados - não te oiço
como as cavas esboroadas no arenito das falésias
já são oito e na Trafaria
já cheira a jantar
6.1.21
pálpebras são de tecido de escroto
Arquitetura em Curso
2.1.21
Escorre o sangue do sobrolho em meticulosas crostas
Cristaliza os padrões
Com que se partem as coisas
O gelo em que se quebra o vidro
As lascas dum tronco rachado
Os sulcos com que o coração é lavrado
E como fluem sobre as quebras os líquidos
As geadas sobre o veio granito
O trovão pelas nuvens caindo
Por entre os dedos o passado
E se há fogo, prego ou linha
No crisol ou ponta de agulha
Que ajuntam e conservam tantos pedaços
Não há choro baba ou ranho
Num colo, ombro ou abraço
Que arribem o corpo esgarçado
26.9.20
Bairro-de-lata
Esculpida a morte sob o escopo da agonia
Nascem do Centro da praça Avenidas de marquises
Féretros de evisceras urbanas à janela
Vogam monges de vergonha ensarapilhados
Nos passeios nossa fé muda as placas toponímicas
Mas eis que numa cortada resvalamos nos baldios
Roçaga tijolo contra tijolo assente no lamaçal ferrugem
Latoaria labiríntica e ratazanas e vida! - ah e Vida
Risos de crianças vibrando no arame farpado
Cheiro a sopa concreto mal amanhado
Tudo a palmo tentemos ordenar um templo
Fundam-se as luzes caia a noite a acendam as fogueiras
Restos de pneu, lascas de bidon formando um altar
Sangue suor e grita a chuva em bença lágrimas
Rugosidades
Sobes e deitas para trás o olhar mais largo
Como homem que o trigo lança de esperança
Constróis muros e armazenas o passado
Em talhas de penumbra vertes a obra
Decepas os galhos da árvore morta
Deixa-la sem forma lisa sob teus calos
Escorrega lhe a alma ao tronco sem casca
O remorso aplana o
passado
Por isso me acolho nas covas de teu regaço oh terra
Sorvo as papas da malga torta de barro
Agarro-me e rumino nestes tristes pastos
De que adiantam paredes se a terra já está rasgada
Não te dissolvas bruma densa nuvem e esconde meus covões
Manta de vergonha engole as desilusões
2.6.20
Tão Simeão Estilista a Alfred Tennyson
25.5.20
Sala
Espera
Tomates
Tomates
Casquear
mel coado
Junto ao mar
ilusões no meio de amena
conversa timbrada Somos os homens que as pastoreiam
deleite nos reguardamos nas calcárias
cavas junto ao mar
falamos às ondas do mar
até ao dia de esquecermos nossas
ossadas no húmido destes calhaus
viramos folha a folha em busca da lagarta
ingrata que nos destrói as plantações
sentados crostados na seca lhanêsa de pedra
vagueamos num bafo de sol e salitre
num reflexo dos chapadões que ardem as plantações
flutuamos nas ondas de calor
descendo a escarpas na ponta do bastão
Mansos
7.5.20
em terra ou no mar
teu fôlego não abandona este claustro
nos ecos da nave me desce teu sopro
teu clarão no lago deixa-me cego
teu corpo eremitério por matas desterrado
velado por pios de corujas e sussurros
de animais rasteiros és tu também
na verdade tudo
foi santificado este berço
por todos os passos que os monges aqui rezaram
e por esta cruz de ferro que marca o tempo no pátio
e agora que tudo está abandonado
um grande silêncio que tudo varre
e agora que as carnes cairam
essa ossatura alva
aguarda uma vez mais
o teu divino sopro
_ _ _ _ _ _ _
Sentimos-te mais perto
se somos esmagados
e damos-te tempo para tactear
a tua cruz ao nosso lado
a angústia de saber que só Tu
não nos deixas sós nos mais profundos transes
se de desespero não estamos ainda tomados
A cada ameaça
de que o furioso mar
nos vá virar o barco
tentamos com brados rasgar
as neblinas e vislumbrar
tua túnica branca na margem
e gritamos
cada vez mais Alto
4.5.20
relação
praia
Cortadas
2.5.20
sortes
Bordas da Tina
22.4.20
T5
10.4.20
saudades de casa
11.3.20
mantra ma boca
Convento dos Capuchos
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...
-
Entre 1241-42 os mongóis invadiram a Hungria. Lamento pela Destruição do Reino da Hungria pelos Tártaros Escrito por um clérigo da época. Tu...
-
palmas das mãos nestas pedras de musgo afago o teu fôlego neste claustro oh Deus do fresco da capela me arrepia o teu sopro do teu cla...