doutor distinto e cavalheiro
deixava as mulheres a suspirar
o charme francês de fraque e cigarreira
dançou pelo baile de chá
ninguém sabia o seu apeadeiro
Lúcio Ferro
13.9.07
uma árvore ao vento #3
será um mês de trabalho árduo.
somos três.
fiquei encarregado de carregar as ferramentas.
seguíamos em silêncio.
o bafo opressivo que emanava do chão
e o sol que nos chapava na cara
fazia-nos curvar o pescoço.
os passos do primeiro faziam
gorgolejar a água nas tinas.
os lagartos escondiam-se nas pedras à nossa passagem.
o percurso da água agora poeirento
seguia sinuoso e rápido por entre o matagal.
por vezes tínhamos de trepar algum rochedo
ou resvalavam algumas pedras sob os nossos pés.
agora a aldeia brilhava encaixada lá em baixo.
os pulmões arfavam
levemente na ânsia de chegar.
os meus olhos encheram-se de lágrimas
com o brilho fulgurante do mar que ficava para trás.
quase no topo a serra ficou nua
e sem vida neste troço em que mais pedras rolam
nem os cardos se agarram.
mais acima um grande paredão de rochas puras brilham
intocáveis aconchegadas entre si por escuros sombrios arbustos
que tentam esconder-se da força do sol.
cruzámos a cordilheira por baixo de uma rocha
imponente qual dólmen ancestral.
a paisagem agora já não se estendia até ao
infinito como no oceano.
deste lado mais verde e fresco.
uma aragem vinda do
norte atravessou-nos lânguida o corpo.
A vista para o vale era doce e sorridente
alguém disse a primeira palavra.
Já entardecia o vento tornava-se fresco.
O silêncio da natureza fazia o pensamento
borbotar em todas as direcções.
Zé Chove
somos três.
fiquei encarregado de carregar as ferramentas.
seguíamos em silêncio.
o bafo opressivo que emanava do chão
e o sol que nos chapava na cara
fazia-nos curvar o pescoço.
os passos do primeiro faziam
gorgolejar a água nas tinas.
os lagartos escondiam-se nas pedras à nossa passagem.
o percurso da água agora poeirento
seguia sinuoso e rápido por entre o matagal.
por vezes tínhamos de trepar algum rochedo
ou resvalavam algumas pedras sob os nossos pés.
agora a aldeia brilhava encaixada lá em baixo.
os pulmões arfavam
levemente na ânsia de chegar.
os meus olhos encheram-se de lágrimas
com o brilho fulgurante do mar que ficava para trás.
quase no topo a serra ficou nua
e sem vida neste troço em que mais pedras rolam
nem os cardos se agarram.
mais acima um grande paredão de rochas puras brilham
intocáveis aconchegadas entre si por escuros sombrios arbustos
que tentam esconder-se da força do sol.
cruzámos a cordilheira por baixo de uma rocha
imponente qual dólmen ancestral.
a paisagem agora já não se estendia até ao
infinito como no oceano.
deste lado mais verde e fresco.
uma aragem vinda do
norte atravessou-nos lânguida o corpo.
A vista para o vale era doce e sorridente
alguém disse a primeira palavra.
Já entardecia o vento tornava-se fresco.
O silêncio da natureza fazia o pensamento
borbotar em todas as direcções.
Zé Chove
11.9.07
Homo-Socialis
Chamem-me o prevaricador,
o mãos largas, o estranho,
afastem as vossas filhas
trocem do meu jeito
tranquem vossas casas
façam figas
deem-me essa glória
da consideração social
quero deixar memória
ter entidade judicial
ao passar por mim na rua
desconfie, reaja, estremeça
por favor não passe
com indiferença
Vasco Vides
o mãos largas, o estranho,
afastem as vossas filhas
trocem do meu jeito
tranquem vossas casas
façam figas
deem-me essa glória
da consideração social
quero deixar memória
ter entidade judicial
ao passar por mim na rua
desconfie, reaja, estremeça
por favor não passe
com indiferença
Vasco Vides
Aditamento #2
Nick Cave - And the Ass Saw the Angel
Joanna Newsom - Y's
Jim Morrisson - An American Prayer
Joanna Newsom - Y's
Jim Morrisson - An American Prayer
Já a luz definhava
Já a luz definhava, entrámos no rio,
Mergulhámos no negro profundo,
O líquido envolveu-nos de frio,
Quem me aquecerá agora?
Os movimentos lentos,
Com medo da escuridão,
Senti o teu corpo de cetim,
Fiquei com falta de ar.
Lúcia
Mergulhámos no negro profundo,
O líquido envolveu-nos de frio,
Quem me aquecerá agora?
Os movimentos lentos,
Com medo da escuridão,
Senti o teu corpo de cetim,
Fiquei com falta de ar.
Lúcia
Cervunal
Fui à Serra da Estrela
pastei num lindo cervunal
com as cabras e as ovelhas
não comi nada mal
Maria Vouga
Deixava o álcool
Deixava o álcool assentar em pensamentos imorais,
Vagueando sem sentido junto ao velho cais.
O corpo quente e a cara refrescada pelo rio,
A carne dormente mole,
O espírito desperto malvado queria mais.
O rio corria negro sem matéria sem fundo,
A malícia da alma chicoteava,
O corpo exausto.
Os olhos fixavam tudo,
Ancorados às coisas do mundo,
Para não se afogarem no remorso bruto,
Que o arrasta pró mar profundo (abismo do mar),
Nas noites tristes sem luar.
Zé Chove
Vagueando sem sentido junto ao velho cais.
O corpo quente e a cara refrescada pelo rio,
A carne dormente mole,
O espírito desperto malvado queria mais.
O rio corria negro sem matéria sem fundo,
A malícia da alma chicoteava,
O corpo exausto.
Os olhos fixavam tudo,
Ancorados às coisas do mundo,
Para não se afogarem no remorso bruto,
Que o arrasta pró mar profundo (abismo do mar),
Nas noites tristes sem luar.
Zé Chove
Melga
Deixei uma melga no meu quarto entrar,
Fechei-a cá dentro, irritado,
Chupou-me o sangue queria acasalar,
Morreu sozinha de cheio papo.
Vasco Vides
Fechei-a cá dentro, irritado,
Chupou-me o sangue queria acasalar,
Morreu sozinha de cheio papo.
Vasco Vides
10.9.07
Soneto Industrial
A frieza da modernidade de outrora,
na antiga fábrica abandonada,
foi acamada por tufos de viçosa flora.
A estrutura permanece intacta,
em vez de vidros tem pombas,
pintura de verdete e ferrugem.
Interior arrumado por bombas,
almas rangem, estalam, plangem.
no escuro suspiram cadavéricas,
as máquinas em silêncio,
por mais oleadas décadas.
A fachada mantem vetusta imponência,
a nave sem carnes é esquelética.
Sinto conforto nesta digna decadência.
Zé Chove
na antiga fábrica abandonada,
foi acamada por tufos de viçosa flora.
A estrutura permanece intacta,
em vez de vidros tem pombas,
pintura de verdete e ferrugem.
Interior arrumado por bombas,
almas rangem, estalam, plangem.
no escuro suspiram cadavéricas,
as máquinas em silêncio,
por mais oleadas décadas.
A fachada mantem vetusta imponência,
a nave sem carnes é esquelética.
Sinto conforto nesta digna decadência.
Zé Chove
Tu não querias mas tiveste de engolir
Tu não querias mas tiveste de engolir
o prémio do bolo rei.
Marco Íris
o prémio do bolo rei.
Marco Íris
6.9.07
Montanhas de cinza
montanhas de cinza fulva
ainda mornas sob a chuva.
uvas secas sobre o leito
do rio que atravessa o meu peito.
fornalha de pensamento em brasa,
movimento diligente sem asa.
fogo que aspira a novidade,
em corpo morto, frio e sem vontade.
uma rocha bruta pingando,
sob a chuva em suave pranto.
olha o vale abrupto de rochedos,
e chora a fonte da sua tristeza.
Nicolau Divan
ainda mornas sob a chuva.
uvas secas sobre o leito
do rio que atravessa o meu peito.
fornalha de pensamento em brasa,
movimento diligente sem asa.
fogo que aspira a novidade,
em corpo morto, frio e sem vontade.
uma rocha bruta pingando,
sob a chuva em suave pranto.
olha o vale abrupto de rochedos,
e chora a fonte da sua tristeza.
Nicolau Divan
Ouro e Prata
Ouro e prata, ouro e prata,
Fios dos teus cabelos,
Mais brilhantes que as estrelas,
Ouro e prata, choro ao vê-los.
Leite e mel, leite mel,
Sobre a pele do teu pescoço,
Doce e puro como o trevo,
Leite e mel, eu te peço.
Metal e fogo, metal e fogo,
Brilho fulgente do teu olhar,
Tão profundo abismo em que me afogo,
Sem desejo ou forças de voltar.
Rocha e silêncio, rocha e silêncio,
Refúgio sagrado no teu peito,
Câmara de luz e lealdade,
Em que me escondo do mundo inteiro.
De mar e vento, de mar e vento,
Força de alma entregue num beijo,
Impeto de paixão que enfrento,
De mar e vento, é o meu desejo.
Lúcia
Fios dos teus cabelos,
Mais brilhantes que as estrelas,
Ouro e prata, choro ao vê-los.
Leite e mel, leite mel,
Sobre a pele do teu pescoço,
Doce e puro como o trevo,
Leite e mel, eu te peço.
Metal e fogo, metal e fogo,
Brilho fulgente do teu olhar,
Tão profundo abismo em que me afogo,
Sem desejo ou forças de voltar.
Rocha e silêncio, rocha e silêncio,
Refúgio sagrado no teu peito,
Câmara de luz e lealdade,
Em que me escondo do mundo inteiro.
De mar e vento, de mar e vento,
Força de alma entregue num beijo,
Impeto de paixão que enfrento,
De mar e vento, é o meu desejo.
Lúcia
Fagotes e trompas
Fagotes e trompas soaram fúnebres,
Grilhões pesados arrastados lúgubres.
As mulas carregavam o ataúde,
Resvalaram na ladeira de lama escura.
Caiu o corpo morto desamparado,
Rasgando as suturas débeis da viúva.
Zé Chove
Grilhões pesados arrastados lúgubres.
As mulas carregavam o ataúde,
Resvalaram na ladeira de lama escura.
Caiu o corpo morto desamparado,
Rasgando as suturas débeis da viúva.
Zé Chove
Fados
depois da cansativa noite
ela trina e grita o fado
o sono embate no meu estrado
e sonho louco desfraldado contigo,
meio fresco mas atinado
Diniz Giz
ela trina e grita o fado
o sono embate no meu estrado
e sonho louco desfraldado contigo,
meio fresco mas atinado
Diniz Giz
5.9.07
um lençol fino de sangue
um lençol fino de sangue
delambeu a quente pedra de xisto.
e verteu docemente em cortina
sobre a alva testa da minha amada.
Paulo Ovo
delambeu a quente pedra de xisto.
e verteu docemente em cortina
sobre a alva testa da minha amada.
Paulo Ovo
4.9.07
Sem querer cravei a unha na gengiva
Sem querer cravei a unha na gengiva
o sangue deitou a correr
um rio quente e vermelho
fluxo de vida com sabor a ferro
atravessou muros brilhante marfim
galgou em borbotões meus túmidos lábios
ensopa já toda a almofada
torrente incontrolável e trágica
é já poça no quarto
em que meu chanatos flutuam
sou eu que fluo
cascata rubra escada abaixo
chove o tecto da sala
estalactites de plaquetas
os bolbos das lâmpadas são ameixas
vivos como olhos de diabos
tapetes mornos e negros de coalho
paredes carniceiras de talho
sai à rua, jorra pelas gretas do esgoto
purificando as artérias da cidade
misturando toda a imundície
carcaças de animais afogados
no ardente e espesso líquido
"Holocausto vetero-testamentário"
turbilhões em túneis torrentes sem fim
maré vermelha em valsa grotesca
batalha com as águas do oceano
cavalgada até ao infinito
até habitarmos um glóbulo vermelho.
Carlos Marques
o sangue deitou a correr
um rio quente e vermelho
fluxo de vida com sabor a ferro
atravessou muros brilhante marfim
galgou em borbotões meus túmidos lábios
ensopa já toda a almofada
torrente incontrolável e trágica
é já poça no quarto
em que meu chanatos flutuam
sou eu que fluo
cascata rubra escada abaixo
chove o tecto da sala
estalactites de plaquetas
os bolbos das lâmpadas são ameixas
vivos como olhos de diabos
tapetes mornos e negros de coalho
paredes carniceiras de talho
sai à rua, jorra pelas gretas do esgoto
purificando as artérias da cidade
misturando toda a imundície
carcaças de animais afogados
no ardente e espesso líquido
"Holocausto vetero-testamentário"
turbilhões em túneis torrentes sem fim
maré vermelha em valsa grotesca
batalha com as águas do oceano
cavalgada até ao infinito
até habitarmos um glóbulo vermelho.
Carlos Marques
Bela Latina - Lyrics
anca de samba
formas roliças
meu corpo bambo
c'olhar me atiças
Balança corpo balança
bombam baixos saturados
rasga a pele abana a pança
vamos dançar agarrados
calça balão enfunada ao vento
revela teu vulto felino
chanata cigana de enfiar no dedo
chlap, chlap despertas meus sentidos
Morena tez
boca purpurina
olhos de pez
bela latina
Balança corpo balança
bombam baixos saturados
rasga a pele abana a pança
vamos dançar agarrados «bis»
Filipe Elites
formas roliças
meu corpo bambo
c'olhar me atiças
Balança corpo balança
bombam baixos saturados
rasga a pele abana a pança
vamos dançar agarrados
calça balão enfunada ao vento
revela teu vulto felino
chanata cigana de enfiar no dedo
chlap, chlap despertas meus sentidos
Morena tez
boca purpurina
olhos de pez
bela latina
Balança corpo balança
bombam baixos saturados
rasga a pele abana a pança
vamos dançar agarrados «bis»
Filipe Elites
Receita#1
Peguei num tacho, pus o cansaço em lume brando.
Uma pitada de má vontade e duas folhinhas de inícios de gripe.
Mexi o caldo fétido sem me exaltar.
Bati os remorsos em castelo com uma lágrima de raiva.
O fumo exalado pela sopa provocou tonturas, dificuldades respiratórias,
sufoco na garganta, mas não me deixei chorar, teria sido fatal.
Deixei a incompreensão crescer e o rancor começou a borbulhar.
Nesta altura a cozinha estava cheia de fumo negro,
já só via o fogo escondido sob o tacho.
Cuspi na mistela algumas mentiras e estraçalhei algumas postas de orgulho.
Remexi tudo enjoado.
Pus a tampa na panela para não ver o triste esparregado.
Deixei o ódio apurar.
Deixei o líquido viscoso verter um pouco até tocar o fogo vivo.
O cheiro entranhou-se como malária doce.
Provei o contagiante aroma a escaldar.
Vou esperar para servi-lo frio.
Zé Chove
Uma pitada de má vontade e duas folhinhas de inícios de gripe.
Mexi o caldo fétido sem me exaltar.
Bati os remorsos em castelo com uma lágrima de raiva.
O fumo exalado pela sopa provocou tonturas, dificuldades respiratórias,
sufoco na garganta, mas não me deixei chorar, teria sido fatal.
Deixei a incompreensão crescer e o rancor começou a borbulhar.
Nesta altura a cozinha estava cheia de fumo negro,
já só via o fogo escondido sob o tacho.
Cuspi na mistela algumas mentiras e estraçalhei algumas postas de orgulho.
Remexi tudo enjoado.
Pus a tampa na panela para não ver o triste esparregado.
Deixei o ódio apurar.
Deixei o líquido viscoso verter um pouco até tocar o fogo vivo.
O cheiro entranhou-se como malária doce.
Provei o contagiante aroma a escaldar.
Vou esperar para servi-lo frio.
Zé Chove
Pedra do mar
Sinto a densidade da pedra fria,
Contra a cara adentro da memória,
Deixo que a praia estoire na minha mesa.
Mergulho no gelo veio de cristal,
Delineio as lambidas curvas das dunas,
Pegadas minerais no teu dorso,
e aspiro o sal do mar na dureza do teu rosto.
Zé Chove
Contra a cara adentro da memória,
Deixo que a praia estoire na minha mesa.
Mergulho no gelo veio de cristal,
Delineio as lambidas curvas das dunas,
Pegadas minerais no teu dorso,
e aspiro o sal do mar na dureza do teu rosto.
Zé Chove
Fabrik#3
A luz trespassava a velha estrutura,
fabril de metal decadente.
Fixei extasiado a sua altura,
raios de pó coado refulgente.
Cada passo ecoava na nave potente,
ainda sentia o seu poder produtivo,
adormecido nas máquinas em silêncio,
sonhador suspiro furtivo.
Perdido de louca ganância,
linhas de montagem infinitas,
estoiros cadenciados de metal.
Mão num motor, fitei a distância,
senti o cansaço das iniciativas,
esbofeteei o meu peso animal.
Zé Chove
fabril de metal decadente.
Fixei extasiado a sua altura,
raios de pó coado refulgente.
Cada passo ecoava na nave potente,
ainda sentia o seu poder produtivo,
adormecido nas máquinas em silêncio,
sonhador suspiro furtivo.
Perdido de louca ganância,
linhas de montagem infinitas,
estoiros cadenciados de metal.
Mão num motor, fitei a distância,
senti o cansaço das iniciativas,
esbofeteei o meu peso animal.
Zé Chove
Cheiro de alvenaria podre
Cheiro de alvenaria podre,
Lambido das paredes nuas,
Através de praças e ruas,
Silenciosas da velha corte.
Sob negra neblina de morte.
Carlos Marques
Lambido das paredes nuas,
Através de praças e ruas,
Silenciosas da velha corte.
Sob negra neblina de morte.
Carlos Marques
3.9.07
Adenda #4 - Time Iesum Transeuntum et Non Riverentum
We were searching for the secrets of the universe,
we rounded up demons and forced them
to tell us what it all meant.
We tied them to trees,
and broke them down, one by one.
On a scrap of paper they wrote these words:
(And as we read them, the sun broke,
through the trees.)
"Dread the passage of Jesus, for he will not return."
Then we headed back to our world,
and left the forest behind,
our hearts singing with all the knowledge of love.
But somewhere, somehow, we lost the message,
along the way,
and when we got home, we bought ourselves a house.
And we bought a car that we did not use,
And we bought a cage,and two singing birds.
And at night we'd sit and listen to the canary song.
For we'd both run right out of words.
Now the stars they are all angled wrong,
and the sun and the moon refuse to burn.
But I remember a message,
in a demon's hand,
"Dread the passage of Jesus, for he does not return."
...he does not return
...he does not return
Nick Cave
we rounded up demons and forced them
to tell us what it all meant.
We tied them to trees,
and broke them down, one by one.
On a scrap of paper they wrote these words:
(And as we read them, the sun broke,
through the trees.)
"Dread the passage of Jesus, for he will not return."
Then we headed back to our world,
and left the forest behind,
our hearts singing with all the knowledge of love.
But somewhere, somehow, we lost the message,
along the way,
and when we got home, we bought ourselves a house.
And we bought a car that we did not use,
And we bought a cage,and two singing birds.
And at night we'd sit and listen to the canary song.
For we'd both run right out of words.
Now the stars they are all angled wrong,
and the sun and the moon refuse to burn.
But I remember a message,
in a demon's hand,
"Dread the passage of Jesus, for he does not return."
...he does not return
...he does not return
Nick Cave
uma árvore ao vento #1
uma árvore ao vento,
o céu cinzento,
o frio da pedra,
a mágoa no peito.
o vendaval de luz,
que rasga os olhos de dor,
a frescura matinal no rosto,
o cheiro intenso a começo.
no sol de verão,
o castanho e o pó,
o sufoco ardente,
os montes secos de sombras,
e ao fundo o mar.
cintilando de azul intenso.
o prenúncio de frescura,
empurrada pela brutalidade das vagas.
a casa escondida dos velhos,
a irregularidade das formas delambidas de branco ferino,
o grande carvalho contorcido e tosco.
ao entrar o frio cego da cozinha,
dois passos e de novo a luz explodindo,
através das janelas da sala,
tudo o resto no silêncio negro,
a gruta protegida com cheiro a lareira apagada.
Zé Chove
o céu cinzento,
o frio da pedra,
a mágoa no peito.
o vendaval de luz,
que rasga os olhos de dor,
a frescura matinal no rosto,
o cheiro intenso a começo.
no sol de verão,
o castanho e o pó,
o sufoco ardente,
os montes secos de sombras,
e ao fundo o mar.
cintilando de azul intenso.
o prenúncio de frescura,
empurrada pela brutalidade das vagas.
a casa escondida dos velhos,
a irregularidade das formas delambidas de branco ferino,
o grande carvalho contorcido e tosco.
ao entrar o frio cego da cozinha,
dois passos e de novo a luz explodindo,
através das janelas da sala,
tudo o resto no silêncio negro,
a gruta protegida com cheiro a lareira apagada.
Zé Chove
uma árvore ao vento #2
o farfalhar das folhas e a renda de sol
através da tenda de árvores no jardim
desperta-me da "dormência" da tarde.
alguém se aproxima.
não bate à porta,
vai entrando.
não me queria encontrar com ninguém.
a doçura da solidão,
procurada envolvia-me.
nem sempre me sinto assim.
sempre gostei de novidades,
mas quando me deixo cair na letargia
custa-me a arrancar.
vieram propôr-me um trabalho.
construir um abrigo na serra para os pastores pernoitarem.
a serra é dura, áspera, seca.
a sua grande massa recorta
o céu com curvas gordas.
custa olhar para ela reflectindo sol em brilhos múltiplos.
o cheiro quente, dos tojos secos
acumula-se na garganta,
e a falta de sombras provoca tonturas.
Zé Chove
através da tenda de árvores no jardim
desperta-me da "dormência" da tarde.
alguém se aproxima.
não bate à porta,
vai entrando.
não me queria encontrar com ninguém.
a doçura da solidão,
procurada envolvia-me.
nem sempre me sinto assim.
sempre gostei de novidades,
mas quando me deixo cair na letargia
custa-me a arrancar.
vieram propôr-me um trabalho.
construir um abrigo na serra para os pastores pernoitarem.
a serra é dura, áspera, seca.
a sua grande massa recorta
o céu com curvas gordas.
custa olhar para ela reflectindo sol em brilhos múltiplos.
o cheiro quente, dos tojos secos
acumula-se na garganta,
e a falta de sombras provoca tonturas.
Zé Chove
Lenta e cadente
Lenta e cadente atravessou o salão
De veludo elegante vaporosa
Em falsos e ternos lamúrios me embalou
Nas doces mentiras da paixão.
Filipe Elites
De veludo elegante vaporosa
Em falsos e ternos lamúrios me embalou
Nas doces mentiras da paixão.
Filipe Elites
Morreu
Morreu.
Mas?...
Desta vez fiquei pesado.
Como chumbo no peito.
Tenho pena mas o primeiro pensamento não foi para Deus.
Foi para os seus e para o “como?”
Agora sim penso em Ti.
O lastro da tristeza dos outros afoga-me.
As maldades de ontem têm ligação com o que se passou?
Não posso pensar que Me pagaste os desamores com a morte.
Intoxicado de amargura num castelo em areia desfeito.
Asfixio com a vertigem num dia solarengo,
Que não condiz com o desalento.
Só as músicas me embalam nesta densa melancolia,
Não vi o corpo. Lembro o seu sorriso de alegria...
Foram curtas as notícias. Só o soco no peito.
Veneno doce que se toma dum trago.
Quis falar aos que me rodeiam.
Devia falar.
Não o conhecem... sofrerei sozinho.
No tórax reverbera um baixo de lágrimas convulsas licorosas.
A visão não me serve de nada. Mergulho nos pensamentos.
Zé Chove
Mas?...
Desta vez fiquei pesado.
Como chumbo no peito.
Tenho pena mas o primeiro pensamento não foi para Deus.
Foi para os seus e para o “como?”
Agora sim penso em Ti.
O lastro da tristeza dos outros afoga-me.
As maldades de ontem têm ligação com o que se passou?
Não posso pensar que Me pagaste os desamores com a morte.
Intoxicado de amargura num castelo em areia desfeito.
Asfixio com a vertigem num dia solarengo,
Que não condiz com o desalento.
Só as músicas me embalam nesta densa melancolia,
Não vi o corpo. Lembro o seu sorriso de alegria...
Foram curtas as notícias. Só o soco no peito.
Veneno doce que se toma dum trago.
Quis falar aos que me rodeiam.
Devia falar.
Não o conhecem... sofrerei sozinho.
No tórax reverbera um baixo de lágrimas convulsas licorosas.
A visão não me serve de nada. Mergulho nos pensamentos.
Zé Chove
1.9.07
Hoje não há nada
Hoje não há nada a conquistar,
está tudo desvendado,
já não temos trevas,
só o poder, o dinheiro e a fama
e a santidade.
André Istmo
está tudo desvendado,
já não temos trevas,
só o poder, o dinheiro e a fama
e a santidade.
André Istmo
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